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domingo, 17 de maio de 2015

curva glicêmica

faz 21 anos que eu tomo injeções subcutâneas todos os dias. (sou diabético). quando olho adiante, dá uma preguiça. vontade de virar ciborgue e acoplar uma máquina insulínica ao meu corpo (e ficar andando por aí com um anexo, um pâncreas eletrônico, pendurado ni mim). mas, como sou arcaico, sinto ainda certo amor pela seringa, pela ampola, pela insulina. gosto dessa artesania. (penso, às vezes, que loucura: faz 21 anos que não vivo um dia sem me injetar essa droga. faz 21 anos que estou viciado nessa parada. 21 anos de embriaguez). que loucura. o ser humano é mesmo um bicho muito sur-real. acha bonito se adaptar a toda e qualquer adversidade. por vezes, tento filosofar essa minha condição: aprender a lidar com a dor (sim, às vezes dói se espetar). é interessante, eu penso, furar o dedo e tirar sangue, medir a glicemia. me sinto meio com a vida exposta. com o corpo permeável (que seja, ao menos, para as injeções de insulina). mas tá tudo certo. tudo certo. isso não é drama, é fato: saber que a dor me participa e que eu preciso fazer uma força tremenda para que em mim se continue a vida. é curioso. singelo. intrigante. é uma curva glicêmica.

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