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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

você

não é por ti
é por mim,
a princípio.

quando te escrevo
é voltado a mim
que eu recito.

não é você
nem poderia ser.

você não tá aqui
eu não tô em ti
não pode ser
com você.

aqui vou seguro
trepido e me lanço
me jogo e seguro
se fosse eu em você
tudo isso não seria jogo
seria suicídio.

não quero
hoje não
não vou dizer seu nome
você vai continuar sendo
constelação.

hoje eu não te reconheço
hoje eu não sei meu nome
nem minha vocação.

hoje sem você
eu nasci pronto
e forte
hoje sem ti
eu amanheci
repleto e capaz.

deixe para amanhã essa falta
essa moleza
incapaz
de erguer o segundo.

deixe para amanhã
esse desejo meu
convertido em auto-
sacrifício.

pesa
tanto
que poderia ser apenas
um câncer.

mas tem nome
e é você
a palavra
que o mundo não cessa
o buscar.

é você.
tem que ser:
você.

simples assim,
sem eu
sem mim
sem ti
nem ninguém.

LED

pequeno
verde
silêncio
intenso
dobra
esvaziada
sobre
pelo
salta
pilha
maço
caneta
isqueiro
risco
risco
sossego
found
hope
place
and
and
and
embrace
hold
hold
hold
bate
bote
boate
luz
pisca
luz
parte
sombra
rim
dor
arde

nós encontramos alguma coisa desse espaço nobre
não é nada demais, ainda bem, de excessos já basta
a sucessão de dias e noites.

constatação

as coisas mais lindas que escrevo
são saídas.

as mais lindas coisas
que eu escrevo
são desculpas
para amores
para a vida.

eu de tudo me retiro
e dai então nasce
a tal poesia.

se me colo
se desejo
se vou e
cravo
minha
atenção:

precipito-me
e pareço brincadeira
sem consideração.

mas,

se torno a vida difícil
e por isso um tanto mais
impossível
vêm os versos acenando a mim
e ao buraco-mor-coração

eles gostam dessa dor
as metáforas bailam esse estado
constante do ser-putrefação.

que triste. eu penso,
que triste essa condição.

em que rima eu fui amarrar meu mote?

constato,
hoje mais triste
que a poesia não nasce tanto assim da vida
a poesia,
hoje constato
nasce dessa negação
dessa incapacidade minha
para criar afeto
invés de canção.

acorde

o dia nasceu limpo
e você fazendo
memória
sobre a cama.

eu estou aqui
pensando se errei
eu errei
mas importa?

meu íntimo foi sincero
minha pele foi súbita
e retinta.

não posso voltar
não posso ceder
aquilo que em mim é jogo
te consome e faz doer,

devo então voltar?

devo ser o vilão
de novo e mais uma vez
a te despedaçar?

não quero
não posso
não vou mais brincar

se em mim seu beijo faz sentido
em ti meu beijo transforma
amor
em precipício.

me desculpe,
eu nem sei porque escrevo tudo isso.

é só que não era para ser assim,
mas está sendo,
assim,
sem fim
vírgula
nem desejo

sábado, 29 de outubro de 2011

pulmão

toco
encosto
aperto
devoro.

ainda dói,
bastante.

ponho
penso
sonho.

ainda dói.

desnudo-me
ponho-me
em abandono,

e já é noite.

respiro
suspiro
invento
eu canto,

mas dói ainda
e tanto
por isso
ponto.

costas
pelos
idas


s
o
n
h
o

amanheço forte
destemido
preciso sempre
desistir
de me fazer
santo.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

lírio

tão próximo
que eu poderia desistir
de fazer parte
disso tudo.

tão junto
que eu poderia me entreter
sobre a pele
e enovelar-me
em emoção.

tão justo
que eu julgo não ter direito
quiçá razão
de plantar dúvida
criar descontentamento.

hoje eu amanheci
mirei você ali
dormido
e pensei
eu preciso parar de pensar nisso.

e o dia então
fez sol
chuva
e o lírio
floresce
no parapeito
da janela.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

teu sorriso

para daniel varotto

virou tela
virtualizou-se
você
e também
seu cheiro.

dou-me um tempo
para contemplar
nesse absurdo
algo ainda
potente
algo nem sempre
tão passageiro.

espera.
congela.
fica, eu te peço.

como pode a distância aumentar
o que deveria já ter morrido?

como pode a distância azucrinar
o espírito e fazer nascer
a cada pensamento
você inteiro
trepidante sobre árvores
alcoolizado
sobre conduções públicas?

amigo, quanta saudade
saudade de segundos
saudade plena
segura
e sem fundo.

como pode isso, não?

viver uma década se entrevendo
se entreouvindo
se entre-tendo.

se eu pudesse mudar tudo isso
não seríamos quem somos.

e eu te amo
assim
distante
do jeito que eu sou
eu te amo.

não como eu

tudo morto
petálas
roupas
a bebida
tudo acabado
eu também.

pela casa
poeira

e papéis
rabiscos
textos
ditados
e sufixos,
tudo morto
a princípio.

aqui dentro
incompreendo
quero estar lá
mas permaneço
estou só
tentando fazer remendo
eu espero
eu lutando
não contra
mas junto
ao tempo.

a música
o vento
o jornal
tudo em seu tempo.
a louça
a faca
a água
o perfume
o silêncio
tudo certo.

eu também
tento.

amanhece
anoitece
entar-
desce
o corpo ao chão frio
a garganta se fecha
resta a poesia:

enfim
resta o trotar
o pular
saltar
das linhas
resta este corpo
hoje
de novo
mais uma vez
tentando pelas beiradas
fazer
de novo
aquela linda rima.

\\

especifico

soltas
sobre este branco
como podem
ser isso
e mais um pouco
?

livres
nunca o bastante
como podem me tirar
para bailar
e me pôr
de novo
outra vez
em abandono
?

duvido
regurgito
hoje
ontem
amanhã
eu tenho certeza
eu preciso
.

destas
de outras
e outras mais
eu preciso disso
do isto
do mais
sempre do mais
eu preciso
do sim
do não
e do meio
branco
sobre o qual
palavras
nunca serão
essenciais
.

eu grito
esperneio
eu canto
tudo delas sai
tudo por conta
delas
em mim
hoje
se contrái
!

e se dói
e se acalma
e acalenta
tudo bem
eu virgulo o segundo
e nele faço oferenda
venha
!

eu te chamo
eu te proponho
façamos do poeta
azia
façamos do amor
bala-perdida
para alçar
prédios
e demolir
intensidades

o que eu queria dizer
se perdeu
e restou ao meio
este eu
que sobre a malha branca
agora
te invade

Meo

Pleno
redundo
operante.

Tenso
anseio
querendo:
vela
vinho
banho
morno
banho
manhã
e abraço
longo
livre
e louco.

Sim, obviamente
por que não?
Nasceu em mim
esse adiante
e é tudo culpa sua.

Que seja!
façamos assim:

eu faço a janta
nós dois fazemos de nós
a sobremesa.

No chão
resvalo hoje
importante.

Me orgulho
de tanta demora
ter enfim
me desembocado
em ti.

Como posso não sorrir?

Se o que eu quero
está ai, sobre as suas pernas
sob seus cabelos
centro-boca-peito
Se o que eu quero
é exatamente isto
assim
com seu nome
seu perfume secreto
seu mistério
meu
desejo.

Hoje eu durmo
intranquilo e passageiro
Em queda livre
eu quedo em ti
primeiro
e depois
a mim eu volto
renovado
ativado
intrépido
e traiçoeiro,

para inventar
novas façanhas
destinadas ao nosso
meio.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

não quis

dormir com o rosto fechado
quis abrir algum sorriso
momentâneo a mim,
que fosse
apenas para sentir
o contrário.

não quero
mover o ataque
ao próprio peito
quero dormir pleno
e impaciente
dormir seguro
sem volteios.

fico hoje
sobre o colchão
inoperante,
amanhã, quem sabe
possa eu acordar
e relembrar
o quanto um dia
já fui pusilânime.

não há mistério,
hoje sobrevive
apenas o tempo
as horas
minutos
e um ponteiro-
bengala

para entreter
este segundo
que não passa.

para que não digam que eu não sabia

eu sei. tudo está dado. tudo está claro. sim. a neblina sou eu. a poeira também me pertence. o café preto – escuro – sou eu quem faz. sou eu quem paga. sou eu, neste agora.

apaguei a luz. tudo o que escrevo agora no passado é passado por poucos segundos. é o atraso entre agir e escrever. eu acabei de apagar a luz. o café foi feito e resta a esquerda sobre a mesa de vidro, repleta de objetos. repleta de papéis, canetas, fios, moedas, isqueiros e fitas adesivas. o café resvala. quero bebê-lo, mas vou me segurar. isso que escrevo – às vezes – parece ser o antídoto para seguir (respirando) sem tombar.

certo. bebi um gole super tímido. não quero transformar estas palavras em carta suicídio. é sério. para que não digam que eu não sabia é que escrevo este testemunho. ele é sincero, ele é doído, mas operante. ele é o retrato sensível (ou não) de quem eu tô sendo (ou quem eu acho que estou sendo).

estou apaixonado. é duro dizer. não faz sentindo dentro do corpo. talvez seja desejo apenas. e o que há de errado nisso? há apenas a vontade súbita e a impossibilidade de vencê-la. estou desejando. estou me drogando. estou me matando (se não me cuido como me ensinaram que eu deveria fazer). em resumo: estou cansado. o tempo que tenho não me serve para nada exceto para restar. tenho a sensação de ter me esgotado mais rápido do que poderia alguém ter feito consigo próprio.

meus sonhos não me visitam mais. meus medos são pequenos, bobos, imperceptíveis. minha fome é pouca. meu peso é pouco. minha sanidade é perfeita. que coisa mais triste essa conjuntura, onde eu não encontro desculpa alguma para validar a minha falta de presença.

ouço repetidas vezes o mesmo som. uso repetidas vezes a mesma roupa. troco-as apenas quando sinto algum odor indesejado (aos outros, porque eu não temo meus cheiros. eu poderia gostar de todos eles, mas não me ensinaram nada disso e está cada vez mais difícil aprender algo). eu poderia dizer que está tudo bem, mas não está. algo em câmera lenta se move a fim de me abocanhar e vencer. sou eu quem destina a mim próprio essa chacina. sou eu que me rendo e eu mesmo que me perfuro a vista.

eu vou morrer.

ou ser invalidado. eu sinto a vida no meu corpo, pulando como se estivesse saltando num salão qualquer. não está. a vida em mim se confunde e faz recreio em todo e qualquer estação. eu só queria, diogo, que você pudesse se ler lá na frente. eu só queria que você um dia – lá na frente – soubesse que você já esteve mal desse jeito. e que ficar pior que isso vai ser realmente seu fim definitivo.

ou você se acorda, amigo. ou o seu fim já está aqui contigo.

não sei mais o que te dizer.

tenho raiva de você.
tenho medo da sua inconsequência.
tenho ira profunda.
e é tudo verdade.
mas nada se mostra
nada disso que tu mesmo escreve a si próprio
faz em ti alarde
nada em ti arde
nada reverbera
estás morto?

és indiferente a sua própria sinceridade.

dominaste a linguagem
hoje agoniza
querendo
conjugar
verbos.

não poderás
estás seco
pré-morto
as pessoas querendo te amar
e você dando desculpa
de rouco
de incapaz
de cansado
de ocupado
de não-gosto
de não-faço
de niilista
escroto
bandido

ATAREFADO!

foda-se, você.

foda-se, diogo
você por inteiro.

quis se encurralar com essa poesia medíocre
e recebeste de si próprio amontoado qualquer de palavras sem destino
quis se escrever para se relatar seu desastre
e o que você escreve não é nem próximo disto
aqui
sentado
ante a essa computador
nessa casa desarrumada
longe dos amigos
dos pais
e de todos os amores
que em ti
foram por ti
arrancados.

você merece tudo isso?
ou você vai sair desse sofá?

------------------------------------

Pistas

procure-as
elas podem te ajudar
a me conter.

procure todas elas
especule
invente
des-
oriente-

se.

talvez elas te ajudem
a seguir sem mim,
porque eu parei
eu perdi
eu não vou saber
dar rumo a tudo isso que sai de ti,

eu não vou poder
a doutora me disse
ela me disse
você tem que desistir de ser você.

mas está difícil
eu não consigo
eu preciso poder
mas comigo
só mesmo
o tempo.

ela me disse
foi categórica
ou vais por bem
ou vais por mal.

só que o bem não me é bem-vindo
eu nele não caibo
eu nele não acredito

eu tô mal
comigo
mal comigo
mas estou aqui
ainda no tempo
presente
seguindo tentando
vivendo
demente
me deixa?

te abandonar?

me deixa,
sumir sem ter que te pensar?

sem ter que me culpar
por não ter sido
exatamente tudo aquilo
que em mim

você descobriu.

BRONCO

vem aqui
eu levo sua mão
ao redor
tudo quase escuro
é melhor fechar os olhos
e as mãos finalmente
se largam
aqui
sobre este sofá
rodeado de ar solto
as palavras se calam
comprimidas entre os lábios
eu tento me mover
mas é impossível
e eu continuo
como
se eu estivesse correndo
descendo e indo
como se pudesse
morrer.

levanto.

com calma.

de pé estamos.

escuro ainda,

toco o peito
os braços se abraçam
e dentro
as coisas se quebram todas
mas,
eu toco o cabelo
o rosto
eu beijo
e é como se fosse assim
a vida

ele diz
desculpa, eu nunca
e eu não o ouço dizer
é como se eu estivesse
a me perder
sentindo-me indo
correndo
sem parar
nem guardar
nem reter

uh-uh-uh-uh-uh

uh-uh-uh-uh-uh-uh-uh

ele diz
algo que eu não sei
ele diz
coisas que me iludem
e eu tento não ceder

e eu me sinto como o quê?

eu me sinto como?

eu me perdi
com ele
em minha
frente.

\\

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

meu

vai

desce

a história

pregos

adiante

sente isso sim

deixa

pode vir

porque nós pertencemos
ao destino
esse mistério
flagra
invade e desarruma
porque eu estou aqui
e poderia ser com você
ou contigo
mas com você

não só comigo.

eu pulo a linha
eu salto abismos
eu não pertenço aos jogos que não souberem jogar comigo.

encosto
as costas
eu sento
e sei
que tudo vem por aqui
por como você se sente
eu me sinto
e então
amanhece.

eu sei também
que tudo lá
está no ponto
mas isso é pouco
se o amanhã
nem sempre
amanhece pronto.

então deixa
que eu provo a você que
nem tudo é bem assim
nem tudo dói por ti
porque eu
estou
aqui
e onde estar?

se o seu armário me disse
que o seu sono
está completamente confuso
e infeliz?

\\

INVERSO

so nice
that i know you
i’m ready
to show you
how good
i am

but
for a second
i stop and think
yes, i think
how can you
have in yourself
anothers
all the others
how can i do not desperate
you?

are you burning inside?

now that i know you
i’m ready to show you
how good i can be

cause
you can see trought me.

___________________

domingo, 23 de outubro de 2011

MAIS

muitos num só
perdido entre barbas
muitos são
num só corpo
muitas idas
muita coisa
leve

sutil

e imediata.

vem aqui
pisca
o olho
pisca
o outro
pisca
e retoma a vista
veja,
estamos frente a frente

isso que estamos criando
é nosso.

você é lindo
mas é bobo
é jovem
mas futuro
sutura
aos tempos
que seguem
seguindo.

ok.

entendo.

eu espero
não há susto
eu sou sincero contigo
eu não quero me arrepender
por conta disso.

pernas
pelos
laço
eu quero
que ontem
e hoje
sejam sinônimo
de acontecimento
pleno
e encantado.

obrigado.

muito obrigado.

eu não sabia te merecer.

\\

HERE

SO SIMPLE
HAVE YOU HERE
IS SO SIMPLE
SO FUCKING
PERFECT.

SIMPLE IT IS
I MEAN
ESSENCIAL
IT’S NICE
WARM
AND COLD
WHEN OUR FEET
TALK TOGETHER
ACROSS
THE NIGHTS.

HERE
UNDER MY SKIRT
YOUR HAND
SLOWLY
MOVES
IT FINDS MY HEART
IT TOUCHS MY SKIN
IT MOVES ME
FORWARD

IT MOVES
THE DAY
IT MOVES
MY HUNGRY
AND
MY PANICS.

\

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

centro

toda noite
a mochila lá
os pés aqui
o colchão
sempre sob
sempre sob os rins
os pelos
e penas.

sonho.

toda noite
silencio o tormento
do corpo
toda vez
refaço o lamento
e tento
remendo
redundo
des

oriento-me.

sonho de novo.

sem medo
de hesitar
medo improvável
esse do se assustar
eu sigo

sob o colchão
a poeira
delineia a confusão
enquanto o espírito
livre
posto perdido
desorienta-se
divertido

flertando abismos e precipícios
poéticos, sempre poéticos

tudo é grandioso sob o edredon
tudo é disperso

sonho.

eu sonho.

no centro
da casa
eu sonho
profético

há beleza
na disposição da mobília
no guache sobre a mesa
nas unhas comidas

dicionário.

sobre a mesa
analogias mil
que pode haver de mais grave
do que este silêncio

pelo qual

as rosas caem sobre o chão da sala?

curve move

outra tentativa
angulação de incompreensões
para fazer movimento
novo
redundante
e livre…

curve move

cores sobre tela virtual, 640x480pixels
21 de outubro de 2011
paint brush

\\

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

repetição

é quando você sabe
mas não conta
é quando você beija
e se adianta
pensando como será então depois disso
como será quando for preciso
mais uma vez
se ausentar.

repetição é quando dói
e você de tanto doer
não pode mais
notar.

é a forma pela qual as abelhas fazem o mel

mas também a forma pela qual
se magoam
as peles no fim de cada entardecer.

repetição é tudo o que não fazem os cegos
deixando invadir mãos
pelo mundo afora escrevendo
mas somente lendo
apenas lendo
lentos, eles avançam
pode haver coisa mais bela
do que reconhecer o mundo
sempre
e de novo
mais uma vez?

você me olha
me cumprimenta
dentro de mim
sua vista dá voltas
e me desorienta.

fecho a porta.

pela vidraça
outro seu passa
e este, por sua vez
me acaricia
ele me arrasa

como pode?

esse movimento do querer ser tão assim redundante?

danço, hoje, apenas, confiante.

por hoje eu danço apenas,
confiante.

que pode haver de mal nisso?

não é a primeira vez,
eu garanto.

mas dói. mesmo assim.

domingo, 16 de outubro de 2011

just a felling

Para Dominique Arantes

o que eu vou escrever
vem junto a mim
feito fosse música
como fossem meus dedos
mãos inteiras
revirando seu cansaço
e te tingindo a possibilidade.

não relute,
se deixe um pouco
se abandone e deixa
que eu faça
tudo aquilo contra o qual
você já excedeu forças

deixe, eu faço por ti
eu luto eu quebro
eu defendo
eu sou doce
amargo
o que for preciso ser
deixa que eu reviro o mar
para encontrar
o seu sorriso
hoje tão confuso, não?

tudo bem.

o sorriso é plena confusão.

não tem problema.
perder o controle
perder-se em meio ao dia
meia-ao-meio
nesta noite
você se anuncia
mas é mais
isso que te carrega é maior e mais lindo que o impossível,

portanto não tema, avance junto nisso

é assim que eu sinto,
me desculpe
se a poesia te comprou a dor
e o sorriso
se a metáfora faliu seus planos
e tingiu a aquarela todos os seus medos
mais profícuos,
reze então versos alexandrinos.

eu estou aqui para te dizer: que eu estou aqui por você.

assim,
simples desse jeito
me dê sua mão
que eu levo você
para bailar
quando a trilha sonora
destes dias
nos esquecer.

embrionário

sinto-me
aqui lacrado
solto e impreciso
mais feliz
menos autoritário

tudo o que eu quero
está aqui
sob essa luz
ao redor das flores
e no silêncio
enfim

apaziguado.

o som
sim, o som
longo se anuncia
e fica
e cola
e crava
essa dor dessa agonia
de palavras tão prontas
e tão cheias-vazias
de vida

eu estou aqui
você não vê
porque é noite
e as janelas estão trancadas.

hoje eu iria ao seu jogo
eu hoje iria até o limite da sacada
mas está bom aqui
desse jeito
nesta falta

hoje esse sonho feito de palavra

supre o segundo
e instaura o amanhã
bem antes
do possível.

poeto, eu poeto
que fazer comigo mesmo
senão essa azia?

gasto-me
não disfarço
sofro-me
não condeno
a batida
terrível em mim
do acaso

as pernas doem
os pés anunciam gritaria
querem partir
querem sambar
mas eu esqueci nossa rima

e será preciso apreender novamente

você me ensina?

\

Torta de Limão Diet

24!!

24!

limpei a pista
pronde foi
a dança?

joguei fora os copos
amassei guardanapos
e resto ainda
sob espera.

que palavras são essas
que surgem mal se faz o dia
que palavras são essas
que não servem
nem sequer para interromper
nem sequer para instaurar outra rima

que palavras são essas, que não enxergam?

suas palavras não enxergam
são cegas, apressadas
e empolgadas

cale a boca, deixe-se ouvir
suas palavras

elas não são suas
elas não dizem nada
exceto a ignorância

que me cansa
e me faz
querer
virar páginas

virar no susto
na pancada
no grito
e não de maneira lenta
lerda
apaziguada

foda.

dói a cabeça
qual é o problema?
dói a coluna
as meias sujas
a poeira sedimentada.

a cafeteira estala
estala
es-ta-la
a questão é essa
a torta de limão
está gelada

e os dentes
prontos para cair.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

os dias que ainda não chegaram

são meus
ou teus?

eles são nossos?

neles
estamos nós
atados
ou
seria isso sonho
desejo
improfícuo
e improvável?

são perguntas
os dias que ainda não chegaram?

são dúvidas
sem solução

são noites
sem fim

são aborrecimentos
dissoluções
estratégias estruturas escoriações?

os dias que ainda não chegaram
são você e eu
e todo o mundo
somos nós três

eu você mundo

somos nós
somos nós
mesmo que disso ainda não saibamos
os dias que ainda não chegaram
são sempre os dias
nos quais jamais chegaremos

porque hoje
é sempre o dia
no qual nasceram
os dias
que ainda não
chegaram.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Poéticas

Para trazer a tona
sem gravidade
ou esfacelar
de uma vez
a verdade.

Nem sei, sabia?

Reluto,
inconsciente.

Que pode haver de mais forte
- neste momento -
do que a fome?

Resvalo.

Amanhã amanheço amargo
e judiado

Amanhã amanheço potente ao crime
ao embargo

Amanhã quem sabe
serei poética
negativa
e improfícua
e nisso
assinalo:

estou aqui
e a sua beleza
me assusta.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sobre aprisionamento(s)

Tentarei relatar um pouco sobre a experiência que foi apresentar NÃO DOIS na Penitenciária Feminina Tavalera Bruce, em Bangu. Nossa presença aconteceu dentro do projeto Teatro na Prisão, desenvolvido dentro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Na terça-feira dia quatro de outubro, por volta de 10h começávamos a apresentar nosso espetáculo, rodeados por cerca de cinquenta mulheres e mais uma dezena de profissionais (dentre eles diretora e vice-diretora da prisão, além de coordenadoras e professoras da Escola na qual boa parte das detentas assistem aula).

Fomos até a prisão numa van, da própria Unirio. Ao chegar, deixamos dentro do automóvel tudo o que não fosse estritamente necessário a execução da peça. Deixei minha mochila, carteira, chaves de casa, celular, moedas. Entrei somente com a roupa do corpo (que não podia ser de algumas cores específicas) e com a carteira de identidade. Levamos o cenário nós mesmos, cruzando os corredores da penitenciária e cumprimentando as inúmeras mulheres que ali trabalhavam. Poucos homens ocupavam o espaço. Os dois seguranças da porta de entrada e, fora estes, sobrava eu, o ator Dan Marins e um estagiário do projeto Teatro na Prisão.

Entramos, depois de muitos corredores, num auditório. Um espaço sujo, com cheiro de fezes, completamente empoeirado, no qual já estavam dispostas algumas dezenas de cadeiras plásticas, brancas. Havia um palco, cerca de oitenta centímetros acima do chão onde a audiência ficaria. Optamos por realizar a apresentação no mesmo “andar” que o das mulheres que nos assistiriam. Recortei a área cênica com uma fita crepe, criando uma área de 6m de largura por 5m de comprimento. Posicionamos as cadeiras tanta na frente desta área como nas duas laterais, preservando a parede dos fundos.

Não tivemos muito tempo. A segurança, responsável pela porta do auditório, solicitava que deixássemos as mulheres entrar, por conta da algomeração que havia se criado do lado de fora. Os atores rapidamente trocaram suas roupas. Quando entramos na prisão, fomos abordados por conta de uma calça masculina preta. É esse o figurino de Dan, porém, é também a cor e a vestimenta características dos seguranças. Logo, fomos avisados de que deveríamos voltar com a calça, que isso seria revistado quando voltássemos.

Mal os atores se posicionaram no espaço e as mulheres começaram a entrar no espaço. Foi curioso, entraram com certa urgência, se posicionando nas cadeiras e no chão. Por um segundo me assustei, porque a maioria entrou na sala com as mãos para trás. Achei que estivessem algemadas, mas não. Era apenas algum comportamento “aprendido” ali dentro. Elas andavam com as mãos para trás naturalmente. E eu olhando todas aquelas mulheres e tentando medir, de alguma forma, o que nos separava. Qual horror, ou acontecimento, que as fazia prisioneiras daquele lugar. Enfim, não posso esconder que fiquei surpreso ao não encontrar nada. Busquei seus olhos e o clichê da instituição prisão aos poucos foi perdendo força e cor. Não que eu não soubesse disso, mas eram mulheres, antes de tudo, eram pessoas.

Muito barulho. Falatório. A coordenadora do projeto disse algumas palavras, agradecendo a presença de todas as presidiárias. Em seguida, fui eu quem pontuei algumas coisas. Falei que apresentaríamos o espetáculo NÃO DOIS. Informei que a duração era de aproximadamente quarenta minutos e que no fim, se possível, gostaria muitíssimo de conversar, bater um papo, ouvir e falar sobre aquilo que dentre em pouco assistiríamos. Pedi a todas o máximo de silêncio, para que pudéssemos ouvir tudo e, em silêncio, me repreendi por tê-las pedido – mais uma vez – silêncio.

Não sei exatamente o que esse texto quer dizer. Não me preocupo. Meus pré-conceitos devem estar saltando e aparecendo. Tudo bem. A experiência vivida com esta apresentação faliu muitas coisas, muitas noções, muitos sentidos. Durante a apresentação, era nítido que os atores (Dan e Natássia) tentavam, por vezes, falar mais alto, puxando a atenção de volta a cena. Foi curioso ouvir risadas, comentários sobre a primeira cena. Foi curioso ver mãos nas bocas, olhares perplexos lançados para lá e para cá. Achei que a peça, de fato, não as pudesse interessar, mas era cedo demais para pensar qualquer coisa. Me contentei em assistir ao espetáculo.

A nossa estrutura geral do espetáculo foi simplificada. Era um auditório completamente iluminado por inúmeras janelas que não puderam ser cobertas. A escuridão, tão necessária ao espetáculo, se perdeu. As luminárias, nem chegaram a entrar na penitenciária. Eram apenas os atores dentro de um área demarcada. E eu pensando sobre essencialidade. Eu pensando em espetacularização e por ai vai.

Algumas mulheres foram ao banheiro. Outras estavam muito atentas. O texto de Pavlovsky, completamente rebuscado ou, nem isso, apenas recheado de palavras pouco usuais, causava aproximações e afastamento. Eu nem vi a peça. Eu vi seus olhos. Eu ali me sentindo um cara estranho, errado, tentando ler nos olhos daquelas mulheres alguma coisa. Era tão especial tudo aquilo. E os olhos sempre dizem mais do que dizemos.

Pensei de novo em encontro. Pensei mesmo. Eu pensei um pouco mais sobre o que significa levar a uma prisão uma peça que fala de aprisionamento, que fala de violêncio contra a mulher, que fala de morte e dependência. Uma peça que fala de sobrevivência, vingança, temas que até então me eram temas e nem tanto acontecimento. Temas como conceitos. Vazios de jogo, de corpo e tudo mais. Apenas ideias. Ali, alguma coisa foi tornando as palavras mais densas do que eram. Os corpos dos atores, atritando, se batendo, a cena – aquele artificial todo – foi ficando mais grave, mais leve, ficando mutante e respirando.

Talvez você que lê este texto esteja me achando muito romântico, apaixonado ou coisa assim. Tudo bem. Eu talvez esteja embriagado pela força que este encontro abriu. Eu pensando sobre pontos de vista. Sobre quais pontos de vista aquelas mulheres miravam aquele objeto, aquela cena. A violência do personagem masculino sobre a feminina foi se intensificando. E um pouco mais. E a sedução ao mesmo tempo crescente. E algumas mulehres reagiam com palavras, gritos, reagiam com selar de mãos e braços, entre elas. Quando o espetáculo chegou ao fim, com a personagem feminina “vencendo” a opressão masculina, foi algo como a redenção de todas. Vibravam e gritavam e, em seguida, muitas palmas. Enquanto eu pensava meu deus, eu não acho isso bom. Mas, importa o que eu acho?

Puxamos um bate-papo e pronto. Muitas falaram, as opiniões se multiplicaram e as certezas morreram, intranquilas. Fiz perguntas, fomos perguntados. Especulamos outras possibilidades. Contei alguns casos, detalhes da criação, falei do processo, do vestido de casamento da minha mãe. Ouvi daquelas mulheres coisas como “ela estava desde o início tramando uma vingança”; “a vilã é ela”; “isso tá acontecendo na cabeça dele”; “isso que vocês apresentaram é exatamente a realidade”; “eu vivi isso, durante dez anos”; “ela fez isso com medo de apanhar dele”… Em suma, nossa conversa ficou num entre vida e obra que nunca foi tão interessante. Falamos do aprisionamento, eu puxei um papo sobre o aprisonamente, eu ali logo em seguida me culpando por estar falando certas palavras. Mas, depois, confesso, eu pensei, que essas mulheres sabem o que era tudo aquilo. Falar de aprisonamento era como chover no molhado. Era redundante. Eu não deveria me exigir tanto cuidado, tanto zelo.

Foi papo franco e sem frescura. Algumas mulheres se emocionaram, começamos a falar de experiências pessoais e a “multiplicação dramática” de Eduardo Pavlovsky em plena ação. No final, muitos agradecimentos, abraços, apertos de mão. A coordenadora do projeto disse que esperava muito que as mulheres interessadas na aula de teatro (ministradas por estagiários) pudessem se inscrever. E, por conta do horário oferecido para tal aula (apenas dois dias, no turno da manhã), a diretora da prisão informou que as mulheres que estudassem de manhã, poderiam ir para a aula de teatro que ainda assim teriam sua presença (do colégio) contada da mesma forma.

Não sei mais o que escrever. Tenho a sensação de que ficarei ainda um tempo com tudo isso na cabeça. Esse texto é menos verdade e mais um relato (em palavras) daquilo que gostaria de registrar, para não correr o risco de esquecer a potência daquilo que chamamos ser nosso trabalho.

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Texto publicado no blog do espetáculo NÃO DOIS, dirigido por mim. Acesse: naodois.blogspot.com

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Nimesulida

Nu

por completo

meu corpo resta esperto

querendo fazer de si

alguma construção.

Obstruído

aos pedaços

minhas partes se comovem

todas elas

hoje

na contramão.

Querem ser verbo onde houve silêncio
canção onde houve pausa
minhas partes querem ser atrito
onde não houve

- hoje -

nada a agitar os sentidos.

Durmo então morto

durmo inteiro e sem roupa que de mim se apodere

durmo no frio desta chuva que acabou de chegar

durmo sem café sem almoço ou janta

durmo sem querer
sem parar.

Meu sono hoje é protesto
contra a acomodação da vida
neste mesmo lugar:

de novo sem nome
de novo sem rumo
de novo só fome
desejo-desespero.

domingo, 2 de outubro de 2011

escolha

feita sem medir o tempo
feita a contra tempo
feita
logo
me contento
o que escolhi
diz respeito a este instante
diz respeito a tudo aquilo que
ainda
não tenho.

sigo
o futuro é tão ameaçador
que dá gosto
a luz da cozinha acessa
anuncia desde agora
futuros encontros
também abortos

todos se foram
e eu fiquei só
e louco.

você não vem?

faster than

i will
i’ll have to go
or

just stay
and die
on the beach.

guess what?

i still love this velocity.

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