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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Entrevisto-me

*Estou usando uma cueca preta, sentado de frente ao netbook, sem conectar o cabo à tomada. Daqui a pouco a bateria acaba e então finalmente eu poderei dormir. Só assim, brincando com pequenas regras e limites é que eu consigo sobreviver.

#Estou cansado, de fato. Daqui a alguns dias (pausa, eu conto) exatamente cinco dias, eu estreio um espetáculo teatral. Trata-se de um projeto da Cia dos Atores para o qual fui convidado a co-dirigir. É um prazer imenso, é um trabalho big imenso. Ainda não aprendi nada, mas daqui a algumas semanas, daqui a um ou outro mês, a coisa reverbera de uma forma tão linda que dá gosto. É sempre assim. Ainda estou na zona do imediato e das respostas prontas, das tomadas de ação concretas e inevitáveis. A coisa precisa acontecer.

¨Eu aqui inventando forma de ficcionar minha condição. Não é isso. É que escrever parece desde já criar ficção. Não é isso? Que seja, eu aqui de cueca posso ser mentira mas essa possibilidade dinamita a beleza do inseguro. Não importa se verde ou amarela, importa que eu estou aqui escrevendo a mim e a ti. E isso é o que fica.

)Talvez tenha começado querendo dizer outras coisas. EU queria me entrevistas. A letra “e” se fez maiúscula sem eu querer. Eu tenho um problema com atenção, com autoria. Eu por vezes me estranho e falo, diogo, que coisa horrível, que coisa mesquinha. Então me percebo e por vezes me surpreendo como há gentiliza em algumas medidas minhas. Ou seja, sou inconstante como o momento. Não quero amadurecer, quero ser móvel e capaz de erguer e ceder. É mais divertido. Dá tremor e energia.

_Tenho pensado muito em morte. Pensado muito na minha amiga que faz anos cometeu suicídio e de mim se arrancou. Eu escrevendo e dirigindo um espetáculo que estreia em setembro deste ano justamente sobre este assunto. Eu sempre digo aos atores, nossa peça não é sobre suicídio. Mas a cada dia eu me vejo mais lascado, porque dessa dor não se escapa facilmente. Se até agora eu choro pungente cada segundo que lembro de tudo o que foi vivido, como posso excluir deles o direito dessa explosão. É doer.

%Tudo bem. Acabo de espirrar. Estou sem camisa e é preciso por vezes abrir este blog para me auto auscultar. Para escrever este texto que anos depois talvez eu volte a ler. Para fazer nascer mais um filho sedento por transformação. E é isso, eu vou dizer: Diogo, num dia desses ai da frente, olhe para mim e fique quieto um instante. Relaxe os ombros, desfaça o seu sorriso. Você vai ler agora um relato seu destinado a si próprio. Hoje, no dia seis de maio de 2011, eu queria dizer que você não está perdido. Você se move feito maré em dia de temporal. Você está buscando onde aportar, mas sabe, sempre soube, aportar é morrer. Você quer é isso mesmo, você curte essa onda toda, você não vai se arrepender, de ir, de largar, de deixar morrer… Você pode partir, talvez você devesse não se querer tanto bem, talvez você devesse se jogar e se deixar perder. É bom, trabalha o seu espírito de aventura, trabalha a sua capacidade nata de encontrar na dor alguma fissura que te devolve pleno e inda mais forte ao mundo, ao embate, ao corto. Amigo, e eu me emociono em assim me destinar a mim mesmo, ou a você, que me lê. Amigo, vai embora; não deste mundo, mas de tudo no qual se prendeste até agora. Vai embora, some, mude. Tente conquistar um sorriso pela primeira vez de novo. Tente olhar e não tente ver. Reflita a diferença e se deixe cortar. Amigo, parta de si e faça de novo em si algo brotar. Não queira segurança, não queria o chão, queira o céu e enfim, meus olhos marejados hoje serão lembrados quando num dia lá na frente você for se ler. Já são 22:26 e você vai dormir já já. Você está cansado e dormirá com um pavor contido. Com um medo delicado. Você dorme hoje ciente de que a vida é só uma forma de lidar com os sonhos.

Nossa.

2 comentários:

Vini disse...

Se eu estivesse agora com você, passava um café pra gente... :)

Diogo Liberano disse...

amigo, como são as coisas, não?! não tem motivo, eu não estava procurando, mas achei esta postagem e achei nela seu comentário, e nela, na postagem, leia o último parágrafo. é para ti. desde 2011. é para ti. beijos,

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