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sábado, 28 de outubro de 2017

Eita!

Está?
Sim, inevitavelmente.
Isso é bom?
É o que é.
Entendo.
Mesmo?
Sim, acho que entendo.
E o que mais?
Mais é muita coisa.
E o que mais?
Nem sei, cara...
Vontade de desaparecer?
Não, isso não mais. Eu tô aqui.
Bom.
Bom?
Bom, bom...
Sei...
Risos... Você insiste nessa afasia.
Ui. Palavra-conceito. Cuidado!
Me ajuda...
Não precisa... Estou brincando.
E a cerveja?
Ainda gelada.
Isso sim é bom.
É.
Sexo?
Tranquilo.
Amor?
Pelo mundo, pelos pelos, tudo...
Hum...
Hum... O quê?
Ouço música alta.
E daí?
Queria te conhecer.
Mesmo?
Sim.
Mesmo mesmo?
Sim sim.
Sei...
Ih... A gente é desconfiado.
Fale por você.
Eu sou o mundo. Neste momento.
Não!
Eu sou!
Não mesmo.
Ok.
Queria uma massagem.
Só você.
Para!
Eu hein... Me deixa...
Ok.
OK?
Ok. Eu deixo você...
Não...
Deixo!
Não, por favor, fica!
Eu parto agora. Amanhã é só você. Deixa eu me ir? Obrigado. Eu falo. Você escuta. Existe tanto. Nem sei. Mas é bom. É bom brincar de ser você. Você me entende? Azeitona na boca. Delícia tremendo, tremenda... Continue. Faz todo o sentido você ser assim.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Extrato

Corpo moído

Por tanto sentir
nada mais ele pensa

Sobrecarga
paciente demência
O uso
o uso deste corpo
Quanta Opulência!

desintegro
deixaria o seu corpo
Mais atlético
pisotear meu coração?

sim, deixaria
sim, já disse,
eu Deixo

deixo de fora o cuidado
eu sem o arraso
adormeço

Arrase, pois, esse instante
deita aqui
sobre essa pele
aperte
morda
dance
Sobre mim
Dance, homem
Dance!

Prólogo -


Derramar.
Deixar o câncer tomar conta da casa.
Para entrar em contato com a coisa.
Para se contaminar.

Escolhemos o pior, talvez.
O caminho mais difícil.
Mas por que acreditar que algo ruim seja apenas negativo?
Este câncer, antes de tudo, é uma possibilidade.

Por isso, derramá-lo.
Por isso, se contaminar.
Para vivermos o problema bem de perto.
Para aprendermos a como – com ele – lidar.

Aqui estamos nós
Dispostos e disponíveis.
Aqui estamos nós: numa fictícia sala de estar.
Para quê? Mais que isso: para quem?

Ora, para vocês
E para nós também.
E apenas por um motivo:

Para vivermos juntos a possibilidade de outro possível.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Resquício

Gotejamento dentro da cabana.

Seria afogamento
Não estivesse o solo deste peito
Tão indisponível.

Naufrágio impossível.

Fora, uma moça caminha pela cidade asfaltada.

Fora, o sucesso dos que venceram a vida.

Fora, ombros tranquilos e muita morfina.

Fora. Tão longe, tão perto, tão isso, tão cego.

Seria um bom jogo?
Saber-se distante da vida social?
Bom jogo seria isso mesmo: ficar quente
Só no dentro?

Imergir.
Não lutar, não correr, não ir.

Ficar, apenas, ficar.

Gotejar incessante.
O mundo te convida apenas aos jogos
De embate.

Não, hoje não quereria.

Chove.

Fica?

Fico.

Mesmo?

Sim.

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