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sábado, 18 de novembro de 2017

Aquilo que ainda não

Não, colado estou

O que escrevo
isso que chamo de poesia
É só um modo outro
de andar o dia-a-dia.

Pouco, não?

Talvez.

Não dependo do seu olhar sobre mim,
sigo vago caminhando aberto
Em tantos caminhos impossíveis.

Escrevo uma poesia
um treco, uma coisa, sim, um negócio
Isto! Escrevo e, assim, posso continuar.

Continuar o quê? A vida?

Nem tanto, nem tão pouco.

Continuo sem saber o quê.

Distante
em linhas sem marcação
palavras pretas anunciam
- como que fiscais -
a minha perdição e algumas possíveis
transformações.

Por isso?

Para modificar
transtornar, sobretudo, para contrariar
aquilo que sinto
o peito
Este peito
aquilo que sinto
torno, pela poesia,
mais uma possibilidade
do que um gesto já todo feito.

Serve para isso? Você me pergunta.

Você não existe.

Eu insisto.

Hoje, hoje é já tantos anos,
hoje a poesia para mim é isso:
dizer e ser aquilo que ainda não.

Aquilo que ainda não foi
nem chegou
nem floresceu
nem andou...

Você, meu irmão

É difícil que brotem palavras
sobre isso que hoje
mais que antes
Resta soterrado entre nós.

Alguma relação possível?
Algum gesto? Confidência?
Eu não sei quem foi você
Você nem imagina quem eu possa ser.

Escrevo para desnortear
as palavras que saem de mim
sem que eu precise de você
para tocar seu coração.

O que foi você, meu irmão?
O que fizestes?
O cúmulo,
como pudeste?

E olha que nem fiz julgamentos
Fiz silêncio
acuado, me guardei de ti
Fiquei mudo.

Olhos, no entanto, meus olhos
não emudecem.
O pouco de você que eles
de fato
Viram

É tão já passado.

O toque
em tanto tempo
Se resume a um ou dois
abraços
mal dados.

O que nos aconteceu?

O fato é
que após o seu gesto
Não tive força ainda
para tentar gesticular nosso reencontro.

Você se priva de mim
Eu me privo de ti
os dois: privados
daquilo que não cessa de querer aparecer

a vida
nossa
compartida
Por que postergamos isso?

É medo de para sempre se odiar
ou certeza de que se nos encontrarmos
sem dúvida alguma
Iremos nos compreender?

O que não acaba

Muda
Sem dúvida
O tamanho. As intensidades
Mudam as posições
A duração cambia
E no fim
A gente goza.

Qualquer coisa a gente goza.

Haveria de existir algo além?

Nem antes nem depois
Digo além de nós dois
Além desses corpos cansados
Após a janta
Úmidos por tanto dançar
Deitados.

Haveria de existir algo ainda?

As coisas que você me diz
Não, elas não valem.
Isso é hora para falar?
Poderíamos falar como os dedos
As línguas e pelos?

Palavra me arrebenta.

Quero o silêncio barulhento de nossas asas em ninho apertado,
Esta cama
Aqui
Comigo
Quantos?

Quantos eus em quantos ocês?

Eita, vida, ardida.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Confirmação de Passagem

Tem que confirmar.

Eu vejo a confirmação
Ela explica tudinho
Só não dá conta
De me obrigar
A aceitar a viagem.

Está em minhas mãos,
mais uma vez,
A escolha em minhas mãos.
Tem que escolher?

Tem sim.

Escolhe, Diogo.

Confirmo essa passagem ou não?
Se não confirmar, ainda assim,
tudo deixaria de ser como está sendo
tudo deixaria de assim estar?

Medo não tenho
é só que essa passagem
me lança daqui
ao maior e mais violento
amadurecimento.

O amor
esse titã
Ele não cessa
sua malhação.

É cada dia mais forte
e mais gostoso
Mais suculento
e doloroso.

Aceito?

Quero.

Aceita?

Passar a te perceber, amor
menos como fato
mais como teor
menos como um porto
mais como uma viagem
Uma viagem

que passa
Ela passa
O amor
ele continua?
Continua
mas sempre passando
a mão
no peito
o pau
no beijo

Passa.
Continua.
Confirmo isso?
Você confirma essa passagem pela qual estás prestes a passar?

Para deixar que o amor esteja, para deixar que ele seja
No entanto, sem aprisionar
Sem querer reter a gravidade dos séculos
Sem querer congelar
no alto
no ar
Parado entre a vida horrenda
e a maravilhada
Parado não se pode ficar

Passa, amor
Volta
Suma
Fique
e descanse de mim
Me deixe de ti
um pouco ao menos
Me deixe descansar.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Fundo de Tela

Sua foto no fundo da minha tela.

O que posso fazer?

Ver seu rosto adultera a ordem do meu dia.

Abro um sorriso.

Resmungo um amore mio.

Acontece...

Penso: para com isso, palhaçada,
tira essa foto daí,
mas sei
no dentro
eu sei

Ainda não é hora.

Conservo o seu sorriso
no fundo da minha tela
no dentro de minha vista
Horizonte delicado
esse
de amar
sem ser amor
o todo dos dias.

Poderia chorar
resmungar
Bradar aos deuses
que me deixassem amor
todos os dias!
Todos!

E então percebo

eu amo
sempre
o tempo inteiro

Sua foto me confirma

Amor não é coisa apenas toque

amor é hoje
a mim
mais ver seu rosto
e sentir
o que seu rosto-foto
no meu corpo todo
Implica.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O que descubro às vezes é que...

É mesmo preciso falar mais devagar

Ouvir mais, menos pensar

Os olhos, descubro, podem escutar
Os olhos que antes só interpretavam fatos
Descubro
Eles sabem também como abraçar.

Dentro
É domingo, sempre pela manhã,
Sempre um adeus a dar
Eu descubro
Que dar adeus é um pouco como
Se doer, se doar, se deixar

Ali
No outro
Ali, naquele hoje de novo
Aeroporto, eu fico
Porque você se fincou em mim.

Paixão juvenil na idade adulta é um dilema tamanho.
Onde está a força do meu corpo
Para aceitar a desmedida desse auto-abandono?

Eu me deixo, deito-me em você
Apertado em cama solteira.
Ali eu te mexo inteiro
Ali você me pede que coce aqui
E más abajo

E então eu acordo
Ciente, desde antes, que meus próximos passos
Me levarão para longe de ti
A cada segundo

E eu vou

Eu te abraço, você não parece saber
Como durar em meio a uma despedida.

Você me abraça, eu queria poder te tatuar
No meu dia a dia.

Entre nós não dizemos eu te amo,
Yo te amo.
Não dizemos.

Um medo, talvez, um fato, sem dúvida.

Saímos um do outro então.

Você parte prum lado e eu pro outro.

Eu volto a te olhar, mas você só segue.

Penso então que cada um ama do jeito que sabe e pode.

Obrigado por tanto.
Obrigado. Por todo.

Peluqueria

Y así podríamos quedar

Un con las manos
En los cabellos del otro
Sin embargo
Podríamos vivir así
Ojos sin palabras

Vínculo sin decir pasión
O amor.

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