Pesquisa

sábado, 30 de maio de 2015

Bom dia.

Em algumas manhãs
quando tudo amanhece ameno
Penso também com calma
sobre a dimensão do imenso.

Amor,

Quanta confusão nos restou.
Quanta pergunta para tão fatídica
Resposta.

Há manhãs em que eu me ergo
faço um café e penso
Com esperança
no desenrolar do futuro.

Amor,

Por que não seria justo
tudo isto?
Se assim você decidiu
com paz inconformada
Eu aceito o embargo
E me retiro silencioso da sua estrada.

Há manhãs
que a lucidez se faz despertadora
E me ergo
passo o café
acendo o cigarro

E reconheço a dimensão imensa do nosso hoje já partido laço

É mesmo lindo
Foi mesmo imenso
Uma paz me abraça
E eu queria poder lhe dizer isso
E lhe sorrir
E te prender - apenas como jogo -
entre meus braços.

Mas as manhãs me invadem
e a tarde se anuncia logo cedo
Perco a confiança no tempo
e apenas me deixo

Certo que há tanto
Que não há problema
em agora
Não sermos nada um ao outro.

Ficou claro?

Sei que não.
Para mim é turvo
como ir embora e não voltar
Mas
Amanhã tem manhã de novo
E hoje por agora
Só há a tarde e o anoitecer
E o embriagar-se

Há outros beijos
Outros corpos
Jogos mil
E toda a gama de azares
E sortes.

Bom dia.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Titubear

Eu titubeei
Tu titubeastes  
Ele titubeou
Ela também, coitada
Nós titubeamos
Vós titubeais
Eles e elas titubearam

Mas por sorte
Hoje já é tudo passado

Hoje tudo começa de novo
Porque:

Eu titubeio
Tu titubeias
Ele é Ela
Logo
Ela também titubeia
Assim como nós
que titubeamos
Como vós
que titubeais
Elas que são eles
mesmo hoje
Titubeiam.

E sabe o que mais?

No amanhã
Titubearemos juntos.

Essa palavra feia
esse gesto inconcreto
Essa apesar de tudo

Ainda possibilidade.

3 ou 4 gracejos

E um suspiro leve
não passageiro.

Já tanto tempo
e a gente se enrolando.

Até dá para ter calma
foi sempre assim entre nós
Não?

Sempre claro apesar de confuso
Sempre quieto apesar do barulho
dentro
Querendo te abraçar.

A calma é a nossa cama.

Quando quiseres de novo
podemos tirar um tempo
E descansar.

sábado, 23 de maio de 2015

Parceiro de Travessia

Alguns amigos estão vivos. Outros já mortos. Muitos - vivos ou mortos - estão presentes. Outros nem tanto. Uns eu conheço desde cedo. Outros faz pouco tempo. Mas tem uns, tem uns que eu sequer conheci, mas que são companheiros meus já faz tempo. Eis um deles. Amigo Benjamin. Ou Walter. Gato máximo. Parceiro de travessia. Companheiro de insônia. Revolução à luz do dia. Ele foi o primeiro amigo meu que se suicidou. Ele se cravou no tempo e em minha - nossa - vida. É bom ter amigos para além do tempo e do espaço. É abraço tenaz que dura e não desmancha. É laço.BENJAMIN, Walter.

Poderia dizer que sim

Que cada curva
é para você
Que hoje desconheço.

Que cada verso
foi por ti
Que eu escrevi.

Poderia dizer
que sim,

Que sim.

Mas não.

Para além do orgulho
Da ira, para além da dor
nada hoje pode ser por ti

Porque hoje apenas o que resta
sou eu
Eu aqui
eu
sem ser visto
e sem ser tornado imagem.

A sinceridade é transparente
e adere ao corpo.

Poderia dizer
que penso no seu gesto
Lendo alguma
palavra minha.

Mas veja:

a palavra não é minha
a imagem não é vista
a geografia existe
e o instante é solitário

Para que achar o que não tem onde não há?
Eu poderia dizer que sim
mas hoje
e também nos amanhãs
a ti
eu digo apenas o óbvio
Não.

Sobre o representar

Talvez nem houvesse palavras para tanto.
Talvez eu nem devesse me dar ao trabalho.
No entanto, o jogo me convida:
eu amo lançar sobre o fundo branco
a luta minha contra algum embargo
do representável.

É clara a discussão, não?

Certos afetos, certas potências e estados
certas coisas não toleram ser representadas
Seria como tentar colocar dentro de casa
o cair da chuva batendo sobre o verde gramado.

Algo artificial precisa ser evocado.

Não estamos falando sobre mentira.
Esse binômio verdade/mentira
nem sequer existe aqui nesse papo.

Falo sobre o desejo
Falo sobre Falos
Falo sobre e sob embargos
do irrepresentável.

Aqui está:
fundo branco disponível a todo e qualquer desastre meu.

Aqui estou:
mãos em letras juntando trocados
e rompendo o amanhã com tesão convicto.

Represento sem exigência de ser contemplado.

Represento sem exigência de no amanhã
reconhecer o meu objeto aqui tentado
e à representação lançado.

A representação é desejo
e desejo move e comove
para desmover-se
e amanhecer outro dia.

Eu queria me dizer uma coisa:
a página em branco nunca será tua inimiga.
Nunca, a página em branco, te exigirá explicação.
O sentido, a página em branco sente
Ela sente como quem recebe
e não tanto como quem pergunta.

Veja:

é noite
e o corpo resta vivo

Quer espaço mais retrato
do que este aqui:

palavras voando e saltando
rimas se fazendo
e se prorrogando

É preciso.
É preciso.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Instabilidade Perpétua

A poesia é a única que sobrevive em meio a tudo e tanta coisa. Uma profusão de estados e sentimentos que é prudente deixar que as palavra sigam adiante, forjando linhas e não versos. Sigam, palavras. Podem seguir. Eu estou bem. Bem aqui. Eu estou ciente, consciente, eu estou me olhando - diariamente - e a certeza é plena, cabe no corpo, não atravessa a cabeça e nem sucumbe o espírito. É só que é tanta coisa, tanta coisa sem nome, que me apavora apenas a quantidade e não sua indefinição. Queria ser música, mãe. Novamente. Por vezes, volta-me um desejo desse tipo. Querer ser música, ser frequência, ser som, um pouco menos desse arranjo material.

Tenho pensado tanto sobre essa balança. Tanto sobre equilíbrio. Tenho medido meus vícios e os tenho vivido, com intensidade e amor. Tenho descoberto tanta coisa. Revelado a mim tanto de mim que ainda não sabia. Mas muda o dia. Silencioso o dia muda e minha agonia - que nem é bem agonia - ela se multiplica, se modifica, e tudo então está para ser começado.

Se eu desisto? Não. Sou duro feito pedra. Isto é fato. Persisto com ou sem força, persisto por condição. A vida nunca me pareceu lugar confortável. Não me resta opção e nem se restasse alguma saída eu pediria para sair. Eu fico. Eu persisto. Eu amo estar aqui, amo isso tudo, amo estar vivo.

A potência que me povoa é imensa e não cessa de crescer. Falta-me
 braços e pernas para aprender a ser a ousadia que em mim, um dia, a vida (ou fui eu?), a vida fez nascer.

Ouço músicas como quem solicita ao tempo um abraço. Elas me envolvem e mesmo já com tantos amigos e amados abraços, por vezes é só o meu mesmo que parece me importar. Fuzilo-me nessa condição. Acho estranho um homem tão jovem já tão provido de si mesmo. Mas é isso, não é? Enquanto tem gente se procurando eu já me achei. Eu já me flagrei e me apaixonei por essa possibilidade: a de amar estar vivo e a de amar ser quem eu me tornei.

A morte virou minha amiga faz tempo. O amor - e sua noção - se desfizeram faz há pouco. As ilusões do mundo não me comovem e nem valem meu suor nem meu tempo. Desconfio em paz. Em paz, eu desconfio do mundo. E está tudo certo.

Uma instabilidade me organiza. E se for preciso - como agora me foi - eu estaco. Faço uma pausa e reflito um pouco sobre ser gente grande, bem grande, ser ser imenso e imediato. Eu me altero o sentido e fico, perduro, eu duro - feito pedra - sobre toda e qualquer incoerência.

A vida está do meu lado como nunca antes, talvez, tenha estado.

Eu estou inerte agora apenas por sentir meu peito avulso e povoado.

Que incrível é não ter que pagar psicanálise.

Cheguei até à porta do Eugênio. E voltei. Se voltei por medo? Não. Não foi. Foi só porque de mim eu nunca me desencontrei. Nunca desencontrado estive, a ponto de precisar de bússola. Está tudo certo, eu repito. Essa é agora minha busca.

Que beleza.

Que lindeza.

Que sublime é tornar o mundo um lugar outro que não apenas o impossível.

É jogo instável posto seja jogo precioso e preciso.

Boa noite, amigo.

não seria mais fácil

assusta
ver o corpo
em busca
de facilidade.

assusta
e, no entanto,
ainda assim
o difícil o invade.

não sabendo o que dizer
nem como reagir
resta o corpo meio suspenso
aguardando ansioso

o fim de um tormento.

nem se identifica
nem se sabe o que acontece
mas acorda se ergue
e se aborrece.

ele se olha de longe
(por já tão cansado de tentar)
ele se olha distante de si mesmo
e percebe tudo

(às vezes, só dormindo é possível)

durma, então
ele sopra a si próprio
mas o ar é denso
e o sopro não sobrevive

o corpo segue andando
comprando
falando
e tentando

mas não vai conseguir.

de longe, ele observa
o tombo que virá
e já em mãos
ele leva o algodão

para se consertar.

todo esse discurso apocalíptico sobre o rio de janeiro.


me pergunto, antes de acreditar nas coisas que ouço ou leio, me pergunto a quem possa interessar esse retrato de "realidade impossível e inabitável"...
a resposta está na nossa timeline (bem como no jornais televisivos, todas as noites, e nos impressos, todos os dias).
a quem interessa transformar a vida num espaço-tempo impossível?
ora, não sejamos ingênuos. tudo isso interessa ao comércio, aos negócios, ao capital. a esse monstro que não cessa.
planta-se o medo e a destruição para que se venda o remédio e a proteção.
já é assim faz um longo tempo. não mudou, apenas se agrava.
é só embarcarmos nessa de rio de janeiro impossível que, em tantos meses, teremos roletas vigiando quem entra nas praias. teremos pedágios sendo pagos para sairmos de nossa própria casa.
não, não desconsidero as gravidades inúmeras que a cidade do rio de janeiro passa. talvez sequer eu as conheça de verdade, mas generalizar a cidade como este inferno é a primeira estratégia para que - inconscientemente - seja a cidade transformada em inferno (também por nós mesmos).
uma coisa ainda me parece determinante: não vou deixar de ir às ruas, ao bairro tal, nem vou deixar de usar e frequentar a minha cidade. não vou deixar de desafiá-la. a minha presença nessa cidade-shopping desafia sua imagem-catástrofe.
gosto de sorrir aos senhores e senhoras. gosto de agradecer ao trocador do ônibus. amo segurar a porta do banco (para que entrem e saiam inúmeras pessoas). amo tornar possível. tenho, inclusive, aprendido a atravessar a rua apenas quando o sinal de pedestres está aberto para mim.
a questão não me parece ser essa afirmação: está impossível morar no rio de janeiro. a questão me parecer ser justamente uma indagação: está impossível morar no rio de janeiro? está impossível o rio de janeiro?
sem duvidar, a gente só acata o soco e paga o plano de saúde.
tem que haver outra coisa (para além de dizer o que os outros me dizem que precisa ser dito).




Novel

I have no words
I use all of them
No words
Just with some feeling
Just something
That I can't really believe in.

And then you word
One word from you
You came with this word
Just this one
And then
Everything reborns for me.

How powerfull can words be, isn't it?

You said "a guy like me"
I said "oh, my, god, oh, my, god"
You repeat it
"A guy like you is all I need"

And then what?
What most beautiful could exist?

If you said it
Then I'll go with you

I do trust in words
More than I trust in me
I do trust in strangers, guy
So come on
Come, please, come here

I'll take care of your arms
and silent I will hug you
and all yours fears

You have to feel it with me.

Are you living?

When a smile comes
do you receive it?
When a shiver writes in your skin
you feel it in full?
When a hope
dawns hugging you
do you say good morning?

Are you living?

Or the surprise does not move you anymore?
Does the silence only tire you?
the pain
you just want to avoid it?
The unprecedented, does it scares you?
Life - in short - life
Does it torments you?

Are you living, man?

Or nothing fascinates you?
The questions are always the same?
Or you say:

You want to dance holding on the fingers this empty glass?

You know when you live
and when you're pretending

You know that your body is port
and when you can allow yourself to be

You know when yes
and when you're not
living.

Are you living, guy?

I wish you could.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Apagar na multidão de possíveis e impossíveis

Hoje uma imagem se instaurou
Foi aquela da multidão de gentes
E dentro dela
O desaparecer de seu sorriso.

Fostes tragado
Para dentro do abismo
Para dentro do comum
Virastes apenas mais um n
Um n não como possibilidade
Inerte hoje você sobrevive
Apenas
Como existência.

Não é crime
Não deve ser
Existia em mim impaciência
Mas passou
E a noção de paisagem
Virou sinonímia.

Posso olhar
Passar os olhos
Posso até me deter
Mas é só vulto
Hoje és só imagem

Película fina
Consistência tímida
Estás morrendo aqui
Para seguir sua vida.

E se penso nisso
É apenas porque agora
Permiti-me ficar
E me deter sobre o já ido.

A multidão feito meio
Multidão feito abrigo
Multidão feito anônima massa
Na qual já não importa mais
Saber seu gesto ou sorriso.

Você deve estar feliz hoje.
Eu também.

domingo, 17 de maio de 2015

curva glicêmica

faz 21 anos que eu tomo injeções subcutâneas todos os dias. (sou diabético). quando olho adiante, dá uma preguiça. vontade de virar ciborgue e acoplar uma máquina insulínica ao meu corpo (e ficar andando por aí com um anexo, um pâncreas eletrônico, pendurado ni mim). mas, como sou arcaico, sinto ainda certo amor pela seringa, pela ampola, pela insulina. gosto dessa artesania. (penso, às vezes, que loucura: faz 21 anos que não vivo um dia sem me injetar essa droga. faz 21 anos que estou viciado nessa parada. 21 anos de embriaguez). que loucura. o ser humano é mesmo um bicho muito sur-real. acha bonito se adaptar a toda e qualquer adversidade. por vezes, tento filosofar essa minha condição: aprender a lidar com a dor (sim, às vezes dói se espetar). é interessante, eu penso, furar o dedo e tirar sangue, medir a glicemia. me sinto meio com a vida exposta. com o corpo permeável (que seja, ao menos, para as injeções de insulina). mas tá tudo certo. tudo certo. isso não é drama, é fato: saber que a dor me participa e que eu preciso fazer uma força tremenda para que em mim se continue a vida. é curioso. singelo. intrigante. é uma curva glicêmica.

01 verdade

tenho gostado
e gastado
gostado dessa sensação
gastado esse sentimento
sentir-se livre
cada vez mais longe
do tormento
da mesquinhez
é escolher sua vizinhança.
sim
é preciso saber
nem todos serão amigos
e é bom discernir
quem vale
e quem não mais te causa arrepio
nem sequer comoção.
uns dirão:
daqui a um tempo...
e eu me digo:
o tempo adiante pode
ao menos em parte
ser minha decisão
e decidido estou
custe o que custar
doa o que doer
afeto ruim
insensibilidade
dureza de espírito
vaidade
riqueza pobre
esquerdismo de boca para fora
comodidade crônica
rococó não-barroco (mas burguês, apenas)
medinho
dileminhas
mimimis
essas coisas
eu realmente não quero que morram
mas quero
isso hoje eu sei
longe de mim,
longe de mim.
nem tecerei piedade
nem me coloco por cima
nada disso
fica tranquilo
mas sua praia não me interessa
me afoguei
é certo
me banhei
ri
chorei
amei
é lindo
tudo isso
mas na prática
assim falando
bem
na prática
ih, gente
quero distância
da interrupção
que me foi causada
se foi soluço
se foi amor
tudo me parece hoje sem sentido
não sinto pena
não sinto nada
exceto esta verdade
doa a quem doer
doa a mim
me doa inteiramente
pode doer
eu estou hoje
mais feliz e mais contente
mais abismo e mais dormente
eu estou no limbo
e nesta margem
me faço mais consciente.

sábado, 16 de maio de 2015

Consistência

Não que exista modos
De se fazer o bolo.
Não que deva existir
Um jeito
Melhor que outro
Não que exista

Mas uma questão salta
E se faz cereja:

a questão da consistência.

Dependendo da consistência
Do ingrediente
Não vai
Não rola
Não foi
Nem será

Dependendo da consistência
Opta-se por não incluir
O ingrediente
Dentre os ingredientes
Que a vida lhe dá.

Por exemplo:

Vou exceder o açúcar se a receita é de doce?
Não.
A consistência em jogo
É mesmo a mudança de sorte
É ir contra o doce
Para valorizá-lo.

Por exemplo:

Vou exceder o amor?
Não.
A consistência em jogo
É justamente por tanto amar
Por isso esse ranço
Esse ódio tímido
Essa raiva indistinta
Essa coisa sem nome
Auto mutilação
Destruição de toda e qualquer poesia

Não.

Não mesmo.

Alguma consistência nessa equação
Não é bem consistência
De gente grande
Alguma coisa
alguma coisa é visível
E se manifesta em pobreza

De espírito
Se postura
de coragem
De humanidade

Apesar de tanta riqueza
A consistência se manifesta de forma incoerente
E o destino se torna então
Adeus.

Adeus.

Ultraviolência

Não comer o maracujá
Hoje tão gelado.

Não morder até o fim
A carne do seu braço.

Não ter despertador
Pois se dorme em nua rua.

Não ver o sol
Porque embriago.

Os hotéis
As paisagens
O café da manhã
Este Jardim Botânico

tudo me violenta
com a possibilidade
do abandono,

A violência do desuso me invade e ultrapassa
Quero comer maracujá com seu corpo disposto
Em mesas e camas
Em cafés e em todas as manhãs

Me violenta
A possibilidade do não
Por isso vou
Feito a marcha adentrando o morro
Eu vou
Com abalos sísmicos a cada passo
Porque me violenta a possibilidade
De a vida ser moleza
Quando ela pode ser ultra
Ultra violenta?

Diferença

Mora em meu sorriso
Certo espanto doce
Algum sobreaviso
Que no entanto
Me ergue a cada dia
E me põe a mirar seu corpo

Sempre tão distinto
Do de ontem.

Alguma leveza
Me povoa inteiro
Sempre que desligo
O despertador
E então - é manhã
Te percebo

Sempre tão menino
Apesar da mesma idade.

Comum acordo
Onde sua escrita
Não quer matar a minha
Onde minha roupa
Não desbota a sua
E enfim

É manhã
E nos vemos despidos
Para enfim alçar
Despedida.

Você vai.
Eu também.
Você andando.
Eu em táxi veloz

É que mesmo em tempos distintos
Sabemos em nosso mútuo
E silêncio acordar

A diferença
Para os que a sabem
É a coisa mais linda.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Um aspecto

Confiança.

Depois um convite.

Um rol novo
De novas pessoas.

Alguém te chama de homem.

Deixaste de ser apenas menino.

Um abraço grato
Um extrato alto
Um sorrir a si mesmo
Frente ao espelho limpo.

Aquele encontro
Aquele olhar
A confissão do querer
Querer
Querendo estar
Mas sem tempo

Pois resta inda o corpo
A tramar viagens
Tal rápido quanto isso
Tanto mais tanto mais.

Seu turismo
Minha condição sedentária
Segunda-feira começo a deixar
Que alguém volte a cuidar de mim.

Olhos fechando.
Eu aqui e ela
Ao meu redor.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Afeto Tristeza

Sua presença
Não mais quero.
Não há ira
Há consenso.

Hoje meu corpo
Quer apenas
Toque e movimento
Quer meu corpo
Apenas sorriso
Não quer encontro
Se o encontro for mote
Ao amortecimento.

Está tudo certo.

Tenho inventado projetos que jamais pensei em levar adiante.

Tipo este: o de matar um grande amor
E se fazer sobreviver.

Projeto contra a corrente
E nesse sentido
Contra a possibilidade de me sufocar
Pelo outro
Por um amor
Que não soube fazer potência comigo
Que precisou se e nos desfazer.

Nem me sobra ira.
Estou repleto.
Sei da dureza
Sei do protesto que meu corpo faz
Sei dos artifícios todos para afirmar
O não te amo mais

Mas

Acredito

Na insistência
E no mudar de hábito.

Encontro que me diminui
Ponho severo de lado.

Assim posto
Estrada adiante.

O coração entende
Entenderá
Tem entendido.

Está tudo certo.
Tudo comoventemente
Lindo.

Na vida que não lembro

Antes do dormir
Me veio um sobressalto
Afinal, pensei
Como fui eu quando não tinha ainda
Alguma consciência dos fatos?

Imaginei minhas pernas gordinhas
Imaginei a boca suja de papinha
Imaginei a textura do carrinho
O cheiro da fralda branca
O choro (já deve ter havido tanto choro)
Que me fortaleço só de pensar
no que vivi sem saber que estava vivo.

Lembro-me ainda mais
(ou apenas mais imagino)

Dos toques
Das pegadas no colo
Dos passeios
E do nariz roncando fininho

Deve ter havido muita coisa
para que eu chegasse aqui.

Depois pensei inda mais
Pensei na mãe
No pai e nos irmãos
Pensei em quantas festas de aniversário
Quantas idas e vindas da creche
Da escola
E nesses 27 anos
Ao menos uns 13 ou 14
eu consigo mais ou menos
Descrever.

Por que tudo isso?

Pela beleza apenas de reconhecer
que passa o tempo
E sobrevive o corpo em uso
Em padecimento
E o pensamento
Hoje alado

Segue a vida
para além do prazo estipulado.

Que poesia é esta
A de estar vivo
Sabendo-se disso
Ou não.

sábado, 9 de maio de 2015

All About

Anyway
This is not that kind of game
It's not that kind of game
Not anymore

For sure

Here
Where I am
Now
How I'm felling

This is all about
Multiplicity

Believe me

All about desire
And as desire
This is all about images

And about what images can be.

This is all about
these many things
That keep coming throught my eyes
and see

All of all keep living here.

Forever and always.

All these images
Like my toplist of new
and strong
Realities.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Indústria Cultural

Aqui estou eu
Sob a chuva
E sem chapéu.

Aqui estou eu
No mercado
Sem sacola eco-
logicamente sustentável.

Aqui estou eu
Querendo ficar
Mas já indo.

Eu estou aqui
Usando as armas
Dos inimigos.

Sabe o que mais desejo?
Vida longa.

Para quê?
Para escrever mais e mais poesias tortas.

Maio já está no final

E mesmo assim
Ainda sou todo carnaval.
Maio já no final
E eu lá na frente
Nu no inverno.

Ser contemporâneo há de ser isso mesmo:
estar junto e rente ao tempo
Mas ainda arquivando memórias
em disquetes.

Hoje a noite me espera
Mas a manhã de amanhã
Só me possui se for agora.

Saudades

De quando eu assistia desenho animado
E achava que a vida era basicamente
Se divertir
E ir às aulas.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Cidade em Obra

Passei por uma esquina
e foi como se no tropeçar
Eu descobrisse uma revelação:

a cidade é obra, porra.

É um texto
Uma narrativa confusa, talvez
Mas é obra
PODE SER MUDADA.

Se as ruas são frases
Se os prédios são poemas
Se os rios são hífens
Ora
Eu sou uma caneta
Caneta Bic
Azul preta verde e vermelha

Eu vou rasurar essa porra toda.

E farei da cidade
Novo poema.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Ser Alado

Pela sacada encontro o céu
Deitado sobre pouco telhados
Céu nu
Retinto

Encontro espelho negro
Que me reflete em negativo
Porque hoje sou meu parceiro
Eu comigo
Andando de mãos dadas
Lado a lado.

O silêncio desta noite
Me embala
E embalado me impulsiono:

Pode haver coisa mais poderosa
Do que estar bem estar?

Os dias deslizam preguiçosos
Mas meu sorriso é só comprovação.

Minha alma está paciente
Meu corpo na medida
Meus sonhos vingam
Todos os dias

Eu amo ser quem eu sou.
Amo.

Arquivo