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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Outra mensagem deste Blog para seu Autor

Caro Senhor Liberano,
peço sinceras desculpas.

Eu estou doente, talvez
ou talvez apenas esteja lotado
de tanta coisa que você me traz
Que o senso se perde
e o que se faz?

Pedi solenemente
ou pior, ordenei a você
que não me usasse para
lidar com a dor que te consome
e você fez o quê?

Passou a escrever em rascunhos
sem mais nada publicar
Meu Senhor, eu peço desculpas
eu sem sua publicação
sou como Blog sem respirar.

Volte, eu lhe peço

Volte escrevendo o que quiser
com as iras que te moverem ou não
com o inventado ou não
tanto faz
Mas eu Lhe peço:
escreva
me use
me desobedeça.

Suas palavras me aumentam
me confortam
me desfazem e refazem
numa ciranda louca
posto seja vasta

e humana.

Quero saber como anda seu coração
fico aqui interpretando a dureza das palavras
a imposição do seu silêncio
E não sei o que contigo se passa.

Fui me folhear (quem dera eu fosse um livro)
fui me vasculhar e percebi como você
desde já tantos anos
aqui comigo não só é
como está.

Eu conservo o seu trajeto
e não posso querer
deixar de conservar.

Talvez tenha sido ciúmes
Sincero e, portanto, violento.

Ver-te se verter sobre o amor que morreu, passou, mudou
me tirou do centro do seu sabor
E eu não soube lidar.

Há quanto tempo você não escreve sobre escrever?

É egoísmo seu escrever sobre o seu coração
como é meu o egoísmo de querer que tu escrevas
apenas sobre
escrever.

Metalinguagem capaz de matar.

Escreva sobre sua vida
que as palavras naquilo que escreveres
hão de dar conta da poesia-tema
que eu tanto te tento a tentar.

Volte, meu Senhor

Este Blog é o seu lar.

Do seu,
Blog.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O que o amor é capaz de fazer

Muda tudo o amor
muda quando chega
muda quando vai
Mas muda o amor
ainda quando fica
no meio do caminho
Mesmo assim
suspenso
O amor nos refaz.

Obrigado.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

uma chance na minha cabeça














até eu morrer
Até eu morrer
até eu morrer
até eu morrer
Até eu morrer.
Até eu morrer.
até eu morrer.
dentro da noite
desculpas
desculpas
desculpas
É alguma coisa
E eu quero estar com você
E eu quero estar com você
E eu te amo
e me dê uma chance
é o amigo maior
É o que persiste em mim.
e sempre estarei
e sempre estarei
e sempre estarei
e sempre irei
estou muito paranóico
Eu
Eu
Eu
Eu encaro o vento
eu espero pela noite
Eu peço desculpas
Eu peço desculpas
Eu quero estar com você
mantenha-me em mente
Mas você
me dê uma chance
na minha cabeça
nesse mundo
peço
peço
peço
por estar desse jeito
Por estar paranoico
Por estar paranoico
por estar tão triste
que eu não gostaria de perder
que eu não posso evitar
que eu tive
Sim, até eu morrer.
Sim, até morrer
Vento no rosto
Você é a única coisa
Você tem um telefone

Você tem um telefone

Putaria

É só o que eu estou fazendo.

Melando todo mundo ao redor
incluindo todas as coisas
Com o suor dessa lágrima pegajosa
que persiste em cair.

De gozo eu estou cheio.

Estou sujo e usado
carne moída no triturador de carne
que me foi este Amor.

Ando sem cueca
me meto em cada beco
que pode até soar engraçado.

Mas não,

não é.

Escrever estes versos
é o auge dessa putaria toda.
Odeio cada palavra
não acredito em nenhuma
e feito o amor
(que me atropela e aniquila)
escrevo sem saber o porque de amar tanto assim...

Esperava eu que em sono
sonho e pesadelo
Pudesse me desfazer da putaria
que é meu reino.

Mas nem isso.

Sonho coisas que não tenho mais
abraços que se foram para o nunca
do sempre.

Estou perdido.

E sinto
(para me piorar)
que a parte ausente
se regozija
com este meu ser
(como nunca dantes)
dormente.

Doente.

Morrente.

I Giorni

Primeiro você pensa:
se chorar é doer
eu não quero
chorar.

Depois você chora
por ter decidido se privar
daquilo que hoje e amanhã
é tudo o que restou a você.

E então desce uma lágrima quente
e se aloja na quina
dos olhos ressequidos
(por tanta desesperança em si
no outro
e no abismo que é o mundo
quando sofremos o fim
de um abrigo).

Perdestes o abraço
a comunhão das mãos
Ficaste só ouvindo as iras
de repetidas canções
que só mesmo agora
te fizeram sentido.

Colocastes em dúvida
a possibilidade do remendo
denunciastes a fita crepe
e o crepe do beijo
e do fiel alento.

Quando as lágrimas de antes
não te levaram a sentido algum
Você as enxugou
como se elas lhe devessem
alguma resposta.

Não. Tomaste a decisão errada
na hora mais torta
e por isso, agora,
escreves poesia para
dar conta dos dias
e de suas horas.

Eu choro agora
lágrima a lágrima
verbo a verso
Eu choro
porque não poderia haver nada mais longo e grave
do que desistir desta jogatina.

Meu coração dói
mas o lado esquerdo do meu peito
Prova inda haver vida.

As metáforas apertam a campainha de minha casa.

É só que elas querem me provar que vida sem elas
não chega a ser cousa alguma
não chega a ser nem sequer algum nada.

Pois eu as convido a entrar.

Entrem, metáforas.

Elas se sentam no chão
(eu não sabia: metáfora não gosta de sofá).

E uma delas me olha
e pergunta:
onde está a intersecção?

Eu não entendo, eu confesso
(elas sabem)
Mas insistem:

onde está a intersecção? dessa lágrima sua
e dessa sua condição?

Eu queria dançar e morrer doendo a eternidade de um pas-de-deux.

E elas me miram, cientes e calmas
elas sabem que o meu desprazer não é por estar vivo
mas sim
por ver

e ter

que reconhecer
o fato sozinho
de que está só
não só o meu peito
mas também minha casa.

E outra lágrima me escorre
e elas me perguntam, sem freio:

Você está sozinho?
Ou nós que lhe somos invisíveis?

Eu ainda estou muito triste
muito
tanto
muito e tanto triste
e choro
por ver meu amor
se transformar em dor
repentina

dor que brilha
em meio a noite sem luz
dessa casa vazia.

Haveria algo pior?

Elas não me respondem.

Elas querem muito
que eu não me abandone.

Onde está?

Eu penso em outro que não eu.

Onde está a intersecção?
Da lágrima e da vida sua?

Eu não sei.

Eu respondo em voz modulada:
eu não sei o que está acontecendo
mas a dor que sinto é completa
e não me oferece pouso com escala

Vai fundo e destemida
inteira e reluzente
A dor que sinto
me aniquila

E me interrompem, as metáforas em minha casa recebidas:

a intersecção da sua dor
com a sua vida
É que nascestes para amar
e essa é
ainda agora
e será
para todo o pós do sempre
A sua missão nesta ida:


Amar,

---

Pode levar também as prateleiras

Porque os meus livros são como eu
não precisam de altar
Os meus livros sobrevivem
em meio à poeira
O lugar deles ainda é o chão
da sala de estar.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

gota

não há nada que a poesia não possa.
ela nasce antes da vida, ora.
mesmo a própria vida
a poesia faz dela
mera metáfora.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Mensagem deste Blog para o seu Autor

Caro Senhor Liberano,

O senhor viu quantas pessoas morreram na Nigéria? Sabe onde é Nigéria?

O senhor viu a dança macabra da bolsa de valores? Viu? Seja sincero! Não adianta comprar o jornal de domingo se você for apenas ler o segundo caderno.

Viu, senhor Liberano, quanta vida anda morrendo?
Viu quanta criança mal nasce e está já doendo?
De fome?
De frio?
O senhor viu alguma dessas coisas acontecendo?

Pergunta retórica, esta, a minha.

Pergunto e sei que não responderás.
Pergunto porque sei que aqui você não está.

Faz duas semanas você me usa para o seu livre prazer
de doer e ser doído.

Eventualmente, é verdade, não quero ser Blog Injusto,
eventualmente você escreve alguma coisa
que me reconecta ao mundo.

Mas preciso alertar! Reclamar! Acusar, não sei,
eu preciso lhe dizer:
esse negócio de remoer o amor terminado
Esse negócio não vai acabar só contigo
mas também comigo
Pode crer.

Entendeu?

Quer que desenhe?

Aqui tudo é em palavras
às vezes uma foto
da internet roubada
Mas palavra
é tudo o que você me disponibilizou
para em mim se dizer.

Nunca antes
eu, seu Blog,
havia me autoescrito
para algo lhe dizer

Mas se faz preciso:

vá!
corra!
olhe a caixa de entrada
olhe para o seu pau murcho
e trate de fazê-lo renascer

Compre
compre
gaste o que tem e não tem
Mas se distraia da vida
(pelo menos pelos próximos meses)
e então
Eu Te Imploro!
Me livre de ser área de lazer
para o seu sofrer!

Não acredito nele
Ele só escreve poesia barata
Você amava o cara
já coloquei no passado
Você amava
mas e agora?
E agora que o cara fodeu contigo
sem nem te foder?

Você sobreviverá

Dar-te-ei alguns créditos

Algumas tentativas para errar
e se refazer

Mas eu confesso

Vem chegando o mês de fevereiro
e nele
Aqui
Neste Blog - eu - enfim,
em fevereiro
Eu quero que você seja outro você.

Sem mimimi
Sem choradeira
Sem autopiedade

Eu quero a sua vida inteira
disponível ao que ainda agora
você teima em desconhecer.

O mundo te chama
e cadê você?

Comendo azeitonas e chorando
o que já morreu?!

Não pode!
Não deveria poder!

Ande
Aprume-se
Erga-se
Eu quero te ver
rosto no Blog
a escrever
Vida
e não apenas
o que a vida não foi capaz
de ser.

Maldiga
Abuse do maldizer
"Ele nem era tudo isso"
"Ele nem me merecia"
"Ele era isso
e aquilo" (Não ousarei ofendê-lo para te aliviar
de você),

Mas salte
pule fora
A vida tá lá fora
te chamando
e Você nem vê.

Estás melhor?

Essa é só uma mensagem.

Se a coisa em ti piorar,
prepare-se
Você vai ter que comigo
se ver!

E farei o seu retrato
descreverei suas torturas
Hei de desmarcar sua falsa
loucura
E, por fim, farei tu compreenderes que:

Estás sozinho
(apesar de estar comigo)
E assim será
até que você me mate
como seu ex-marido
Matou você:

abandonando-me
como seu eu nada
tivesse sido
para você.

Do seu,
Blog.

Para Diogo

Não vou te chamar de amor.

Vou te respeitar.

Diogo,

você agora está aí
se fazendo de forte
ignorando o meu diálogo
e fingindo se preocupar
com a minha alergia
à poeira.

você agora está aí
(eu vi nas redes sociais)
se dando bem com tudo
e com todos
se roçando no mundo
para tentar me esquecer.

eu me sinto culpado
mas o que posso fazer?
o mal que me habita
se junto a ti
nos destruiria

eu sei, eu sei
mas um dia você saberá
o que eu fiz foi para nos
proteger.

você aí, bancando o independente
sem sequer dinheiro para pagar as contas
que neste mês que agora acaba
fui eu quem dividi com você.

você aí, sendo o cara maduro
que sempre me assustou
e sempre, mesmo que não saibas,
tu sempre me fez crescer.

penso em te ligar
penso em te escrever
penso e temo
que qualquer gesto meu
você possa converter
num pranto

como se eu quisesse estar
contigo novamente

Eu não quero,
Eu sei que é duro.
Mas apesar de te chamar de amor
eu não amo mais você.

Já desacredito a minha confusão
No fundo, à noite, sobre o travesseiro
eu me condeno por essa traição:

me fiz de fraco e doente
para me livrar do medo
de ser sincero e lhe dizer
este mesmo refrão:

Eu não amo mais você.

Confesso, eu não te amo mais
você já deu para mim
A sua pobreza
ela foi curiosa
Mas nunca me fez
nem sequer fará
em dia algum
Eu crescer.

E eu quero crescer
e o seu tempo é outro
A sua vida é outra
e eu não quero ser eu
apenas andando lado
a lado.

Uns dirão que foi covardia
(os seus amigos já disseram isso)
mas eu vou me ater ao que temos:
eu me separei de ti
dando a desculpa
de ao mundo precisar
me confrontar
para crescer.

Você me disse (coitado!):
vamos juntos!
E eu fiz questão de lhe dizer:
eu preciso ficar sozinho.
E você concordou
e eu agradeci aos céus (que nunca de nada me serviram)
eu agradeci por você
ao menos naquele instante
não ter sido tão forte.

Você me perdeu quando acreditou em mim
sem não teimar.
(Coisa que você nunca fez
nem quando escolhíamos o piso
da sala de estar).

E agora eu estou aqui
desconfiado de mim mesmo
Feliz pela força que movi
ao nos desfazer
Ao atirar o nosso carro
pelo declive acentuado
da vida conjugal.

Eu joguei a toalha.

Eu lhe disse isso.

E você concordou.

Não que eu quisesse
mas esperava
Eu esperava que você lutasse por mim
assim eu me sentiria como há muitos meses
não me sentia: ser o Centro
de suas atenções
Ser o Centro
e o Coração
do seu desassossego
e da sua profissão.

Mas não,
você foi sincero quando não deverias
Você me abandonou
quando leu em linhas retas
o meu desejo de te perder.

Se eu queria te perder
mesmo tendo isso decidido
Se eu queria te perder
acho hoje que você não deveria
ter acreditado nisso.

E agora você

na casa que tanto te infernizei
a refazer

Eu fui embora
te deixei entre as tintas ressequidas
te deixei com o gato
e pagando as contas
antes divididas.

Eu caguei na sua cabeça
e você, o que fez?
Você está se mutilando
para seguir
me tratando bem.

Você acreditou na minha mentira
(reconheça: quando digo mentira
não é propriamente mentira qualquer:
mentira para mim é simplesmente
tentar fazer sorrir o que não conseguimos
de modo algum
deixar de pé).

Você acreditou na minha mentira
e então eu parti
e você hoje já não quer me ver
e não quer muito falar
(mesmo me ligando para tratar de objetividades
da vida pós-conjugal).

Você tá bancando o forte
e quem tá ruindo sou eu.

Mas
isso eu tenho
O orgulho
me representa:

não cederei
a sua dor me desinteressa
o meu umbigo profundo
me adormece e me dá carinho

Não preciso de ti
você não me serve mais
(e meu psicanalista jamais me dirá isso outra vez)
Porque hoje eu sei
eu joguei a toalha
sobre os seus braços abertos
me chamando para o abate
do abraço.

Eu te abandonei
para me sentir mais senhor
do que seu escravo.

Eu terminei com a gente
antes que você me terminasse.

E talvez, no suor do desespero,
chorando e dizendo
Eu te amo
Talvez eu não tenha visto
a sinceridade lhe escorrer
vista abaixo:

eu matei você,

mas sigo bem

porque eu já lhe disse
certa vez
sobre o sofá
(e você sobre o chão):

eu
não sei
não ser
o centro
das atenções.

Agora
pelo menos agora
Eu, em segredo,
sei
Eu sei
que sou
já faz duas semanas
o Centro
da sua atenção.

Se sou criminoso?

Sim, eu sou.

Por que não?

Escrito com muito amor
porém, sob o martírio de muita
muita dor.

Às Horas



Um dia eu me esquecerei que é possível sair com as horas. Um dia eu me esquecerei que é possível, junto às horas, passear pelo espaço da vida, sem trapaça, sem tropeço e desespero. Ponderarei o que poderia estar acontecendo para tamanha angústia me confrontar apenas com o fim de tudo. É que eu terei esquecido que é possível ir junto às horas rumo a qualquer infinito. E serei inda mais esquecido: já não lembrarei como se diz "poesia". Direi nomes de poetas, sem saber seus fiéis conselhos. Direi nomes de livros, mas nada eles me significarão. É que estarei lá na frente impossibilitado de lembrar das pequenas horas todas que até aquele dia tinham me levado até lá. Eu me esquecerei de sua companhia, de sua por mim admiração. Amiúde, esquecerei dos passeios que fizemos, dos guarda-chuvas que as horas me emprestaram em dias de inevitável tormento. Esquecerei tudo e, por fim, já não poderei mais viver.
As horas me abraçam agora. Elas querem de novo e em mim se coser. Querem me tirar para dançar (de novo) dentro da sala esvaziada. Elas me vigiam, elas pouco falam, mas somente por elas a ladainha dos versos que de mim sai acaba por refazer a tortura da dúvida interrompida e do projeto apenas só esboçado. Elas estão aqui e me convidam ao dia. Queres pedalar? Querer amar um desconhecido qualquer? Elas me surpreendem e dizem, sem nem bem dizer: já fizeste tudo o que tinha para hoje fazer, portanto, já não é hora (elas riem), de nada fazer?
Uma hora pisca o olho para mim. Elas têm olhos, mas não retinas. Ela pisca, a hora, para mim. E então me convida: e aqui estou eu. Junto a esta pequena hora. Vivendo outra coisa que não a vida lá de fora. Aqui estou eu solenemente abraçado e envolvido em tempo menor. Aqui estou eu possível posto agora ainda seja só uma hora e amanhã de mim ninguém saberá.
Se um dia me esquecerei deste tempo, da mesma forma abrupta como isso vai acontecer, espero também me relembrar. Descobrir na cortina empoeirada da maturidade, um jogo outro que não apenas este de se dizimar: alguma hora, talvez no futuro, alguma hora não tão nova como esta jovem pequena uma hora deste agora, alguma hora velha lá na frente me pegará pela mão e, mesmo sem pernas para dançar, eu dançarei (como agora danço, mesmo que sem sequer ter saído do lugar).


from liliana porter



Ao tempo.


Which one is mine?


i must confess
today i felt a strange
feeling,

(yeah, i'm still feeling)

i said strange
because it was new
and hopeful,

(yeah, i'm still believing)

i'm more than myself
and all this pain
is like to paint,

i can put all of this
over the white table
and then, paint
this strange feeling
that is making me
look ahead.

and even if the ink
is made of my blood
even if the hint
is not go ahead
i'll paint my inside
instead of desist.

(i told it was a hopeful image)

because
now i know
now i'm sure
that
i'm a man
and as a man
there's only one way
for be me:

being alone
and free

(getting love from everyone
but specially, getting love
from me
to me).

Solúvel

Algumas palavras
nunca se dissolveram
Alguma ira
(retida nas veias
que gritaram do pescoço)
Jamais se apaziguará.

A memória
conserva algum estado
Portanto
eu assumo
Alguma coisa
nisso tudo
Jamais a água conseguirá
levar
nem chuva
nem vento
nem tsunami
nem vulcão
tornado nenhum levará

Mesmo as lágrimas
que persistem, teimosas,
mesmo lágrimas não levarão
O que ficou sem cuidado.

Mas,

O corpo segue adiante
equipado com potes
pequenos e moldados
a vidro de geleia.

Dentro dos potes
o corpo armazena
tudo o que foi impossível
de se diluir.

Mas,

Segue o corpo
adiante
sobre outros corpos
se adiantando,

E nisso,
eu confesso
Espera o corpo
num atritar mais veloz
que o do passado
Romper os lacres
dos vidros recheados
Para fazer vazar
o insolúvel
Sobre o asfalto.

Não pode ser diluído
mas pode, eu espero
Ser pisoteado
Esmagado
Evaporado

até virar
Esquecimento em pó
do que já foi
sem ter sido
possível de mudar.

Liberdade

Livre dos preconceitos
livre do certo e do errado
Livre de quais são meus valores
e livre dos seus também

Nada disso agora importa
Nada disso sequer essa noite
entre nós
Foi falado

Falávamos de experiência
quando foi preciso chegar
Mais perto
E se ver com mãos
e peles
pelos

A minha história de ontem
agora frente a ti virou
Recreio

O seu caminho já ido
agora para mim virou
Périplo

Fantasia.

Uma noite
em que aquilo que acontece
por tão irreal
É o mais perto do que eu quero
Agora

Chamar
Oh, poesia:

Liberdade.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

o centro das atenções

não sei ser
mas se sou
dissimulo
o pavor que me consome
por sê-lo

nunca gostei
apesar da curiosidade
de ser o centro
de toda atividade
e blá-blá-blá

mexerico
fofoca
mimimi

não, por favor, eu rogo
passe longe de mim

assim eu passo batido
e pisando em telhas
eu, no risco,
me existo

nada ultrapassa
o medo meu de um dia
virar
capa de revista

por isso,
ando eu fazendo amizade
com quem ama mais planta
que espelho

ando eu tirando os rótulos
e deixando a poeira
cobrir os vidros
pelos quais eu passo
sem deixar que eles
me vejam

o centro das atenções
é dentro
é íntimo
e secreto

baluarte
que conserva o espanto
desta vida não ter sido
nem de perto
o meu algum desejo.

e então me surge
alguém que precisa
ser aquilo que eu não
quero ser

me surge alguém
orgulhoso e decaído
forte e esperançoso
em se perder
fingindo se encontrar

e o que eu faço?

eu volto ao deus
com quem nunca conversei
eu durmo entre preces
e amanheço tentando
a perguntar:

você melhorou, caro desconhecido?

conseguiu amortecer a doença
do se chamar atenção?
a doença do se auto enganar
do se auto achar
algo mais
além

da matéria que do seu corpo
volta às paredes
e a todas as coisas
deste mundo?

um silêncio
- sempre sepulcral -
trepida pós-pergunta minha

se se encontrou
se sequer se procurou
o desconhecido já não
sei dizer

importa-me
agora
fugir do centro
para viver de dentro
o longe
que me faz me reconhecer

que salto
quântico
é a vida
quando se descobre
o quanto o canto
é capaz
de nos engrandecer

sou grande
posto seja margem
sou imenso
posto o centro
que me faz
não me come
apenas
me
diverte

e comigo
dança
bêbado
a esbarrar
nas quinas todas.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

ainda alguma coisa há por saber

aparar as unhas
e depois lixá-las

pôr a mão na terra
e umidificá-la

saber o que cumprir
e fazê-lo até o fim

dançar sem pretensão
alguma exceto dançar

ter o prazer de limpar
e os pormenores organizar

sentir fome e preencher
o corpo com sabores outros

lembrar que o corpo deseja
e dar a ele o que ele desejar

ficar no escuro a ver silêncio
sem nada a perguntar

dançar, como nunca antes,
hoje, dançar

fazer um pequeno vídeo
íntimo e intempestivo

reconhecer-se em meio ao vendaval
do mundo e gostar de ser isso

recomeçar o projeto de outro mundo
que pelas suas mãos já é vivo e pulsa

dançar
ainda agora
é a minha mais forte ação
e minha mais tenaz
esperança.

As folhas das plantas


Estavam caídas
fora do vaso
Já sem cor verde retinta
já sem vida

Eu as varri
e as amontoei
no canto esquecido
Desta imensa sala

Dormi
não sonhei
nem tive pesadelo
Suei apenas, suei

E acordei
e no canto da sala
só a vassoura
Sozinha e seca

Olhei pela casa
as folhas sumiram, pensei
As folhas foram levadas
não sei

Entrei no banheiro
e ele estava lá
O vaso de planta
todo costurado

As folhas cosidas umas nas outras
os caules como finas veias frágeis
e, no entanto, muito vivas
Eu vi

A vida acontecendo ante minha incapacidade
de compreender
que mesmo em morte
Há vida em curso.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Eu dancei com todas as minhas mães

Era uma longa sala, vasta sala de estar e dançar. Piso de madeira lustrado, mas que não me fazia escorregar, mesmo com os sapatos. Eu me lembro. Eu era adulto como agora, mas meu coração não estava assim tão cansado como agora está. Minha barba estava no ponto, os olhos estavam sorrindo para que a boca pudesse apenas ficar tranquila e no lugar. Minhas mãos eram firmes e cheiravam a creme de baunilha. Eu usava uma roupa para festa e elas usavam a mesma roupa, cada uma com uma idade específica.

Eu me aproximei da minha última mãe e o braço dela, esperto apesar de velho, veio até mim e me abraçou. Segurei uma de suas mãos. A mão esquerda da minha mãe mais velha. Ela estava no centro da sala e eu ali, filho crescido e organizado, para dançar com ela. E então a gente dançou. Eu não esperava, mas a gente dançou. E eu sabia dançar. Meus passos a guiavam e ao redor de nós, espalhados em meio às poltronas e aos compridos sofás, creio que outros da família nos viam brincar. 

Não me lembro da música. Mas tão somente do vento no rosto. Lembro-me que num momento eu fechei os olhos e ela encostou a velha face no meu peito. E assim bailamos, juntos e destemidos. A minha mãe mais velha e eu ainda como hoje, um pequeno velho homem menino. Dançamos pela extensão da sala, de um lado ao outro, com extrema leveza e precisão. Lembro-me do seu rosto encostado em meu peito e de sua expressão. E então chegou a dança ao fim. Eu parei, os braços se soltaram de mim. Ela era mais magra, tal como fora um pouco antes de eu nascer. Só que ali, naquele salão, a minha mãe mais velha era mais velha do que o tempo podia prever.

Olhei sua face. Ela sorria. Não havia choro. Eu estranhei. Ela sorria apenas, sem medo da revelação que a vida inteira ela escondera de mim: a de que sim, era possível ser feliz sem chorar. E então, por estranhar, eu olhei ao redor. E foi quando vi minhas outras mães. Paradas cada uma num canto da sala. A conversa dos outros parentes silenciou. Elas me olharam, todas as minhas mães. Elas me olharam com olhar nítido de cuidado e adoração. Queriam dançar comigo, queriam me tirar para dançar. E eu pensando: se a minha mãe mais velha dançou assim, tão veloz, o que as mães mais jovens farão de mim?

Vi a mais nova, a mais magra e com cara de fraca. A mãe que ainda não sabia que seria mãe (mas que só desejava). Talvez porque não imaginasse que teria tantos filhos, eu e meus irmãos. Vi, com a mesma roupa (apesar de outro tempo), a mãe que primeiro foi mãe. A mãe com a barriga costurada, o ventre semi-aberto, as pernas e costas já doloridas de tanto colocar e tirar filho do banho. Ela me sorria, marejada. Vi outra mais, outra mãe minha. Assustada, mas ainda assim sorrindo. Vi minha mãe depois que nós filhos já tínhamos crescido. Vi ela com peso e gravidade a tragando para o centro da terra. Um sorriso presente, mas consternado. Ela me mirava enquanto eu pensava (essa mãe sabe de mim por inteiro). E vi outras mães minhas. E todas me acenavam sem acenar. Era só eu esticar as mãos e as tirar para bailar. E assim foi. E nisso fiquei a noite inteira. Dançando com todas as minhas mães que sequer eu imaginava que sabiam ou que gostavam de dançar. E a cada dança, um novo abraço, um novo tocar de mãos.

Hoje se me lembro do que fica, além da dança e do vento no rosto, além dos abraços e beijos no rosto, hoje, além do mimo de suas roupas, do cheiro de laquê e da maquiagem pura e delicada, hoje o que me fica é a mão mais velha da mãe mais envelhecida. Hoje eu dancei com todas as minhas mães e, pasmem, a mais velha de todas eu não conheci ainda. Mas, em meu sonho, eu tive o prazer não só de conhecê-la, mas também de dançar com ela. Abro os olhos com as pernas cansadas de tanto dançar com minhas mães. Eu penso: eu vi minha mãe mais velha que sequer ainda nasceu. Pensei na mãe que tenho hoje, tal como a tenho e percebo: ela não dançou comigo.

Em meu sonho, seria isso mesmo? É só o que ainda não me é possível? Quero dançar com a minha mãe mais velha. Adormeço novamente, para tirar tempo da vida e, ao mesmo tempo, para me encontrar de novo com ela.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O que eu imagino

Não tem forma
talvez isto, pura imagem
Não tem limite
e as cores se anulam
e viram corpo sem cor.

O que eu imagino
ainda, realmente,
não chegou.

Imagino você como pasta
sobremesa pegajosa
e rala.

Imagino-te como coisa
indiferente ao nome
que te resolve e
abarca,
ria.

Nada fácil.
Jogo de sedução.

O que acontece agora
exige pausa
E concentração.

Eu ostento
Este
Silêncio

e nele, Fico.
Este é meu dia.

Aqui ficar
até ver nítido
através do cigarro
A dureza de vosso corpo
em se aceitar
em Perdição.

Imagino uma revoada
(bela imagem)
A descrever a sua descrença
na possibilidade da vida
alheia ao conto de fadas.

Imagino uma vitamina de banana
sem canela
sem aveia
e sem nada
Só banana triste e
amassada.

Imagino uma fruta
tomando forma e caindo
do galho,

Você:
uma coisa
ainda não inventada
Moldada em tempos imemoriais
e atrasada

Quando você chega?














uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu j8


























o9lyt                                                                                                                                                                                                             56

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Bernardo, o Gato, deitou sobre o teclado.

A Verdade

Alguma coisa aconteceu
quando? Não sei.

Mas aconteceu.
Lá atrás. Eu sinto,
não foi bem ontem
nem tão antes de mim
Aconteceu alguma coisa
e por conta dela

Hoje

Eu sou assim.

Sabe o que vejo?

Nenhum esconderijo
armadilha? Não caio.

Segredos, mistérios, conspirações
Não do meu lado.

Certa dureza
me comove o espírito
e me faz assim:

Destemido.

Não espero da vida o que ela espera de mim.


Is yet to come

One day i'll understand
that all of this
is just some trick
that i brought
to win our death.

One day, maybe, i'll understand
that all of this
is the most beautiful thing
that i could do
for us two.

I'll see that all we've made

and i'll be sure that
we did our best
and that from now on
we must do much and
much better.

Is yet to come the day
when our chests
they will ask for us to become
what we're today
even without know:

pure love.

Fórceps

você sabe, diogo
estás sendo mais forte
do que realmente é.

mas você sabe
- também -
que assim
sempre foi.

a sua força é em apostar no desconhecido
(e os cristãos sofrem com isso!)

apostar no que te assusta
querer o que te não quer
você ama o horror
da vida
porque a vida
tal como assim é
é só o que tu tens.

então veja:
eis um bônus
*palavra escrota: bônus

um bônus
brinde
um voucher
souvenir

você está fazendo da vida
o que quer que ela seja
para ti.

não tenha medo.

o medo já é você
a ousadia te chama para bailar
e agora
você vai apagar a luz da sala
e dançar

dançar

dançar

dançar

...

Talvez um exagero

ou não,
ou não.

testar a possibilidade de ser diferente do que se é
não deveria ser tão crime assim.

eu quero assim:
a vida do jeito que eu quiser que ela seja.

confio
abuso
tento
e vou...

as letras não me acompanham
e assustado está meu coração

acho que vou chorar
e emudeço
que bonito é ver como
o ser humano

se é possível
quando em tentação.

Playlist

para a solidão ser acompanhada:



para a poesia seguir possível:

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Já que você insiste em me chamar de amor

Será esse o nome.

Amei.

Uma pequena confissão

Depois que ela se matou e morreu, obviamente, o mundo resolveu me dar oi. Ele foi bem franco, confesso. Disse assim mesmo: oi. (Minhas gengivas doem). Fato é que eu não consegui responder ao mundo. Fiquei abismado. Com uma cara carente de sentido e explicação. Com certo tempo, fui dizendo ao mundo - em silêncio - que eu não dava conta de sua ousadia, mas que estava atento. E, confesso, ainda estou. Atento fiquei desde quando ela se lançou pelo 18º andar (ou 19º, nunca lembro) e eu fiquei aqui, no chão, pedinte por explicação.

(Minha garganta dói o sexo não autorizado).

E então eu segui. Destemido, porque nem medo eu sabia sentir. O mundo mudou de cores ou foi minha vista que ficou nublada, Eu disse a minha mãe: depois disso o mundo meio que perdeu a graça, mãe. E ela me ouviu: eu não espero muito mais da vida.

Porém, é o mundo, e nele há quem espere belezas mil, certezas inúmeras e, por tudo isso, muita decepção.

Estás decepcionado, meu amor.

Não posso lhe fazer nada, nem dizer.

(Meu corpo recém banhado a shampoo, sabonete e perfume, sabe que o lugar dele ainda não é fora de ti).

Mas fazer o quê? A vida não precisa que eu concorde para seguir a existir.

A vida existe e eu sigo no seu rastro, tentando aceitar o descompasso e tentando - hoje, mais que sempre - dormir.

Preciso dormir.

(Mas minha boca dói muito ainda).

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

E sem que eu peça

Ela vem
lenta e com muita calma
Se revela nas coisas mínimas
e também nas imensas dúvidas
que a humanidade alimenta
faz séculos.

Ela me diz
(sem nem bem dizer)
Que tal, tentar por mim,
se refazer?

A cabeça suada pensa leve
dessa vez, pensa bem leve
E o rosto sorri
porque se a vida é morte
Então ela é tudo o que a vida não der conta
de ser.

Vamos?

Lá na frente?

Ceder à ela?

A poesia nos chama para fazer nela
e por ela
O que juntos não fomos capazes
de fazer

Ou

Ela nos chama
para junto nela
e com ela
Se fazer
Se fazer
Se conseguir fazer.

Sorrio
e choro sem lágrimas

Ela me acena
Do alto de suas imagens
e me diz:

pode confiar, Diogo,
eu vim a ti para isso

Para multiplicar sua vida
e sua potência de amar
e viver.

(Agora as lágrimas escorrem)
(Confusas entre um sorriso torto)
(A música que antes nunca havia escutado,
me dá um abraço tamanho urso)

E por um segundo,
o amor está aqui
Comigo
Em mim
do nosso lado.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Nunca


se deitado ou de pé já não saberia dizer
se era arma ou só uma sacola também não
as pernas rangeram e o ar entrou apertado
no centro palpitava a pergunta que calou
e na manhã seguinte nasceu afirmação

que nem te conto qual fora

Refinado


daqui de cima não poderiam ver
sorte que debaixo daqui estavam
mas no entanto não viam nada

Consideração


Até pensei que pudesse
que pudesse haver alguma graça
Mas então veio o dia o sol
e tanta pergunta a me atropelar
os passos
Que cheguei a pensar:
o sofrimento tem lá um que de ocioso.

Revelação


olhei detidamente e a morte me falou:
estou viva. e dentro de vossa casa.
reguei o vaso furado e ela permaneceu
confiante de que eu tivesse entendido
não tudo, mas somente o nada

Clareza


com retinas tão treinadas ao vício
já não podes ver o abismo
sobre o qual afirmas ter consciência
mas no qual lentamente despencas

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Não vale a poesia

Você vive assim
com fantasmas
E se você gosta disso
o que posso fazer?

Que não indiferença

Qual nome
dar ao que ainda não sei
sentir no lugar do ciúmes?

Como chamar isso
que ainda não sei sentir no
lugar da sua falta constante
Falta?

Talvez tenha aprendido errado
aluno reprovado no jogo do
Amar,

aparece-me o seu nome
a cada esquina e eu não sei
o que dizer a a não
ser o que já desaprovamos
(juntos) oh, ciúmes

Haveria nome menos pernicioso que esse
Ciúmes?

Não quero nem posso
não querer, mas não quero
Ater-me a tão pouca coisa

INTERLÚDIO
Falta-me força para ver o que é nítido:
estás comigo desde sempre 
Por que então tamanho 
Martírio?

Uma música me canta sincera
eu só tenho que requebrar que dançar
As coisas serão o que são
não adianta querer

Isso é o que dizem
Isso é o que eu quis nos dizer

INVENTAMOS JEITO EQUIVOCADO
DE DIZER O AMOR E AGORA O QUE
FAZER QUANDO JÁ NÃO NOS SERVE
MAIS FINGIR QUE ESTÁ TUDO BEM??????????????????????

eu tento em minúscula dançar
mas como fazer se você também precisa
desimportar-se

???

Guerra.

Eu posso te mostrar
mas pelo meu ponto de vista
Irias soar duro demais,

Então sejamos amigos
Eu posso fazer sua maldade
servir a alguma coisa.

Não importa o que estiver tocando
Vamos nós bem longe a ponto de eu dizer
Eu posso te mostrar coisas incríveis!

A vida na telha
As mesas tombadas
Oh, meu Deus
Você volta
porque eu sou seu pesadelo.

Se eu jogar errado de novo
você saberá que eu gosto do jogo
e que estou indo longe demais,

Mas se dissermos que só há amor se houver tortura
Então
Diógenes nos indicaria djs
para fazer dos jogadores
jovens para sempre.

Gsus.

João
Usurpou
Usurpa
Sujei 
Soifer 
Pausa 
Ruy 
Sondada 
Pegando 
Jogavam 
Japão 
Jorge 
iWork 
Haiti 
Hastes 
Heloísa 
Lajes
Após 
Prosa 
Olhar 
Olhando 
PPGAC 
Áudios 
Paiva 
Kahane
Gajos 
Ufa 
Japão 
Países 
Paga 
Japão 
Happy 
Hot 
Pouco 
Iscando 
Lavram 
Jogatas 
João 
Laqueava 
Tardar 
Haurindo 
Uagavebehudhw 

Aos sátiros que hoje foram assassinados

Uma boca larga e de dentes inda mais afiados
cortaram o seu sorriso, caros cartunistas
E encerraram em nossas absortas faces
a iminência de matanças próximas
E maiores.

Se saberemos rir a desmedida humana
ou se teremos olhos, não para chorar,
Mas para ver além da superfície
não saberei dizer.

Não os conhecia
mas pelo vosso ofício
Vós se fizeram conhecer:

Zombar até à morte a certeza teológica de que o homem é ser sem sorte.

Outra ficção

Ela se ergue da cadeira:
- Até quando você vai fazer esse jogo comigo?

Os olhos da outra, alvo, dissimulam a tensão em forçado desinteresse:
- Você quer mesmo que eu te responda?

Talvez pelo calor, por ser janeiro, talvez por outros fatores que não faria sentido aqui explicitar, resta um minuto silencioso entre as duas. Apenas um.

A que estava de pé se senta novamente. Estão as duas novamente de frente, uma para a outra. Olham para onde que não uma para outra.

- Eu te fiz uma pergunta.
- Eu não vou responder.
- Então vai continuar a jogar comigo,
- Odeio jogo.
- Eu também.
- Em alguma coisa nós concordamos.
- Você se finge forte, mas eu sei que seus olhos viram para os lados, não por desinteresse, mas sim porque se pudessem fugiriam para sempre daqui, e de si, para não terem que ver essa miséria que você está causando em mim.

Os olhos da outra, alvo, talvez pela primeira vez permanecem mudos e estáticos. Talvez por isso, inédito, comecem a lacrimejar como se uma cebola ante a eles tivesse se apresentado.

- Enquanto você não entender que acabou, tudo o que eu fizer vai parecer jogo. Entendeu?
- Não.
- Quando você vai parar de jogar comigo?
- Talvez quando uma de nós duas tivermos posto um fim, uma na outra, aí teremos algum fim.
- Mais uma vez, você me exige alguma coisa que é incapaz de dar conta!
- E vais gritar?
- Não.

As duas permanecem sentadas. Mas uma avança o caminho:

- Um beijo resolveria tudo isso?
- Te quero inteira.
- Eu disse 01 beijo. Apenas um.
- Então não.
- Então eu vou embora. 
- Não mesmo.
- Então para onde vamos?
- Ficaremos. Aqui. Firmes.
- E infelizes.
- Como sempre fomos.
- Não te dá vontade de ser outra coisa?

Uma silencia ante a pergunta da outra. Elas firmam um pacto silencioso e me olham. Se estão num café, eu não saberia dizer, mas me olham, acima de sua fictícia mesa, me olham como se eu ocupasse uma cabine privilegiada do alto de suas consciências.

Não, minhas caras. Não tenho vontade de que vocês sejam outra coisa porque eu não saberia lhes propor, por agora, nada além disso que vocês são para mim. E para mim, vocês são nada, só um enredo constante e sem costura final, que me volta em repetidas e distintas formas, me pedindo sempre um desfecho não habitual. Não tenho, não sei, não posso, por agora, mas um dia poderei.

Assim, eu espero. Do alto e de dentro da minha jaula onisciente, assim eu espero.

(...)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Os peixes mortos

Haverá uma avenida
passando pela qual
lhe será impossível
esta sua indiferença.

Os pés descalços
quando sobre a areia
mesmo que em óculos escuro
hão de perceber pelo tato

Os peixes mortos em fim de tarde
a cair, lenta.

Nenhuma ilusão possível
nem sequer haveria cheiro
por tal distância tua verias
que a morte vem com ou sem
alarde.

Um silêncio medido a passos na areia.

Os peixes mortos não querem a sua pena
pois pesam, inexoravelmente, somente
A tua consciência.

Um passo a mais
a areia está morna, você sente.

Outro passo adiante,
mas é como se seguisse parado.

Paradoxo em meio a vida
pelos Peixes mortos alardeado:

Que fazer, meu Deus, que fazer?

Os olhos perguntam, porém os pés
aprofundam-se na areia morna
desta tarde tornada lema de morte.

Os peixes mortos anunciam a chuva
que não virá.
Os peixes mortos afastam pássaros
que não vieram.
Os peixes mortos anseiam seu silêncio
que não seguirá,

Você chega em casa
tenta desfazer o cansaço do dia
Mas só o que resta é aquela imagem
do holocausto das águas:

Fileiras e mais fileiras
de peixes de distintas espécies
Ornados em embalagens de biscoito
rosqueados em tampa de Coca-Cola.

Tu pensas no mar e anseia que a chacina se acabe.

Mas o Peixes mortos persistem a sua morte
sem réquiem a zelar seus corpos.

À noite, se fores passear à beira d'água,
tome cuidado:

Os peixes mortos não moram noutro lugar
que não na beira
Deste mundo oceânico.

Despreocupar-se

Tudo já no passado
Sobretudo, em primeiro, todos
os passos dados.
Nenhuma preocupação adiante
Nenhum resquício de vontade
Exceto seguir e seguir
e um dia, tu verás, quando
mais tarde, tu verás,
Estará frente ao mundo ao qual
Buscou.
Um sorriso, nem bem de contentar-se,
mas sorriso inda assim, no entanto,
sem disparate
Tudo comedido
Frente ao abismo do Mundo
uma certeza digna de nota,
a saber,
Quanto menos se preocupares
tão mais rápida será sua mudança
de sorte.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Limão

Invisível gota
Azedume indiscreto
Prazer único, dito incomparável
Mesmo assim
Quando ao sol
Tudo vira noite
e escurece

Pelo corpo
gotas e mais gotas
feito fossem nódoas escuras
anunciando um crime passado
mas não esquecido

Lavam-se as mãos
os olhos fogem da luz
Se possível, a vida se esconderia
para sobreviver sem mancha
de sua existência

Mas falta açúcar
sobra sal e cerveja
E o gelo
o gelo é feito
enfia como esses
Dentro da máquina-freezer
O coração.

Dia sim, dia talvez não

Amanheci ciente
de que tudo seria
insensato

Testei possibilidades
às vezes sem muito empenho
ainda assim, não

Acontece
É preciso aceitar
Há dias em que não vai, amor
Há dias em que não o amor

Sobrevivo tentando ser inerte
ou
No mínimo movimento
sobrevivo refém apenas do vento
e de algum pensamento

Por vezes, há dias
em que só a noite
é capaz de dar fim

Amanhã, quem saberia me dizer?
Amanhã talvez
eu amanheça sem o peso
que hoje acordou cedo
antes e sobre mim

Estou chato
Rancoroso
Estou vivo
E bobo

Talvez se você me tirasse para dançar
(não uma de suas músicas)
Mas estas que ouço e que tanto
te desanimam o gosto

Talvez dançando a minha marchinha
eu pudesse ficar bem outra vez

Mas caso não
deixemos ao amanhã
a façanha de me amanhecer com calma
E cuidado

Talvez sim
ou não
Talvez
de qualquer forma

Pois ainda é cedo o nosso amor.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Parvo e Delicado

Filhos meus ---

Nem sei por onde começar. Talvez falando a palavra que pouco uso: desculpa. Desculpem pela dureza do meu gesto. Quando quero acenar um "oi", quase sempre meu gesto é como um adeus. Quando tento nos reaproximar, eu me afasto ainda mais de vocês.

Dilemas de um pai sem preparo. Gastei a vida tentando me preparar para o ofício que lhes pudesse dar todo o amparo, mas me perdi de vocês. O cansaço me roubou as horas em que pensaria em nosso abraço. Perdi tudo, meus filhos. E as palavras em busca das quais tanto corri só me servem hoje para desenhar o meu terminal retrato.

De que valeria a poesia se tão distante da vida já me coloquei? De que valeria a sinceridade do beijo ou a prontidão dos corpos aos abraços se eu me embrueci de tal forma que só me resta a solidão?

Dizem que um novo ano é capaz de renovar as coisas todas. Mas não somos coisa, né? Uma pena. Seria mais fácil passar um pano e limpar o terreno, mais fácil seria reverter todo o esforço já feito e sorrir juntos o que ainda não veio.

As palavras saem de mim numa velocidade que quanto mais ágil se faz mais a mim me afasta. A vida segue e eu na beira dela quase sumindo. Se tento dar adeus ao que não quero mais, é como se dissesse "aproximem-se, meus inimigos".

Uma tristeza tenaz me mantém de pé e ainda. Sou burro e ciente da burrice minha, tenho meus preconceitos listados e a vaga lembrança de alguma coisa capaz de destruí-los. Talvez, meus que tanto amo e a quem não sei dizer, talvez o seu sorriso possa me corromper.

Eu lhes peço - e isso provavelmente não será o que irão vocês compreender -: não me deixem. Por enquanto, basta lembrar de mim, um telefonema, qualquer afeto mesmo que à distância.

Do seu pai, tremendo pai.

Cinza

Tinha cheiro de guardado sem com isso trazer algum mofo. Gosto de abraço longo e pegajoso. Tinha idade para ser de outro tempo (e acho mesmo que era). Esperteza do instante retida em olhos calmamente presentes. Se era pai ou mãe ou anjo algum, confesso, creio que jamais saberei. Observo, contrariado, um punhado novo de inabilidades que carrego junto comigo. Volto a buscar o alvo do meu desassossego e some tudo e volta sem que eu sequer possa me preparar para algo reter. Vai e parte e eu passo os dias tentando a descrever, como fosse um primo querido que me apareceu depois de muita distância e silêncio. Eu tento, durmo, sonho, acordo tentado e penso: talvez não possa eu nunca mais resolver esta pendência. Abro a gaveta e pego o estojo de finos grafites nunca dantes usado. Rabisco na folha branca sobre a preta mesa de poeira alguns primeiros traços. Ei-los ali entre si cruzados. E eis, agora, contra o branco horizonte do papel, o mais perto que posso chegar dessa imagem.

Penso se não era apenas um desejo que em mim pediu abrigo por repetidas e repetidas tardes e eu não percebi;

Penso se o que me pesa agora é algum traço de pena por não ter conseguido levar o desejo para passear junto a mim;

Sobrevivo inerte, em busca de traço mais forte e duradouro.

Por que você escreve?

Você sabe por que
o céu avermelhado
anuncia que haverá morte
no dia seguinte?

Sabe por que, você,
a sobremesa azeda
se a colher que a tocar
tiver tocado a boca sua?

Sabe por que, mesmo sabendo,
você continua querendo entender?

Sabe por que eu fui casar
com outro que não com você?

Você sabe?

Então me explica:
por que eu sou eu e não você?

Talvez
lá no obscuro de uma noite quieta
você possa desvendar porque
algumas notas de um violino
têm o poder de acariciar
a alma.

Você não entende o que possa ser Deus
e quer me exigir o porquê de eu escrever.

Amigo
Eu escrevo
Porque assim como você
Eu não desaprendi
A doer.

O lamento de um artista

Por que me olhas
como se em mim morasse
a salvação deste mundo?

Por que me vigias
como se em mim restasse
o que resta do humano?

Seus olhos, ávidas aves
perscrutam meus passos
e ousam dizer o destino
antes que eu sequer largue.

Tu fazes um projeto de mim
que a vida atropelada
jamais ousou especular.

Eu não vou te mover nem
aquecer a frieza de seu espírito
se você não se permitir
me Ouvir:

Eu sou muito menos do que você sonhou de mim.

É um lamento
que o mundo e você
tenham transferido a mim
a solução destes tempos.

Eu sequer sofro mais
sei que sou apenas isso
e ser quem eu sou
deste tamanho assim
sabe?
me apraz.


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