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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Saber Perder

E assim esteve entregue
Por sete ou dez dias
Totalmente entregue
Sem ação contrária 
Que o fizesse fazer
Outra coisa que não 
A única que ele fazia 

Nada. 

Abriria interesse filosófico e
Existencial, diriam de tratar 
De um caso extra normal
E mesmo a fofoca
Num segundo 
Perderia a força para virar

Nada.

Das coisas abstratas
O tempo foi seu fiel
Companheiro. Não fez
Cobranças, apenas deixou
Que desassossegasse
Tamanho desassossego. 

Das coisas mais assim objetivas
Nem a escova de dentes deu relato.
Os copos sujos. A janela aberta
E fechada e aberta novamente. 
Das coisas mais objetivas 
A poeira deu o recado.

Reste, homem, nada há 
A ser vencido. Entregue-se, 
Homem. Quando a tosse acaba 
Vem outro vírus, outra dor, 
Outros e outros mais martírios. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Polícia


Que regime é esse
ao qual você se submeteu?

Pergunto por querer saber
se você consegue perceber
quão horrível é tudo isso
que você faz com você.

Seria preciso ir aos inícios
começar te perguntando dos gestos
menores e mais ínfimos
você os percebe?

Há uma polícia dentro de ti
a vigiar e punir os seus gestos
Há uma polícia dentro de ti
e para quê?

Para quem?

Por quem?

Cada passo
cada respiração sem sobressalto
cada gracejo
pronto
é tudo condenado
e condenado
e inquirido
e diminuído
desvalorizado

Para quê?

Para quem?

Por quem?


terça-feira, 15 de novembro de 2022

Deveria

Por um segundo
Que fosse por cansaço 
Olhar para si mesmo
A ponto de perceber
Que não, que você não 
Deveria fazer nada
De outro jeito. 

Por hoje, por favor, aceite
É tão somente o que tem sido 
Essa fraqueza, essa quase covardia
Moral, esse querer pouco, querer
Se possível 
Apenas continuar vivo junto
Aos tempos. 

Sem grandes anseios
Quando vês, a vida foi isso 
Nem guerras, nem batalhas, 
A vida foi indo e nela
Você foi embarcado
Sem dever algum exceto
Continuar. 

As biografias, os grandes feitos, 
Os pequenos, mesmo os pequenos, 
Tudo seria tão sem nexo, 
Tão sem terra e tão sem vento
Então por que sofrer? 
Viver teria sido cruzar
Segundos como quem respira

Fora dos eventos. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Tanto tanto


Testar a vista
A capacidade dos olhos
De ver dentro
Da superfície 

Sem procura 
Apenas mirar
Como se incerto
Atirasse sem matar

Amplidão exaustiva
Terreno hibernante 
Formigas que brincam 
Silêncio que canta hoje
(mais que antes) 

Você estava ali
Na busca desenganada
Nada a querer, nada nada
Ali estava você 

Ciente de que o si é sempre oco
Ciente de que a busca seria sempre jogo
Oco jogo provisório agora é tarde 

Já és outro 
Outro
Outro 

e outro 
 


Instabilidade


Na tese que você não leu
Constava a importância 
De não se apegar 
Às seguranças 

Ela dizia que as seguranças 
Aprisionam o ser as seguranças
São invariáveis e um ser
Um ser humano

Precisa da mudança. 

Diria, portanto, a mais urgente
Te peço que não esqueça 
Que a mudança é processo

Não um presente 
Ela toma tempo até que o corpo 
Tome a si mesmo

E pegando a si mesmo
Em seu próprio colo
O corpo se diria

Esse par de fios de cabelos
Está a ficar um pouco mais
Branco branco branco.

Nao te peço que se acostume 
Com coisa alguma, não isso, 
Antes te peço que perceba 

Que todo esse susto que vives
Se chama apenas vida a vida
Ela também gosta de mudar

domingo, 13 de novembro de 2022

de ti nada

o tempo passado me fez conhecê-lo
de ti hoje já nada espero
não mesmo 

tem lá suas coisas lindas
devem ser devem ser não sei
mas você não me engana 

de ti espero a fala que brilhante
seca a possibilidade
dos inícios 

você mata tudo com teu sorriso
nem falo em revolta ou revolução 
por ti tudo no mesmo daria

de ti nada espero porque já não quero
a sua companhia prefiro a chuva 
que me tranca aqui dentro 

bem ao seu ladinho 
só nós dois agora
você o insuportável 

e eu como que aquele outro
que gostaria de não ter te
sido

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Rotula

Meio fora do lugar 
Desvio da mente
Às pernas a tarefa
De fazer diferente 
Somática, sim? 
O corpo não quer essa ordem
Ela escapa, ele desvia
O corpo é minha sorte
Mas não direi dos efeitos
Não trouxe parafernalha
Digo o que escrevo
Porque me falta fazer mais nada
Mais nada.