De todas as coisas
que poderias escrever
Nada chega perto
da importância imensa
Que é ficar
Sobrar
Se entreter a si mesmo
sem escape
ou decoração
Capaz de amenizar
este instante.
De todas as poesias
somente aquela
que nunca foi escrita ainda
Somente ela poderia
dar conta
do seu tormento incessante
Somente aquilo que ainda não veio
Pode hoje te segurar, menino.
Escrevo como se pudesse
dentro de ti armar abrigo.
Escrevo porque te conheço
e porque sei que certa vez
Você se embriagou pelo vento
e então tudo em sua vida
passou corrido
Sem cuidado capaz de plantar
sem gesto que detém
sem nada exceto
Ventar.
Mas veja: seus cabelos foram cortados.
Sua pele está seca.
Você está, mais do que antes,
cansado de achar graça
num mundo tão movido
a martírios.
O amor que um dia lhe fora lindo
também secou.
Revelou o amor sua principal vocação
ser recipiente para o medo.
Você esperava sim
que não houvesse mais necessidade de ter medo
mas seu amor foi medroso e te afundou
neste escuro que te mastiga as mãos.
Você já com alguma idade
olhando para o mundo
Com uma desconfiança imensa.
Tudo certo, você diria,
mas não. Não está tudo certo:
agora, o certo, é só essa paz que te comove
os gestos. Esta delicadeza com a qual você mesmo
se faz protesto.
Nada.
Neste momento.
Nem ninguém.
Daria conta
de te resolver.
Você saiu de si
para ficar mais inteiro
Naquilo que és.
Só isso.
Só isso.
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sábado, 4 de julho de 2015
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