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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Resto

Sobrou isso

Essa calma, a mesma cama
Camisa folgada
Água e mais um pouco
Gelo

A poeira dormiu
O sol foi todo repetitivo
Bastava gastar a energia na noite
Para então brindar o dia
com a ausência deste homem.

Sobrou isto apenas

Quase nada

Uma paz, enfim.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

O que se revela quando ao fim

São perguntas, mas não quaisquer.
No fim, as perguntas são apenas as que têm força.
São as que sobreviveram ao martírio das respostas apressadas.

Hoje eu me olho rendido por elas, pelas que sobraram.
Que força imensa brilha em seu gesto.
Que tranquilidade de quem sabe que sim, eu estou aqui para isso,
para te examinar inteiro, para desfazer seu pretenso sossego
Eu estou aqui.

Você consegue se ver?
Tire uma foto.


Assim está melhor. Veja a sua imagem.
Veja o seu cansaço, sua cara de doença, sua forma tão disforme, tão esgotada.

Esse é o primeiro passo para chegarmos numa pergunta maior e mais intensiva
que é: Por que você está aí e não lá?

Imagine o lá
onde é o lá? quem está lá? é feito do que o lado de lá?



Ótimo. Não esperava que seria algo tão óbvio, mas ótimo mesmo assim.
Bonito, agradável, deve estar bem cheio de pessoas, não?

Não importa.

Voltemos à pergunta: por que você não está lá?

Deitado num dos barrancos de areia e terra, fritando no sol e estressado com o óculos escuro que provavelmente já teria sido levado pelo mar. Por que você não está lá?

Você me dirá das suas responsabilidades, vai me falar das escritas, dos escritos, de ser escritor, de ter que escrever... Isso nós já sabemos. Até quem não te conhece já deduz seus gestos assim num pequeno segundo. A pergunta não é o por quê? Mas, por que você ainda passa por isso se é você quem determina essa coisa toda. Por que você ainda passa por isso de estar aqui e querer lá estar?

O que você faz agora?


Você fuma e bebe café?!
E esse calor atrás de você?
E essa roupa colada ao corpo?
O que você ouve?




O vídeo seja talvez quem lhe apresente melhor. Mais que o cigarro, mais que o café ou a praia no nordeste do Brasil. O vídeo é seu desejo. Vagar, sem calor, cantando e flanando, dançando e sentindo. O que poderia haver de tão difícil numa vida que se tornasse impossível passar por isso, por apenas um isso? De vez em quando nem sempre.

És o cansaço.
E já nem adianta dormir.
Vá sonhando com outro clima, outro lugar, outra profissão, talvez.
Por agora, serás apenas a lamúria de si mesmo.
Serás apenas uma tarde ensolarada e trancafiada em frente ao computador que, pouco a pouco, vai escrevendo sua vida, sua tão importante biografia.

Você nunca teve jeito e me assusta que, às vezes, parece mesmo que nunca terá.

Descanse.
Canse.
Descanse.
Dance

domingo, 25 de dezembro de 2016

Alguma coisa

Desisti de quantidade.

Ando vivendo as intensidades
a frouxidão do corpo que cede ao embate
os socos
tudo aberto
pedindo e sendo passagem.

O perigo caminho junto.

Nunca antes
tudo assim tão
inseguro.

Persisto,
meio forte
meio intranquilo

Haveria algum dia de sossego
que eu esqueci de agendar
e por isso não veio?

Fumaço.

Viro fumaça.

Danço também
mas a dança passa

não a fumaça.

Fumaço.

Homem bruto
burro
tão sensível

que nem deixa lastro.
Deixará falta apenas.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Natal

Perdão, família
Não vou conseguir estar com vocês nesta noite de festividades. Não sei se vocês perceberam, mas neste ano a democracia brasileira foi golpeada. Derrubaram criminosamente a nossa presidenta eleita. Vocês viram? Os caras estão massacrando a nossa humanidade, judiando da nossa luta, fazendo pouco ou nenhum caso da nossa existência.
Vocês viram?
Alô? Família?

E estavam todos vendo o show da Simone na TV Globo.

Por isso não fui.
Por isso, ainda, não vou.

Tropeço

Com insistência me faço cair
Para ver se de vez
A morte possa
Me alcançar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Cenografia do Acontecimento

Fiquei pensando ser você apenas o espaço no qual eu vim a mim me revelar. Sei que parece muito algo ensimesmado, mas é isso, não? Você foi apenas o caminho no qual vim a me conhecer.
Não, não há desmerecimento. Ao contrário, hoje percebo, sendo você cenografia para o acontecimento, fez você em mim mais que o mais imenso. Você me revelou quem eu sou quando não te tenho, você revelou quem eu costumo ser quando distante de um ti sobro sou eu sem nenhum outro você.

Das voltas que o mundo pareceu não ter dado

Algo hoje a nós e sobre nós dois se revelou, meu amigo. Faz anos você me deu adeus. Quantos anos? Foi 2010 ou 2011. Você disse estar partindo, ciente que o mundo daria voltas e que então nós dois nos veríamos de novo. O mundo girou, deu voltas, voltas gigantes, a gente se reviu, em vários momentos, a gente se frequentou.
Mas hoje, eu vendo você falar, ouvindo o nosso papo, fumando o nosso desembargo, um ao outro, hoje, eu percebo: as voltas que o mundo daria talvez ele não tenha dado porque estamos nós como outrora éramos um ao outro: pleno amor.
Que bonito. Obrigado. Isso é o primeiro amor.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Algo mais?

Nada
Não
Nada mesmo

Sua presença
Frente à minha
Aguça meu existir.

Se me achava algo
Frente a ti,
Eu sou algo inédito

Algo por vir.

Da incansável inconstância

Aqui
Agora. Exato aqui
Exato neste instante
Há remendo se fazendo.
Duro ao menos mais um
Dois ou sete tempos.
Há como continuar.
Para que de novo
Já já
Tudo se pareça enfim
Desistido.
Agora
Neste segundo
Ouço outro disco.
Dispondo-se a outro risco
Existo, eu, eu existo
Ciente de que amanhã
Mesmo logo no já
Tudo enfim desmorone.
Nuncs palavra alguma deveria ter que dar conta.
Sobrevivo entre passos fundos
E sequer esboçados.
Mas vou, sigo
Elevando a mim mesmo
Na intensidade que dita o caminho.

Eis uma tarefa determinante:
reconhecer que a vida é jogo trepidante
E não para os tísicos.

domingo, 30 de outubro de 2016

Ao Freixo.

Meu caro amigo Freixo,
Nem posso te chamar de desconhecido. Nunca antes alguém disposto à política me foi tão familiar. Escrevo dentro de um ônibus, retornando à minha casa após passar várias horas na Cinelândia, acompanhando de perto a apuração dos votos que te fizeram, sim!, prefeito desta cidade.
Em tempos tão sombrios e obscuros como o nosso, em que o cinismo impera, a sua presença fez acordar algo distinto, um desejo de presença e de renovação, que independente do saldo dessa eleição municipal, continuam. Hão de continuar.
Tenho tanto a te dizer e a te agradecer que esta mera pastagem num blog quase invisível jamais daria conta. Mesmo assim, pelo prazer e demanda na nossa luta, não me permito fraquejar. O caminho anuncia tempos nebulosos, mas, Freixo, o que sua campanha me fez aprender a valorizar foi justamente a confiança na mudança. Sua campanha me presenteou com aquilo que eu havia me esquecido: que existem - sim - pessoas destinadas a algo mais que o próprio umbigo.
Nas últimas semanas, com sinceridade e motivação, me vi conversando com todas e todos que me cruzavam afim de compartilhar e ouvir opiniões sobre a atual situação política de nossa cidade e país. Para o meu espanto, ainda que fosse óbvio, me deparei com muita gente desistida de falar sobre política, gente já entregue acreditando que se entregar fosse a melhor saída.
Paga-se mesmo um preço alto por isso de se importar com algo além de si mesmo.
Assim, segui meus dias, fiz minhas conversas, trouxe luz a alguns e confusão a tantos outros.
Passo agora, dentro do ônibus, em frente à Prefeitura do Rio de Janeiro. Um pesar me assola. Uma indignação, ao mesmo tempo, me conforta. Sim, uma ira, raiva mesmo, uma certeza plena de que a vida inteira seja luta. A vida inteira deve ser isso mesmo: inconstância, perseverança, presença em ação; Luta. Simples assim.
Queria lhe dizer, caro Freixo, que o mundo ainda não está pronto para a sua ousadia. O mundo, maior parte dele, ainda não tolera a diferença. Ainda não sabe conversar. Esse é o saldo de uma cultura escrota, criminosa e apenas para poucos. Eis a cultura de um país escravo que só viu no horizonte ser colonizador.
Mas, aqui estamos nós. Aqui estamos nós - e somos muitas e muitos - disponíveis ao sacrifício de nossa própria paz para que o mundo seja menos aquilo que ditam os poderosos e mais aquilo que deseja o nosso corpo, corpo imenso, corpo multidão, corpo tingindo à diferença, corpo em movimento e em intensa e constante modificação.
Hoje não foi a sua eleição, mas não foi para a prefeitura, porque você se fez eleger a muitas e muitos, você deu voz aos anseios mais honestos que trago comigo. Você, Freixo, deu voz ao que pulsa e ressoa em voz silenciosa comigo. Trouxe você um desejo de tornar mundo aquilo tornado invisível. Você me fez relembrar que não se está sozinho.
Choro passando pelo Maracanã. Estádio sede da corrupção do poder. Choro porque muita dor está por vir, mas também junto a ela muito prazer. Nunca antes estive tão certo de que o duelo com o mundo fosse algo tão constante e interminável. Agora eu sei. Não acabou. Quer dizer, tudo acabou e tudo acabou de começar. Também. Fim e início. Fim e princípio.
Tudo acabou de começar.
O cinismo, o homem sem escrúpulos, nada disso vai vencer, nada disso tem capacidade de germinar. Numa cidade imensa como a nossa, cidade contraditória, numa cidade como essa foram muitas vozes em uníssono que se juntaram a sua canção. Isso significa mais que um placar de futebol.
Continuaremos. Continuarei. Continuarás. Porque ao mal desse mundo, não há Deus que possa fazer frente. Frente ao homem é só mesmo o ser humano quem pode se colocar.
Aqui estou eu. Aqui estamos nós. Aqui, junto a você, Freixo.
Diogo Liberano.

alguma confissão a si mesmo

nada. talvez, nada mesmo, diogo. nenhum segredo. nenhum? não, nada, nenhum mesmo. sério? uai. tô dizendo que não. parece haver alguma coisa? sim, eu diria. você diria? estou dizendo. sim, eu acho que existe em você sempre alguma coisa não dita, alguma coisa por dizer.

eu respiro. uma música toca alto agora dentro do seu quarto. você quase nu, em descompasso. o que será que você pode me dizer que agora, neste instante, não parece existir em você?

eu salto linhas. haveria alguma coisa? sim, o fato já sabido: sempre penso em você. eu não quero te esquecer. não! isso não vale. isso é a letra da música que agora toca. ok. você percebeu. sério! diga-me algo que não esteja previsto, algo em segredo, algo íntimo.

eu penso. o que haveria em mim que não estivesse assim tão evidente? eu não sei. não acredito em amor. dei uma cansada, confesso. dei uma cansada do amor. não que eu não esteja pronto para recomeçar, sempre pronto, de malas prontas, mas, agora, não. não acredito. dei mesmo uma cansada.

eu bebo outro gole do meu vinho. ninguém aqui comigo exceto nós. eu e você. você, cheio de tantos. desejo de perder, de rodar, bailar, de gritar, sumir, voltar. sumir, mas para voltar. aqui. para cá. você repetiu a música? sim! pela terceira ou quarta vez. estou gostando dela. quero gastar esse amor. essa dor!

ah!!!

sempre assim? não, nem sempre. às vezes, sim, sou mais comedido, mas, por agora, é tudo o fim e o princípio. sempre o medo de não me ser, sempre o medo de perder. por isso a insistência. não, não se trata de ser herói, mas agora que tudo se foi, resto eu aqui, não? presente e impaciente, presente sobre as palavras e ausente de mim mesmo.

os dentes trincam. meus dentes, meu deus, eles estão rachando. dói e eu bebo, e eu fumo, e eu inventando sempre algum pretexto para deixar de me ser. como é cansativo isso de ser alguém, não? difícil isso de ter que ser biografia.

pode, ainda, me dizer alguma coisa? capaz de me fazer doer?

eu sou você, não sou?

sim, sempre será.

difícil isso de fazer doer a si mesmo, nesta hora, já tão tarde.

tenta.

devo?

sim, por favor.

eu respiro. eu acendo outro cigarro.

talvez nisso de acender outro cigarro eu já amoleça a dureza do porvir. o que você deseja, diogo, cabe em ti? não. ok. isso já sabemos. o seu desejo não mora no seu corpo nem morre nele. é sempre maior que ti. mas, e agora? a essa hora? como fazer com aquilo que não tens e que gostarias de ter?

salto linhas. acendo cigarros. seu dente dói?

deu para doer. está doendo muito nesses últimos dias.

e o dentista?

vou tentar ir na segunda.

hoje é sábado?

já domingo. quase.

e aí?

eu vou dizer. tudo, durante toda a minha vida, me convidou a postergar o encontro. eu deixei de ver meus amigos que já morreram, eu não fui a uma pequena dezena de enterros, eu posterguei ao amanhã - que também não veio - aquilo que jamais saberei o que foi. uma habilidade doente eu adquiri. de ser quem eu sou independente do que o destino quis de mim. disse que ia e não fui e assim vou sobrevivendo. vou eu assim meio duro meio certo sem saber ao certo o que devo. o que devo ser e fazer logo ali na esquina.

se um dia eu fizer um grande serviço à humanidade, será então devolver-lhe o sono perdido. como é precioso dormir e acordar no depois. eu durmo com o problema, sem ele, sobre ele, eu durmo de qualquer jeito.

isto não é uma confissão.

a habilidade - facilidade? - de escrever, livra-me do difícil que é encarar.

não que eu fuja, mas faço outros caminhos.

algum fiapo de coisa?
alguma coisa em fiapos?

dá para ver que eu danço tudo isso?
eu danço!
levanto-me!
eu danço!!!


sábado, 29 de outubro de 2016

porque não.

não posso com isso
de ultrapassar a mim mesmo.

não
não posso mesmo.

já sei faz tempo
mas sempre é agora, não?

agora me vejo rendido
entre um sim e o não.

que força imensa
esconde uma pequena fração.

três letras.
sim. não. não mesmo.

no decorrer dos tempos
fui aprendendo a ser fiel
a mim mesmo.
se sinto que sim digo que sim
se sinto que não
então é não, meu irmão.

minha irmã
cara amiga
moça
dona
o que for
eu digo não a você
porque você me traz um atropelo
que não

não mesmo

estou minado
sem fim nem princípio
tudo em mim ruiu
não quero mais
então ou eu digo não
ou sou eu rumo à puta
que nos pariu.

juventude?
leviandade?
não!
não!!!

por favor
não me faça achar
que minha decisão
que pulsa
agora
meu peito
não me faça acreditar
que isso seja pouco
porque não é
não é não

dói-me o corpo todo
dói-me inteiro
o corpo todo
caso eu faça dele
caminho para aquilo
que dentro
eu sei
eu sinto
é não.

um dia eu perceberei que aprender a dizer não faz um homem se ser.

hoje
a título de teste
eu digo não.

não.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

King of Pain

It's been hurting me.

A lot.

I wish I could disappear.

I can't.
I know I can't.

I woke up today and I was wondering
If I could get a new one
Another one
But this is my favorite pain

Oh, no
No, baby
I'm not sure that you are my best pain

I have others

I don't wanna play dumb
Anymore

I'm just feeling something
Harder than before

Before of you
Before of all this shit
There's a real pain I'm in love

Toothache.

Bottle

I was seeking
Just in search of
I was there
When you appeared

Everything was full of
There wasn't any other time
I was there
I saw

No hungry
No fear of getting the ball
I have been trying
But I don't know

This pain
Is painting my days
It is what I have now
So what?

Dance
Dancing
Dança
Dançando
I do
I dor

Empty bottles of
Wine
Of water
Of work of you
Off you

I'm leaving
Just living

sábado, 15 de outubro de 2016

algumas pistas para o não acontecido, ainda

acordei na posição ridícula em que havia me deitado sem saber que já estava dormindo.

as pernas pendendo ao chão, metade do corpo sobre a cama, de cueca e com a calça sobre o rosto.

vi que já era manhã. dormi bêbado e sem escovar os dentes.

a porta do quarto estava fechada. vi o vaso de planta no chão e pensei: os gatos fizeram a festa.

um cigarro solto sobre o móvel. um copo de plástico vazio (veio comigo?).

quanta coisa aconteceu enquanto eu estava dormindo?

acordei e procurei o celular, fui ao banheiro, bebi água, encontrei o celular.

foi preciso ligar o ventilador de teto.

no celular, uma mensagem de parabéns. de quem?

de alguns que já não participam mais da minha vida.
uma mensagem. depois outra. todas dizendo aquele mesmo texto
do feliz ano novo, do parabéns, das alegrias, do tenha um belo dia.

pensei

que porra é essa?

sinto-me tão invadido nessa era dos celulares biônicos.
queria ficar no meu silêncio
para então ser roubado para um abraço bruto e instantâneo.

bom dia, ele se disse

feliz aniversário, disse ele

é agora

que a coisa começa
querendo fazer da coisa já começada
outra coisa
coisa nova distinta almejante à diferença

\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

28 anos morrendo sem freio,

Seus pulmões doem quando você tosse, Diogo.

O que mais poderia eu lhe dizer?

Uma certeza te abala: sabes tu que vai morrer. Nem bem quando, nem bem sabes o motivo, mas sabes que a morte é sua maior amiga. Você, desde quando a soube, fez questão de a trazer contigo.

Junto.

Você trama estas linhas não para se livrar do que virá, mas porque precisa chegar mais perto, precisa o dente podre arrancar para enfim

sangrar.

Tenho observado como você tem observado seus dentes. Um fascínio nasceu em você. E é justamente sobre perceber como o seu corpo se gasta. Como o seu corpo está se gastando. Quanto mais você passa mais você vai ficando velho e isso não quer dizer idade, quer dizer também a presença disforme da falta de cuidado.

Quantos hoje?

Quantos cigarros?

O que um dia foi excêntrico virou em ti logo normalidade.

Você se orgulha de determinar suas regras.

Você se diz amigo da morte, mas se ela vier você vai se emputecer porque não teve tempo de fazer certas e indevidas coisas, mas veja: suas veias da mão estão inchadas.

Adianta ter energia se você apenas a usa para a sua completa desgraça?

Você não se importa mesmo?

É sério?

Você me tira a noção do possível.

Parabéns. Já se foram 28 anos morrendo sem freio
e parece que vai continuar.

29 !


quinta-feira, 13 de outubro de 2016

"Você é muito bonito"

Ele estava com o olhar perdido, mas firme. Olhava não o simples a sua frente, mas o imenso que o simples pode trazer consigo. 
E então uma moça veio em sua direção. Era rua, noite, cidade, ele estava sentado mastigando um sanduíche de salame e ela se aproximou. Ele recobrou o olhar e retirou apenas um dos fones do ouvido. E ela lhe disse: "você é muito bonito". 
Ele sorriu leve, disse "obrigado" e então ela partiu. 
Daqui onde eu o vejo, fico me perguntando o que poderia manifestar sua beleza. Ele está cansado, meio suado, bebendo uma cerveja e mastigando lento um sanduíche ordinário. O que pode fazer desta criatura algo assim merecedor de tal intempestiva afirmação? 
Penso se é porque ele está apaixonado. Mas pelo o quê? Não é um amor humano. Não pode ser. Quero dizer: ele está apaixonado não por alguém, mas pela vida em si. A vida, mistério sempre rachado e exposto. 
Lá para onde ele olhava antes de ser atravessado pela moça que passou pela calçada, o que lá havia que nutriu sua beleza? Havia contemplação. Nem antes nem depois. 
A contemplação sustentando o pulso de um mundano e qualquer coração. 
Ele agora limpa as mãos sujas do limão que espremeu sobre o sanduíche. Ele enche novamente o copo com mais cerveja. A beleza nasce dele e nele mas é toda do mundo. Sua beleza só reluz porque hoje há fora.
Aqui de onde eu o vejo, ser belo é ser amigo do instante que te faz. Cansado, suado, recém saciado, acendendo um cigarro, eu sou bonito, não porque sou, mas porque ser belo é estar por si mesmo abraçado. 
Eis o fascínio da solidão.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Inoperosidade

Não ter que corresponder. Ele pensou, após gastar força se forçando em direção ao acontecimento. Haveria - de fato - essa necessidade? Seria preciso fazer algo?

Em seguida, ponderou que não corresponder não era o mesmo que descaso. Não corresponder não seria algo como ficar inerte e indiferente, mas, pelo contrário, tenderia mais a ser um tipo específico de relação que não preza pela finalidade nem pelo produzir de alguma finalidade.

Seria como não ter que ser nada. Não ter que corresponder ao ter que ser coisa alguma.

Respirou.

Assim, inoperante, é como estou hoje.

Ou não, menos, inoperoso, é assim como hoje estou.

Não atendeu aos telefonemas, não deu gás aos cotidianos dilemas, continuou sentado, entre o deitar do dormir e o prumo do ofício. Depois ousou inda mais: saiu de casa sem carteira e deixou a porta aberta. Foi à rua, mas não em direção às avenidas manifestantes.

Passou ao largo do furdunço para encontrar um chão de terra onde pudesse descalçar o chinelo e mirar o céu como nunca fizera antes. E fez. E ali ficou. E - de fato - no dito chão não se enraizou. Não, não fez poesia nem vingou metáforas.

Era todo contemplação. Ali, preso naquele gesto duradouro, que não servia para nada exceto para si, ainda que sem explicação.

Inoperoso. Hoje, assim, eu estou.

Não tenho que corresponder.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

No quase todo

Houve
Na distância
Alguma revelação.

Viram, os dois,
Que não. Não se tratava mais
Daquilo que um dia
Foi o caso aos dois.

Perceberam, como quem descobre,
Que o martírio de cada segundo
No longo do tempo
Era retinto amadurecer.

Não foi antes
Nem depois do que não podiam reconhecer
Foi no átimo exato
Do cansaço.

Quando um corpo restou só
E por demais cansado
Não sofreu que o outro
Não estava ali a lhe acolher.

Curou-se então quase tudo.

domingo, 2 de outubro de 2016

Fiapo

Não seria preciso falar muito.
Nem necessário seria dispor tudo à mesa,
Tão pequena e frágil.

As cinzas no cinzeiro não precisavam
De mais irmãs.
O silêncio do quarto
Mesmo a fome no estômago
Nada queria assim
tão desesperadamente
Ser saciado.

Um fiapo
Um fiapo
Nele uma existência calma
Por seu diálogo.

Mas veio o manto
Veio o pranto
Tanto veio

Que se perdeu
A única coisa
A qual se destinava.

O poeta

Ele deixou de ser quando se achou capaz de escrever o mundo. Ele se perdeu de si quando soube a palavra exata no exato segundo. O poeta dele partiu quando a velocidade do desejo não fez reverência ao silêncio que precede alguma revelação.

O poeta sim. Ele não.

Presa

Como num salto
Perdido dalguma beleza
Escrevo a urgência
Que me desorienta.

Um dia talvez eu perceba
Que a pressa que acrescenta
Este s que não cessa
É o que faz de mim

Esta presa

Entre os dentes do ser eficiente.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Helena me emprestou uma camiseta


Acabei de descobrir que minha mala foi mexida no aeroporto.
Eu juro que trouxe mais camisas, mas, agora, ao procurar, não encontrei.
Tudo bem.
Helena me emprestou esta camiseta.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Teorismo

E então Manoel soltou
Esta palavra.

Como dizem
Ela passou batida
Em nossa conversa
Mas, sinuosa,
Em mim criou
Morada.

Teoria
Teorias
Terror
Terrorismo

Teorismo.

Risco imprudente
Que cancela o jogo
Por conta da prosa pululante
E imponente.

Não,
Não me venha falar por conceitos
Sem antes me dar bom dia.

Não,
Não torne confissão aquilo pelo qual
Tua pele não grita.

Não,
Não tente me impressionar.

Não,
Não me venha feito Narcísio
Querendo sugerir mistério
Onde vitalidade nem há.

Cansei de sua ode repetitiva
Do seu saber faz separar
Cansei de ter que me cansar
Sempre que a mim vem sua fala
Versar sobre o amor que sentiria

Não fosse nosso diálogo tão
Já previsto nos manuais do século.

Sua moda não faz meu corpo desfilar.

Moda sua cansa
É cínica e não se pode mais
Tolerar.

Turismo

Ouvi dizer que foi na distância
Que ele se encontrou consigo mesmo.

Soube por outrem
Que isso de sair daqui
Abre mais coisas
Do que apenas o turismo.

Desconfiei, num instante imaturo.
Depois achei prudente me aproximar
Para, enfim, desconfiando
Distanciar.

E nem fui tão longe
Coube no bolso
Mas foi tanto
Que essa coisa de valor
Amanheceu meio pouca.

Não saberíamos dar a ver
Ao valor que não se mede.

Longe
O que envolve ele agora
Não havia sido prescrito.
Lá longe
A certeza de si é dissipada
Em fumaça e circunstâncias

Não dá para se apegar.

Estranho
Revolvo
Descubro
Descobro as exigências que sobre mim
Me fiz pousar.

Longe da mãe capital
O medo e o risco
Perfumam-se em liberdade.

Eu precisava.
Ele também.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Outro caderno

Que me fizesse sair de mim
Um pouco, ao menos,
Já teria sido poesia.

As coisas da cidade
Sua dor sem brilho inventado
A sina dos homens
Aquilo que tanto sabíamos
Neste caderno
Outro
Eu teria me destinado a.

Talvez porque me sobre
Vergonha
Por incapacidade
Tristezas
Por conta da jovem idade
Que desaprendeu a rima
E foi morar só neste verbo
Monotemático

Eu
Eu
Eu
E o resto?
O outro?

Repasse para outros
Cadernos outros
Vindouros.

domingo, 11 de setembro de 2016

A iminência da própria morte

Arranquei um dente.
Existe uma impaciência em mim que me impede de ter o devido cuidado comigo mesmo.
Arranquei-o, não me orgulho, sinto dores, mas sabia que isso seria o saldo de tal gesto.
Gesto sequer intempestivo. Gesto ciente. Eu sabia de tudo isso, porém, a dor é sempre um acontecimento.
Penso se não haveria uma iminência de morte em mim, sempre se anunciando, sempre fazendo composição com um ou outro gesto meu.
Penso que só poderia se tratar disso.
Tão simbólico, isso dos dentes. Meus dentes estão caindo, eu sinto, mas ainda que exista alguma abstração nisso tudo, eu estou os arrancando, de fato.
Dói ao mastigar, ao fumar, ao escovar, dói sem parar. E o que eu faço?
Eu tomo um anti-inflamatório para me esquecer da dor e aliviar.
Acordo mais morto a cada dia. Por que postergo tanto algum cuidado?
Se alguém me chama, clamando por cuidado, nem clamando, apenas se alguém me pede algo, eu já estou lá, todo me doando, todo servindo ao outro, mas, e quando é comigo?
O que eu faço?
O que faço comigo?
Durmo em dor. Acordo em dor. Vivo doendo.
Será que acho heróico tudo isso?
Queria ser menos idiota e dar um fim a isso?
Sabe o que faço?
Durmo então sem escovar os dentes.
Para desafiar, ou não, a dor que me mata, a morte que em mim permito que se escreva.

Dos livros

Comprei outros vários.

Continuo emburrecido.

Compro. Assino meu nome
É tudo posse
Tudo pose

Eu não leio

Eu não sei o que estou fazendo comigo.

Férias

Fiquei pensando
Se haveria a possibilidade
De eu tirar férias
De mim mesmo.

Dizer

Disse o que precisava ser dito
E aquilo que não precisava?
Faço o que com isso?

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Coisa e Tempo

Hoje
Olhando eu eu lá atrás
Até chego a rir, um pouco,
Por ter sido tão enérgico
Tão tenaz.
Que sufoco, eu velho penso,
Ter querido demais a vida
Sem ter tido algum cabimento.
Hoje eu chego a rir
Porque agora me faltam palavras.
No entanto, houve tanto,
Que sobrevivo
Se agora me fosse ordenado
Ser Só Memória.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Fraturo

Não quisesse eu saber
Mas soube.
Não quisesse que assim fosse
Mas foi.

Minha presença
Em terras familiares
Quebrou toda.
Resto eu e um desânimo
Em poesia
Tentando nos dar jeito.

A vida trama habilmente
A efetividade do seu ruir
Completo. Nada sobra, nada
Há de sobrar.
Tudo morre.

E eu, de longe, meio perto,
Desconfiando à distância,
Eu sem sorte
Vendo nas decisões tomadas
O desejo de ter sido todo
Interpelação.

O desejo de ter tirado o jogo
Do atual estágio, para convidar
Seus jogadores a outra evolução.

Doo sozinho.
Minhas revoluções morrem
Abruptas nisso de só comigo.

Queimo ao sol
Transformando manhã
Em campo de extermínio.

Queria viver
Mas o mundo está tão preocupado
Com o que dizem os vizinhos
Que já desaprenderam o básico
Talvez
Do que poderia ter sido
Estar vivo.

Oval

E então, quase em roda,
Disse a eles e a elas
Que seria necessário conversar
Isso mesmo, fazer roda, tocar
No problema e não mais fingir.

Silêncio.

Depois de um tempo,
Um deles me pergunta qual
É o problema? Outro afirma,
Certo de si, que estamos conversando
Até que a mãe, rainha do cinismo

Diz que talvez eu estivesse querendo a roda porque trabalho muito assim, muito em roda, trabalho muito sentando junto com os outros para vasculhar os problemas.

Seria um elogio, não estivesse a vida deles
E delas, tão distante de tudo.
Devo me sentir fora do padrão?
Devo me sentir injusto?
O que eu estou a eles e elas
O que estou exigindo?

Uma conversa
Nem bem precisa ser em roda
Um abrir do abismo
Dissecando sua engenharia
Silenciosa.

Não.

É melhor fingir que está tudo bem.
Não falaremos sobre os roubos
Cometidos pelo seu irmão.
Fingiremos que está tudo bem.
Tudo bem.
Ele vai dar a volta por cima.
Ele já fez isso noutra vez.
Ele roubou, deu a volta por cima,
De todos nós, e ainda conseguiu
Emprego, dinheiro, deu brinde para
Todos nós.
Ele vai conseguir.
Ele vai dar a volta por cima.

E que cima é esse?
Que não para de ser chamado?

Que cima é esse?
Insondável?

O ser humano é o pior da humanidade.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

aquilo que eu (não) poderia te dizer

(não) poderia te dizer que está tudo bem
está tudo bem, mesmo, pode confiar
eu poderia (não) te dizer que se trata de nós dois
mas sim do mundo
de todo o mundo
eu sou parte disso
você também
mas é comigo
(não) é só comigo

(não) poderia te dizer que se trata de alguma mazela psicológica
(não) estou de luto, mesmo, (não) estou
não estou
não estou

eu poderia te dizer que é preciso tempo
um tempo (não) meu
um tempo (não) do universo
um tempo (não) entre a gente
que é preciso um tempo de sono
de silêncio
de desistência
tempo de nada a fazer
nada a ninguém
nem a si mesmo

(não) há paixão
(não) há retorno
(não) posso te dizer
o que carrego comigo dentre tantos parênteses

(não) é bem medo
(não) é mesmo
(não) é culpa de ninguém
como pode?
ser culpa de ninguém
(não) ser culpa

essa poesia (não) é sequer aquilo que sinto
estou sentindo tudo truncado
mas é claro
tudo me é claro
tudo (não) me é claro

vês?

dentro do meu silêncio mora em abismo um lago
retinto
sujo
até bonito

mora em mim
um mistério que não acaba
um silêncio que não quer se grito
uma confissão exasperada
de quem não está sabendo
viver bem nem contigo
nem consigo
nem com esse mundo abuso
mundo bruto
mundo rude
mundo morrido.

sobre o processo de impeachment

rio de janeiro, 30 de agosto de 2016.




janaína paschoal, miguel reale júnior, aécio neves e tantas outras e outros, vocês são - de fato - péssimos. falam por meio de falas que se utilizam de fatos pervertendo o contexto em que tais fatos se deram: falam que o povo foi às ruas contra o crime que dilma teria cometido. o povo que foi às avenidas paulista e atlântica, zonas endinheiradas das principais capitais brasileiras, são paulo e rio de janeiro, não são apenas o povo que há. o que vocês não falam – sequer mencionam – é sobre o povo, ou melhor, sobre a multidão que foi e segue indo às ruas contra essa violência sendo feita a nossa jovem democracia e que são recebidos pela truculência policial e militar. em suas falas, essa gente generaliza o desconforto que sentimos hoje e fazem uso indevido dele, dizendo ser ele causa de uma única coisa: o crime de dilma. eles se usam da importância do respeito ao senado e ao povo brasileiro ignorando que suas falas são desrespeitosas a qualquer ser humano que esteja menos interessado em seu próprio umbigo e mais na comunhão dos homens em sociedade. sabemos bem o inferno da vida política brasileira, no mínimo, desde quando dilma foi reeleita. voltamos a falar sobre política. são os ricos no poder dando tiros porque não sabem perder. é simples, é fácil de ler. é gente que não está acostumada a não ter privilégios, porque essa é a história da humanidade e é sobre esse fato que repousa intranquila a prática democrática. essa chacina à democracia denota que aqueles que não “estão no poder” ainda não entenderam que não se trata de “estar no poder”, de ganhar, porque não é jogo de futebol essa porra, não é sobre eles (os derrotados), não deveria ser sobre eles, mas sobre o nosso país. sobre a nação, o brasil, uma república presidencialista. fico chocado com o cinismo de tantas falas ouvidas neste processo de impeachment. é visível a impudência, a desfaçatez e o descaramento. não precisa ser diretor de teatro para farejar a mentira pestilenta que escorre desses ditos humanos. não é preciso muito porque seus rabos estão presos, suas ações são feitas a partir de pretextos já sabidos e acordados, são conchavos os pés que sustentam esses péssimos homens políticos. estes homens brancos que se portam como se fossem donos do poder, eles não são eles, mas sim o uso que é feito deles. e uso feito por quem? uso feito pelo quê? ora, quem os usa é o poder. é o poder que os determina. é o poder que os orienta e deforma. o poder destrói tudo, inclusive e sobretudo a experiência democrática. michel foucault vai nos dar a dica: "não caia de amores pelo poder". ele está falando sobre ética. ele vai dizer: “prefira o que é positivo e múltiplo; a diferença à uniformidade; o fluxo às unidades; os agenciamentos móveis aos sistemas”. ora, a democracia é múltipla, povoada pela diferença, por fluxos e agenciamentos móveis. a democracia se movimenta e é mesmo instável porque não está pronta nunca. o projeto, e isso já é nítido, que michel fora temer está impondo goela abaixo dos brasileiros é um projeto que visa substituir a profusão de subjetividades que a democracia demanda e emana, por um modelo velho, machista, patriarcal e pautado em uma unidade fantasiosa: será preciso força impiedosa, violência e muita indiferença, para vingar este projeto de temer porque é um projeto velho que não comporta mais o nosso tempo. projeto surdo aos gritos dessa época. michel fora temer fala da unidade do povo brasileiro, mas o povo brasileiro não é povo, meu caro antagônico. nosso povo é multidão, é muita gente que não cabe no mesmo quadrado. e os indígenas? ninguém fala deles? temer não fala, ele, com certeza, dos índios não fala. isso significa que para o projeto de michel fora temer (que nada mais parece ser do que o maior rabo preso de nossa história recente) vingar, para o seu projeto vingar, vai ter que morrer muita gente. muita gente vão ter que matar. muitos de nós morreremos porque não interessa a essa gente que “ocupa” o poder que eu possa ser em potência, ou seja, que eu possa me ser. eu, diogo, artista, brasileiro, gay, eu já fui punido. a instância que me representa, o ministério da cultura, já foi desmantelada (e continua sendo). eu não sirvo ao jogo econômico e empresarial que estes homens querem fazer da vida política de um país inteiro. eu vou morrer no país deles. eu serei expatriado. e não só eu. morrerão todos que se sentiam representados nas cores da logomarca colorida do governo de dilma. ficou tudo azul na logomarca imposta de michel fora temer. tudo azul e o resto? e as cores que não cabem no cínico azul? as outras cores morrem, as outras peles padecem, as diferenças ou se empalidecem ou hão de ser exterminadas. não, em minha fala não há nenhum deslumbre barato pela presidência de dilma rousseff. porém, e isso é nítido, eis um governo no qual o diálogo, a multiplicidade de corpos e falas, vinha se firmando e se fazendo. um governo democrático que, naturalmente, vinha se buscando. as coisas dialogando se misturam e forjam novos e outros mundos: o pobre e a universidade têm entre si novas pontes. isso deve mesmo ser insuportável aos que “trabalham” com política visando apenas o seu próprio enriquecimento. a democracia é alvo de ódio, hoje e desde sempre, porque faz partilha. torna comum o que, antes, era de poucos e para pouquíssimos. eis o momento em que vivemos: nossa presidenta eleita sendo alvejada por quem não tolera e não quer desfazer seu “eu” em nosso “nós”. é muito claro. dilma deu a mesma resposta às mesmas perguntas que tanto lhe foram desferidas. repete, dilma. repete que é golpe, repete aquilo que é, porque o cinismo só se vence com persistência. se você, presidenta eleita, sofrer impeachment por conta de crimes que não cometeu, então sim, você e todo o brasil estarão vivendo um golpe que não é preciso distância histórica para reconhecer ter sido golpe. já está dado. #foratemer #foratemer #foratemer

sábado, 27 de agosto de 2016

Atenção

Fazes aquilo que desejas
Do modo como queres fazer
Dança a música solto e sem confusão
Dança até quando há silêncio
Em você.

Fazes tudo do jeito que precisa
Mesmo quando há tanta indecisão.

Atenção
Cuidado
Tu podes vir a morrer
Na própria mão.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A Força

Diz-se que está lá fora.

Eu olho pra janela
E o que vejo é só um dia
Amanhecendo.

Volto ao dentro
Eu, sempre insatisfeito.

Pondero um instante:
o que há lá fora é só o dia amanhecendo.
Haveria de existir algo mais?
Eu me condeno.

Não.
Lá fora o dia amanhece
Entre preguiçosos raios
De sol. Falta o quê?
O que precisa faltar?

A Força que antes não me veio
Chega tímida sem bater na porta
Ave silenciosa
Calor morno
Toda calma.

Concluído.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Fim Deste Blog

Este blog acabou.
Não mais sscreverei nele
AO MENOS
nele não mais escreverei
Sobre os jogos de amor.

Pequenas Coisas

Na curva em declive
Do meu amor por você
As pequenas coisas
São as que me fazem
Não mais te querer.

A cabeça dá golpes.

Eu, golpista,
Fugindo do amor
A mim destinado.

Eu fraco
Eu frágil
Eu forjando desculpa
Para o caminhão
Do amor seu
Que me atropela.

Quisera eu saber
Como faço para te evitar
Sem deixar de te ter
Eu sem deixar você
Eu sem te abandonar
Eu sem te machucar.

Seria preciso eu sem mim.
Você comigo e eu sem mim.
Posso com isso?

A confusão que me abate não faz sentido.
Sinto-me mais jovem
Do que eu era quando te conheci.

Sinto que não sou responsável
Por quem eu cativei.
E você, tão lindo,
Merece isso?

Eu não me mereço
Por que haveria de me merecer você?

Durmo intranquilo.

Cirurgia

Sair da cidade

Levar umas roupas
Levar dois livros, apenas dois

Abraçar alguns amigos antes de partir

Não levar telefone

Carregar no bolso tantos dinheiros

Será isso.

Antes de partir,
Rasgar a agenda.

Pagar as contas que vencem
E se esquecer das que vierem.

Reunir as plantas do apartamento
No centro da sala. Regar todas elas
E se desculpar, informando que você irá
Partir sem saber quando voltará.

Abrir a porta.

Sair andando.

Nunca mais voltar.

Alguma tristeza, algum cansaço

Sei que é variável
Isso de certo, bom
Ruim, errado.
Sei que nada existe
Exceto o tempo.

Ainda assim
Aqui me venho
Tramando verbos
Para tramar
Cuidado.

Estou exausto
Exaurido, estou cansado.
Triste sim, triste enfim
Eu precisava escrever isto
Para pensar, enfim, o que
Fazer de mim.

O amor morreu cedo.
Minha desconfiança antes
Ao outro destinada
Hoje me consome.
Não confio
Nem pondero
Perder-se em mais um você
É deixar de ser.

Sou brusco.
As palavras me atropelam.

Sou roto
Sem rito
Sou torto
Cansado de estar cansado
Nem bem mais me sei.

Meus poemas
Que não são meus
Podem nunca findar.
E eu?
É querer demais
Se perguntar?

Que faço eu?
Que faço eu comigo?

Ouço as músicas
Danço envolto em solidão
Não, não sofro
Talvez seja esta minha potência
Minha constante revelação.

O mundo me machuca mais do que antes.
Hoje, mais que antes,
Eu amo a solidão.

Ela é quem me compõe.

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