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domingo, 25 de janeiro de 2015

Solúvel

Algumas palavras
nunca se dissolveram
Alguma ira
(retida nas veias
que gritaram do pescoço)
Jamais se apaziguará.

A memória
conserva algum estado
Portanto
eu assumo
Alguma coisa
nisso tudo
Jamais a água conseguirá
levar
nem chuva
nem vento
nem tsunami
nem vulcão
tornado nenhum levará

Mesmo as lágrimas
que persistem, teimosas,
mesmo lágrimas não levarão
O que ficou sem cuidado.

Mas,

O corpo segue adiante
equipado com potes
pequenos e moldados
a vidro de geleia.

Dentro dos potes
o corpo armazena
tudo o que foi impossível
de se diluir.

Mas,

Segue o corpo
adiante
sobre outros corpos
se adiantando,

E nisso,
eu confesso
Espera o corpo
num atritar mais veloz
que o do passado
Romper os lacres
dos vidros recheados
Para fazer vazar
o insolúvel
Sobre o asfalto.

Não pode ser diluído
mas pode, eu espero
Ser pisoteado
Esmagado
Evaporado

até virar
Esquecimento em pó
do que já foi
sem ter sido
possível de mudar.

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