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domingo, 28 de junho de 2020

Uma hipótese


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Aquilo que muda é que paramos de escrever em modo falta e passamos a confiar no poder que as palavras têm de fazer com que coisas aconteçam. Escrever um texto teatral em modo falta seria escrevê-lo partindo da certeza de que ele apenas se realizaria – se completaria – quando posto num palco e encenado.

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domingo, 21 de junho de 2020

Inteligência

Tarde
O sol persistindo
O café preto 
Firme, forte
Acordando a língua 
Remoçando o íntimo 

Posso me apaixonar
por você 
Posso não me apaixonar 
Se devo ou não devo 
Deixe para depois
Venha cá 

Dos medos
Dos traumas transparentes 
Disso nem pretendo
te contar 
Falo a você com um sorriso
Que tenta dizer
Continue, faça continuar 

Fujo dos meus golpes mais certeiros
Fujo das morais e seus volteios
Fujo dos passados e futuros não vindos
Tento ficar agora porque sei
É daqui a pouco
Quando estarei contigo 

Limpar a casa (um pouco) 
Um pouco de perfume (no pescoço) 
O saca-rolhas separado
A mobília da sala e do quarto
Bem limpinha 

Abro espaço para que entre você 
Em minha vida
Não sei do depois
Não sei de nada
Exceto isto: será à força 
Que me farei escutar 
Isso que você sente por mim
E que aprendi a ignorar

quinta-feira, 4 de junho de 2020

quero me constranger

feito piscina
azeitada
feito a gema do ovo
firme por fora
deslizando em superfície
amanteigada

assim me encontro
por isso o confronto
falta-me a dureza
dalguma parede
a bruteza
do som preenchido
que cabe num não

não
por aqui não
dessa forma
não agora
não
assim, desse jeito
sonoro

não

aí talvez um ruído
fizesse talvez ruga
talvez aí
assim se desse
algum troco

preciso disso
necessito
me constranger
para me desacostumar
dessa moleza besta
que se tornou me ser