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domingo, 30 de dezembro de 2012

prepare yourself

to drop water
over your body.

in the middle
of this room

you will drop water
to wash your shame
of you.

in ten minutos
i imagine
you'll resolve yourself.

dropping water
over you
as if it was fire

buring rules.

free yourself

while freedom

do not come
to you.

teria medo de tirar uma foto para lhes mostrar meu estado.


4 N O S


NATÁSSIA VELLO + CAROLINE HELENA + DIOGO LIBERANO + FLÁVIA NAVES + ADASSA MARTINS
= TEATRO INOMINÁVEL [http://teatroinominavel.com.br/]

fiel retrato

rio de janeiro, 30 de dezembro de 2012

meus filhos,

seu pai tem agora a pele machucada. ele cuida do que tem. medica. lava. se pudesse, tal qual se (não) faz com as roupas, passaria a ferro quente. pele a pelo. e deixaria tudo mais apresentável. mas acontece, filhos meus, que seu pai está faz dias em silêncio. faz dias, dentro de casa. e mesmo quando sai (dentro permanece).
e mais um ano se encerra, e o corpo do papai se enche de melancolia. se enche (talvez) de culpa. me entendam: é muito o já dito, ainda mais o já feito. e mesmo assim, a paz no corpo está longe de chegar. o papai pensa na guerra que pode vir a ser o próximo ano. e tem medo. tem mais, eu diria, tem preguiça. não quer brigar tanto para ver acontecer a própria vida.

a vida deveria ser autônoma.

ou não, meus filhos. talvez nem seja isso. seja só um descontentamento de estação. está tão calor nesta minha cidade do rio de janeiro que eu nem sei. sinceramente, nem sei. não sei do que se passa sobre meu corpo, nem dentro, quiçá fora. fora, vejo avenidas encharcadas de cerveja, vejo suor seduzindo a todos e a todas. tudo é tão bruto tão escuso que eu me tranco em casa na esperança de parecer menos comum.

eu ouço música como quem toma morfina.

que medo o papai tem de ser multidão.

salvem-me versos. salve-me melodia.

mas escrevo. vejam: eu escrevo. eu acho que nisso preservo em mim algum digno desassossego. alguma coisa digna de um grande poeta de nossos tempos. mas todos eles morreram. eu sei. já não existem. os grandes poetas sempre nascem no momento em que você morre, filho. vocês hão de ver - quando um dia morrerem (caso morram) - nascerá um lindo triste um poeta.
quanta confusão esse calor me traz. eu deixo que me tragam. eu deixo ser assim expresso feito confissão. bebo um café faz já horas. e ele ainda está quente, acreditem-me. é só para que tenham ideia deste instante. desta neblina aghora. sim, aghora.
filhos, estou de cueca. sentado frente ao computador. está claro o dia, apesar de pouco ensolarado. mormaço, se chama. sobre a minha frente um cinzeiro branco, com algumas guimbas vermelhas. uma tampa de caneta vermelha. a caneta solta, sem tampa. uma cartela de comprimidos (anti-inflamatório) e muitos comprovantes de compras inúmeras que fiz nas últimas semanas. e é só isso.
num só gole bebi o café. teria medo de tirar uma foto para lhes mostrar meu estado. mas não é bonito isso de se mostrar despedaçado. o meu coração também dói. para além de tudo já dito, dói ainda um pouco o peito. mais uma vez de novo hoje perdido. ah, sim. também há um isqueiro branco. pequeno. uma calculadora. e o ventilador, atrás de mim, sobre o chão, gira e entretém a minha desrazão.

se eu virar um poeta, um dia, me sentirei amado. não por mim. nem pelos outros, mas por vocês mesmos. por vocês, filhos - todos - amaldiçoados.

o próximo ano vem chegando assustadoramente doce. cheio das mil maravilhas. que medo o pai tem de tanta festa. de tanta armadilha. queria crescer logo e ter o corpo velho para aguentar a poeirice da minha alma.
mas não, fausto. não queira que eu seja a poesia que seu poema te obrigou a ser. eu não sou verso. eu sou, apenas, movimento.
deixe-me ser livre. e faxinar a casa. para não esquecer - jamais - que quanto maior o voo, maior a falta de ar.

do seu,
diogo liberano

e então o dia chegou

e eu acordei.

vivo. ainda.

sem pressa.

não sem dor.

o dia chegou
e aqui sobro eu
volvido em música
entornando café
e mastigando
frutas mortas.

eu acordei

o dia veio

e a vida

se posso dizer



continuou.

a vida continuou, poema épico.

sábado, 29 de dezembro de 2012

recomeço

tentativa se confunde
com inércia,

já não distinguo
poesia do
dia-a-dia.

o suicídio
se escorre
por sobre cada ideia

mas é só imobilidade
na casa
no peito
e no sexo.

o cigarro
me espreme a consciência
e fico então
enevoado,

incapaz de alçar voo
incapaz de apagá-lo.

penso que em alguns dias
outro ano terá início

e me pergunto

o que farei nele comigo?

quando me levarei para dançar
e onde
onde
vou plantar a minha paz?

eu não vou dizer
que fiquei triste muito cedo
(eu já o disse)

nem dizer
que faz falta a mãe
(estamos nós dois
nos desentendendo
faz anos)

assim
compro livros
passo um pouco de fome
me deixo viver
que seja um momento
que seja num instante

a propaganda
a horta
a fruta

o refrigerante.

e durmo
como nunca
hoje eu durmo
certo
de que amanhã
ainda será noite.



Família²


E então a viagem.
Minha, rumo a minha atual casa.
Perdão.
Eu me desliguei da família,
Por um segundo
Estar longe
É a menor ameaça.
E então vem o tempo
O vento
O frio
E o silêncio.
Passam tantas coisas por mim
Que se me vejo sozinho
É só questão de ser solteiro.
Não me lembro da mãe
Nem do pai
Poderia esquecer inclusive que morreram,
Caso o tivessem.
Uma paz sem nome.
Por vezes, ameaço-me
Em esconderijo
És filho de mentira!
És do demônio!
És seco tal qual rio.

Mas não
Sei que no amanhã
Futuro
Hei de lembrar
De tudo
De todos
Das faltas
E dos invisíveis contornos
de nossos laços
Hoje,
Desembrulhados
E sem força alguma.
Que falta faz a cicatriz da infância.

Família¹


Já não sei se me culpo
Ou aceito a cova precoce
E escancarada.
Se o que vejo
É como vejo
Que fazer então
Se a vista
Me desagrada?
Hei de cegar-me
Ou seguir-me
Vendo tal como
Vejo?

Família.
Tema pesadelo.
Uma ou outra
Vez ao ano
Eu me venho,
Aqui estou
Entre os meus
Eu aqui
Entre todos
Mães pais
Filhos irmãos
Sobrinhos
E eventuais
Estrangeiros.
Uma vez ao ano
Eu cedo
E venho
E vejo
E fico
E persisto
Mas não
Tudo me expulsa
E, se agora, todos foram
Tomar seu banho
De cachoeira

Eu a Deus, agradeço
Porque fiquei só
Com minhas palavras,
Aliadas aos dramas pequeno
– burgueses.

Não se trata disso.
Não.
Não é pouco.
O como vejo me entortece
Eu fico sem jeito
Eu quero chorar
Mas nem pena me é possível
Pois Família minha virou estrofe
Improvável
Neste tempo nosso
De versos somente livres.

Rimada
Tudo termina em cifrão
Família Letra pegajosa
Desde sempre
Desde antes
Desde ontem
Antemão.

Família minha rima
Com custo,
Não de escalar morros
Subir montanhas
Não custo poético
Custo façanha
Simbólico
Não
Seus custos
Pesam e despesam
Sempre apenas o bolso
E se hoje cedo chegou o cunhado
Já não o sei mais
E se hoje ele veio
Atrasado
Pós-Natal
É só porque estava a comprar
Ainda mais
E mais
E Mal.

Mal Compram.
Consomem.
Comem comem
Como ontem já não fosse ontem.
Comem o óbvio
O bacalhau que disseram
Comem as frutas que nunca souberam
Mas que são caras
E desfilam nas capas
De revistas.

E se tento
Por um segundo
Mudar o ritmo
Sofro o embargo
Generalizado
Da minha apatia –

Me dizem como sou
Dizem pra que vim
ao mundo
Dizem do que fui feito
Me fazem competir entre eles
A sua falta de respeito.
Me fazem competir
Entre todos
Quem tem mais aquilo
que nunca terei.
Porque nunca o quis
Por não acreditar
Que crianças motorizadas
Valem mais do que um sorriso

sincero

posto já esquecido.

Sofro
Em silêncio
E venho entre palavras
Me fazer abrigo.

Sofro
Caudaloso
Dentro me forma
Onda sonora
Rancor pesado
Luto que durará
Um
Ou mais
Meses
Um ou mais
“loucos”
Entreouvidos em meio a maré
De dessaranjos verbais
Fingidos à afeto.

Ainda um pouco.

O quintal vazio
Os brinquedos já quebrados
Não haveria algo estranho
Neste natal
Cujo papai noel é falsificado?
É pago?

Como foi que meus irmãos se despidiram tão rápido da inteligência que um dia me fizeram feliz por ser seu mais novo?
Ficaram burros
Brutos
Compram e não percebem que comprando tudo
Ganham o mundo
exceto a vida.
Não.
A vida se esvái. Não quer ser comprada.
A vida é terrorismo primeiro,
Incansável projeto
Alheio ao ser pego.

Meus irmãos ficaram tristes
E consomem o mundo
Para saciar a consciência
Que durante as noites
Lhes pesam
Feito crimes não todo-feitos.

E pesam
E feito cimento
Os imobilizam.

Eu bobo –
Deixo-me passar por pobre
Preto
Imundo
Doente
Coitado
E perdido.

Eu simples –
Deixo-me preso apenas no que tive até hoje
Deixo-me menos que todos
Deixo-me um pouco
Ainda mais
Pequeno.
Ciente que duelar quem pode mais
Só serve mesmo para dizer-nos
Do quanto
Podemos
Todos
Muito
Menos.

Não posso.
Não quero.
Que o próximo ano
Me leve para outro embalo
Que eu me surpreenda tendo que sinceramente
Viver outro
– que não o mesmo –
Mas outro.

E se me pergunto
Por que foi que vim?
Dói tudo dentro de mim,
Porque ingênuo
Acreditei na noção de família
(Hoje só viva em poesias antigas).
Muito antigas.

Se vim é porque acreditei que importasse a mãe
Algo meu
Um braço
Que fosse.

Mas não.
Tudo fora do lugar.
Eu não importo. Eu não sirvo mais.
Exceto caso prove estabilidade financeira.

Como foi que o dinheiro virou meu parente sem eu nem mesmo sabê-lo?
Dentro de casa ele tem mais regalias que um ente querido.
Não fossem alguns avós já mortos
O dinheiro os teria matado,
De ciúmes teriam morrido.

Porque dorme o dinheiro em bolsa blindada
Sofre carinhos de mãos ágeis e mal lavadas
Circula entre as crianças como fosse proteção.

Deus, que eu nem sei mais se não te acredito –
Está difícil manter-me assim tão vivo.
Meus olhos doem a realidade
E ela de mim não se dissipa.

Como pode o cinismo ceiar entre os entes
Da antiga família?
Poema longo
Feito pranto.
Não cessa
Não acaba
Passa o verso
E me faz lembrar
Que ainda não varri
Um tal cômodo,

A tal sala de estar.

Sofro.
Como quem mira o céu claro
À procura de chuva.
Tudo está dentro desta foto horrenda
É só uma questão do câncer
Manifestar ou não
Sua culpa.

A culpa
É a única da família
Que mesmo rejeitada
Marca sua presença,

Não maquiável,

Feito eu mesmo
Nesta reunião
Sem família.

[1] Escrito em 25 de dezembro de 2012, em Jacutinga/MG.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

e se...


eu lhes dissesse, meninos
o que venho pensando sobre mim
sobre eles
sobre todos?

aguentaríamos?

verdades
feito adagas?

aguentaríamos
o jogo
da sinceridade acumulada?

quero ir de táxi.
para suprir as pernas
da empreitada

que é

viver um dia.

Morning

Oh my
It seems i could
really
die

My words
are so like these:
death
sadness
not even one surprise

Now
for me
only what already
has crossed me.

You talk about summer
about sex
and games

but instead of smile
in silence
i'll be

locked

searching
freedom
where it does not
exist:

in you eyes.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O Natal

é a época do ano
em que mais facilmente
se percebe
aquilo que significa
presente.

Ou seja:
é tudo aquilo
que não está
em jogo.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Morte

És feito sorte
Ter por perto
A embriaguez aveludada
de verdes folhas finas.

Feito morte
O frio da tarde
convoca:

homens e mulheres
pássaros e meninos

Sintam no vento imóvel
A certeza sedutora
Do beijo abismo.

Venha.

Crave os pés à planta rala
E respire inerte
O fim
Que há em todo
Sorriso.

A vida é isso.
Só isso.

Sem mistério.

Sem posterguidão desmedida.

Hálito gelo
que convida
À narrativas.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Amanhã

É aniversário da pessoa mais importante da minha vida. Alguém que ainda não conheci.

A música alta a esta hora

só prova o quanto eu me perdi do tempo. A sujeira no chão da cozinha, o gato miando a todo o momento. Eu perdi as linhas, as agulhas, eu perdi sentido e nada me basta. Resto, amoroso com o sono, único remédio para cruzar estes dias.

A poesia por vezes morre. Ela existe. Sempre. Talvez. Enquanto houver esse ronco dentro. Mas ela por vezes morre. As vírgulas se perdem e tudo segue escorrendo como se houvesse no mundo um derretimento constante. Fico quieto e pesado.

Como posso me pesar tanto?

Ambíguo isso. Me pesar não quer dizer me ter pena. Pesar no sentido de quilo. Eu me quilo. Enquanto pela janela vejo as moças se de-maquilando. Tão magras, as moças, tão finas. Como vão sobreviver sem edredon num dia chuvoso?

Minha poesia nem sequer é triste. É inerte ao afeto. Nem mesmo muita coragem me tirará desta secura.

Só o seu beijo. É isso. Só o seu beijo.

Falir

Prova-me a morte
a fraqueza
A pouca força
A falta de norte.

Durar
Ficar
De fato resistir
Prova-se tarefa
Demasiadamente humana.

Quando foi que me perdi de mim?

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

é cedo ---

para dormir.

lá fora
inda tanta coisa
me chama

que eu penso,
não é tarde
para tamanha
façanha?

é cedo para dormir

ainda resta o álcool
sobre a mesa, ainda resta
intacto
o próximo mês
expresso em calendário

não cumpri
com quase
nada
planejado

é cedo para dormir
mas se pede o corpo
que posso eu fazer
que não

ceder ao toque
do pano
da escuridão

do encontro
cansaço-sono?

não vou sofrer.

não vou.

é cedo
para ter que morrer
fazendo negócios.

sábado, 1 de dezembro de 2012

reflexão para um futuro próximo ou mesmo inda distante

sobre ser pai.

eu poderia escrever que não. seria mais fácil. negar é sempre um caminho dado. mas não. não posso ser tão simples assim. não com assunto tal que move meu íntimo e me desestabiliza.
pensar nos cabelos primeiros, nos cabelos pequenos, nos conjuntos de pano, cobrindo a pele recém-nascida. penso sempre nele andando ao meu lado, mas tão lá embaixo, tão pequeno, tão solto do mundo. tão descolado.
penso no primeiro par de sapatos. penso na altura que serei capaz de lançá-lo. apenas para brincar de medo e amor. medo e amor. assim, simples desse jeito. penso no abraço. no seu tamanho crescendo e fugindo de mim. não cabendo nos braços, nas mãos nem no sorriso.
penso tanto, meu filho, no todo. que te completo mesmo sem tê-lo vivo, sem tê-lo sequer a piscar-me um olho.
me emociono demais pensando nas danças que fará no colégio. nas paqueras, em tudo aquilo que poderá descobrir e que não temerás me contar. quero, meu filho, que você nasça pequeno como o mundo um dia nasceu. quero que sejas tão pleno, posto pequenino.
sem azia. quero que experimente cada semente. que passe a língua, sem saber se trará ao próprio corpo, doença incurável. quero que brinque em segredo de mim, que seja, apenas (eu estarei te vigiando).

por hoje é só isso.
e a cerveja, é claro.

retrato ao filho curioso de saudade

filho,
você me pede um retrato e eu lhe dou palavras. paciência. é o que tenho. o papai emprestou a máquina de bater fotos e sobraram apenas palavras, como sempre. pois eu me sento agora - ligeiramente embriagado - para escrever-lhe um retrato.
a coluna torta. o sorriso guardado. eu comi todas as minhas unhas das mãos hoje, portanto, escrevo a ti - e a teus irmãos - meio sujo de sangue já coagulado. no quarto do papai, uma música chamada "save me" toca numa altura extraordinária. é que os vizinhos estão em festa. pela primeira vez, a casa da frente, está em festa. antes era só um violão pela manhã, mas hoje, há pessoas circulando na rua e nas sacadas, sem camisa, uma promiscuidade (que o papai gosta, a bem da verdade).
a música aqui no quarto é tão imensa quanto a lá de fora. mas não se escutam, uma a outra. estou semi-bêbado, mas não menos consciente. poderia pintar estrelas, caso você me pedisse. caso você existisse.
é tudo um treino, correto? isso, de lhe escrever retratos. eu lhe escrevo quem eu estou, neste momento, e você nem sequer me promete vir junto. chegar mais perto. você não existe e não existindo eu também perco o sentido. se um dia o seu pai for mais que destemido, talvez a gente se encontre.
por agora, você é tão poesia quanto o tempo. você é possível na medida em que não existe para me provar o contrário. poderia dizer que sofro a sua existência de mentira, mas é tão verdade o que escrevo, que para mim mesmo sou pai já faz muito tempo.
fui pai precoce. antes mesmo da barba, talvez, já tivesse o sido.
talvez mais cedo até. não sei precisar.

ser pai me roubou de mim e não vi se era grande ou pequeno. lembro apenas do que senti. daquela possibilidade, entre as pernas, de dizer alguma coisa que tivesse validade. alguma coisa grande, mesmo que pequena, alguma coisa capaz de causar estrago, amor ou dúvida.

desde esse dia, em que te encontrei (você e seus irmãos), fui amigo também. e as suas vozes, ecoando dentro do meu peito ou da cabeça - não sei - as suas vozes me fazendo seguir, me fazendo companhia, sempre que alguém querido partiu. eu hoje, sinto tanto por vocês, que seria ingrato da minha parte um dia não lhes dar o corpo, tal como pregam as revistas e jornais de domingo.

ser pai, meu filho, ainda é sonho.

mas sonho morno, capaz de acordar em meio ao dia. e só depois se dissipar, feito fantasia.

eu vou estar com vocês. quando vocês vierem, de fato, pisar minha tranquilidade
e convertê-la, em amor pleno.

diogo.

to discover


i make a try.

i write a word
and then
what comes
i don't care
i won't lie -

sometimes,
a numbness
warms up
the mistery.

and it is better
to keep trying
instead of
get the better.

simple like that -

sometimes
i prefer the sadness
of don't have you
(off course,
"you" is only a word)

instead of have a happy poetry.

Este café.


Tem gosto do que já foi,
este café que eu te fiz
- e você não veio -
ele tem gosto daquilo que
não conseguimos ser
quando juntos.
Entorno o caldo negro
até o fim,
privando-me de sentir
várias vezes
o mesmo
Agora - já todo ido.
Não houve poesia
em te passar um café
e te esperar
quente
morno
e agora frio.
Teve gosto de arrepio,
depois ficou assim como antes
tudo ficou confusamente bonito.
E então,
foram noites até descobrir
o seu princípio:
toque primeiro desintegrado
capaz de fuga imprevisível
toque umedecido pegajoso
e feito carinho
morde
remorde
baba e cria vinco
depois
esfolia a alma
despedaçada
pelo desejo
abrupto e renovado
da manhã vindoura.
Este café passou.
Como você.

excedem

toda e qualquer tentativa
hoje não serve.

cansaram-se
os corpos
e as investidas,

rasta apenas
este silêncio dormente
essa nem mais sequer
vida.

pula uma linha

salta um soluço

passa uma ponte

e pronto
aqui estamos
novamente
tentando o isto:

quer vir?

acha que nos encontraremos?

te devo alguma coisa?

entre nós hoje o silêncio.

paz.

do espírito.

a morte
não vai te pegar
nem vai me assassinar
estou certo disso.

assim,
sem controvérsias
vamos nos dar um tempo
possível
vamos nos dar tempo
um pouco
ao menos
um pouco
ao menos
isso.

e quem sabe
depois
quando soubermos o rumo do poema
quem sabe depois
a gente se dê um laço
e se reinvente.

por agora,
não há nada
exceto excesso
exceto muita
muitas
tentativas.

por agora,
meu amor,
ainda me implica
te chamar desse
jeito.

pula uma linha

salta um soluço

passe uma ponte

e veja:

estamos os dois
hoje tão cansados
na beira
do abismo.

poderíamos saltar
não houvesse
tanta sorte
a costurar
nossos íntimos.

não se preocupe:
hoje ainda não é o último dia de nossas vidas.

vamos nos dar um tempo
até que ele chegue.

as unhas

ficaram deitadas
e imóveis
pelo chão da sala
como fossem
sortes que não deram
certo.

as pontas
dos dedos
todas
carcomidas,

enquanto dentro
de mim
uma satisfação tão plena
uma tão longa avenida.

silencio,
para ouvir o fim do dia
aportando tranquilo:

eu poderia estar ao seu lado
não fosse meu corpo
inda tão cheio
de espinhos.

ofício

em uma linha
o resumo

para me manter vivo

esforço-me
perduro
desentretido
a mirar olhares
mirando passos
vendo mistério
onde há apenas
sem gracidão.

o meu ofício
faz algum tempo
serve apenas
para me deixar
mais tempo
aqui imerso.

neste instante
em que a vida
lá fora
escorre
deitada
e imóvel
em esquinas
de asfalto
queimante,

neste instante em que a morte
adormece
e acorda
se faz lembrar
e se faz forte

neste momento
em que a poesia
é apenas um esconderijo
egoísta
e despropositado,

eu me vejo
sobre corpos
talhando passos
insinuando sinceridades

eu me vejo
trabalhando
apenas para me deixar
menos fraco
me deixar
mais capaz
de sobreviver
ao inevitável
corte

que faz a vida
a todo o instante
faz a vida

sobre ricos
e sobre pobres

limpando dicotomias
e instaurando
enfim

tempo.

primeiro de dezembro

falta insulina
ao corpo dormente
sobra poeira
pela casa
sobra sujeira
entre os dentes

na cozinha
o café estala
queimado
os biscoitos
amolecem
solitários

no banheiro
o cheiro
atravessa
os azulejos
tudo negro
tudo negro

na sala
a cadeira
está bamba
se foi sofá
se foi televisor
somente um pelo de gato sobrou.

a morte veio
e me levou daqui

ficaram lembranças
de coisas ainda por vir

a morte veio
e me tirou de casa

bom é bailar
sem mão que interrompa
o desejo
de ser esquecimento.

Arquivo