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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Finco

Não escolhi.
Assim veio.
Curioso, eu penso.
Sempre resta no resto
algum seu gracejo.
Paciência.
Tudo que me cruzou
inda me participa.
Não quero limpar.
Nem posso.
Sujo sobrevivo em sorte sinuosa.
Ora acordo torto
Ora é bolo e torta.
Eu posso ver.
Eu posso perder.
Eu posso
Justo porque possa
Justo porque passa
Eu posso.

Amanhã.

Sábado.

Tudo isso
Sem controle
Me coordena.

É, eu sei
É hora de jantar.

Foto

Viu?

O cabelo também muda.
Você percebeu?

Antes você falava agudo
E não tinha aquela ruga.

Veja: a vida só se vive
Se for se gastando
Sem mesuras.

Afunda-te. Perca-se dá segurança
Do útero e seja todo intuições.

Algo te chama e você não recusa.
Algo te puxa e nisso tu afunda.

Vai, menino.
A neblina vira amiga
Se você não a tentar dispersar.

Sobreviva perdendo. Perca
Convicto. Você pode seguir todas as pessoas
Sem elas
Sua dor fica pequena.

Dói. Doa. Ao vivo
Sua cor é mais ouro
Que barro. Sua lama
É retinta feito sangue
Nunca coagulado.

O que era mesmo?

Você, talvez hoje, como ontem,
Só preciso aceitar o fato
Fazer foto do fico que te finca
É flanar.

Flane-se.

Brusco

O que você procura?

Por que tanto me vigia?

Por que me segues?

Que sina é essa
Na qual você tornou
Sua vida?

Desista. Descanse. Chega,

Tudo já vasculhado
E não veio
Não veio o tanto que por ti
Foi desejado.

Chega. Descansa. Desistir

É tarefa digna para os medrosos.

Desista.

Passo

Olho
Vista que afunda
Dura
Sobre as coisas
As pessoas
Cruzam as ruas
Olho
Olhos
Olhados
Eles caminham
Outros dão poucos
Poucos passos
Tão pouco
Tão exato
O que via o moço
Só ele saberia dizer
Mas não diz
Porque não há nada exceto
Passar
Nada exceto
Deixar que se viva
Sem por motivo algum
Interceder.

Frio

Veio

Mudou

A cor

Energia

Joelhos

Almoço

Sossego

Frio veio
Mudou joelhos
Almoço sossego
A cor

Vermelho.

Hurt me

I heard something really
Interesting today:

So if you're gonna hurt me
Why don't you hurt me
A little more?

That's my situation right now.
Why don't you hurt me a little bit more?

The truth is
I'm not hurting that all
But you're living
My days with me
Without being invited

And it's really boring.

So
Keep living like a ghost
Now, different than before
I can handle with this
I can handle
Because that's what I have
To live with.

Go deeper
Hurt me more
As long as you hurt me
More I know
That we'll never
Be we again.

More you hurt me
More I'll know
I loved you
But now no more.

Now
No
More
Hurt.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Lágrima

Entrave
Não pude esperar
Foi mirando o prato
Que se fez rolar
Pensei na conversa
Com você, amiga sem nada dizer
Pensei que é chegado o momento
De te fazer me saber.

Alguma dor me comove
Sem que eu saiba lidar com ela
Vai então se doendo lento
Porque doer é prática
Não solução.

Deixo
Deixo-me
Você me disse coisas naquele dia
Que eu não tinha condição.
Depois voltei
Sempre volto
É hoje a vida como a posso.

Distribuindo os livros que não li
Sendo quem não sabia ser.

Cansei dessa busca.
Amanhã, quem faz o café sou eu.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Talvez esse tempo

Seja fuga mesmo.
Táxi um após outro.
Almoço sem guardanapo.
Garfo sem faca, talvez,
Sem mesura, eu
Rouco. Pouco.
Não acaba
Nada acaba
Vamos tentar de novo?
Talvez ele não queira
Talvez ela vá dizer que não pode
Pode? Uma coisa dessas?
Outro dia li que alguém foi atropelado
Porque corria.

Dormi contuso.

Pedra Sob Ponte

Queria te contar, filho
Que nem tudo nessa cidade
É apenas árvore e decoração.
Existem as pedras das montanhas
E também as pedras postas
Por opção.

Sabe ali?
Ali embaixo.
A ponte, o viaduto,
Logo ali
Deitado.

Isso, mas não o mendigo
Não o vagabundo
Não falo do trapo
Falo da pedra. Da pedra no cimento
Devidamente enterrada.

Nem tudo nessa cidade é coisa que nela brota. Muito aqui é coisa imposta, posta e reposta. É dor de outra guerra que não cessa de mijar novamente toda a praça.

Aquela pedra
Ao lado da cabeça do bandido
Aquela pedra ocupa mais espaço
Que um crânio humano, a princípio.

Quero te abandonar.
Quero me abandonar de você.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Instância

Já perdi a mesura
Deste gesto.
Já nem me sento
Para escrever.
Apenas escrevo.

Perdi a urgência
Da necessidade.
E virou a escrita
Passatempo ocioso.
Apenas digito.

Combino uma palavra
Com alguma analogia
Curiosa. Escrevo um verso
E amenizo a sua impotência
Justificando o meu jogo
Como se fosse isso mesmo

Despretensão de chegar
Desinteresse em ganhar
Poesia de sétima categoria
Oitava, talvez

Eu quero dormir e tirar férias de mim.

Estridente

Permanece, agora em pesadelo,
O vislumbre do seu rosto traidor
Rosto escárnio por inteiro.
Os dentes largos, os olhos puxados,
Óculos tapando a cegueira
Que hoje me faz estar longe
E melhorado.

Nada haveria de mais terrível
Do que isto: ter vindo sua imagem
Morar em meus pesadelos.

Se já antes não cabia em mim
Algum desejo a ti, agora me parece
Inda mais traiçoeiro. Em pesadelo
Você se travessia para chegar aqui

Onde não vais entrar.

Porque alguma coisa na vida, a despeito do coração noutros tempos, alguma coisa eu ainda posso controlar.

Patife!

Infelizmente

Não foi possível estar.

Ontem, o dia foi cansativo.
Infelizmente não foi possível.

Ele queria dizer que talvez semana
Outra, a que virá. Ele queria dizer
Que passa o tempo. Talvez amanhã
Talvez possa mais demorar.

Talvez o esforço maior fosse dizer
A si mesmo. Dizer com franqueza
Que de hoje até meados do segundo
Próximo mês, enfim, ele seria todo
Introspecção.

Ele se disse. Ele disse: daqui a dois meses
Te permito sair para bailar. Por agora,
Dançarás comigo apenas.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Da família

Coisas sagradas não me interessam.

Vem a minha mãe dizer que família é coisa sagrada
coisa feita por dois seres...
Feita por dois seres que já nem se suportam
seres cujos principal gesto atualmente
é o fingir
Fingir que se toleram.

Por favor.
Que vergonha
que descabimento
que baixeza
que horror!

Hoje eu saí do grupo da família
Grupo do WhatsApp.

que leveza
e que dor
deixarei que sigam
se mandando mensagens de deus
e de racismo
e de preconceito
e de homofobia
e por aí vai...

Perdi.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Seu braço direito

Oh, moço
Olho a ti de soslaio
É que mirar-te por inteiro
É matar-se, precipitado.

Por isso vou devagar.

Olho um fiapo
Um pelo, uma nervura
Nem bem vejo tudo
Faço o vesgo.

E descubro
Que esse relógio
Em seu direito braço
Talvez seja mera distração
Para que não olhemos
Seu braço inteiro.

Isso sim daria confusão.

Mas, importa?
Não. Não mesmo.
Já já seu táxi estaciona
E eu deixarei de mirar seu braço
Para noutros, distintos,
Outras caronas pegar.

Tchau, moço.
Bonito relógio.
Bom dia.

Fome

Tenho saído correndo
Sempre correndo
Sem água nem café
Eu vou como se eu mesmo
Fosse o chocolate atrás do qual
Corre a humanidade.

Hoje também, como ontem,
Saí sem me dar satisfação.
Dentro, uma fome, uma coisa
Deus, por que me abandonasse
Se sabias que eu não tenho medo
De findar?

Corre
Corre mais. Corre lá.
Quanto mais tu corres
Mais rápido chegas
Onde quer que finjas
Não querer estar.

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