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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

vai por ti

oh, meu filho
uma hora dessas e você me pede um conselho?
o que eu posso te dizer,
se não o mesmo?
se não o mesmo?

eu não sei.
o papai não saberia dizer.
mas se dentro
se dentro de ti
de você
é tudo ao contrário
então que assim seja

saia batendo a porta
e queira também me ver despedaçado,

vai por ti
não por mim
vai por aquilo que te bate
não por aquilo
que eu insisto em ver em ti.

minhas rimas não vão te ajudar
nunca o fizeram
o papai nunca te salvou de um tiro
o papai costuma mesma
é te treinar para este momento.

agora
veja:

eu estou aqui tão perdido
e você me chega
pedindo conselhos

filho, não faça isso comigo.

eu posso
- hoje -
se quiseres
- e eu quero -
apenas moer seu cansaço
num aperto sem fim nem começo

vem.
fica um pouco aqui ao meu lado.
o mês está acabando,
mas a poesia

ela não dorme nunca.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

dark paradise ~~~


eu disse que não mais o faria.

eu menti a mim mesmo,
eu menti
eu sempre soube
que eu sempre
a mim
mentiria.

eu disse não mais, a partir de amanhã

e sempre então no amanhã
eu desfaço o trato feito
e ouso ser idiota
de novo
ouso ser
novamente
moleque
precipício
comiserado escroto.

eu disse que não mais
e então amanheceu

eu dormi bem
eu pouco sonhei
o gato me fez carinho
a noite inteira
e ao acordar
eu pensei

o café
a água fria
o sol em meio ao vento

eu posso fazer o que disse não mais fazer
porque o mundo está em consenso.

eu perdi.
de novo, eu perdi.

eu queria não ter remendo.
logo,
não o tenho.

possibilidade

os meus amigos estão esperando.
eles querem muito ver,
como você é
como sou eu
quando estou com você.

eles esperam,
feito urubus sobre a terra seca
e com asas esvoaçantes.

eles querem saber
se o brilho do meu olhar
deixa de ser tão fugaz
quando me porto
assim tão perto
de você.

eles querem medir
o tremor das minhas mãos
quando souberem
que já é hora
de lhe apertar
e pedir:

venha comigo,
eu quero você.

os meus amigos estão esperando.

enquanto eu,
não espero nada.

não quero te sofrer.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Lamenta

Moça, pare de lamentar.

Sua voz é triste

mas com ela você inda pode cantar.

 

Balbúcios.

Chega dessa coisa de lamentar o amor não vindo.

Chega dessa coisa de lamentar o amor vivido.

Chega dessa de lamentar o que ainda virá.

 

Você é chata. Não quer parar de rimar

o voo com o tombo

o pulo com o baque

o tiro com o sangue.

 

Que saco!

Desiste do literal

viaje com sua voz com fome madrigal

 

Com cuidado.

Eu te peço - sem força - a poesia quer te fazer.

Deixa

deixa que ela te come

Deixe

deixe a poesia te comer.

 

Você vai gozar.

Ora,

demora muito.

Para crescer a letra e virar canção.

demora para virar história

demora inda mais para ser plena emoção.

 

Se duvidas,

tente antes assimilar o fato:

demora para a revolução nascer

como demora para se enfrentar

o ato (sexual).

 

Por mais que haja fome

não há mãos

nem pés

não há laço,

que faça ficar a folha de camurça.

 

As palavras fogem

e a sua rima fica abrupta

Soluço divino.

 

Ora, demora

tudo isto demora muito,

 

espero morrer mais perto de lá que de cá.

Este aqui está muito sisudo.

Maquinal e violenta

Nunca vou saber

o que é apagar esta letra

e depois ter certeza de que é preciso

a escrever. Novamente,

 

nunca vou. Saber se fica ou sai

se importa hoje ou se nunca mais

Perdi. a noção dos tempos verbais

perdi a noção completa dos espaços e tudo gira em torno

de produzir sempre

mais e mais,

 

salto

 

linhas

 

 

 

como quem salta copos.

Corro o risco de me ver aprisionado

e finjo poesia

para durar mais tempo

na amarguidão dos segundos.

 

Ela canta

enquanto eu canto

a possibilidade

de ser livre

ainda quando isto me for possível.

 

Quem inventou a liberdade?

LIMPEZA DE DISCO

é assim

você chega em casa

e bebe leite

pensando ser gim.

 

você troca as coisas de lugar

tira a poeira

e quando toca a pele conhecida

ela já não está mais lá.

 

é assim

você lembra de não esquecer

e no entanto quando abre a geladeira

fecha e abre sem se saber:

 

onde foi?

onde foi que me perdi de mim?

onde foi?

que eu guardei o sabão

minha língua fede e pede lavagem.

 

estou podre

e não é metáfora

é auto-embate

para quebrar um pouco da demasiada auto-comiseração

de cada maldito dia.

O maior problema de todos

É que quando escrevo você não quero dizer você.

Quero dizer da ausência

quero dizer do meu medo endereçado ao nada,
apenas para purgar minha ignorante e tenaz
vergonha em ser homem.

Quando escrevo você

[ e nem quando digo ]

 

quando escrevo “você”

eu não quero te dizer

eu digo apenas

e mais uma vez

de novo

a impossibilidade concreta feito carne que é não te ter.

 

Profusão de aliterações

o mundo amanhace misturado

e eu

sobre lençóis e em lençóis enrolado

Me perco de novo

daquele por quem em poesia

CLAMAVA AMOR.

FAST

pois podem estar nos filmando.

faz tudo rápido
porque o segurança tem câmera

e pode estar registrando.

tão rápido assim
para que ninguém sinta ciúmes do que fizemos

sem nem ter dado um toque.

 

pavor

 

essa pressa de mim te afasta

 

essa febre de ti

me entope.

 

Estou cheio

em caps estou lock.

Vou gritar.

Segura.

Está chegando.

Estou a ir.

Nova

Tentação

do já muito tentado.

A sua música nova

me embala ao contrário.

Fico exposto

com sede

sem foco

e plenamente organizado.

Sua bagunça sonora

me ilumina e diminui.

Sinto-me forte

e capaz do auto-findar-se.

As palavras se entrecruzam

e nasce abismo:

 

 

e

 

azia

Eu tenho que te contar uma coisa

mas estou cheio de compromissos.

 

Espero me lembrar de te dizer.

Lambe

os pelos pelos corpo

lambe

as unhas afiadas

o silêncio

e a paz

 

todos queremos morrer

e nisso não há nada demais.

 

pesa a cabeça

pressão dentro

e fora

quem me vê

se me olha

vê o tirar dos óculos

e um brevíssimo enrubecer

às vezes

o amor eu não sei.

 

mas rio,

como quem acredita que amanhã
Será capaz.

Recluso

Não sou feito de pedra,

por mais que vez ou outra

Eu seja.

Gosto da sua voz macia e grossa

gosto dessa depressão insossa

que a sua presença me traz.

Você, pura ficção

Você que não é tu

nem eu mesmo

quiçá meus pais.

Adoro a poesia

porque ela me permite

te ter

Quem quer seja você

quem quer seja eu mesmo

quando a poesia vem

E te planta

aqui

no centro do quarto.

Viajo.

Eu viajo.

Vago e perdido
eu me nutro neste mais um impossível.

E tudo então volta a ter cor.

Mesmo de olhos bem fechados
De olhos bem fechados

O risco é sedutor.

O risco é sincero

atropela

e escreve novelas.

 

Eu posso mais que isso.

Mas talvez hoje não.

Talvez hoje não.

Não.

De fato

Não há motivos,
exceto o transbordar da pele.

Ela grita.

Ela se engessa

e o meu caminho, enfim

se perde.

Amanheço novamente tentado ao impossível.

Como posso ser assim,
tão íntimo dos abismos?

Supero obstáculos
como quem escova os dentes.

Um dia com pouca água
outro dia com auxílio linha entre os dentes.

Quero amanhacer a manhã de hoje
vivo

assim como ontem.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

exônus

é só que uma sensação
que mesmo tendo nome
não faz sentido.

sensação escrota
do fim ao princípio.

novidade
ineditismo
como lidar
com o monstro
que em nós mesmos
nós construímos?

ir... como se vai pelo vento,
ir apenas, ao som de chuva invisível
por passos nem sequer dados
passo junto
silêncio abrupto

haverás que sofrer este embargo.

você perdeu.

você precisa administrar
agora sozinho
a própria ira
o próprio e eterno
cansaço.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Contramão João

A cidade não coube no olhar.
Deitado sobre o asfalto inda quente
Seu corpo insiste e não entende
Tantas pernas, tantos loucos
A fúria dos passos ao som de apitos
rodeia João que ouve mais que isso:
Olhos quase fechados
A cidade nele escreve seus passos.
Escorre então João avenida
Toca João a pele parda
Na rua preta
de listra amarela
Na faixa-pedestre
sobre a qual hoje
Ele resta.
Esfumaça João avenida
Respira João a distância
De longe, quem o visse
diria: Está morrendo.
Mas talvez, de perto,
dissessem:
É só uma pedra no meio do caminho.
Mas é que dentro,
Dentro João é só sentido.
Pois formiga a pele
da mesma forma como formigam carros
da forma exata como pululam destinos.
Esfumaça a vista,
Da forma como se abrem ruelas
da forma como nascem paredes
e revelam-se as epidemias:
Não se vê.
Mais um piscar,
e João ali pode não mais estar.
Mas fica.
Duro ele permanece retinto.
É só que dentro,
dentro dele o mundo ancora
e ainda pede abrigo.
Então Jorra o mundo João
sem forma prevista
ou som que amenize
a contramão.
Escorre pela cidade João
como tantos outros
o fizeram.
A vista tombada nos prédios vê constelação de estrelas.
É noite na vista de João
E, no entanto, dentro
Inda tudo é tão confusamente lindo.
É que lá no cimo estrelado
Brilham janelas radiantes com placas nas quais
João apenas lê
vende-se um abrigo.
Ele olha ao lado
Vê carro pisca-pisca
Ele olha ao lado
Vê estrela-flash
repentina.
Ele olha ao lado
e vê pés, vê pernas
E nem tanto mais vê vista
Viu tanto já João
Que hoje lhe comove
o doce toque nele dado por uma formiga.
João no chão agoniza,
Enquanto a cidade comemora o seu desejo
de pertencimento,
João hoje não como antes
tem a cidade em si
Pois é rua.
É João hoje avenida imensa e sem fim
caminho livre para todos os lados.









segunda-feira, 13 de agosto de 2012

heroína a lápis HB

ítalo, de longe, mira a professora com a arma sobre o colo.
ana – escuta, garoto. o que você espera de mim é tão impossível quanto o que você espera do mundo. eu não vou dar conta dos seus problemas. eles são seus. sabe aquele plano de saúde que a sua mãe ou seu pai ainda pagam pra você? ele é de mentira. ele não vai te salvar, não vai te proteger. a sua saúde extrapola o seu corpo. o seu vício destrói pra além do seu estômago, pulmões e sentidos. não me deixe te dar uma lição de moral agora. porque a cada vez que eu tenho que fazer isso, mais eu me machuco. mais eu descubro, enfim, o quanto eu mesma fui desprezível. não me deixe continuar porque hoje, eu tinha esquecido, hoje eu percebi que eu posso te enlouquecer com essa sequência de palavras conscientemente arranjadas pra perverter o seu caminho e nublar a sua vista. não me deixe continuar, porque se eu o fizer, junto nisso virá todo o meu pavor, o meu ódio e tormento. virá junto nisso a minha história não-coagulada. não me deixe continuar porque eu posso te dar o sentido do gatilho. eu posso não porque eu posso, eu posso porque é você quem me diz isso, meu caro. é você que vê em mim esse monstro que te atropela e domina. é você que vê em mim mais que um salto alto. é da sua vista que escorre o óleo que desencaixa as engrenagens deste mundo. você não é menor. você não é maior. você sou eu. por favor, eu te peço. não me deixe continuar, porque tudo o que eu mais desejo é nós ver ultrapassando tudo isso\

la solitude

nesse pio.

BLOG

é muito blog

para pouca pessoa.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

intolerante, mesquinho, escroto mesmo

sou
sou horrível
o mundo
como o vejo
é o impossível
despido
e alvejado

nada pode ser
realmente
distante
de mudar.

sou horrível
intolerante
sou mesquinho
quis ser outra coisa
mas frente a tanto cinismo

aprendi que meu brilho
é saber transitar
entre
as acnes alheias
entre
a pele solta
e os pelos
sobre carnes
decorados.

sou escroto
mesmo
acredite-me
em mim o sexo tem valor de bom dia

em mim
essa coisa
que você paga terapeuta
em mim
gera apenas punheta

não sofro essa doença toda
não sofro o pai que não veio
não foda a mãe que me amou
faz tempo

foda-se
aprendi a ser a intolerância quando tive que aprender a ser gente grande

então não sabe brincar
nem mesmo quer aprender
então faz isso mesmo

me chama
eu tiro a roupa
te dou a caneta
te tiro a tampa
e deixo
meu corpo
nu
feito quadro
pra sua ladainha

cheirando a mesmice
cheirando a leite podre de mãe velha
que até hoje não viu nada do filho
exceto pentelho
pentelho cinza
pentelho branco

e só isso.

isso.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Manifesto da minha indignação

1 mensagem


Diogo Liberano <diogoliberano@yahoo.com.br>4 de agosto de 2012 16:11
Para: ministra@planejamento.gov.br, srt.gabinete@planejamento.gov.br, srt.coast@planejamento.gov.br, elaine.paz@planejamento.gov.br, maricy.valletta@planejamento.gov.br, tereza.cotta@planejamento.gov.br, gioconda.bretas@planejamento.gov.br, eduardo.neto@planejamento.gov.br, gabin@planejamento.gov.br, secad-sof@planejamento.gov.br, zarak.ferreira@planejamento.gov.br, seafi@planejamento.gov.br, deget@planejamento.gov.br, desoc@planejamento.gov.br, depes@planejamento.gov.br, deinf@planejamento.gov.br, decon@planejamento.gov.br, nacional.imprensa@planalto.gov.br, gabinetedoministro@mec.gov.br, chefiadegabinetegm@mec.gov.br, acsgabinete@mec.gov.br, setec@mec.gov.br, sergio.seabra@mec.gov.br, executiva@mec.gov.br, spo@mec.gov.br, dti@mec.gov.br

Caros funcionários do MEC e do MPOG,

Meu nome é Diogo Liberano, tenho 24 anos e sou recém-formado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sou dramaturgo e diretor teatral, tenho uma companhia - Teatro Inominável - pela qual venho realizando os meus últimos trabalhos (em sua maioria, nascidos dentro da universidade). Moro no Rio de Janeiro desde 2006, quando comecei os meus estudos universitários.

Não pretendo com este e-mail argumentar sobre aquilo que todos nós já sabemos, não vou explicar nem provar aquilo que já está exposto e declaradamente comprovado. Não quero falar do descaso com a educação em nosso país. Escrevo apenas para manifestar a minha extrema indignação com a postura inaceitável que vocês, aqueles responsáveis por garantir a qualidade da educação em nosso Brasil, insistem em manter.

Temos consciência do que está acontecendo. E sei que mesmo não obtendo resposta alguma a este e-mail que agora envio, eu sei que vocês sabem que eu tenho consciência de tudo isso. E que não estou sozinho. Portanto, não adianta mais ignorar o que é impossível de ser ignorado. A nação burra que vocês querem criar e manter não é a minha nação, nem nunca será. A minha nação não vai ser isso o que vocês querem fazer dela. E eu estudo para fazer do meu país algo melhor do que ele é.

Portanto, a vocês só tenho condição de enviar (um pouco) da minha indignação, a vergonha que sinto (por vocês) e um relato curto e grosso da imensa falta de respeito (a mim destinada). Não há palavras mais apropriadas para o trabalho de vocês neste momento.

E, por favor, não se sintam desrespeitados. Essa é uma sensação que, sem dúvida alguma, vocês não fazem ideia do que possa ser.

Atenciosamente,
Diogo Liberano
dramaturgo e diretor teatral formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

plano sequência

se você quiser
eu leio em voz alta
o nosso destino.

se você quiser
eu reescrevo umas partes
para nos dar mais...
como dizer?
para nos dar mais...
eu não sei.

talvez eu reescreva
algumas partes, eu digo
eu talvez reescreva para nos dar mais...
eu me esqueci.

eu nem sei o que precisamos para além de você e de mim.

eu e tu
o tempo e este gramado infinito.

se eu pudesse nos dar um presente
eu nos daria olhos sem pisca pisca

seria isso.

eu nos daria a possibilidade do plano sequência
a possibilidade de ser sem corte
nem edição

tudo assim contínuo
e amarrado
como a batida do peito
e o sorriso
como o teu toque
e o meu embaraço.

se você quiser,
eu prometo: eu vou também querer.

para fazer encontro

se move o esforço
e trama ponte
e entorta rosto
seco
e vencido
que por acaso queira
permanecer imberbe
sem contágio
sem crime
sem hino.

para fazer encontro
vagueiam as pernas
em passo
impreciso
vagueiam os passos
em parcos
sentidos,

importa mover
importa acordar
e dançar o café
e dançar o íntimo dormido

para te encontrar
eu me disponho ao impossível
visto seja lá
onde nada mais há
que escreveremos juntos
o nosso destino,

com rima
com halos
e sorrisos.

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