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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

amido

ontem comer o seu arroz
me manteve vivo

te agradeço
lhe disse hoje cedo

acordei tranquilo
sem tremedeiras

você raspou os cabelos
continua castanho lindo

para onde foi a pressa
sem pressa nos perguntamos

uma calma
nos lambe por inteiro

se eu pudesse escolher
era mesmo isso que escolhemos

alegria
encontro existente

sábado, 23 de outubro de 2021

34

lá estava
em meio a tantas possibilidades
que a possibilidade dormir
se dissipava

haveria assim
tantas opções
que não apenas
foder com você?

lá estava
ao meio
tanto e tudo à disposição
quase tudo (menos ele)

ele não
ele múltiplo
ele o que já era
ele o que teria sido

haveria assim
alguma possibilidade
que secando as outras
não se fizesse autoritária?

desconfiou dos refrãos
das potências
das presenças
desconfiou até mesmo das éticas oh das éticas

quisera descansar
quisera cuspe na cara
nas bocas
gozar mesmo sem festa

e conseguiu-se.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

ainda se chama amor

Porque é falando
que entendemos melhor
o que segue se dando
entre nós dois.

A gente conversa
e nisso as horas passam
e eu te olho e tu me olhas
e aquilo que vemos é coisa antiga

que ainda se chama amor.

Mas eu entendo
te compreendo
eu faço coro ao seu canto
não é amor nada disso

é outra coisa (que, no entanto,
continua se chamando amor).

E amanheceu hoje
e ontem foi domingo
e semana que vem estaremos longe
e perto e junto ou um pouco separados, mas

ainda se chama amor
ainda se chama amor
isso que estamos vivendo
é outra coisa e, no entanto,

ainda se chama amor
ainda se chama amor
isso que estamos vivendo
ainda é o amor, meu amor

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Algo a aprender?

Pergunto-me
um pouco desiludido, é verdade.

Mas com calma
pergunto-me
Haveria algo a aprender?

Penso que, às vezes,
só não aprende quem não quer.
Corrijo-me:
só não aprendo eu
se meu super eu não quiser.

E o que tu quer, meu super eu querido?

E o que tu está querendo?

Do modo como te percebo
já de pijamas e com dentes escovados
cabelo seco apesar do banho moderado
Do modo como agora te vejo
eu percebo:

o que tu quer é apenas meu desassossego.
Queres me maltratar com sua moralzinha importada.

Queres dizer-me que isso não é amor
queres nublar-me com esse ladainha lado a lado b
que ou é isso ou apenas aquilo
que conciliação não há
que minha vida inteira será o padecer.

Olho para você, todo asseado,
e penso que se eu pudesse escolher
eu aprenderia como de ti me desfazer.
Eu aprenderia como me desfazer de ti.

Solitário, sobrevivo e com vento nos cabelos,
mesmo que sem alardes, eu sorrio.

Não estou sorrindo agora,
mas estou indo
eu estou indo.

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