Pesquisa

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

para sempre aprendiz nisso

E assim, subitamente, um corpo brota e elogia o do outro. Parecia impossível que isso acontecesse um dia. Alguém que mirando o seu corpo desnudo pudesse dizer novamente: como você é bonito.

Você nem reage. Desaprendeu a responder carícias. Você se esforça tamanha a insistência dos elogios. Agradece. Diz o mesmo sobre o corpo que te elogia. Não por dizer, mas porque também se sente bem em com ele estar assim tão reunido.

Vocês produzem calor juntos. Calorzinho bom. É uma graça.

No entanto, após tanto ser ferido e se ferir amando, a cautela no amor é o seu maior abrigo. Você vai sem sede ao peito, lambe com cuidado os mamilos. Sabe que nada precisa ser engolido por inteiro. Nem mesmo o pênis.

Na noite seguinte, sozinho em casa, rolando na cama, você pensa que talvez devesse ter engolido tudo com a devida avidez. Você sabe que será para sempre aprendiz nisso de amar porque amor é coisa que não cessa de morrer e nascer de novo.

Você sorri. Em meio a tudo e a tanto, sobrevive um ou outro sorriso.

Por hoje isso basta. Por hoje, isso tem que bastar.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Mormaço

Fumaça.
Fumaço.
Algumas razões:
sim, aqui é quente
também, falo do ventre.

Tanto que transborda.
Transbordo
Perco o contorno absoluto
De quem era desprovido
Dessa insistência

sobre o peito
no gesto todo
na vista
nos trechos entre pele
e cada pelo.

Que fazer?

Não dou-me jeito
Ora, pois, não é, por quê?,
Para dar.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Dispõe

Nem bem sua atenção
Nem sua escuta
Nada assim tão pouco físico
Não
Nada disso.

Dispõe o pelo todo
A pele - extasiada - implora
Por mais caminhos
Por outros trancos
e barrancos.

Dispõe isso
Isso sim, põe aí
Na mesa da praça
No prato do dia
Dispõe sua humanidade
para ser pelos homens moída.

Com alegria
Aqui estou
Como?

Pelado.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

A imperfeição

Chegou ao corpo.

Nem ao espelho
nem sequer num detalhe
ruga chupa rosto
Não

Machucou dentro
e agora resvala
feito aura adoecida.

Seria mesmo esse o diagnóstico?
Ele se pergunta
enquanto caminha parado
não sabendo se dorme
ou deixa de existir.

Pensou na proximidade:
dormir? morrer?
abandonar-se?

Pensou novamente:
se penso sobre tudo isto
é porque não estou todo
afundado

Certo?

Mudez.

Ficou fria a tarde de verão.

Carnaval?

Hoje não.
Ontem não.
O amanhã se arrasta querendo se fazer presente.

Tudo incomoda tanto
tudo ainda dele tão fora
dele tudo ainda tão ausente.

Seria esse o diagnóstico?
Seria essa a imperfeição forjada durante anos?

A quem amar primeiro, então?

Esta imperfeição
Ele mesmo
ou a impossibilidade de viver esse amor que não ainda se mostrou?

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Uma prática, um nunca chegar e um chegar incessante


Como estoy

¿Cual es el tamaño del amor?

¿Cual el tamaño del reloj?

Vivo en noches que no quedan.

Se pienso en vos
Dejo de ser
Se no pienso
No estoy aquí.

¿Donde estoy?

Vivo en tiempos viejos
Cuando en su abrazo
Estuvo bueno y sin duda.

Vivo en días nuevos
Cuando su sonrisa
Hablaba con mi ojos

Cerca

Muy grande

Te extraño

Y las canciones que cambian
Son como yo
Vida entera en uno solo instante.

Honestly

The closest I can get of the death
Is sleeping
So, sleep
Is all I have.

sábado, 6 de janeiro de 2018

De todas as coisas

Algumas ainda se movimentam
Nem todas
Tola pretensão
Essa do todo.

Tudo não.

Sempre algo escapa.

Sempre não.

Às vezes
Salta comovido
Um gesto
Um singelo, sim, um singelo
a r r e p i o .

Por que ela se diz essas coisas?
Ela se diz porque quer acreditar.

Você diz algo mais?
Tem algo mais a dizer?
Eu a pergunto
Ela me responde

É como se nada mais houvesse
exceto essa uma alguma coisa.

Diz, eu a peço
Ela reluta
Diz, digo sem força
Ela desvia o olhar

O que poderia haver de tão impactante
e ao mesmo tempo tão delicado?

Foi uma pergunta?
Ela me procura novamente
Eu digo que sim, não a ela
Ela me responde

Quero te responder
Quero tentar te responder

E então entre nós o silêncio se procria

Observamo-nos

É noite
Meio quente meio vento frio

Há tanto
mas nem tudo
Um instante
fico nele, segura
Há tanto
nem tudo
Um negócio
Negócio não
Nem coisa
cansei das coisas todas
Nem quiçá quero nomear esse isto
de arrepio

Não
não
não mesmo
Isso do que falo
Isso que eu sinto

É apenas aquilo que já foi
É apenas aquilo que perdi

Mas que continua.

Continua.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Oh, Miranda

Um pano branco
Por baixo
O azul
Por cima
Ao redor
Terra fofa e escura
Úmida e cheirando à vida.

Enterrada e quentinha
Sem ranger respiração
Te vi descansar
Adentrando este mundo
E devolvendo a ele
Sua pequena imensidão

bicho tão pequeno
tão capaz do amor
minha pequena amiga
que breve o seu despertar
que chata essa pequena dor

Uma semana juntos
Uma apenas
Você se foi
E continua

Te guardo. Sob a terra
Te guardo no cheiro e no pelo
No carinho e no encaixe
Miranda,
Miranda,
Miranda,

descanse.

Arquivo