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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

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exige-se o nome
mas sempre escreve
usando palavras
por ti conhecidas.

exige-se o banho
mas quando acorda
gosta dos pés
sobre o chão
e dos cabelos
entre os dedos.

exige-se o amor
exige-se a prosa
mas quando esgota
quando se cansa
exige-se o silêncio
o esquecimento
e o cortar
da aorta.
 

quando não

quando não
excedo a consciência
o corpo dói
e ao invés de dor
eu sinto música

inteira

me tomando de mim.

quando não excedo
preocupações
o câncer
vira apenas
mar morto

meu corpo
reina operante
sobre o próprio
abandono.

tudo bem
quase nunca
eu não
me excedo
mas tudo certo
eu continuo
preso
num segundo
no qual
certa vez
me vi
passageiro.
 
   

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

He said

That make poetry
It was better
than walk with me
across the streets.

He said that make poetry
was better than his hole life
and that it's already
Better than sing

better than song

better than love

better than mum.

Well
I'll have to ask him

From what your words are made?

I can not understand.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Liberdade

Foi deixar a caneca cheia
de café
Sobre a pia
Solitária.

Foi deixar o mamão
aberto e cortado
Sobre o prato
Sem uso.

Foi te ver partindo
e te ver olhar
Para trás
Vendo-me já longe já indo já ido.

Liberdade
foi quando eu decidi
que escrever
Poderia ser uma forma precisa
de mudar tudo isso.
 

Espelho

Olha
você está sem camisa
com as unhas roídas
Tem gosto de café
tem pão entre os dedos
e cheiro de manteiga
Você ouve uma banda
que até então
desconhecia
Você hoje mais que nunca
ama o som desconhecido
que as pessoas teimam
em criar, tão lindamente
Você sente dores no corpo
porque faz dois dias
dorme
Sozinho, em casa
você dorme
E o corpo estranha
tamanha comiseração
destinada a ele,
sempre tão judiado
Você está neste momento
(não neste momento exato)
mas nestes dias
você está terminando
de escrever o segundo
e começando a escrever
o terceiro ato
(de uma peça de teatro)
Quer dizer que você tá bobo
tá perdido
duvida de tudo
até mesmo do suicídio
Você está fadado a viver
e assim será
Viverá com certeza
este momento
Você está faz um dia sem fumar
ontem fumou
anteontem não fumou
Amanhã não fumará
Não mais cigarros
O seu corpo anseia por solução
e você só lhe dá o amargo,
sempre, Diogo
sempre, autocomiserado dizendo em suas poesias que é preciso vencer a autopena.

Não fode!
Não fode!
Você é fraco
e isso é o que temos para esta noite.


um dia
entreolhar os filhos aqui paridos
Vá perceber
entre eles
o porquê de sempre gemerem
o mesmo gemido!

Chega
vá escovar os dentes (que estão lhe caindo)
E durma,
hiperglicêmico.

Você não vai morrer
Não ainda
Você precisa entender muita coisa
sobre como se cuida de uma vida.

Você não vai morrer
e muito menos
Essa bosta de poesia.
     

Para fazer cabana

Pegue todo o seu receio do mundo e o deixe, ser arrastado pela casa. Será preciso andar um pouco. De preferência, sem calçado. Ande, ande, reande e se aproxime das quinas, dos cantos nos quais se beijam as paredes (do quarto, da cozinha, da sala). Será preciso vagar, para ver o invisível se derramando. Será preciso vagar como quem tem ciência do que significa gastar este pranto. Chato. Será preciso, Diogo, andar um bocado. Mas dentro de casa. Sem chamar atenção de outrem quiçá de si próprio. A sua tristeza hoje, o seu receio de aparecer, é também o seu cansaço frente ao descompreender. Quando foi que te doeu tanto ser visto de forma distinta daquela que almeja?

Andei o dia inteiro. Agora me sento para escrever frases lindas, frases mais ou menos claras, mais ou menos densas. Frases que me tiram de mim e me fazem me ver. No final do dia, que já acabou, tento eu ouvir alguma confissão que assegura a tranquilidade que hoje não veio. Meus dedos doem ininterruptos e não me dou sequer o direito de lhes perguntar se querem: sou tão autoritário comigo que me pergunto o óbvio agora: não seria eu também autoritário com o outro, com você, com ela, ela e mesmo com o gato (preso do lado de fora de casa, no frio?).

Para fazer cabana é preciso merecer esse risco (de ser amado). E talvez você precise dormir ao relento algumas noites. O que foi que aconteceu que eu me olho e me faço doer, incompreendendo-me? Quando foi que eu aceitei verdades vindas de fora? Verdades que me dizem pela metade, mas que em mim se colam? Pode ser. Prosa falida. Eu estou falando só de uma sensação, deste momento. Eu estou falando de lutar por algumas coisas que, de súbito, viram o exato avesso. E o amor, pelo qual você se movia, vira ódio, vira inveja, vira coisa cafona e racista.

Eu estou cansado. Um pouco, sim. Cansado. Duvidando mais que o normal e ao mesmo tempo: indisposto. Não sei se quero fazer força para te convencer. Queria sim que isso já estivesse claro: e que eu não precisasse dizer (como quem sabe daquilo que almeja falar). Estou cansado e hoje roí todas as unhas que fazia semanas não roía. Verbo roer. Verbo feio que no infinitivo rima apenas com dor. Doer.

Amanhã, saio de casa cedo. Se eu pudesse, me deixava deitado, em sossego. E iria sem mim. Amanhã, eu talvez pudesse, viver um dia longe de mim. Ah, se fosse possível. Eu juro que aprenderia a me ter afeto.

---

sábado, 26 de janeiro de 2013

Mormaço

Desceu mais um gole de café. Pensando por que foi que não me deixei comprar mais cigarros. Sentado à mesa, sentiu o ventilador atrás de si baforando o bafo quente de um meio dia qualquer. Sabia que se lutasse um pouco mais consigo próprio, talvez conseguisse transformar seu dia em presença. Em alguma coisa que não somente aquela inércia tímida e inquietada.
Mirou atrás de si. Por um segundo, olhou fundo para trás. Como se pressentisse o que não estava por vir. Voltou. Bebeu outro gole de café que, ainda quente, lhe fez abrandar seu nervosismo da época de estudante. Pensou em se erguer e caminhar pela rua, mas sabia que se o fizesse, gastaria o dinheiro que não poderia, fumaria os cigarros dos quais fugia... Assumiu-se, enfim, então prisioneiro. De si próprio.
Outro gole. Mirou a barriga. Estava de novo quente o dia. E sem camisa, viu os pelos ainda em crescimento, viu as prateleiras dentro das quais o suor se guardava e mudava de tom. Que calor, meu Deus, pensou. Mas se repreendeu, por ter dialogado com Deus o refrão de seus últimos 25 dias - calor. Calor. Calor.
O café não acabava. E então percebeu que a sua vida tinha parado nesta estaca. Estava ele vivo para beber café e se arranjar motivo: para ir, seguir, motivo para ficar, durar mais tempo. Já nem pensava no futuro, já não ligava pro que tivesse passado. Lembrou ter esquecido de dar aos amigos inúmeros parabéns atrasados. E também isso por ele passou.
Pensou então, que faço comigo? Que vou fazer de mim? Não vou me dar o dinheiro de ir a shopping porque sei que isso é o remédio mais barato e mais agressivo. Não vou melhorar. Em mim, alguma coisa se faz e, aos poucos, me toma o controle de mim mesmo. Minha prosa está falida, bem como a casa - imunda - e as roupas - não lavadas - e o desejo: a ponto de me comer inteiro.
Virou a caneca de café de uma só vez. Mentira. Ainda deixou bastante café. Estava quase lá, quase desistindo de tudo, quando resolver abrir seu caderno e escrever sobre aquilo que se passava em seu íntimo. E dormiu, finalmente, sobre palavras incompreensíveis.
 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Sumo

A vida é tão incerta
e a morte é tão precisa

Por que temer o horizonte
se tua linha
é tão pacífica?

Desentendo-me
hoje como antes.
 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Linha

Oscilo
feito gato
Espreitando
o jogo
Ou perigo.

Amanheço,
firme na dureza
e calmo no silêncio
contido
Em minha estranheza.

Mas tombo
o café
sobre o corpo
inda dormindo

E então,
no almoço
Sobro sobre o prato
ressentido.

A linha do horizonte titubeia ~~~~~~~~~~~~~

E escrevo nos poemas
iras profundas contra mim mesmo
e contra a Família.

Onde foi, Deus
que troquei a sua segurança
Pela dúvida?

Corro hoje o risco
preciso
De me esquecer
À loucura.

Minha mãe soube disso
mas não conseguiu
Frente a minha ousadia.

Durmo então frio
e oco
Cheio de sonhos pesadelos
Cheio de refrões
Anti e pré-pós-tudo.
 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Acordo

Está feito
Não excederei vontades
nem demasiado cuidado
Posso cruzar a linha rente
ou por baixo,
Não vou tentar antecipar
o risco.

Está acordado:
comigo primeiro
depois com o mundo
com a mãe
com o obituário.

Farei da forma como me parecer possível
Sem exceder liberdade
sem deixar de me impor algum limite claro
Limpo.

A sua dor é imensa, mãe
A minha um dia talvez chegue perto
Enquanto isso, eu decidi

Ficarei meio dolorido
meio forte
Meio sabendo do mundo
meio cego (por sorte).

E assim,
quem sabe
A saúde dure mais
que o estômago já vencido.

Quem sabe assim
o suicídio permanece como obra de outrem, apenas
Como tema de livro.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

chuva constante

faz poça no pensamento
e tudo fica impedido
de vingar sua ira
Sobre a cama
eu hoje deito
e penso
que talvez amanhã
eu dê conta
de ser isso
que dentro
Me desenho.
os prazos amolecem
a revolução virou
Biblioteca
os blogs inflaram
e o íntimo
bem, o íntimo
segue inconstante
chovendo
e secando
agitado
e inerte ao tempo.

oh, deus (que já nem sei
se não o desejo)
mande junto com as gotas
umas balas de revólver
calibre homem pós-moderno
   

sábado, 19 de janeiro de 2013

Pardo

Escureceu
o desejo.
Silenciou
o íntimo

e se percebeu amigo
do sossego.

O branco
que antes lhe chamava
Perdeu sua força
o branco ainda que tarde
sempre parda.

E ficou
inerte sobre a mesa

Ficou imóvel
feito certeza.

Até que um dia
amanheceu o menino
cansado da fumaça cigarro

E se viu no pardo papel refletido
E achou prudente
Passar a navalha sobre o rosto
para facilitar alguma fidelidade
do espelho opardo.

Amanhã se chover, pensou
Eu atravesso o papel
e em versos
Me refaço.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Estremeço

Sempre que o já sabido
de novo se manifesta
Porém distinto
Mudado
Sorrindo

Fico mais frio
formigo-me
E então movo o tempo
e me faço acalmar
na calmaria do teu abrigo.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Decreto

Que a partir de agora
falarei como se você só pudesse me ouvir
em versos.

Desisti da linha reta
Desisti do que é certo

vivo imberbe naufragado em seus gracejos.

De hoje em diante
A partir de agora

eu quero apenas o desassossego
que a inconstância de um verso branco
é capaz de me dar.

Você me ouve?

Me ouve?

---

 

domingo, 6 de janeiro de 2013

Mas ir

As unhas fizeram curvas
dando fim enfim
as quinas.

Hoje percebi
no silêncio antes
de escrever estas linhas
que viraram curvas
as pontas das unhas
minhas carcomidas.

Em cada curva
uma poeira negra
resta adormecida
mas não importa
o sujo, importa sim
a natural poesia

de uma curva precisa.

E se as mordo
novamente como antes
sei que então
haverão de formar
nova curva e se despedir
das esquina antiga.

Sempre indo
sempre indo
o corpo refaz seus canteiros
refaz os halos
de sua ousada
Harmonia.

Que lindo é sentir
a consciência do corpo
Mesmo quando a profundeza

agoniza.

 

sábado, 5 de janeiro de 2013

não por não


não vai dar
não vai dar não
não por não querer
não por não tremer
mas apenas
porque o tempo
não está
em minhas mãos.
oh, boy 
hoje e amanhã
não vai dar não.
               

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Trepa

É como se me abrisse um abismo
no qual visse refletido
Meu sexo
enrijecido,

Como se da cova profunda
visões de outrora
me chamassem
para fornicar futuros inda não vindos.

E eu fui,
inteiro

rasgando a seda protetora
e cortando em fiapos
os cabelos,

Fui possesso
Desperto tal qual
enredo
de um carnaval a cinco segundos da avenida.
Rompi as dúvidas
Fatiguei as certezas

Reluzindo suor da tentativa
aceitei-me possível
E fiz nascer o inesperado.

Oh, Deus
Se eu não fosse um criador
(como ti, embriagado pelo seu rebanho de rimas)

Eu seria uma pedra
Cuja magia já fora esquecida.

 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Estranho


Por favor, não se adoeça
Sofrendo no agora
a impossibilidade confessa
de ter roubado o passado
na algibeira.
Não, por favor, aceite tudo
menos esta certeza.
De ontem para agora
és inevitável criar pontes:
o seu corpo ainda agora será eco preciso
da dor que dilacerando-o lá atrás
segue ainda aqui
cortante.
Então, por favor, não sofra
porque a dor traz prazer
e o prazer traz dor.
Persiste
Continue
Certeza e Cegueira são vizinhas e duelam pelo mesmo homem,
Aquele que seu pai não foi.

   

flagra

eu vi
moço
subindo a rua
em pleno
contentamento.

vi
passos seguidos
e saltos curtos
criando entre os passos
breves soluços.

eu vi
serpentinas invisíveis
e animais fantásticos
vi dragão
e 2 sereias - lado a lado.

vi
o moço
que subindo a rua
trazia junto ao colo
3 ou 4 certezas.

não sei a conta ao certo,
mas vi

eu juro

ele estava firme
de tão aéreo.
no íntimo, talvez sentisse

desconhecido amor
por si próprio.

Amanhã, caso sinta o mesmo
Outra vez,
já não dará certo.
 
   

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Insônia

Não fui acostumado a descansar as ideias.

Como fazer então, se quando me deito,
elas seguem se divertindo, se cruzando
e fazendo amor?

Hoje amanheci mais cedo que o tempo.

A noite ainda sobrevive atrás de mim
e dentro deste quarto
o café que bebo, torna-me
imune ao esquecimento:

- revoluções se deram
- bem como revelações
- fiz escolhas precisas
- cuidei de todos os projetos
- fiz reunião com pai e mãe

Em sono, Acordado
e desperto,
cumpri um dia que sequer amanheceu
por completo

e pensei, fatídico:
vinte e cinco anos é já um bom tempo
Para vingar minhas rimas.
     

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Carta aos filhos deste primeiro de janeiro ---

O ano de 2013 mal começou e vocês já me vieram, filhos meus.
Não se sintam rejeitados por ler este quase lamento, é só que está muito quente nesta cidade do Rio de Janeiro e é difícil aguentar o calor da infância junto ao calor do tempo.
De qualquer forma, sempre que vocês ou vossos irmãos me chegam, a sensação é tão boa, meus filhos, que tenho medo de viciar no movimento e trazer ao mundo mais filhos do que eu poderia alimentar. Sorte é - aqui entre nós - que vocês ultimamente já têm me chegado com maior autonomia do que os filhos de outrora. Noutro dia, nasceu um irmão de vocês trazendo consigo já um cartão de memória. Antes dele, outro me chegou falando inglês e outro ainda me tirou a paciência: queria ser famoso já desde o nascimento!
Vejam: o papai não é contra nenhuma das vossas invencionices, é só que às vezes eu lamento a dificuldade que é domar seus instintos. Lamento a dificuldade que é saber quais limites oferecer para que os seus voos possam, de fato, sair do papel. É difícil dar conta de tanta tentativa ao mesmo tempo. Mesmo assim, o papai segue buscando não temer vossa ousadia, e mais ainda, tento eu não ter pena de mim mesmo, para não aceitar tão facilmente que trazer-vos ao mundo tenha sido mais crime que afeto. 
Perdão, meus filhos, essa não é uma carta lamento. Sei que o soluço que vocês me causam alarga ainda mais o meu corpo e espírito. Vocês me convidam para brincar, o tempo inteiro, e nisso eu me perco e me acho e quando me vejo: já não sou o mesmo. Vocês me fazem, crianças, ser sempre de outra maneira. Mas não pensem que faltem limites. Aqui nesta casa, vocês hão de perceber, nós fazemos as regras juntos, mas vez ou outra o papai vai ter que gritar: pois alguns de vossos irmãos querem sempre voar antes da hora. (E não se pode voar sem antes aprender a escovar os dentes! Educação! Um dia vou-lhes falar sobre isso). 
Por fim, eu vos escrevo - escrevendo em vós mesmos - para informar que fiz uma longa faxina em nossa casa. Tirei a quantidade, as cores gritantes e joguei tudo no branco, tal qual água no gelo. Ousei sinalizar numa só cor -  - as portas e janelas pelas quais vocês e seus tios (meus visitantes), poderão sair para arejar a mente e o corpo. Está tudo meio sem graça. Mas eu gosto. Sou velho, vocês sabem disso, e nunca fui moderno, a bem da verdade.
Sejam bem-vindos. Que neste ano novo, o vigor não fique velho tão rapidamente. É preciso persistência para amar nestes tempos, meus pequenos. Quem sabe os astros não poderão nos ajudar nestes dias que estão por vir?
Do seu,
Diogo Liberano

suor antigo

preenchem o quarto
empoeirado.
estaria o casal cansado
não houvesse inda tanta
rima
esquecida.
sobre o chão de taco
sapateiam o calor que fora janela
esquenta o dia.
miram-se, em repentinos olhares,
e se perdem
pois nunca poderiam é
perder a rima.
taco no chão
batida no peito
sorriso incontido
dando seu jeito.
dançam
em voz alta
se movem
e chocam.
batem-se bocas
dentes
e silêncios
não mais contidos.
pausapara cambiar músicao sol lá fora continuae tudo resta seguro
e por conta dissodão-se um sorrisoduplogenuíno.
o dele para ela
o dela para ele
alguém será que nos escuta?
porque eu não consigo pensar em mais nadaexceto sua música.
e dançam!
dançam!
dançam!
até o suor evaporar de calor.

um pouco de estranho

girando a toalha ao redor do corpo

toalha encharcada, de forma que o peso

batia-se contra a pele
e fazia som de susto.

girei até doer os braços
primeiro o esquerdo
depois o direito
e por fim

quase exausto

me deixei contemplar a própria ousadia.

pensei, em silêncio
na loucura
na loucura leve
quase inconsequência

quase maturidade ainda não todo vinda.

pensei
o que você está fazendo no centro da sala
tomando banho de balde
a risco de se dar um curto-circuito?

não aconteceu.

coloquei panos em volta para me privar de um choque.

me deitei no chão
dado momento
e deslizei hegemônico
sobre a água morna

tal qual o ritual pedia.

falei-me poucas palavras
para não me exceder cuidado.

e um novo ano amanheci.

estou cheio de medos e fobias e descompassos.

acho que o último ano me fez bem
me fez muito
me cansou na medida
extra
large.

abandono-o agora
certo de que neste
eu terei outra chance
até que a morte
me peça a voz
e a hora.

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