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terça-feira, 29 de agosto de 2017

Expurgo

Como que tangível
Esse isto
Indizível, porém
Eu sinto.

Pego sem ver
Toco sem nem encostar na coisa
Vou tirar, sacar de mim
Te expulsar.

Após tanto tempo
Eu sinto, eu sei
Você está saindo de mim
Porque já não há mais força aqui

Para você sugar.

Expurgo
Como quem se deixou usar
Expurgo
Eu te expurgo.

domingo, 20 de agosto de 2017

Limite

Haveria sim algum impedimento.

O excesso de revoluções
cansou o corpo.
O corpo, este corpo,
Ele não aguenta mais.

Sinuoso, observa
Os letreiros que informam
Atrações outras mais ousadas
Que aquelas hoje tão
Distantes.

Um estalo resignado salta destes lábios.

Haveria sim um limite
Um vago embaço
Parafuso que não fica
Nem sai

Haveria sim que se considerar
Já velho demais.

---

O entardecer sublinha este cansaço.
Haveria revolução mais plena
Do que se ter alguma consciência?

---

Eles conversam sobre os dias.
Falam de como teriam feito
Toda aquela história.
Falam, eles, do morno
Que preserva algum desejo.
Debocham, ácidos, dos que tentam
A todo o custo
Fazer o que num dia eles fizeram.

---

Haveria sim que reconhecer
O limite como linha do horizonte.
Nem corte, nem precipício
O limite como presente instante.

Haveria então que durar no seco
Saborear o desconforto
Dançar em sapatos
Esboçar pela voz o dialeto
Dos roucos.

---

Haverá um dia em que sim
A revolução terá sido nada mais
Fazer.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

A questão

Seria um corpo?
Uma espaço para se deitar?
Seria uma sucessão interminável de beijos?
Seriam pelos?
Falta pelo?

Falta?

O abismo das revelações.
Seria isso?
O desejo de usar o desejo junto?
Junto a quem?
Tem alguém?

Falta o quê?

A noite acorda cheia de possibilidades.
Falta vontade.
Sobra cansaço.
Esperança?
Hoje não. Menos. Hoje menos.
Um sumiço? Repentino!

Nem sequer almejava que todos os dias fossem domingos porque também trabalho aos domingos.

Penso: como dar trabalho à pele?

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Sequestro

Algo foi tirado.

Algo foi arrancado, assim,
Sem algum mínimo cuidado.

Acontece, uns dirão.
Acontece ao menos uma vez
na vida.

Mas não. Não se pode ficar mudo.

Algo foi tirado de maneira torta
De maneira grossa, algo foi atravessado
e agora resta assim, sem rumo.

As ruas vigiam o homem que passa
Sem vontade.
Mesmo os pássaros em sua alegria
Contida, mesmo eles, eles sabem

Algo foi arrancado e sem horizonte
Já nem é possível saber o que foi perdido.

Uma vontade? Um viço?
O quê?

Jornais divulgam em vão
A perdição que dizem ser causa desta época.
Que época?

O homem que cruza as ruas
Entra em casa como se não morasse nela.

Haveria tristeza maior que ter sido sequestrado da própria vida?

Haveria paz maior que não se saber sequestrado?

Haveria algo perdido, algo que pudesse ser retornado?

O tempo, oh, tempo!
Faça-nos algo!

sábado, 5 de agosto de 2017

Esse instante

Eu me vejo difuso, mas retinto.
Poderia me dizer as palavras derradeiras
mas palavras, a essa hora,
Eu silencio.

Tanto há tanto tempo
Dizeres, determinâncias, discursos
E o cansaço, o silêncio perdido
E ele, eu, no mundo?

Se digo eu com estridente facilidade
Não é porque talvez queira atenção
Não é porque me dê mais valor
que antes, quando certo das minhas
Capacidades.

Hoje tenho bem pouco.

Não me engano.

Este corpo, agora, nesse instante
queria se possível o sono
O sexo lento
O suor concentrado
Sem força agora
É tão manhã que sol nem sequer amanheceu.

Esse instante pressupõe palavras densas
Sem esconderijo. Palavras confessas
Desfazedoras da confiança no destino.
Esse instante é horrível, amigos.
Toda a vida num segundo.
O que haveria mais importante do que esse segundo?

Estou-me em questão.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Motorista

Ele dirige pela cidade
mexendo na barba com a mão direita.
Três movimentos para cima
Abrindo a barba
Um para baixo
Acalmando os pelos.

Ele estaciona
No meio da corrida
Os passageiros não entendem
Ele desce do ônibus
Compra um pacote grande de Fofura
e um copo de Guaravita.

Com calma, já dentro do carro,
Ele perfura o copo com o canudo
E passa a marcha.

Eu não sei o que faço.

Fofura
Bebida semi gelada
Marcha lenta
Quanto amor!

Existe ainda alguma delicadeza no homem da cidade.
Fome. Ele mastiga.
Eu não sei como lhe dizer.

Motorista, nessa noite, se você quiser
Eu faço uma massagem em você.

poderosa vida não orgânica que escapa


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