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domingo, 30 de abril de 2017

não há nada lá fora

Tanta tanta mazela
tanto risco em andar solto por aí
Tanto mundo se desmundando
Tanto verso que é tiro
verso adulterado
Tanto horror
hoje
como antes
Amanhã, o que lhe dizer?
Tanta criação horrível
tanto horror plasmado na superfície dos olhos

Difícil é isso de viver.

Difícil
se o mundo que se quer recriar
não nasce, antes, em cada um
No dentro
interior subjetivo
de cada um
Nascerá onde o mundo
que excluíram da vida
ao nomeá-lo sonho?

Ele nasce?

Tem raiz para ousar?

Ele frutifica? Como há?

Que mundo é esse que só existe feito queimação
impróprio mundo imaginado
mas todo desejo.
Mazela
Criação
eis um risco nisso
risco mesmo
de seguir como quem não se importa
de permitir
que te abatam
e você sem força para gritar

Parem! Homens, sufoquem-se!
Parem de exterminar a vida com seus cassetetes!

Estranho mundo esse que caminha entre abates.

Não teria solução.

Sebastian Wickeroth.

A vida, desde já faz tempo,

é indiscernível da complicação.
Seguimos, compartilhados
no espanto inexato
do presente doente e crente
de que um futuro lá fora
nos espera para a ceia.

Virá?

Risco é o futuro.
Horripilante constatação:
não há nada lá fora
é tudo coisa de seu dentro que dói
Não há nada exceto o agora
que morre
e só morre
e morre outra vez
e a outra vez mais
é sempre quase
é sempre o agora

fratura no tempo
espaço perdido
o agora
é só o que há
nem corpo
nem sentido

agora risco
traço agora
agora precipício
em si

dentro

profundo

pergunta uma emana

como recriar mundo
se tu não consegues nem
recriar a si mesmo?

Killian Rüthemann.

te assusta?
perguntas para as quais
tu não tens saída?
te assusta
enfim
a vida?

eu te vejo
vejo o cigarro
vejo o escárnio
pelo qual
profanas todo e qualquer beijo
para o começo
um beijo
eu vejo

vejo a sua facilidade
em tirar o corpo
é assim, não é?
vocês dizem isso
de tirar o corpo
de sair
de não se comprometer
de fugir

sem perceber
que fugir é também
um modo de viver

como você vive?

você me olha
com cara de quem ainda
não aprendeu a confiar
num poema

como?
eu te pergunto
vendo o seu derretimento

como?
diz, rapaz
diga-me sobre as suas habilidades
para enfrentar essa tremenda época
diga-me sobre o seu pacto
com o medo

com o medo

o que você faz?
como?
de que modo?
te interessa falar sobre isso?

você me olha
o cigarro ainda apagado
você o acende
imagino
e pensa
penso eu
acendo o cigarro não para me tirar do embate

isso é bom
é um início
é já outra tarde

o que você faz?

saio da clausura de meu apartamento
mudo de país, por um instante
uns dias, uma semana, quase isso

e daí?

escuta
saio da segurança
do conforto e das certezas
vou só comigo
para ver no outro que me estranha
se existo apenas para meu vícios
ou se posso também existir para
compor junto outro caminho

compreende?
você me pergunta
sem nem perceber
eu fico mudo
eu não tenho que te dizer
eu fico quieto
não como quem foge
mas como algo que
te convida a ir
e não mais a dizer

não diga

afunde

precipite

o risco é apenas este:

morrer como quem vive

ir como quem não se importa mais em ser.

ir como quem não se importa mais com o se.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Sala de Casa

Não vai dormir?

Sono não me falta.

Falta?! Por que você ainda usa essa palavra?

É mais costume ao dizer do que propriamente trauma.

Espero mesmo que seja só o costume. Que já não é bom.

Demora um tempo até o sofrimento virar afirmação.

Explique-se.

Demora. Até você explicar ao seu corpo, fazê-lo entender que o sofrimento, apesar de genuíno, é despropositado.

E como você faz isso?

Gasta tempo. Tem que se deixar sobre o chão de casa por horas a fio. Mas sem relaxar. É preciso ficar atento. É preciso concatenar os fatos e fazer com que se perceba que apesar das belezas, apesar das revoluções, ainda assim, um corpo é sempre só. Só um corpo só. Ainda que acompanhado, um corpo é sempre só um corpo.

Teoria confusa essa.

Não precisa ser outra coisa.

Mas é clara? Eu pergunto: para o seu corpo? Ele, o seu corpo, ele entendeu?

Sim. Não tenho dúvidas.

Como você consegue?

Ele compreendeu e não precisou dizer nada. Balançou a própria cabeça, não em consternação, mas em compreensão.

Nem teve lágrimas dessa vez?

Nenhuma, acredita?

Acho precária essa sua situação.

E a sua não?

A minha?

É.

Ah, é outro tipo de precariedade.

Diga lá.

Não sei se posso.

Por quê?

Não compreendi de fato tudo o que estou sentindo.

Ah, então algo te falta?

Rancoroso você, hein?

Não, mas se escute: "tudo o que estou sentindo"! Tudo mesmo?

Não quis dizer isso. Foi costume. Como você disse anteriormente.

E o que mais?

Eu estou inflado. Estou completo. Essa é a minha condição mais precária porque me faz esquecer de quem eu sou, de como eu sou quando liberto de tudo isso, sem todo esse... Como se chama? Esse, não é amor, esse enamoramento todo, compreende?

Ele se deita sobre o chão da sala.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Praça Pública

Como você está?

Pareço angustiado?

Não diria, apesar dos ombros altos.

Meus ombros?

Estão altos novamente. Excitados.

Não estão excitados.

Estão tensos. Preocupados.

São muitas responsabilidades.

É o que mais?

Nada mais. Tem algo mais além disso?

Tem tudo aquilo que julgamos desnecessário.

Vai me dizer que isso importa. Eu sei.

Sabe que eu vou dizer ou que importa?

As duas coisas.

Que coisas?

Sobre o que poderíamos conversar?

Você está apaixonado.

Um pouco.

Consegue medir?

Estou tentando não exceder os limites.

Há limites?

Sim, eu inventei alguns.

Para quê?

Não sucumbir.

Oi?

Estou muito apaixonado.

E não está sendo correspondido?

Estou.

Então? Falta o quê?

Ele aqui.

Ah... Entendi tudo...

Por que a reticências?

Quais?

Essas, na sua fala anterior.

Eu não usei reticências.

Usou sim. Deu para ver.

Certo, eu usei. Duas.

E quer me dizer o que com elas?

Que de novo não, né?

Não é de novo. É o mesmo, mas diferente.

Por isso você fala de limites, de não sucumbir, porque você já sabe onde tudo vai dar.

Eu deveria não sentir o que estou sentindo?

Você não deveria estar aqui comigo. Não sou uma boa companhia para amantes do amor.

Ainda nessa? Você ainda está nessa?

Estou.

É direito seu. Como é meu estar apaixonado.

Cada um tem o que merece.

É. Ou aquilo que quer merecer.

Tanto faz. Eu vou embora.

Vá...

Você usou reticências?

Usei. Para deixar a conversa em aberto e você poder voltar.

Obrigado.

Nada...

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Disrruptivo

Cambiei o destino previamente traçado.

Tudo seguia, tudo seguiria
um pouco mais
Porém, de fato,
Hoje tudo transtornado.

Agi como se não pudesse
esperar
Sem esperança, agi direto
Desfazendo o que mais amava.

Certo ou errado não fazem sentido.

O que sinto é maior que o grande
ou o imenso, que um pequeno ou um frágil
O que sinto agora, após tamanho desvio
que fiz para outra direção que não
Seu peito
O que sinto sobrevive cá comigo.

Lo que siento sobrevive.

Por mim
Por ti
Por nós quando formos nós
Novamente
Noutro abraço

Noutro agora

Noutro aqui
y ahí.

domingo, 16 de abril de 2017

Uma tristeza

Acontece, não?

O que fazer?

Costumas dizer que é importante
lidar com a atualidade do que tens
que é sábio perder os ideais
Viver com os pés no chão.

Mas,
e quando dói encarar a realidade?

Dói, apenas.

Tem que doer.

Você viveu o momento?
Viveu as coisas todas sem antecipar
este, agora, presencial, tormento?

Sim, mas não.
Não, mas sim.
Talvez.

Mais uma vez.

Eu perdi.
Eu o perdi.
Ele, o outro.
Eu, ainda hoje,
estrangeiro de mim.

Para Lucho.

sábado, 15 de abril de 2017

Hermoso

Sus ojos.
Deja que te mire ellos.

No sé las palabras exactas
Para decir todo lo que siento
Después de estar con usted.

Usted eres solamente vos.

Solamente.

Sobrevivo en silencio
Miro a la belleza de su sonrisa
Y el me dice:
"Gracias por estar con ustedes".

¿Algo mas?

No podría decir.
No importa.

Podríamos hablar de aviones
Yo allí y aquí
Estamos en el camino
sin nombre

y entonces,

Un beso más.
Y otro.

Aquí.
En el ojo.
Ceja.
En el brazo, el pecho
espalda
En todas partes
Hoy somos un cuerpo que viaja
y luego otro mundo se vuelve.

Nuevo.

¿Como se llama?

Este?
¿Qué?

Como llamar a esto lo que sucede entre nosotros?

Para Lucho.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

introdução

ao menos
uma diferença
por um dia
que seja
ao menos uma
uma diferença.

deverás introduzir
a cada manhã
um gesto
que seja
apenas um
mas, diferente.

poderás saltar
dar um salto
dar um sorriso estridente
dobrar as pernas
como se quisesse
dar-se um nó.

de fato
não pode assim ser tão fácil
ver o costume te plastificar;
introduzir uma diferença
a cada dia:
eis o seu novo princípio.

para quê?
perguntam os céticos
em plantão online
sozinhos e ultra comovidos.

ora,
eu respondo sem metáforas:
é para duvidar
para duvidar de quem se é
para questionar não os motivos
mas os gestos.

questionar os gestos
os hábitos e suas morais
questionar não como quem espera resposta
mas como quem deita
ao longo da parede da cozinha
colado ao chão sujo de refeições passadas;

duvidar como quem inscreve neste mundo a dita febre
cousa louca e insensata.

ao menos por um dia
num instante
feito um raio
que foge do sol
e desnorteia a inteligência acostumada
eu te peço:

tome o café da próxima manhã
com a cadeira da cozinha
sobre você sentada.


anônimo

sábado, 8 de abril de 2017

Iago

Nem sei o que dizer.

Passei.

Vi por trás.

Cruzei a rua.

Deixei para trás.

Sentei na calçada.

Passou por mim.

Olhei.

Olhou.

Olhamos.

Seguiu mesmo assim.

Fiquei.

Olhou de volta.

Olhei.

Andou.

Olhou de volta.

Eu continuava a olhar.

Andou mais.

Fiquei olhando.

Olhou de novo.

Meio que sorri.

Parou.

Apaguei o cigarro.

Quantos metros?

Uns oitenta, cem, cento e poucos.

Ele veio.

Bebi outro gole.

Ele disse oi.

Eu também.

Iago.

Diogo.

Um beijo.

Outro.

Outro beijo.

Beijo do outro.

Disse adeus.

Disse tchau.

Passou assim.

Assim estou.

Beijado.

Estacione

Vem
Pare aqui
Ao meu lado.

A fumaça por vezes passa
Resta o silêncio
Entre nós
Querendo desatar.

Vento frio
Leve frio
Mas frio

Noite branda
Escura noite essa, não?
Por que não?

Confesso
Sua letra
Seu cabelo. Seu sorriso
Aquele abraço

A beijoca
Assim que se diz?
Aquele beijo estridente
Estupendo
Aquele
Aquilo
Isto
pois então

Fiquei demente.

Não pare
Não parte
Não vamos terminar

Continua
Mais
Mão no rosto
Abraço no laço

Não estacione
Vamos
Força

Até já, meu bem
Até já.

Subitamente

Tudo se choca
Mas nem tudo desmorona.
Algo fica, inerte e dolorido,
Acenando ao futuro
Outro possível que não o vivido.

Você estava lá
Lá você esteve
O baque o susto o tiro
Tudo é tão instante

Você está aqui
Aqui você estará
Uma noite ou duas
Quem poderá te dizer?

Inerte em poesia que machuca
Lentidão para quem não tem calma
Música longa para quem não tem
Escuta,
Pare
Um pouco, o corpo lhe pediu

Repasse para o fortuito tempo
A solução do seu desencadear.

Você ainda está vivo
Então viva o que a vida te dá.

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