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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

António { com acento agudo no ó }

António, António ~

Você nasce em mim mil poemas

Estou apaixonado

Sinto falta dos seus beijos
que ontem e hoje não vieram
mas que amanhã aqui hão
de estar

Nunca antes tão adolescente estive
nunca antes tanta adolescência falei
e disse estou adolescente
e ouço sua voz cantar

I N S U P O R T Á V E I S
sim, somos nóS2

eSCREVO ASSIM
DIRECTAMENTE A TI
PORQUE É DIRETO ASSIM
QUE O AMOR POR SI
TOMBA AQUI
NI MIM

Estou rendido, detido
nesse encontro, delicado
e perplexo, como pode
um ser fazer isso comigo?

Em despedida
do eu que eu vinha sendo
eu, eu deste agora,
me enterneço

Como uma flor despetalada
calmamente ou não flor
despenteada pela revolução
de um morno vento (ventre?)

Direi coisas tremidas
tamanha a tremedeira
desta possibilidade
que é te amar

Estou marejado
animado
estou inteiro, António,
estava mesmo não acostumado a inteiro estar

ao amor (estava não acostumado)
a amar (estava eu não)
tô te amando (estou estou)
e nada mais há (não mesmo)

Não preciso pedir nem prometer
não permito-me ir longe do facto
que é estar com o senhor
que é tocar-te rente

logo assim meus
olhos consigam
te ver
humm...

Sobre o sofá (meio divã)
você me acariciava
e perguntava
e quando isso acabar

e QUANDO ISSO ACABAR?
ESSA PAIXÃO
ESSE AMOR
ESSA INSUPORTABILIDADE QUE ENTRE NÓS HOJE PULULA E QUANDO ISSO ACABAR?

e eu te respondi
ágil em sabedoria ancestral
esperto e aceso e sem mentira
alguma disse-lhe assim, oh, António

e QUANDO ISSO ACABAR
SERÁ isso OUTRA COISA ENTÃO
DEIXEMOS QUE VENHA outra coisa
SEM QUE A GENTE PRECISE

SABER ANTES AQUILO
QUE A OUTRA
COISA QUE NEM AINDA
VEIO UM DIA SER HÁ

Estou te amando
Estou mesmo
Com a delicadeza de um mar sonolento
Estou por ti

E a ternura
é nosso vento

~ ~ ~
 

Trace

E então lá estava ela
Em trabalho
Tranquila, disponível, 
Lá estava ela
A olhar o mundo
Como fosse o mundo 
Aquela única tarde nublada

Olha a tarde
Ela se dizia
E então a tarde 
Ela olhava
E mais
Com calma
Ela olhava o modo 
Como ele respondia 
Ao amor que sobre ele
Tombava

Quanto amor
Ela dizia
A si mesma
Aquela vista 
Naquela tarde
Sem gritos
Mirava aquele tanto
Amor

E também aquele
Homem sob
O amor
Pisoteado

Mas não disseram nada
Entre si 
Foi numa tarde
Durou suficiente
Muito amor 
Fazia frio
A vida

Muito obrigado
Ele a dizia
Muito obrigado 
Ele dizia
 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

(cont.)

o quanto foi preciso
ter estado fora da vida
para ter escrito
tudo isso

penso no quanto
nem tanto em quando
no quanto
na quantidade monumental

de vida fora da vida investida
de beiradas limites fronteiras
de olhar através da janela
e saltar-se fora da linha

o quanto foi investido
para além do regime
da vida mesmo o quanto
para ter escrito

tudo isso
que de tanto
ainda assim
movimenta-me

a saltar

a saltar

a saltar
linhas
 

não deixar que ele estrague tudo

será assim
desde então
assim
quero dizer
já sabemos
sabíamos
que ele faria assim
que jogaria mal
desse mesmo jeito
que estragaria
destruiria
que ele, enfim, ele
que ele estragaria tudo
por isso
cortar a linha
abreviar o tempo
por isso devolvê-lo
ao instante
anterior
ao sonoro
estampido
rabugento
que estraga
tudo
até
mesmo o
amor

não, meu querido, hoje não, meu querido
hoje o amor vai continuar mais um pouco
e você, se for o caso, vá tomar um banho
vá lavar louças, faça o que quiser, como quiser
mas não, meu querido, hoje não, meu querido
hoje o amor continua

hoje o amor continua

 

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

sento-me à janela para fumar um vento

E chove la fora agora chove aqui dentro e eu choro porque não sei como faz para aceitar que Sta tudo bem esta tudo bem Diogo está tudo certo

Esqueci meu guarda-chuva na sua casa no seu carro no seu quarto não me recordo mas agora já é hora de se molhar sairei destemido pois disseram que era isso

Estar vivo

Exposto

Nunca dantes eu tanto eu

Nunca antes eu querendo tanto 

Já faz tempo muito que meu desejo foi convertido no fantasma de si mesmo meu desejo posto fora como se longe de mim me fizess dele desistir

Perco as letrqs mas meu gesto continua

Dos escombros ele retorna e aparece e que loucura boa é saber agora que talvez sim que fosse sem oh com rima que fosse como fosse que eu com você contaria 
 

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

por que choras?

por não acreditar que alguma ternura teria sobrevivido até aqui
por não suspeitar que ainda pudesses
algo mudar nesta vida
por realizar somente agora que podes
sim ser de outra forma

por isso choro 
dentro de um escuro óculos
como quem descobre
que faz sol

e chuva
ao mesmo tempo. 
 

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

da irrelevância destes poemas

no antes
os amigos cá vinham
e teciam seus elogiosos
comentários
os poemas nasciam
munidos de si
e a vida parecia
escavar problemas
para num punhado de versos
brilhá-los

no depois
a ânsia do estar vivo
desencadeou o poema
a vida engasgou
e a palavra que tanto veio
perdeu a hora
e me deixou ali
rendido
pela
encrenca
(que foi ter estado vivo)

e agora, diogo?

agora o poema
nem lamento
mais consegue
ser

o poema sem
brilho sem nada
o poema tentando
não ser consumido

pela moda
que no agora
está na
moda

este poema
como milhões de outros
irrelevante
este poema
como milhões de outras
pessoas
como milhões de eus
este poema

irrelevante, diogo
tudo isso é irrelevante
diogo, isso é irrelevante
diogo, sua vida

esta vida
a vida deste poema
esta a sua, diogo
meu amigo, gsus

lisa
quebradiça
sem sal nem graça
feitum poema

um poema

mais um
mais um
mais um
ainda assim
outro