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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Body Scanner

No, nothing
No water
Neither any bottle
No, I'm sure
Nothing at all
No gun
No gum
Not even bubble gum

I'm sure
I'm sure, I promise you, sir

The alarm fires

Oh, sir
I don't have nothing
Only this thing
Can you see?

Here
Inside my eyes
Under my skin
Between my bones

This thing
We called love.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Entre carros

Sonhei que tentava morrer, andando veloz entre carros velozes. Sonhei que as pessoas tentavam me conter enquanto eu em meio aos carros me dissipava.
Alguma notícia, algum acontecimento, me fazia querer sumir e virar farelo, atropelamento.
Lembro-me da vertigem do corpo fugindo dos primeiros carros (para não morrer rápido demais). Lembro da dança - era uma dança - essa que o corpo faz para se manter vivo e possível.
Agora é estranho. Porque me lembro - com precisão - que no momento exato em que me lancei aos carros eu fiz tal gesto não porque o desejasse, mas porque queria apenas te chamar a atenção.
Triste, não?

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

LaborActorial (LaborAtorial) em Edimburgo


binômio

semear + aleautorizar

duas qualidades possíveis para sobreviver em meio ao tempo

se estou aqui, estarei jogando nesta equação

semeando
e
aleautorizando

tudo o que a mim se anunciar em vida

semear
porque nisso eu consigo pressupor o futuro
ao menos
ao semear
me parece haver algum cuidado
alguma preocupação com o que virá
porque carece de tempo essa coisa de plantar
investir
cultivar

semear...

aleautorizar
é um neologismo
talvez coisa das mais ousadas

autorizar o aleatório quer dizer
em outras palavras
não exceder-se tanto em escolhas

não precisa
se preocupar tanto
com o que virá
fique aqui, comigo
ou seja
se o que se anuncia vai ser algo assim
ou algo daquele outro jeito
não me importa
importa apenas este instante
instante-estante-passageiro

como alguém do signo de libra
eu deveria saber
a coisa da balança
persiste por toda a vida

nem tanto lá
nem tanto cá

eu posso pensar no nosso futuro, meu amor
ele está cheio desenhos bonitos
cheio de abraços
coisas especiais

mas eu posso nos esquecer (em termos de futuro)
e ficar atento apenas a este instante

ficar atento ao instante
é autorizar, permitir, que a vida se seja
sem mediações

e isso é importante

retomando:

1 - semear
2 - aleautorizar

um jogo de ações
trabalho de ações
pura dramaturgia (vida)
se tramando em balança de afetos (transformações)

ficou claro?

!

domingo, 3 de agosto de 2014

Tomar Distância

Por favor, disse o rapaz, eu preciso tomar um pouco de distância.
Não entendi, respondeu o outro.
Tomar um pouco de distância.
Você quer tomar distância?
Sim.
Mas tomar no sentido de beber?
Pode ser.
Espera.
Eu não aguento mais esperar.
Distância líquida?
Vivemos em tempos líquidos, não vivemos?
Dizem os filósofos que sim, não dizem?
Dizem.
Então...
Entendi.
Distância líquida, por favor.
Garrafa ou copo?
A maior dose que você tiver para me dar.
Certo.

O outro sai para buscar a distância (líquida) e volta. Ainda em dúvida.

Uma pergunta?
Faça.
Por que você quer tomar distância?
Para enxergar melhor.
Entendi.
Enxergar melhor o que está acontecendo.
Entendi...
Entre a gente.
Já entendi. Já entendi...

O outro sai para, finalmente, buscar a tal distância. Ele cruza o bar inteiro, entra - sem autorização - na cozinha, cruza os fogões, passa batido pelos refrigeradores e funcionários. Ele abre uma pequena porta e sai do restaurante.

É noite. Faz frio. O bar estava cheio. Ele também está cheio. Cheio de coisa que não sabe compreender. Ele não hesita, ele vai, ele entra no parque em plena madrugada. Quase não se vê quem cruza o gramado, mas é ele.

Ele vai embora. Ele vai buscar a distância e, passo a passo, pensa: eu preciso criar distância para poder coloca-la em minhas mãos. Eu preciso criar distância, por isso ele caminha, tenaz, sem dúvida ou hesitação.

Olha as pernas cruzando o gramado. É noite. Faz frio. Agora ele vê apenas o que vem imediatamente à frente dos passos. Não há futuro. O que há é apenas este passo e mais esse e esse outro e mais um e mais este e outro mais, mais e mais passos até sumir na escuridão dessa noite.

É já manhã. O corpo cansado ainda caminha. É uma estrada, uma rua longa e sem prédios ou casas por perto. Passa um carro, veloz. Já está amanhecendo. Ele despenca ao chão e ali fica, meio entre o asfalto e a escassa relva.

Ele, pela primeira vez, chora. E olha para trás. O olhar, os olhos, todo embaçado de lágrimas. Ele tenta ver o caminho mas andou muito, muito, sem parar, desde que seu amor lhe pedira alguma distância.

Ele chora até secar a vista. Ainda bem que estou bem agasalhado. Ele pensa coisas de maneira autoritária, quer dizer, as coisas se pensam nele, através dele. Ele não sabe domar o pensamento. Não mais. As pernas doem num grau que toda a sua atenção existe apenas para aquilo que sente. E doem os joelhos e os olhos, entre ressequidos e marejados. Onde eu estou, ele se pergunta.

O bar é fechado. Fora, sem maço de cigarros, volta o outro rapaz para casa. Depois de muito esperar por alguma dose de distância. Ele olha ao redor. Talvez tivesse demorado a sair porque saberia que o encontraria lá fora, a sua espera (o seu amor, a sua espera). Mas eu pedi distância.

E agora?

Silêncio na rua.

Entre eles só um mapa - imenso - capaz de dizer como fazer de novo o encontro acontecer.

...

E acontecerá.

Não se preocupem.

É só um espaço importante e necessário, esse, o de tomar distância.

...

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