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domingo, 9 de agosto de 2020

Axs que partiram, axs que ficaram

Por um segundo
lento
Apenas imagino
estar assim
meio vago
meio lá
meio ao meio

Imagino a possibilidade
de ter perdido
alguém
Imagino a realidade
que se hoje
é real para tantxs
ainda não o é
para mim

Olhos empoçados
um silêncio tremido
não há volta
nós sabemos
o mundo segue
em precipício

Por tanto imaginar
realizo
eu trancado em casa
eu atento às mãos
e suas máscaras
eu com medo
e, sem dúvida,
com a paz trêmula
dos privilégios

eu por poder comer
por ter casa onde dormir
eu por conseguir trabalhar
eu por ter dado a sorte
de continuar e
entre atos
reclamar do cansaço
que é não poder sair

Imagino
como quem vislumbra
outro dia
imagino
saídas, fugas, voltas
imagino rimas e risos
imaginaria
não fossem cem mil pessoas já partidas

Se cem mil se foram
quantas mil pessoas
ficaram
quanto mais que mil
ficariam?
inertes?
imberbes?
irritados e chateados
impossível alavancados
ao quê?
a quem?

O dia demora a passar
a noite dança intrépida
meu desassossego
não sei
olha, eu não sei
viver nestes tempos
não têm sido bacana
nem leve ou bonito

vivo o medo.

sábado, 8 de agosto de 2020

Remoto

No turbilhão de sensações
estacaria, terminado.

Mesmo que trocasse a terra
dos vasos
mesmo assim
estaria vencido.

Ainda que lavasse as louças
todas elas
e que perfumasse atrás das orelhas
ainda assim
se veria acabado.

-

Hoje ele remonta
os passos dados
sem força
revê escolhas feitas
na busca
por outro destino.

--

Ao seu lado
sonolenta
a poesia acordaria
fazendo perguntas vãs
ela agora me olha
e ao me olhar
me azucrina.

---

Ele que sou eu
ela que sempre me foi
o que fazer de nós?
o que fazer com tanto
o que fazer
apesar de tudo?

----

Uma distração, talvez
nessa tarde
tudo o que eles precisavam
teria sido uma distração
para desviar o carro da curva
para atrapalhar a velocidade da reta
uma distração, por fim,
teria postergado este fim
para outro depois.

sábado, 1 de agosto de 2020

Fim

A coragem traz consigo alguma dor. Traria o fim algum novo início? Pergunto-me, perplexo. O que fiz? Que fazer? O que se passa?
Tenho receio de com o fim trazer a perda até mim. Tenho receio de ser sinuoso e querer trazer o fim não para mim, apenas para os outros. 
Seria possível partilhar a tortuosidade de tudo isso? 
Não sei o que fazer. Inominável sensação. De querer continuar sem saber como. De não querer parar sem saber como faz para andar adiante. 
Estar em roda nem sempre é conseguir estar de pé. De pé, ereto, autônomo e orgulhoso, como faz para fechar os olhos e se lançar? 
Pesa o peso. A responsabilidade real é inventada. Uma construção. Uma relação construída.
Constrói como? O que está arruinado, como reconstruir? Haveria outro movimento possível? 
Posso parar de perguntar? 

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