afastar-se de menos

O problema tem nome,

É inclusive possível vê-lo,

Com algum esforço, talvez, 

Poderíamos localizar sua 

Origem, mas tudo isso agora

É irrelevante, pois

Quando menos dele você se afasta

Mais perto de ti você continua. 

O problema tem nome, 

Ainda que também apelidos, 

Chama o medo para bem perto, 

Consome estômago, pele e

Nele, no problema, é onde

Respiro, mas tudo isso agora é 

Irrelevante, porque fugir do problema

É o mesmo que abrir mão da chance

De botar sua mão sobre o meu peito 

E dizer-lhe isto, apenas isto, a despeito

Do que possa vir a acontecer 

A despeito, inclusive, de você me dizer

Que está tudo, está tudo, se acalme,

Vem aqui, Diogo, vem aqui e, ainda assim,

Continuar. 

 

36

Domingo foi meu aniversário.

Ando a perguntar sobre quem sou. 

Oscilo entre algum interesse

E nenhum sobre a vida. 

Queria não fazer nada, 

queria não ter que. 

Comprei um televisor. 

Mas demora até afixar o equipamento 

na parede em frente à cama. 

Ensino tanto a tanta gente.

Mas agora preciso entrar. 

A Dra. me chama. 

 

Cuidado

Teimo em refutar o cuidado.

Soa a mim como um fim. 

Não quero o fim, 

Mesmo que saiba

Que a despeito

De mim há o fim. 

Vejo o seu cuidado. 

Cá estou. 

Mas soa a mim

Como um medo

profundo

degenerado

como se não fosse a vida 

para ser assim tão carente

de cuidado. 

Atenção. 

Por hoje eu me peço. 

Olha o cuidado pelo mundo

Esparramando-se. 

Veja a gentil mesura

Que possibilita um corpo. 

Não tenha medo, eu me digo, 

não tenha medo, Diogo. 

Podemos fazer diferente. 

CINEMA ORLY