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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Resto

Sobrou isso

Essa calma, a mesma cama
Camisa folgada
Água e mais um pouco
Gelo

A poeira dormiu
O sol foi todo repetitivo
Bastava gastar a energia na noite
Para então brindar o dia
com a ausência deste homem.

Sobrou isto apenas

Quase nada

Uma paz, enfim.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

O que se revela quando ao fim

São perguntas, mas não quaisquer.
No fim, as perguntas são apenas as que têm força.
São as que sobreviveram ao martírio das respostas apressadas.

Hoje eu me olho rendido por elas, pelas que sobraram.
Que força imensa brilha em seu gesto.
Que tranquilidade de quem sabe que sim, eu estou aqui para isso,
para te examinar inteiro, para desfazer seu pretenso sossego
Eu estou aqui.

Você consegue se ver?
Tire uma foto.


Assim está melhor. Veja a sua imagem.
Veja o seu cansaço, sua cara de doença, sua forma tão disforme, tão esgotada.

Esse é o primeiro passo para chegarmos numa pergunta maior e mais intensiva
que é: Por que você está aí e não lá?

Imagine o lá
onde é o lá? quem está lá? é feito do que o lado de lá?



Ótimo. Não esperava que seria algo tão óbvio, mas ótimo mesmo assim.
Bonito, agradável, deve estar bem cheio de pessoas, não?

Não importa.

Voltemos à pergunta: por que você não está lá?

Deitado num dos barrancos de areia e terra, fritando no sol e estressado com o óculos escuro que provavelmente já teria sido levado pelo mar. Por que você não está lá?

Você me dirá das suas responsabilidades, vai me falar das escritas, dos escritos, de ser escritor, de ter que escrever... Isso nós já sabemos. Até quem não te conhece já deduz seus gestos assim num pequeno segundo. A pergunta não é o por quê? Mas, por que você ainda passa por isso se é você quem determina essa coisa toda. Por que você ainda passa por isso de estar aqui e querer lá estar?

O que você faz agora?


Você fuma e bebe café?!
E esse calor atrás de você?
E essa roupa colada ao corpo?
O que você ouve?




O vídeo seja talvez quem lhe apresente melhor. Mais que o cigarro, mais que o café ou a praia no nordeste do Brasil. O vídeo é seu desejo. Vagar, sem calor, cantando e flanando, dançando e sentindo. O que poderia haver de tão difícil numa vida que se tornasse impossível passar por isso, por apenas um isso? De vez em quando nem sempre.

És o cansaço.
E já nem adianta dormir.
Vá sonhando com outro clima, outro lugar, outra profissão, talvez.
Por agora, serás apenas a lamúria de si mesmo.
Serás apenas uma tarde ensolarada e trancafiada em frente ao computador que, pouco a pouco, vai escrevendo sua vida, sua tão importante biografia.

Você nunca teve jeito e me assusta que, às vezes, parece mesmo que nunca terá.

Descanse.
Canse.
Descanse.
Dance

domingo, 25 de dezembro de 2016

Alguma coisa

Desisti de quantidade.

Ando vivendo as intensidades
a frouxidão do corpo que cede ao embate
os socos
tudo aberto
pedindo e sendo passagem.

O perigo caminho junto.

Nunca antes
tudo assim tão
inseguro.

Persisto,
meio forte
meio intranquilo

Haveria algum dia de sossego
que eu esqueci de agendar
e por isso não veio?

Fumaço.

Viro fumaça.

Danço também
mas a dança passa

não a fumaça.

Fumaço.

Homem bruto
burro
tão sensível

que nem deixa lastro.
Deixará falta apenas.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Natal

Perdão, família
Não vou conseguir estar com vocês nesta noite de festividades. Não sei se vocês perceberam, mas neste ano a democracia brasileira foi golpeada. Derrubaram criminosamente a nossa presidenta eleita. Vocês viram? Os caras estão massacrando a nossa humanidade, judiando da nossa luta, fazendo pouco ou nenhum caso da nossa existência.
Vocês viram?
Alô? Família?

E estavam todos vendo o show da Simone na TV Globo.

Por isso não fui.
Por isso, ainda, não vou.

Tropeço

Com insistência me faço cair
Para ver se de vez
A morte possa
Me alcançar.

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