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domingo, 31 de dezembro de 2023

havia uma placa no meio da praia onde apoiamos o telemóvel e tivemos então esta fotografia

pediria porque sim

porque quisesse continuar

porque a pedra sobre o teto não reclama

porque pudesse de outra forma

porque o universo conspira, respira, expande, contrai (e faz lá ele outras coisas) 

porque estivera na moda

porque já nem sabes bem o que significa estar viv@

porque é distinto, eventualmente és já outro

pediria aos céus que continuasse mais um bocadinho 

desde que assim bem desse jeitinho 


sábado, 30 de dezembro de 2023

Acreditaria que a inteligência


Havia uma espécie de querer 
Luzindo e firme, uma espécie de dizer
Que pedia por ela a inteligência 
Que a ela ele enfim se dedicasse

Perguntou acerca da duração 
Tão fácil dizer um dia 
Algumas horas tão fácil 
Um ano, que tal?, a inteligência 

Lhe proporia. 

Dedicar-se a mim por um ano. 

A troco de quê? (Isso ninguém 
perguntou). Parecia fazer parte
Do querer as pedras que sem
Querer sobre ele tombaram

Ou tombariam. 

Dedicar-se a mim por um ano 

Perseguir-me, acumular-me
Agitar-se em mim
Fazer vermelhidão 
Ranger dentes
Meio que me amar e por isso precisar e então ele aceitaria 

Não por querer
Mais porque não soubesse
Sabia ou não ele decidiu
Dedicar-me a ti, a ti,

Dedicar-me somente a ti. 

E a todo o resto que apertar
teus mamilos, ela o corrigiu.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Literariamente


Tinha perdido a confiança de que seria possível gastar tempo com elas, as palavras. Desaprendido que demanda continuação, alguma insistência, que demandaria alguma fé para acompanhar a mutação do verbo em gesto.

No ávido trabalhar, teria esquecido que as linhas ensinam mais que entregam. Elas não entregam nada. Elas passeiam, as linhas, elas gostam mesmo é dialguma festa. Tínhamos perdido a oportunidade de festejar para então fazermos só o que disseram ser uma profissão.

A distância não diminuiria, ela só fez aumentar. E quando viesse a sua imagem, fixa num reflexo titubeante, tu verias que a verdade mesmo jamais seria porto seguro, a verdade, pois sim; diferença pululante.

Demanda tempo a palavra tomar vida.

Insista, ela diria, por favor, caríssimo, insista em mim, insista em nós, insista, caríssima, por favor, ela nos pediria, insistam.


Persistir no acerto


Ou talvez insistir. 

Para dizer a si mesmo que sim
Que será assim que a banda haverá de tocar
A possibilidade de a vida não destruir 
A beleza que foi ter feito
- até aqui -
O que precisava ter sido. 

Continuar no acerto 
Acertando no gerúndio 
Dia após dia seria preciso
Dizer a si mesmo parabéns, 
meu amigo:

Parabéns por isso
Por ter resistido
Por ter convencido (a si mesmo) 
que seria passo a passo
Com desespero
e eventuais respiros
Repleto de dúvidas e martírios 
ainda assim, ainda assim
Parabéns, parábens
Com sono e cansaço 

(agradeço ao cansaço pela distração que me possibilitou continuar a insistir desta forma neste acerto).

Um dia tudo isso restará sem graça alguma. 

Um dia todo esse espanto terá sido apenas a vida, a vida apenas, a vida. 
 

Da outra vez


Uma viagem quase inteira
A escolher as palavras 
Capazes de dizer
Do amor, meu amor
Eu confiei em você. 

Agora outra viagem
A dizer para dentro 
Com outras palavras
Confia no amor, 
Meu amigo. 

( é como eu me chamo 

quando me sinto em ligeiro

perigo )

Isso que estamos a passar
Juntos, isso é passageiro
E enquanto isso passa
O nosso laço fica mais 
E mais giro. 

( obrigado ) 
 

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Orvalhado perfume

Mesmo que temesse a duração
Mesmo assim teria avançado 
Há algo de bonito no cansaço 
Que é disposição para o seguir
Seguirias.

Mesmo que a hipótese dissesse
Dos pés e dos calos e do úmido 
Insuportável 
Mesmo assim seguirias
A caminhada. 

No caminho do andar
Por certo serias de si sequestrado 
Por um cheiro, talvez, 
Pelo passado, vestido 
Em orvalhado perfume. 

O que você foi não continuaria
Em você mesmo, atenção, 
A árvore lembra
O vento celebra
Ser seria algo como estar 

Por todos os cantos. 
 

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Oi, pai -


Decidi te escrever, pois já faz alguns meses desde a nossa última conversa ou troca de mensagens. Fiquei esse tempo todo sem falar nada, sem te responder, pois fiquei muito ofendido com as suas ações e falas no grupo do WhatsApp da família. Continuo ofendido, me sinto desrespeitado e, ao perceber que o senhor se comporta de um modo duro, orgulhoso dos erros que comete, a única vontade que tenho é a de ficar calado, não falar, não te ouvir etc.


Mas te escrevo porque também não gosto, em vida, de estar povoado por sentimento ruins. Nas duas vezes em que estive na sua casa, quer percebesse ou não, você chamou o Benjamin, meu cachorro, de "viado". Pai, é inacreditável que isso possa sequer ser imaginado. Quem, em sã consciência, diria isso? E com qual propósito, pai? Eu só consigo imaginar que o seu propósito foi mesmo o de me ferir. (O senhor tem condições para fazer uma terapia, não tenho dúvida que te faria muito bem ter alguém para conversar, para te ouvir, para te dar algum contraponto).


Essa mensagem, no entanto, é apenas para que você saiba que estou magoado e que não tenho problema algum em te perdoar. Você, provavelmente, nem está preocupado com isso. E não acho que precise se preocupar. Está tudo bem, continuará tudo bem, mas algo mudou desde aquele envio de mensagens bolsonaristas no grupo da família. Perco alguma confiança em você, perco alguma vontade de saber de ti, afinal, as coisas que você diz - que você prega, que você reencaminha - são justamente aquelas que querem acabar com a minha vida, são justamente aqueles "valores" que me tornam uma pessoa indigna neste mundo, uma pessoa que não mereceria viver uma boa vida.


Espero que o fim do ano seja bonito e especial para você e toda a família. Estou disponível para conversar, mas não acho que a conversa seja uma característica que marque a nossa relação entre pai e filho, certo? Bom, continuo a acreditar que é na vida em que mudamos e amadurecemos.


Fique bem.


Com carinho,

Diogo


quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

A linguagem do amor

Não sei o que escreverei adiante,
mas escrever é lá um modo
de chegar no adiante.

Observo o seu modo de dizer
eu te amo, meu amor
Ele não é como o meu
é refinado, diriam os amigos
é lindo, de fato, eu diria
mas e o meu, meu Deus?

E meu modo de dizer eu te amo, meu amor?

Observo que as palavras nos servem para perder
pois tudo o que você diz sem palavras dizer
fala tão mais fundo, abre tantos caminhos
E eu continuo no ensimesmado amor, eu te amo
o auge do meu poema é dizer
estou te amando (porque estou)

Hoje comprei lápis e carvão
borrachas e esfuminhos
Comprei equipamento
para tentar desenhar
isso cujas palavras
só me fazem perder

E o que fiz, você me pergunta
generoso (e fino e delicado e refinado, diriam meus amigos)
O que eu fiz meu amor foi minha cara
torta
coberta pelas mãos
tentando engolir uma beterraba inteira
invisível (porque é preto no branco
minha linguagem é preto no branco)

Se possível, amor, te peço
um cado mais de tempo
um caldo inteiro de segundos
e horas, dias, meses, confia
Eu te peço, já já hei de inventar
um modo justo de dizer isso

que as palavras jamais poderão

Até lá, boa sorte, será amor
por todos os lados
e dentro e fora e redundante
direi que te amo
porque te amo
e hoje é só isso tudo

Hoje é só isso tudo.
 

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

A s p a r g o


Sem nome, inominável
sem forma prévia
inescrutável
O grave do som
no fundo da orelha
O cansaço
imperador

Faz brotar palavra inusitada
toda vez que me vejo assim
meio perdido se quarto
ou sala
Faz vir verbo que não vinha
nascer coisa que em mim
faz tempo não nascia

O vinho aguarda tranquilo
o reencontro dos meninos
e seus mamilos, o vinho
celebra fermentante
o depois que viria no agora
do antes

Sem estresse você diria
por saber que tão logo
seja possível será tanto
que amor somos insuportáveis
porque assim o amor
nos quis fazer dignos

Dignos de mudar o verso da vida
e girar tudo ao contrário
Dignos de perder tempo
entre lençóis e dobras corpóreas
entrelaçados
Dignos, meu bem

Seria preciso aceitar o facto.

Essa coisa nova quieu sinto
tem nome velho, mas é inédita
se chama aquilo mesmo
mas inda assim queima
só não quero que doa
por agora, fiquemos assim

Sopa de entrada, uma carninha de almoço, um café forte e sobremesa liberada.
 

Curta duração

Que não desse tempo
para o susto virar tormento
e se justo assim fosse
para que a paixão não
gerasse esse amor todo
que me afoga

Se justo assim eu fosse
defenderia a curta duração
de todas (todas?) as coisas
para que não virassem
um hábito ou cousa
tola

Seria preciso variar
para um gesto não virar
Soco, para um beijo não
virar bolso, para a vida
enfim continuar mutante
como quem mudasse

sem parar

Que a curta duração
das coisas seja curta
meu amor
mas que não
tão curta assim
seja a nossa
 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Descompasso ou (ainda) representação


Queria lhes dizer sobre
Essa mania seria um
Estilo de quebrar o verso
Ao meio e atazanar a chegada
De algum sentido. 

Li amigas e amigos 
Li consagrados de outrora
Poetisas tidas como sérias 
Li quilómetros de obras
E mais obras e ainda 

Assim não entendo qual
É a febra que quebra o verso
Para fazer disso se possível 
Alguma moda soa tão descolado 
Tão descolado que cheira à 

Morte: uma tristeza ler uma
Época a partir de um mesmo 
Jogo das linhas eu me pergunto
Senhoras e senhores se haveria
A possibilidade de alguma coisa 

Toda caber numa só linha
Mas ouço o ódio 
A quebrar sentenças 
Ouço o orgulho sem pedir licença 
Ouço muito ouso um bocado

Fodase essa modinha. 
 


falávamos sobre não ser corrigido

e que soberba
alguém diria
por não aceitar
ser corrigido
eu faria que sim 
cuido bem dos
meus cabelos
e deixaria que
a soberba sua 
comentasse a
minha

tudo assim bem
delicadamente
eu aceitaria 
porque de algum
modo tudo isso
nada me importa
desde que não seja 
eu corrigido

por fim então 
perceberíamos
que tudo diz
respeito ao fato
de que não é 
nada disso 
nada disso

o que importa
mesmo ainda
sequer começamos 
a conversar
ainda sequer
começamos 
a conversar
 

suculento vácuo ~


Perceber que elas queriam
apenas brincar um pouco
que elas demandavam
o tal do vento que
se escreve vento
apesar da inércia

Talvez fosse justamente isso
um sair despreocupado
um traço já ido (destemer)
e pronto, já lá está
o papel rabiscado
vingado o íntimo

Dizia não quero ser corrigido
dizia para ela, para ele
dizia para si (atrasado)
para que não houvesse
exterior que olhasse
aquilo outro que não somente

isso, talvez fosse isso
gastar-se no tempo
demorar-se no vácuo
suculento que seria
voltar a descobrir
o que possa ser isso

de à vida a vida
ser esfregada.