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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

átimo

escrevo poesias
como quem trama o futuro,

se engasgo
pensando na vírgula
é como se não soubesse
se as férias seriam
em janeiro
ou em julho.

escrevo-as
como quem trama
as reviravoltas
não-tramáveis:

não adianta dizer que vai tentar parar
ou você cessa o cigarro
ou ele estará sempre ao seu lado

feito rima
doentia com ar
que junta tudo
num só átimo
e faz amor
parecer coisa comum.

escrevo tanto
que em uma vida
talvez não me coubesse.

sorte a minha
ter página em branco
sempre que a alma
me aborrece.

sorte a minha
tramar versos
como quem trama esquinas,

ando
ando
subo ônibus
desço avenidas.

é sempre preciso
vagar cidades
até descobrir o sentido
da solidão
de um quarto
de século.

enquadro

como posso
tantas vezes por dias
ser exatamente aquele cara
que eu abomino
o qual
não desejo ser
mas que me toma
me é
me faz e azucrina
(aos segundos).

como posso
ter tanta certeza
e perder a indagação
frente
ao cúmulo?

eu queria tanto não ter mentido
hoje
não ter falado
que foram
os outros
que um dia me amaram
que foram os que me amaram
meros simples malucos.

a vida me deu tanta complexidade
e eu, poeta, trucidei tudo em resmungo.

que triste é ser homem
quando menos que isso
seria melhor
seria mais limpo
mais certo
e inseguro.

oh, sim, eu poderia


ficar aqui
escrevendo
poesias.

não que sejam
poéticas
não que sejam
belas
fruto de um engasgo
d'alma
não que sejam
fortes
dilaceradoras
que sejam
estas palavras que escrevo
capazes de afetar
alguém
ou algo
ou mesmo nada.

não são.

são bobas
desatrevidas
são palavras que não são minhas
- nunca seriam -
são descompromisso puro
sabe tipo
aquela azia?

que vem
pós-almoço
que rouba um pouco do sossego
mas que se esquece
e ali fica
doendo
sem chamariz
doendo
sem grito
ou morte
apenas presente
latente
dor de quem tem a sorte
de doer
sem sentir neblina.

oh, sim
eu poderia
ficar aqui
não houvesse o sono
o sexo
o silêncio
e a fome
a fruta
o pão

fora da geladeira

azedando.

não,
eu poderia
eu poderia
mas sabe?

eu não sei.

sabe?

eu não sei.

e isso
faz tudo parecer
necessário.

não me conte
não me faça saber
que se isso for
assim
desse jeito triste

se isso for assim
certo
como quem sabe
eu vou
eu juro
eu me mato.

estava tudo certo

é como esquecer
que o tempo
passa
e pode
nisso
te levar.

é como
- eu não sei bem -
mas é como
se eu pudesse
me acostumar:

ruim
doloroso
mas o corpo
infelizmente
sobrevive

o corpo
informa ao corpo:

há outro canto
no qual se pode
se encontrar.

e vaga
e sobra
e mira
e vai
e volta

e enfim
um dia
já do seu lado
eu vou saber

que não éramos para ter sido juntos.

que estava tudo certo

e que assim como o tempo
o desejo é falho

o desejo é fato.

decisão

acertada ou não
cruza a linha
sem temer
o distante.

as mãos
trêmulas
e operantes,

avançam

feito coreografia
deste momento

em que cientes
deparamo-nos
e de fato
- talvez pela primeira vez -
nos vemos.

olha

veja

mira

eu te escuto.

o que pode haver entre nós
que não seja isto, apenas
que não seja isto
isto?

sente?

y


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Arcano

He told me
I should cut off
The confusion

Even if
People could look at me
Like I was stupid.

And so i did it
And so i'm doing

sábado, 24 de novembro de 2012

(broken) heart,


don't worry!

we usually broke ourself
to find out again
the life that was missing.

so just give a smile
in front all of your broken pieces
to start in a new way.

cry your hurt,
being the sadness in person
(please, even for one day)

and then
and then, believe it:
it is not only with you.

hearts are broken
all the time
and that's why moon exists:

have you looked to the sky today?



the moon is always
telling us
the way to be:

sometimes it is not complete
and others times
it is full of brand new tint.

sometimes in pieces
and sometimes
in pieces too.

what does it means?

give your heart
the possibility
of be like the moon

be your heart
darkness
and full light too.

* to cheryl lam (who i never met)

decisão

de agora em diante
só vou escrever poemas
para expressar isto que não sei hoje
e que nem mesmo amanhã
terei condição de saber.

chega de usar poesia para falar do que já soube
do que provei
e gostei
do que provei
e não gostei
do que já soube
ou do que você
um dia
outro
noutro dia
me fez saber

desfilo os dedos impacientes
buscando nisso
alguma coisa
incapaz de se fazer crente

sigo esperneando
a procura do quê?

da batida
da batida
dos dedos
como fossem corpos
dançando
ágeis e sema cento
sem gravidade e por vezes
somente
somente
aquilo
aquela força
que toma
que toma
!!!
que pega
e invade
e conduz
e cidade!



pronto
num segundo
eu aqui assino
a possibilidade de ser medonho
mesquinho
de ser genial!
de ser gênio
e ser sozinho!
de ser pai

e reunido!
nos filhos!

a poesia me serve imensa
porque eu pequeno
querendo grandeza
encontro apenas
o lúdico disso.

querer ser grande
só pode mesmo
ser delírio
ser brincadeira.

to cheryl lam


dear cheryl
i do not know you
but
we are always
talking

and i imagine

how can it
be possible?

you know,

we are so distant
we are so far
but

always
we talk
and words
are so powerfull things

words can fly.
words can fly.

i do not know
what will you think about these things
i am writing here

ok

it's ok
my english is terrible
but i am a person
a good one,

really

believe me
i am a good guy
and even when i am
drunk

i can think things about the world
about justice
about some kind of ethic
(i do not know some words
that are so important for me)

but
forget

you will never know
i wrote you

all this.

escrever no escuro


pronto
fecgeu s ig
estou bebado
e estou me divertindo
escrevendo no escuro

sim
tenho olhos fechados
mas a consciencia é tão limpida quando estou embriuafadado
que mesmo nao escrevendo exatamente o que quero escrever
mesmo assim
me sinto invadido
e me sinto limpo
me sinto
vingado

si 
sei pular linhas
sei que tento e mesmo assim esotu jogando
jofa
porra
porra
 ´[e 
ó
porra
eu perdio o caminho
e e
e sigo escrevendo po
sigo escrevendo
amanha
gostaria d3e ac
gostaria de acordar
simplesmente
semc ompromisso
sem problemas
sem misterios
queria acordar
e docnt
e
acordar e continuar dore
acordar e continuar dormindo
acordar e continuar domrm
ac
e a
e continuar dormindo
é isso!
é isso!
eu queria acordar e continuar
acordar e continu
e
a
e
acordar e c
acordar e cot
p
q
porra
quero dizer
que amanhã eu quer
eu queria acordar e conntinuar dormindo
acordar e contnui
ao
acordar e continuar dormindo!
isso!

acordar!!!
acordar e continuar dormindo!
acho que agora escrevi direitinho

acordar e cotnin
acordar e contnu
porra
pq eh tao fifidididi
dificil?

fiz interrrogação
acj
merda
!!!
ecxl
ex
!
ai
to bebebebadi!
f
meu deus
que di

m
se perde am 

,er
,erda!
,erda!
é tao facil xinftgtfaaar!!!!!!

peso


pesado sem olhar rimas
deico
a mão
tropeçar
como se fosse possível
escrtever sem pensar
na tragéia íntima

íçpç
sei que estou perdido
mas de olhos
anda
fechados
tento o possível
e o não
possível

acentuo palabvras
acentua 
acentuo
eu quero dizer
eu acentuo palavras
como quem pode
quem sabe
escrever poesias
escrevo
escrevo

e pulo linhas
pular linhas é fácilç
é cmo
é como esquecer dores

e
df
euq
porra
porra
quero dizer
pular linhas é como esquecer doresa
dores
antigas
eu tento
eu tento
e as vezes
sema cento mesmo
sem gravidade
pular linhas
quero dizer
esquecer dores
é só 

eh só mera questão de velociudade
de 
de velociud
de velocidade
de vlecodididdi

merda
perdio o fluxo
meuso ol
meus olhos fechados
me invademv
me invadem
nao sei
eles me olham o dentro
me reviram e provam
o concreto
o v
o
cmo

´p

porra
tá i
é dificil até mesmo reclamar
meus olhos fechados
quem sabe
abrirsei

abrir se ao
noutra manhã

se voces 
se vo
se vc estiver lendo essa poesia
quem sabe vá duvidar de mim
quem sabe
vc
ao ler
esta poesias
se perguynte
se pergunte
se pergunte
se isso é mesmo
isso que eu desejo pra ti
e pra mim

não é
não é
quis sempre o melhor
mas hoje
isto
isto
isto
é só o que consigo ter
dar

é
é
pe o que consigo te dar
me dar
é o que ocnsigo
para ns
para nos receber

(percebam
iys3eu 
os
ousei usar uma
não ekfdso
poir
merda
merda
escrevi medda?
merda?
acho que sim
quis dizer
que fui tentar usar parenteses
mas nessa escuyridao toda
sema cento
nao sei bem o que esc
m,er
porra
´
porra
ta claro?
porra
usei uma interrrrrrrogaçã
merda
merda
merda
ok
aca
acaboui
acaboua
acanou
acanou!!!!!!

para começar

é raro
o instante preciso
em que ao escrever uma letra
eu esteja
comigo mesmo
e com meu tempo
conectado.

as palavras voam sozinhas

levam o sentido
inventam discursos
dizem coisas
que desconhece
o íntimo.

é raro
quando me pergunto

é mesmo isso, diogo?

ou suas rimas
querem apenas
fazer som
bonito?

é isso, diogo?

queres mesmo dizer que hoje tanto faz
queres mesmo dizer que seu peito é tenaz
ou foi apenas fácil
rimar dor com sinceridade?

é isso, diogo?

ou sua poesia já não o diz
ou sua poesia já não lhe faz parte

apenas,
imprecisa
transita firme
entre números marcados
sua poesia
firme
transita
entre firmas
criadas
e nisso
tu nem já sabe?

eu não deveria te dizer, diogo
mas essa cerveja
esse som alto
estourando a possibilidade
deixam a gente
demoníaco como o diabo.

não vá fazer filhos.

não vá fazer mais filhos.

cansei

dessa batida
que imprimo
ao dia-a-dia

cansei de não mudar
a repetição
doentia

que me traga
que me traz
que me envolve
e determina.

cansei da morte alheia
cansei da sorte
vindoura
ou não.

cansei do silêncio
cansei da interpretação
cansei sobretudo
do sobretudo
do cinto
da calça
do perfume
do penteado
e da decoração.

cansei num extremo gosto
que já nem sei se não gosto
do mais
do menos
ou do meio
termo
do meio
caso
do meio
ao meio.

não sei
tamanho cansaço
hoje sou
pleno

impossibilidade de definição.

e que seja assim
que assim seja
que eu não saiba
dizer hoje
se deveria ou não tomar
esta cerveja.

que eu não saiba
hoje
e ainda amanhã
como fazer pra voltar
à importância
do seu coração.

Imprecisa Rigor de Instabilidade.


talvez fosse ser o nome
da minha primeira filha.

imprecisa seria
do início ao fim.

eu sei sei disso
ela sairia de mim
também de mim.

seria imprecisa
carregada de imprecisão
mas teria
vindo de mãe
vindo de duplo pai
teria imprecisa
fome de busca
como quem busca
a perfeição.

por isso instável
imprecisa seria inda mais instável
na busca tenaz
por vingar
o sobrenome
do avô:
rigor.

imprecisa rigor de instabilidade.

seria linda
com sorriso perdível
seria imprecisa
o rigor
da instabilidade

nem tanto
quiçá muito
imprecisa seria
porto seguro

de nossa época
desta época
de agora

para este tempo,

imprecisa
seria o que nos resta.


devil


is looking através
de tudo isso here
he knows i'm not
what i should be,

devil
speak minha língua
e veja na minha confusão
o impossível que é
being here.

fila

desfila
multa
multiplica

sai
salta
arrisca
mas não

não faça como antes

não me faça
isso
não.

nossos versos
uns aos outros
formam formas
de pedra
ou de revólver.

desfila
esse pavor que nos une
e faça a poesia
virar estrela,

salpicão
de afetos.

encontrei

no sono
a leveza

no sono
encontrei o silêncio
que a sua voz
roubou
da minha vida

encontrei
no sono
o refrão
que não cessa

a certeza
confessa
de que tudo será
tudo será
eu sei.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

um pouco menos

eu cheguei ao ponto
onde devo parar.

para os próximos tempos
menos tempo
de mim
haverá.

doem as costas

o corpo produz dobras
que após desdobradas
viram marcas
como cortes
certeiras
ainda que tortas
marcas
como as deste tempo

não são passagem

são dobraduras
cheirando
tonteira.

cheguei ao ponto
eu paro
e olho para onde?

para a fixidez
deste segundo
no qual certo
transpiro
inquieto
não precisar de nada
para além
disto
disto
só isso.

hoje
menos que ontem
minha fome
dorme apaziguada

aprendi a amar
quando em falta
o silêncio

de forma que quando frente a ele
agora
e amanhã
agora
e sempre

posso restar
mirar no olho
e fixo sobre o ponto

encarar a dúvida
sobreviver a interrogação
não saber nada
ser não como quem sabe
ser apenas
como quem
estou.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

oh, não

não se iluda

as rimas lindas

as fáceis
doçuras

são apenas
impossibilidade
de tocar

no que importa.

oh, por favor,
não se engane.

eu não acho lindo
eu nem sequer
me importo
em escrever
nossa história.

as rimas
rimadas
são apenas
distração
para a gravidade
ainda não todo
processada.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

bebendo o tempo para enraizar o espaço


edição

perdi
a medida

avassalei
sentidos
e rompi
a parede
dura
das esquinas.

restei
agora
como estou:

munido a verbos
embalado
por certos
insucessos.

eu hoje
sou impossível
e por isso
apenas
por isso

posso te cortar

verter seu fluxo

e refazer
meus sonhos.

todos sem ti.
todos sem ti.
todos sem ti.

poemas de amor


não são redundâncias.

poemas de amor
são enredo sem fim
costura a fio
firme
cheirando a aço
e osso.

poemas de amor
são os que escrevo
quando o beijo
me chega
meio morno.

tenaz
tentativa
de transformar
de vez
o seu silêncio
em explicação
possível
à pele.

poemas de amor
não nascem
quando sei que posso
quando sei que
te tenho

nascem
oh, poemas!
de amor!
quando sei
que na sua boca
cabe mais
que não somente
nós dois.

nascem os poemas
quando de amor!
se por acaso
ou se
por caso seu
eu não esteja tão certo
do nosso
a saber
do nosso
laço.

nascem os poemas!
os de amor!

apenas quando
apenas quando
apenas quando
a sorte
se embriaga
e eu já não sei

mais

se eu te basto
quando eu já não sei
mais
se tu
apenas tu
você
me segura
por uma noite inteira.

nascem poemas de amor
apenas quando se duvida
da sua potência.

nascem amores
em poemas
apenas
quando

não se tem nada
a fazer

nascem apenas
quando
como agora
assim - como agora -
eu
aqui esteja
sem você
eu sem você
(que nem ainda
sequer vi
uma
vez
que
fosse).

viste?

nasceu.
mais um
acabou de nascer!

liberdade

é quando o sorriso
escorre
com gentileza

e vergonha
comedidas.

nada excede
nada falta

ser livre
é ser
o que sou
quando estou

e mesmo

quando penso apenas
em ti.

como se fosse para ti

eu toco os joelhos
sobre o chão
empoeirado.

eu passo a mão
feliz
sobre a poeira
sobre
o tecido
aveludado.

eu deixo escorrer
suor
sobre a pele
recém-lavada;

eu corro até a pia
pego gota no ar
pego no quente
no frio
no estorvo,

eu trago
ao meu colo
ao meu íntimo
ao meu sossego

o seu risco
mas por quê?

para quê?

eu sigo
acreditando
que ser o meu melhor
será
para sempre
o que posso
sempre

fazer.

não me resta alternativa:
sou hoje
como ontem fui
e amanhã serei

o que posso ser
de melhor

como fosse
eu hoje
embrulho florido
para ti,

como se toda a minha vida
fosse ação
una
a te
servir.

dobra

ergue
mira
mas não toca

ergue
mantém
sustenta
esquece

lembra
e chora.

ergue
de novo
ergue
e fica
ali
parado.

o tempo:

passa
volta
flui
o tempo voa
embaraçado

tempo
tepmo
tepom
tpome
etmop
tmeop

muita coisa.

mas nada
exclui
a sua presença

aqui
e agora.

sábado, 17 de novembro de 2012

sem força

para vingar
a vingança
destinada
a mim mesmo

hoje eu quero deitar
e permanecer inerte
sobrevivendo
ao tempo

venta tanto aqui em casa

e mesmo assim
as janelas fechadas
o silêncio perfurado
por uma
ou outra
felicidade
vizinha.

eu me alimento
eu quero trocar a roupa de cama
mas hoje sou cama
sou lençol

não sou pessoa
não quero que me liguem
que me chamem
que escondam
em mensagens parvas
o desejo
a fome
e a carne

hoje eu estou bem
desde que continue
esquecido

hoje eu queria
estar morto

mas amanhã
amanhã eu vivo
amanhã
eu

vivo.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

ostracismo ---


antes

eu me erguia tranquilo
e trocava a música que me incomodava.

antes eu enchia a taça
sempre de novo
para impedir que a embriaguez
me fizesse sala.

antes eu me erguia tranquilo
sempre tranquilo
e os joelhos sequer falavam coisa
sequer estalavam

eram fluidos
eram livres
eram lindos

mas passa

passa
mais e mais
a casca engrossa
e a coisa
engasga

hoje
me ergo tranquilo
com consciência abalada

produzo mais que tenho
devo mais que deveria
caso meus joelhos
tivessem
o jogo

que minhas palavras
teimam
em deter.

libertem-me.

eu as peço.

mas formo com isso
frase de estranho efeito:

eu sem elas sou silêncio
elas sem mim
são pobre enredo.

deixa

por hoje

talvez

nada
de novo
e
mais
uma
vez
FEITO.

hoje talvez
NADA FEITO,

dimensional

deita a cabeça sobre o travesseiro.
não sonhe - esta noite - com dentes
caindo
ou saindo
caindo sobre a grama
ou saindo
da sua boca
seca de sangue.

deite sobre o travesseiro
e de olhos bem fechados
acompanhe
os fones de ouvido levitando
e dançando
inertes
sobre o seu
aparente
sossego.

deite sobre
e deixe que costurem
no ar
a tentação
que é fugir
deste silêncio.

não haverá nuvem
nem água
chuva
nem vento

a dor permanece
imóvel
feito móbile
em dias
de janela fechada.

é quase quente
é morno
não há nenhum barulho
vindo da sala.

solidão

quieta

miúda

móvel
mas tenra
à espera
da saliva
abrupta

da fala
do verbo
do incesto

a perfurar
a nossa improvável
inábil
habilidade
de se ouvir
e se olhar.

de se
ver
e
se
escutar.

salto
por fim
sobre o travesseiro
os olhos já cerrados
quase se anulando
- pelo inverso -
quase se cegando
para o eterno

e pronto,
enfim
sua poesia
me dói
feito fosse pluma
a irritar
a pele plaina
da poesia
imberbe
ainda
sem morte
desconhecida.

fica
hoje
pois eu posso voar
no seu embalo
e perder
toda
e
qualquer
medida.

mais uma vez
sobre o travesseiro
você ri
sem dentes
você sonha
quente
mas venta
no quarto
há tão pouco
inerte
venta quente
e o correio

está ansioso a tua espera.

vai
dorme
porque amanhã
você ainda
precisa
estar
vivo.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

com seu rock

ou sem
com má sorte
ou boa
também

eu sigo
acreditando
que essa rima
abusada
de nossas vidas

hora
ou outra
vai virar
tatuagem

vai colar
e me
nos
arrastar
ao direto
e vivo
embate.

veja,
hoje eu soluço
poderia ser por conta do susto
de saber-se
amado?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

não fui proibido

de receber o medo
e expressar
sentido.

não, não fui
incapaz de lidar com aquilo
para apenas hoje
como antes
escrever somente o que digo.

não, não desse jeito
aqui me lanço
e me raspo
meio ao meio
descobrindo no vício
um jogo-enredo-possível:

cada buraco é cova
que me atrai
e fomenta.

eu poderia ser ripa
poderia eu ser poema
apenas,

mas sempre
sempre com sobra
retinta
de desorientação
tenaz
rumo à indefinição
disto tudo.

disso,
fica apenas o senso
prático
de que a poesia não presta
assim como não presta
também o mundo.

estamos quites.

blink

hoje o sono
engole até a poesia,

ela não veio
nem você
somente

esta
a
zi
ah.

é tarde para desistir


Especular outro caminho possível
Sim, sei amar possibilidades
Mas me dói toda vez que o jogo é sobre o meu destino
Não queria ter outro destino que não esse
E se me olho
Um instante
Sei que vou morrer
Neste caminho pernicioso no qual me lancei sem rede
Nem freio.
Um amor, talvez
Talvez um amor pudesse me frear
Me fizesse ficar
E me fizesse aprender qualquer coisa que não fosse apenas
Este esquecimento.
O jogo segue
A pista se move
Meus olhos pesam
Eu queria ter dado certo
Mas sempre é tarde para desistir
Sempre é cedo demais para morrer
Gangorro-me
De mim quem sabe
Até você ai
Ter dado certo não é bem isso que se vê por ai
Ter dado certo
É simples
A ponto de se perder a medida.

para natássia vello

O conflito estava preso no ar. As faíscas que brigavam entre si tentavam preservar o que agora ali se ofuscava. A cada segundo alguma luz se escurecia. A cada alternância de um tempo qualquer, uma faísca desataria em azar ou sorte, alguma vida na esquina seria totalmente persistência ou a própria morte. Não houve caso anterior de evolução.


Foi quando pensou ter aberto os olhos. Mas a noção de existência, mesmo vaga, veio primeiro pelos ouvidos. Algo pequeno, um som medroso e repetitivo, rangia insistente por ali. Onde estava. Não sabia de si. Não sabia sequer que o saber tanto já lhe importara. Veio então o silêncio e sentiu frio. Não como quem junta o corpo para se aquecer. Sentiu o que sentiu e isso fez com que movesse as mãos num espasmo, mas elas permaneceram rígidas. De súbito, um enjoo dentro se moveu sem nada avisar, dentro algo se intrigou e nada mais saberia explicar. Percebeu-se então virada, mexida, perdida, afogada no ar.


A cabeça tocando o chão. As mãos fedendo a ferro, aquele cheiro de sangue e corrente impossibilitando certezas. A cabeça no chão os cabelos pela face silenciosamente arquejante, ainda indefesa. Era sangue ou ferro. Os braços estendidos, o quadril alargado. Foi sentindo achando as mãos pelo cheiro de ferro coagulado. Como se cada corrente lhe pudesse dizer que sim, estava inteira. A cabeça no chão pesava inteira. Os olhos abertos eram só escuridão. A noção de existência que fora antes o som de um grilo elétrico, agora pelo cheiro do corpo ali meio doído, postergava a dissolução. Envolta naquele ar que a continha, os olhos piscaram de novo e o grilo num lado qualquer piscou. Rápido amanhecer do caminho que tão rápido por sobre ela se apagou. Estava onde estava, era certo. Mas estava, foi o que dentro se perguntou.


Silêncio comprimido vaza para dentro, não pode ser ouvido. Mas ali naquela imersa situação, ouviu tombando para dentro de si algum vislumbre de consciência, alguma tentativa de organização. Estou aqui isso é o chão estou presa ou perdi minhas mãos. O que era meu que me foi tirado. Foi tirado ou nunca tive. O peito arrasado. Os mamilos moídos, um frio arbitrário. A consciência volta primeiro testando a nossa capacidade de sobreviver. Foi lhe dando a noção das pernas dos joelhos feridos da canela dos pés assustados. Ao mesmo tempo o interior. O peso da lembrança que não voava como passado. A lembrança era seu presente. Era ela. Aquele lapso que explica tudo mas que rápido se esvái, substituído pelo absurdo em que se transformou a realidade. A cabeça no chão pesada querendo afundar. O frio na espinha era tão vivo que pareceu incapaz de a congelar. Foi quando uma lágrima escorreu precisa. Desceu o rosto não como sempre o descia. Escorreu se despedindo da secura dos olhos e esmaeceu entre os cabelos sujos de protesto, a tempo de morrer devagar indo sumir dentro do ouvido direito. Direita. Pisca o grilo elétrico. Um clarão de brinquedo fez-se à esquerda da lágrima. Esquerda. Assumiu dentro de si que estava naquele quarto. Que ainda estava no mesmo lugar.

Caros investigadores,

meu pai pediu para avisar:
entrem sem medo e, sobretudo, famintos.
Queiram o íntimo inteiro
o que há fora
e o que
---

e o que me aconteceu?

risquei poesia
à força
na própria
vida.

1406

não
não foi desta altura
que ela se jogou.

os números
confundem
as dores.

não é apartamento
número de casa
ou avenida.

a culpa é toda da poesia.

sim,
hoje ela em destaque
hoje ela alvo
do meu amor
da minha
arte.

grito!
esperneio!
em silêncio
escrevo
eu escrevo
eu escrevo!

com mãos crispadas
unhas roídas até o sangue exposto

eu hoje
tento
sobre estas letras
trocar
a dor
por suspeito abandono -

ao menos
haverá alguém a quem se reportar.

ao menos
- eu acredito -
um dia
você poderá
se voltar
a mim

por mim

que seja,
por pena.

embriago

olho o vidro desta tela
se quebrasse
morreria.

olho o vidro desta taça
se quebrasse
molharia.

olho o vidro no seu olho
se rompesse
me amaria

enfim

por que esperas
terremoto?

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

one mistake


oh, no
i am not killing life

it's exactly the inverse

life
is eating me
since i was boy

and now
as a man

i'm only pieces
all of them trying to not

exist without me.

rest in poetry


god
please
help me

i do not know
how to do
this homework

since i was child
and now as a man
i do not know
how we can

do these things
staying here
for hours and
hours

i am tired
incapable of verbs
incapable
of all these words

and a poetry seems
only a sad song
always sad and
always lonely

lovely
but don't

rest in peace
somebody once
told me this

rest in peace
somebody once die
and that is all
all is this shit.

the death is singing for me.
i can see her.
as her, my dad
would never sing like that
for me

'cause
death is now
just one look across me

in between sun halos and green trees
i can see her.
and death is
how it seems
i can not
handle anymore
all this.

or i make me poetry
or i sing
or i shine
burning my skin

fading across dark waves
i've turned off
and then turned on
and then, i'm in drop in

in jump through myself
seeing the taste
of
being
free:

and then
now
the poetry seems
as everything that
it would never be,

i beg you
you, come back!
to resolve something in this nothing!

and then
more promises:

you'll say ---
i'll translate your words, dear lover
i'll make a new song for you
only for you
and others more
just for them
for god
and for what does not already exist.

you smell like death

you seem sweet

i am diabetic since
was six years old

i could die
just in case
of loving you

hapiness
you are no longer here
and neither my shame.

Conto Crase

Enquanto o café era feito, ele apenas se permitiu restar - imerso no tempo. Pelos cômodos da casa, a poeira se assentava lentamente sobre um tudo. Não quis resistir. Chegara ao limite da força. Era preciso aprender a ceder e, enfim, perder. Pensou. Minha vida parece narrativa já pronta, mas inda não todo divulgada. Refletiu. Achando graça na sua roupa, no seu cabelo, na sua miserável comoção enchendo aquela sala vazia e grande. Longe, o cheiro do café veio lhe brindar a noite. Era final de tarde. Ele foi até a cozinha, apanhou uma caneca branca e despejou o café da jarra de vidro à porcelana. Não. Pensou. Não vai quebrar se eu a colocar na pia fria. E o fez. E não quebrou, a jarra. Consciente, pensou que dessa vez seus dramas seriam todos mais delicados.

Voltou à sala. Caneca na mão. Porcelana. Neblina comiserada saindo do café e ele ali engolindo, em silêncio, a própria vergonha de si mesmo. Olhou novamente aos pés, aos sapatos, olhou de novo para si, para dentro. Como posso? Estranhando a comoção de cada olhar, cada flash do pensamento. Bebeu o café, lento, lento. Nada tinha a ser feito exceto aquele movimento: vagar pela casa tocando na poeira adormecida. Queria, se pudesse, chamar o pó aos céus e fazer da sujeira nova rima. Mas já havia desistido, dias antes, da possibilidade do verbo e da também da possibilidade da carne. Havia desistido das rimas que sempre o puxavam para o mesmo som. O mesmo desenho. Sem sexo. Sem palavras. Sem cigarro. Pensou, outra vez, a enésima só naquele dia: um cigarro pelo amor. Meu deus, um cigarro me confortaria.

Sem conforto. Bebeu o café. Sentiu pena de si próprio e contra isso fraquejou o pulso e fez café se lhe derramar pelo corpo um pouco. Quente. A pele do peito já chegando à barriga se contraiu. Me queimei. Pensou. Aliviado. Percebendo em seguida estar feliz por ter se feito algo em punição a sua fraqueza habitual. Queria fumar. Não poderia. Dissera já tantas vezes que a partir daquela manhã, combinou consigo próprio, se machucaria a cada instante que quisesse ter entre os dentes carne, palavra ou cinza. E se queimou. Deixou a pele se avermelhar, como se fosse quando se faz por amor. Não era. Não dessa vez.


A janela entreaberta. Um silêncio nascendo a noite. A tarde já tinha se ido quando o telefone tocou. Puxou o aparelho do bolso, quase ansioso, escondendo a felicidade de ter sido chamado. Brega. Eu sei. Número desconhecido. Atendeu. Era a cobrança do jornal diário. Ouviu até o fim. Como se naquele fim de tarde, ligasse um amor qualquer querendo apenas partilhar um café, um cigarro, outra coisa qualquer. Ouviu tudo. Até a ligação cair. Guardou o celular no bolso. A camisa molhada já lhe beijava a pele do corpo. Quis morrer, mas estava vivo. Respirando. Olhou um prego na parede e pensou, meu deus, eu ainda assim estou aqui. Quem dera fosse prego. Parado. Sossego fixo. Cadeira sem balanço. Quem dera pudesse saber, pela ferrugem, que a vida me comeu um bocado. Saber estar indo, não como metáfora, não como metonímia. Saber pelo fato. Sem embaraço. Se aproximou da parede. Tão perto. Tão quieto. Viu no prego a precisão daquele instante. Respirou fundo, ainda com pena de si, mas confiante de que quanto mais pena lhe tivesse, mais asas então a levariam de si. Ficou entretido na leve curvatura que algum martelo impaciente teria no prego fabricado. E, quase pequeno, riu um pouquinho.

Pensou furar o olho. Pensou. Sabia-se dramático. No fundo, se disse, quase inaudível, você não tem jeito mais. E apoiou a caneca sobre o chão da sala, abriu a porta e trancando-a com a chave, por fora, se perguntou se o mais que havia dito era mais ou mas. A ciência de si próprio por vezes o assolava. Podia tanto podia tudo que nada em si próprio se multiplicava. Desceu pelo elevador. Pensando em suicídio. Que cafona. Se disse. Tudo isso. Você vai chegar em casa, pensou, e vai escrever o seu dia. E passará por tudo isso. E vai agregar ao acontecimento menos pena e mais coragem. Vai se refazer num outro ser qualquer e vai nele reconhecer suas falhas. Talvez se faça bater frente a algum ponto fino, tal qual o prego enferrujado. Tal qual isso. Abriu a porta do elevador. Pensando em precipício.

O cheiro de café permaneceu consigo. O porteiro me olhou. Por fim, disse-lhe que a cafeteira não voltaria comigo e que, caso ele quisesse, poderia subir e levá-la consigo. Para a esposa. Ou para si próprio. Não importava. Cruzei a porta do prédio antigo. Nunca mais voltei, desde então. Já faz duas horas e eu sinto que posso, definitivamente, estar me permitindo ser outra coisa que não mais isso. Por persistência, sem pena, me tenho vencido. Tentando. Sempre. Mal se faça o amanhecer. Persistindo sobre a poça de café coagulada sobre o estômago coberto a pele sem pelos. Com olho fixo no prego retinto, eu me persigo.

\\

domingo, 11 de novembro de 2012

linha contorno silêncio cheio


para você, filho perdido

não é o papai. é o papai fantasiado de um bicho. não é certo, mas é possível. foi possível. num dia desses, de cansaço extremo, eu me olho assim vestido e penso: o que dirão um dia meus filhos? como verão o pai que nunca viram? então eu ouso lhes dar - lhe dar - esta foto. para que nunca se lembrem pela metade do absurdo já tido. não se esqueçam do jogo (eu teria morrido ainda mais cedo não houvesse tanto jogo sorrindo comigo). portanto, olhem esta imagem e saibam. residia ai a alma e o meu espírito. muito cedo, filhos, fui-me e aprendi a debochar-me. diminuí-me primeiro que todos na ânsia de controlar o medo de estar existindo. me fiz de pequeno mesmo quando fui grande. mesmo quando todos sabiam disso, eu ousei ser mesquinho, não me acreditar e fazer de mim, bicho qualquer. bicho possível. hoje, portanto, se me olham nesta foto - saibam: era eu o tempo inteiro assim. a máscara é puro senso denotativo. o dentro o dentro de mim o meu eu que nunca veio a bailar tão fora quanto aqui resta explícito - o meu eu era isso. pura mascarada.

tendência à melancolia

pois ainda não fiz o café

posso terminar de acordar e tomar logo um refrigerante

matando o dentro e por dentro afogando este semblante
hoje já tão repetido

posso colocar o rock nunca ouvido
posso ficar nu limpando o chão
e ensaboando com força
a privada e seus resquícios

você não está aqui
nunca esteve, talvez
eu melancólico
vá descobrir.

então eu deixo a música
faço um café rápido
como se faz xixi
e quem sabe
assim

acreditarei
em felicidade.

sábado, 10 de novembro de 2012

a resolver

arte do infantil
justificativa votação
abertura de conta bancária
pagamento de aluguel
dores no peito
continuar sem fumar
lavar roupas
me alimentar
trocar roupas de cama
comprar utensílios domésticos
comprar escada
comprar pregadores
jogar o lixo fora
comprar cesto para roupa
comprar cômoda
arrumar o quarto menor
arrumar o escritório
pintar a parede
viver
escrever um pouco sobre o que está passando e eu não estou vendo
estudar peça que estreia em janeiro
começar outra peça que estreia em janeiro
comemorar o futuro que ainda não veio (posto seja futuro, tudo certo, é assim mesmo)
ligar para o vinicius
escrever uma crítica
publicar um artigo
pensar que não vou morrer tão cedo e ir me acostumando com a possibilidade mais duradoura da minha própria vida
testar versos
pensar poéticas
preparar uma aula
arrumar o quarto
dar comida ao gato
marcar dermatologista
marcar endocrinologista
comprar medidor de glicemia novo
continuar sem fumar
lavar panos de prato
responder emails-convite para novos trabalhos
aceitar tudo
escolher bastante
não aceitar tudo
fazer orçamento mensal
cuidar do futuro
cuidar do meu coração
ligar, caso a mensagem do facebook não seja respondida em alguns dias

nor

não como
não durmo
não cuido
não faço
não traço
não sumo
não sei
não soube
não vi
não quero
não posso
não ri

mas podia
mas queria
mas pudesse
mas sorria
mas seria
mas tamanho
mas medida
mas medéia
mas metonímia

hoje eu fui
a escória
da escória
da vizinha.

ou seja:
não sei de nada.

vinho

como quem iria. abri a porta certa do passo. que não veio. que não vinha. me empurrei. obrigado a decidir sempre em último instante o passado que já quase se esquecia. por completo, cruzei a soleira da porta. cruzei consciente a soleira da vista, ainda naquele instante, um tanto não sóbria.
olhei. frente a frente, nos olhamos. como poderia eu estar presente no outro sem que nos tivéssemos sequer uma vez encostado? coisas sem nome. coisas sobre as quais todos deitam, na chegada da noite, a procura de antecipação (do destino).
olharam-se. os dois. eu como um dos dois. olharam-se e sem fim se olharam. sem presa. sem pressa. sem verbos sem acusações. ficaram um tempo assim em si próprios entretidos. o ciúmes do povo talvez fosse dizer que buscavam no olho do outro seu próprio íntimo. mentira. no outro não buscavam nada além daquilo: o silêncio.
e ficaram.
ainda mais tempo. parágrafos mudaram. ofícios sumiram da face da terra. houve quem disse não ter tido mais música (naquele tempo) ((o do olhar dos dois nos dois fixamente mantido)). a poesia então me veio para falar de tudo isso. do que não sei (querendo ou não ter sabido). da possibilidade de jogar ao outro o que sequer (talvez) tenha acontecido comigo.
e então um virou as costas. e tudo bem (pensou o outro e eu também e, talvez, minha mãe também pensasse o mesmo). um virou as costas sem acento grave ou agudo. virou como quem vira. e seguiu seu passo após o risco traçado.
acabou. não tenho mais nada. era só este encontro. e tudo está acertado. sem tiro sem sangue sem rima sem verso já noutra obra utilizado. nada aqui é mais específico do que a possibilidade simples de terem um dia - um dia sequer - se olhado permanecido e encontrado.

---

suave


pedreira

pudera eu
controlar meu corpo.

dele saem coisas
como entram coisas em bocas gigantes
de monstros.

incapaz de controlar
inevitável, meu corpo
vive
possível.

não é lindo
não é só lodo
é luz
na batida
do universo,

querendo se dissipar na curva
para se refazer num verso

qualquer.

uma mentira

essa de que vou morrer cedo.

os amigos já não concordam comigo
(um dia talvez até tenham)
mas hoje quando repito o já dito
olham-me com uma cara de nojo
não sentem pena
sentem apenas
riso.

e então eu me rearticulo
para os convencer disso que eu temo:
a possibilidade de continuar vivo.

não
não é poesia

eu luto todo o dia
frente a inevitabilidade
dessa ira minha continuar
sendo viva
continuar ira minha
sendo ida

louca
tenaz
destruidora
e destemida.

vivo
na precisão do segundo
não chegado.

vivo
passo a passo
pronto para o fim.

logo,
como posso acreditar que vou morrer cedo
se morrer
já faz tempo
virou tudo bem pra mim?

ah, poria


se tivesse que colocar alguma coisa agora
dentro deste microondas
eu colocaria isso que nutro por ti
com desesperada
esperança.

se eu tivesse que assar
a microondas
alguma parte do meu corpo
sem dúvida seria a língua,
sempre a ti destinada.

a música que hoje toca
não me comove
toca toca toca
e mesmo assim
nada.

queria
se possível
ter sido outra coisa, mãe.

quando foi que acreditei que a senhora não me impediria
do Isto?

ledo

engano.

estaco num instante

suprido os desejos
mais imediatos
resto agora
frente ao computador
ansiosamente
despreparado.

tarefa esta a qual me destino

vasculhar os verbos
e encontrar em meio
ao meio
um possível
um verbo
capaz
de dinamitar
e apaziguar
o íntimo

hoje - mais uma vez -
inibido.

um congelamento escorre lento o esôfago
a garganta não é mais garganta
o incômodo é sempre outro
sempre novo.

troco hoje
o cigarro
pelo vinho

enganando-me
de que não preciso
de nada disso

eu insisto

sofrendo dia após dia
minha incapacidade
a flor da pele.

eu fiquei triste muito rápido
e pior
soube disso
muito antes.

logo,
o que me resta
hoje
é sofrer ao vivo
a dor que ainda nem sequer veio.

so if

you
could not kiss me
but onlye
break me

break
my leg
my sadness
brake
with me
and
send me
another
other
way.

and if
you could resolve
my pain
and sell it

if you
only you
could explain
me
how
thing use to do

i would
i will could
think
that you

you are
here
not only for me
but for you
too.

this new piano

it isn't like the other.
wrote for you
and now
i see

i wasn't writing
for you
i was writing
for me

i

am

always giving to you
the responsability
i do not
have

for me.

don't TRY

if you only seek
hurt
don't try
if everything
for you
is already
done.

don't even
think
you're trying

cause
your weakness
is so
sad
so poor
so
heavy,

don't

i ask you
don't go
thinking
as if it could be

because

nothing for you
is possible

cause you're always
crying
always
always
all ways.

02:00

already gone
your desire
is already done
so
what will you do
now
that all is gone
including
you?

sad poem
blessing poem
for nothing
not even
a try

sad moment
you
now
looking
throught
this screen

as if you
could be
2D
and
not
3
like you're now

since you
was
born.

burn
with all your poetry.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

ensaio

acordei bom dia
faço-me acreditar
que hoje sim eu posso
mudar minha rotina.

tudo já tão viciado
os vícios, eles próprios
de si cansados
e no entanto
vai sempre a boca
mal se faz o amanhecer
esfumaçar o quarto
(seria tentando encontrar você?)

não.
de fato,
essa lamúria toda
é excessivamente
algo errado.
errado.
simples assim.

como pode um ser se fazer tão dependente
de se ver sofrendo assim?

eu já sabia
que eu não teria jeito
no entanto
feito esta poesia
eu sempre me vejo tentando
ensaiando
a possibilidade de afeto
para comigo mesmo
a possibilidade de verter um rumo certo
e me lançar
torto
num caminho inda
não
feito.

no final das contas
a única certeza é essa:
a de que o suicídio
ainda
não vale a pena.

por isso,
vamos ensaiando.

bocoutra

distinta da que tenho
distinta da que tive
distinta da que tivemos
quando juntos
nos mordemos

boca agora
é outra
morde com pressão louca

boca minha
se revolve
à procura da saliva
ida
saliva intrometida
que veio
e foi

como fosse fosso
o meu coração.

distinta,
boca agora é outra
tem por mim
vasta pressão.

bocoutra
é só poema
para alimentar
autoperdição

na ânsia

por saturação,
acabei esquecendo que um novo mês se iniciava.

falo da morte
falo do amor
falo da morte
e o ano me cruza
enquanto me sobra
apenas
uma possibilidade:

a mesma.

fato

não houvesse esta possibilidade
eu teria enlouquecido
estaria morno, agora
deitado sobre maca hospitalar.

não houvesse esta possibilidade
eu seria meio que consumido
pelo lado negro
da fraqueza,

sentiria arrepio ao ver o sol

sentiria asco ao receber sobremesa.

eu não seria possível,
a bem da verdade.

não houvesse este verso,
eu já me teria ido

mas assim
COM CERTEZA.

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