Pesquisa

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Caros investigadores,

meu pai pediu para avisar:
entrem sem medo e, sobretudo, famintos.
Queiram o íntimo inteiro
o que há fora
e o que foi costura.
Comam as beiradas
e persistam sobre a mesa vazia
(dela muita coisa ainda há de sair).

Ele avisou que vocês viriam, portanto
entrem sem bater
venham trazendo bagagem
cobertor e fogareiro
É que aqui em casa
às vezes a gente brinca de ser escoteiro
então
toda e qualquer dificuldade vira, enfim,
mistério
(o dia seguinte amanhece mais quente).

Ele nos falou,
Filhos, eles talvez lhes parecem indiferentes, portanto, seduzam todos
Mas o papai sempre brinca com as palavras então deve ser piada
Só pode ser
Afinal,
ciumento do jeito que ele é
não faz mesmo sentido pensar que ele convidou os senhores justamente para nos vasculhar
e para nos render

Certo?

Senhores?

Por favor?

Eu aqui falando aos senhores
falo também aos meus irmãos
Eu falando aqui presente
sou eu meu pai e minha mãe
Eu hoje sou constelação
de versos
ansiosos
por nova
descoberta

Crentes no jogo
Versos crentes na ida
(e não mais na [espera]
palavra contida
e trancafiada) com segurança
de um lado
e
pre
cipício
do outro_

Grosso

o modo pelo qual venho fazendo
esqueci que as coisas têm pele
e sentimento
tenho esquecido, é verdade
que as coisas se comovem
que por vezes o meu jeito
invade a mata a intimidade

peço desculpas
a você, ao mundo, às coisas
não era isso
nem para ser assim
eu fico pensando
quando é na nossa história
que um ao outro dirá
você está me ferindo com essa forma de falar?
nunca
uma pena
mas nunca
o que é uma pena

eu queria realmente que as coisas fossem muito mais simples
eles podem ser
eu queria que você dissesse
quando viesse a ser o caso
eu queria que você falasse
acho que não é por ai
eu então olharia de novo
eu não tenho problema com ir
e vir
eu topo
mas porque então a chateação?

palavra boba
estado impreciso
porque todo mundo está ficando assim tão mole
tão líquido
sr. bauman?
a culpa é do senhor, sabia?

não precisava
não é o caso
nem sempre é líquido
por vezes sou grosso
e isso é uma forma de lidar
não quer dizer desrespeito
não quer dizer cegueira
ou surdez
quer dizer apenas
que podemos dialogar problemas grandes
questões quentes
e capazes de queimar

quer dizer, meu amor
que eu estou disposto ao nosso jogo
vamos, então, parar de antecipar o choro?
vamos?

eu queria acreditar.
mas até lá
serei apenas mais um grosso no pedaço
em esquecimento
como todos os outros
finos ou não.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Chuva

Hoje o dia choveu inteiro
Eu sem compreender
como pode amanhecer já assim
tudo tão líquido e propenso
ao escorrimento

Hoje o dia amanhaceu lento
querendo se possível voltar
para a escuridão
lá para os espaços onde o vazio
opera e não assusta

Hoje o dia nasceu no entanto pleno
com leveza e lento e calmo
e mesmo sem café
o calor veio preciso
nas pequenas coisas
veio primeiro num sorriso

O dia hoje me veio e me lembrou do já ido
me lembrou de ti
do seu sorriso
da sua rima
da sua investida
e da ida
sem freio

O dia hoje me trouxe seu cheiro
já faz tempo esquecido
tentando ser lembrado no dia-a-dia
o dia hoje me trouxe a sua falta
e a sua presença
persistente
nas coisas menos sagradas
nas coisas mais incapazes
e tísicas

Hoje o dia me veio
e te trouxe comigo

Eu disse a uma amiga após almoçar almoço frio
Eu disse:

Hoje é o aniversário da Kekel.

E eu nem sei se é hoje
eu nem sei se era esse o motivo
Mas foi mesmo se não for
É mesmo já tendo ido
Hoje o dia é o que é
porque você veio junto comigo

e isso basta
hoje
a quem abandonado ficou,

e eu te perdoo
sempre mais
e de novo
a cada dia.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

pela cabeça

primeiro, eu creio
e nisso de crer
primeiro pesa em cima
para depois despencar
e morrer.

primeira pela cabeça
diz o corpo
pela boca
que também lá em cima
agoniza.

primeiro no topo
depois desce ao queixo
ao peito nu sem remendo
ao sexo árido e vil
desde tudo
até às unhas inflamadas dos pés
sem lã.

se morre primeiro pelo topo
congestionado
de tanto pensar
esfumaçando a existência
já sem ar
para rir de si próprio
ou mesmo para si
desautorizar.

pelo topo
primeiro
depois
resta tudo
intacto
sobre o chão imundo
clamando
sarcófago.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

when i was a young boy

i used to make movies that never get stayed ready.
i used to create fictions to relieve my own day after day.
i used to save these works in my computer
and today
i found one of those parts
and as this piece, i am incomplete
and lost in what i was.

WINE

bathroom

Para arquivar uma imagem deste corpo que tanto já arquivou outras coisas.
Atualizo-me: desde o dia em que bati essa foto, a sede persiste, os sonhos sumiram e o pote das escovas de dente não é mais esse. Desde então, a espinha no nariz sumiu, a gripe voltou e o desejo durou. Desde o dia da foto, eu escrevi mais palavras, eu comprei mais livros, eu quebrei mais copos e taças. Desde esse dia da foto (que eu não sei qual foi) eu cortei meus cabelos, eu fiz minha barba eu podei minhas iras. Respiro, hoje lento, com outro vinho, noutra taça, noutro cômodo da casa. Minhas cores tangenciam o cinza. Meu photoshop parou de funcionar e, no entanto, ainda sou alguém que mente.

TURVO

não entendo a recusa
que fiz do teu beijo
não entendo a vontade
que segue em mim clamando
pedindo por porto capaz de aguentar
tudo isso.

não entendo o meu jogo
a minha sinceridade sem pátria
nem sequer compreendo
como pode uma obstinação
ser tão torta.

paciência,
agora bebo meu vinho
solitário,

agora corro o risco
de morrer sozinho
e livre

como nos romances
ainda não escritos
nos quais os heróis
vivem presos em romances prontos
dos quais
eu sou apenas
um turvo leitor.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

SEMtEMPO

cruzo a avenida
sinto o vento
como posso perguntar tanto
diz meu peito
porém meu coração
respira em sobressalto.

olho para trás
escorre a água pelo ralo
como posso não ter fome
se sinto o cheiro
se molho os lábios
como fazer?

quero esquecer
quero dobrar a esquina
quero olhar para a lua
ontem
e ter fixado na retina
este acometimento
este impossível
que é o momento.

estou aqui,
paciente.
sobre palavras eu opero o segundo
eu me dou jeito
mesmo o de curta validade
eu me concebo
e o amanhã
quem sabe?

é só que queria dar a cor que o sol é capaz de pintar.

é só que eu queria muitíssimo
não ter que me perguntar nada
queria muitíssimo ser que está

viste
ele pergunta sem interrogar
suas palavras eram poucas
mas agora são maior
que seus sonhos

triste de mim, enfim
a curar a dor
do verbo

e não do corpo.

vou dormir então nu
sem cobertor
sem colchão
ou peito redentor

vou dormir cru
para acordar essencializado,
eu creio
eu espero
que ao menos neste sonho
que faz dias não vem
eu espero que isso tudo dê certo
e que o ponteiro me acorde
já lá em cima
e não mais outra vez
com os olhos cansados.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

FARSA

não se trata disso
é antes que pode ser
tudo assim
sem previedades

sabe?
quando o azul é azul porque o azul do azul te invade?
nada mais precisa de autorização
nem tudo é carente de autoria

as coisas se são por elas mesmas
e refletir sobre isso
em excesso
me faz perder a ordem do dia:
vivê-lo.

portanto
não se trata da mentira
não se trata do cinismo
se trata de que tudo hoje para mim funciona melhor desse jeito
sem antecipação
eu de fato não quero fazer nada para além dos meus desejos

eu fico
eu como
eu durmo
e para além disso
eu ainda pago as contas
eu arrumo a casa
eu faxino
eu embrulho

agora com toda sinceridade
eu não vou guiar meu pensamento
porque ele é livre
ele de mim me retira
ele dentro de mim se esvái
e ainda de dentro
me invade

ele é livre e não quer preceito

dispõe-se inclusive
aos erros
e quebras
e saltos
e cortes

me fiz claro?

sim, talvez
não que isso importe.

\\

terça-feira, 17 de maio de 2011

U

again
and
again
i am
here
for what
u say
i do
all this
thing
(shit!)
thing
not for u
but for me
for me
now
means
not for u
means
for me
when me
now
is not u
is not
something
with u
.
it is a deep
a deep crave
a deep
bottle
a deep way
to understand
what can u
be
for me
when u
it is not u
when i am not
me
so
be
much as u can
and let me be
much
just ‘cause
you are not here
with
me
i
Mean
let things fall apart
let things fall
let things fall
from us
and live
without our permision
.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mesmo em Sonho

Estatizar
para conter o segundo
e não gastar,

nada, nem o brilho
ficar dentro retido
e bailar somente
em febre
(devaneio entre pelos
e pele)

Ficar duro, comprimido
deixar doer o que não gritava
deixar morrer o que pede abrigo.

Sim, ela olha o meu corpo
Você precisa de abrigo?

Eu estranho, eu não realizo
Eu preciso de outra coisa
ela retrocede
Precisas de abrigo?

Não, eu não compreendo
ela volve o corpo ao fundo do quarto
ela dentro do quarto fica maior a cada passo
a luz acentua o nosso risco
Precisa, né?

Diz em tom singelo e cortante
Eu não compreendo
como posso não compreender o que eu preciso?

Ela diz, distinta
O que você precisa é justo aquilo que ainda não sabe.

Vem aqui, a mão dela me invade
E conserta o peito
e seca o pranto seco
e retoma a direção dos olhos
e faz tudo como deve ser feito

Mãe,
que bom te ter aqui
que bom ser teu pedaço
que bom você poder
- ainda -

me dar jeito.

Ela parte.
Ele fico sobre a cadeira sem tanto medo de me erguer
e abrir a janela.

Chove tanto nessa madrugada.
Ainda bem que você veio.

domingo, 15 de maio de 2011

Bem Também

Sim, eu lhe disse
estava tudo bem entre a gente
Mas não, você desfez
o sorriso
o cuidado (com o qual eu desenhava
nosso encontro).

Era tarde
Tinha sol

Tinha sede, sim, tinha sede
Você molhava os próprios lábios
para não endurecer de amor.

Eu te olhei
E vice-e-versa
E então
Éramos só adição

Mas (e sempre um mas,
quebra a nossa avenida)

Você piscou
Você fechou os olhos
e num segundo eternidade
Me esqueceu

Então,
Eu pensei
Que esse eh! todo

era só edição
era só corte
era só sobreposição

Sobre mim
mais do que eu ali
Sobre mim
mais do que poderia ser
Sobre mim
também seus sonhos
seus devaneios

e todo o recreio do seu peito.

Eu
Enfim
Morri:

soterrado pelo o que não era eu mas que você insistiu em ver.

sábado, 14 de maio de 2011

Fumegante

Suas mãos estão frias
segue o peito operante
O que pode haver de mais quente
hoje, do que o risco em si
de não ter mais em mim presente
de não te ter mais em mim

Distante.

Sem interrogação
sem pausa ou alarde
Flui ao externo do corpo
essa ida essa investida esse vapor
quente
e capaz de arruinar

Suas partes se comovem
está frio, alguém há de nos ajudar
No entanto, pode ser que por hoje
apenas
fique tudo assim como está

Tensão solta

Voadeira

Tesão retido

Capaz de queimar.

 

zero dois zero um zero três

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Entrevisto-me

*Estou usando uma cueca preta, sentado de frente ao netbook, sem conectar o cabo à tomada. Daqui a pouco a bateria acaba e então finalmente eu poderei dormir. Só assim, brincando com pequenas regras e limites é que eu consigo sobreviver.

#Estou cansado, de fato. Daqui a alguns dias (pausa, eu conto) exatamente cinco dias, eu estreio um espetáculo teatral. Trata-se de um projeto da Cia dos Atores para o qual fui convidado a co-dirigir. É um prazer imenso, é um trabalho big imenso. Ainda não aprendi nada, mas daqui a algumas semanas, daqui a um ou outro mês, a coisa reverbera de uma forma tão linda que dá gosto. É sempre assim. Ainda estou na zona do imediato e das respostas prontas, das tomadas de ação concretas e inevitáveis. A coisa precisa acontecer.

¨Eu aqui inventando forma de ficcionar minha condição. Não é isso. É que escrever parece desde já criar ficção. Não é isso? Que seja, eu aqui de cueca posso ser mentira mas essa possibilidade dinamita a beleza do inseguro. Não importa se verde ou amarela, importa que eu estou aqui escrevendo a mim e a ti. E isso é o que fica.

)Talvez tenha começado querendo dizer outras coisas. EU queria me entrevistas. A letra “e” se fez maiúscula sem eu querer. Eu tenho um problema com atenção, com autoria. Eu por vezes me estranho e falo, diogo, que coisa horrível, que coisa mesquinha. Então me percebo e por vezes me surpreendo como há gentiliza em algumas medidas minhas. Ou seja, sou inconstante como o momento. Não quero amadurecer, quero ser móvel e capaz de erguer e ceder. É mais divertido. Dá tremor e energia.

_Tenho pensado muito em morte. Pensado muito na minha amiga que faz anos cometeu suicídio e de mim se arrancou. Eu escrevendo e dirigindo um espetáculo que estreia em setembro deste ano justamente sobre este assunto. Eu sempre digo aos atores, nossa peça não é sobre suicídio. Mas a cada dia eu me vejo mais lascado, porque dessa dor não se escapa facilmente. Se até agora eu choro pungente cada segundo que lembro de tudo o que foi vivido, como posso excluir deles o direito dessa explosão. É doer.

%Tudo bem. Acabo de espirrar. Estou sem camisa e é preciso por vezes abrir este blog para me auto auscultar. Para escrever este texto que anos depois talvez eu volte a ler. Para fazer nascer mais um filho sedento por transformação. E é isso, eu vou dizer: Diogo, num dia desses ai da frente, olhe para mim e fique quieto um instante. Relaxe os ombros, desfaça o seu sorriso. Você vai ler agora um relato seu destinado a si próprio. Hoje, no dia seis de maio de 2011, eu queria dizer que você não está perdido. Você se move feito maré em dia de temporal. Você está buscando onde aportar, mas sabe, sempre soube, aportar é morrer. Você quer é isso mesmo, você curte essa onda toda, você não vai se arrepender, de ir, de largar, de deixar morrer… Você pode partir, talvez você devesse não se querer tanto bem, talvez você devesse se jogar e se deixar perder. É bom, trabalha o seu espírito de aventura, trabalha a sua capacidade nata de encontrar na dor alguma fissura que te devolve pleno e inda mais forte ao mundo, ao embate, ao corto. Amigo, e eu me emociono em assim me destinar a mim mesmo, ou a você, que me lê. Amigo, vai embora; não deste mundo, mas de tudo no qual se prendeste até agora. Vai embora, some, mude. Tente conquistar um sorriso pela primeira vez de novo. Tente olhar e não tente ver. Reflita a diferença e se deixe cortar. Amigo, parta de si e faça de novo em si algo brotar. Não queira segurança, não queria o chão, queira o céu e enfim, meus olhos marejados hoje serão lembrados quando num dia lá na frente você for se ler. Já são 22:26 e você vai dormir já já. Você está cansado e dormirá com um pavor contido. Com um medo delicado. Você dorme hoje ciente de que a vida é só uma forma de lidar com os sonhos.

Nossa.

Eu gosto

do seu sorriso
da sua nudez
do jeito pelo qual você se faz estrela
Não é só isso
você sente o que eu tô dizendo
você precisa escrever isso também
é que tem uma belezinha ai em ti
mas não é isso
eu não tenho certeza se você sabe
é que é você
é você
Sim, a razão disso tudo
e tudo isso que faz você se ser.
Que eu tanto gosto.

Sub

Estava aqui
eu não vi

A coisa coçou
e eu então senti

Era seu cheiro
era sua sensação
era duradouro
e capaz de afastar

tinha seu suor
seu odor
sua secreção

Era meu segredo
que eu tinha roubado de ti
mas que por tanto ter guardado
fiz morrer e perdi.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

injeto

todas as doses
nada dentro de mim
pode expressar
todo este entorpecimento.

espero,
eu sei que posso me matar
mas não é isso
eu não o quero
o que eu digo
diz deste erro imenso
no qual fui me encontrar.

se vivo
é só porque me desoriento.
se morro
é porque quis ser intuição.

mas como fazer
se as coisas se chegam até mim
pelo o que fui de mim (sem ensaio
e/ou preparação)
como fazer
se o meu eu mais interessante
não quer viver sob medicação

e sim

inerte

intenso

fervendo

e batendo (queixo em fichas
coloridas).

memento.
esqueço.
amanhã – recomeço: a tentar me ser da forma
como o mundo é capaz de me aceitar.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sincero

Desculpa.
Eu estou atordoado com tudo isso,
talvez porque eu reconheça em mim a culpa,

mas sob qual forma?
Eu não sei,
eu sinto – sim, eu sei – que talvez eu exceda o meu bom mocismo
e chega então uma hora que isso vira quase maldade
vira quase cinismo.

A minha juventude incomoda o redor,
a minha inconsequência bondosa
que não quer ver sangue
que quer ver tudo rosa – sim – ela por vezes se manifesta e me faz ser assim:
como sou
como tenho sido
como alguém que te machuca
sem nunca ter pensado ou querido isso.

Me desculpe.
Não posso achar isso normal,
que tudo na vida possa ser desculpado.
Eu não queria,
ter te bagunçado
não queria ter te conhecido logo agora
e contigo já ter me queimado

(as pessoas falam gírias que por vezes dizem tudo).

Eu aqui persisto
duro
neste absurdo sem precedentes
de te pedir que me desculpe
ou ao menos
de pedir que aceite minha incapacidade
de fazer as coisas
como deveriam ser.

Eu não sei.
Mas eu vou aprender.

domingo, 1 de maio de 2011

duração

é quando você passa a sua mão por volta de um pescoço umedecido
e deseja colar para sempre
ali
naquele segundo.

é quando o beijo cessa
mas resta perdido entre os lábios
um desejo abrupto clamando
faça continuar.

diz respeito não ao tempo
mas unicamente ao seu extra-
vazar.

duração é isso que nasceu em mim
desde quando nos tivemos
pela primeira vez.

é febre tenaz
água de eterno gás
é poesia sem rima pronta
frase podendo nascer de novo
a cada respirar.

duração é o tamanho do seu cheiro
em mim
esperando a manhã nascer.
                

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