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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Pilha

de livros
de roupas
de papéis
de energia
de sujeira
de asneira
de sonhos
de fantasia
de letras
de parágrafos
de pontos
de filhos
de mortos
de cacos
de catástrofes
de prantos
de ti
de você
de nós
de manhã
de noite
de tarde
de imediato
de súbito
de trás
de frente
de fósforo
de cigarro
de cinzeiro
de janela
de conversa
de café
de beijo
de pele
de idas
de voltas
de tremedeira
de horas
de convívio
de necessidade
de avanço
de histórias
de tentativas
de erros
de vontades
de conceitos
de contatos
de prazer
de sorriso
de exuberância
de morbidez
de susto
de pressa
de calma
de torrente
de tormento
de torresmo
de poeta

que seja este ano
de novo o que se inicia
que seja este ano
pura poesia
dura como bala
rente como via
que seja este ano
t r e p i d a n t e
feito esta hipoglicemia.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

boba

vc tá boba
vc foi grosso
vc tá boba
vc foi realmente
grosso?
sim, vc foi
cê tá boba?
sim, sempre fui
e não vai parar?
vc primeiro.
eu por quê?
pq não era grosso
ah, não era?
era gentleman
era o quê?
cavalheiro.
era nada
era sim
nunca fui
uma vez
quando?!
sim!
quando?
qndo me viu
na primeira vez?
sim.
na primeira vez?
sim.
eu fui bobo.
e gentil.
e depois parou.
depois parou.
e pq não voltar a ser?
bobo?!
a boba aqui sou eu, né?
sim, é vc.
e quer que eu mude?
tudo o que eu mais quero.
muda comigo então.
tá de sacanagem.
agora eu sou grossa
e eu bobo?
vc bobo
e vc grossa
vamos ver então.
vamos ver então.
se a gente se aguenta, antes de exigir do outro esse parto
que é vc
e vc
sim, eu tb
nós dois
vem aqui
como assim?
eu disse vem aqui, anda
o que é isso
já comecei a ser grossa
eu
bobo
eu
bobo!
eu
cala a boca e me bja
ah?
bjá!

bjam-se.


agora mama
ah?!!
mama!
como assim?
mama me olhano.
!

sonhos de cafeteria

pouso a cabeça na cafeteira
sonhos prolongados com papel
canetas esferográficas de vidros
dedos recortados com tesouras
e recolados por curtos adesivos
- todos eles coloridos -

pouso a tesoura no papel cabeça
curte ela ser recolocada em sonhos
prolongados com adesivos recortados
de vidros de dedos e sim de canetas

- perdoem-me, mas
ardem-me sonhos
doloridos de cafeterias
passadas -

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Escambo

Troco este verso por você aqui,
Troco este computador pela sua mão
Troco esta xícara - sem café - por seus braços
Troco o café - sem garrafa - pelas pernas
e o dorso, eu o troco pela garrafa térmica (perdão, acabei de encontrá-la)
ela, recipiente apropriado no qual você, aquele que me faz hoje escambar
poderá guardar o café e amanhecer feliz.

Espera, eu troco mais coisas.
Eu troco os livros, a peça de teatro e a nova dramaturgia
eu troco cada caneta desta casa em férias
pelo desenho preciso da sua pele
e dos pêlos e das sardas e dos buracos negros
que ainda não tive o tempo para conhecer.

Eu troco mais, sempre mais!
Dou o caderno pela dentição
Minhas roupas pelas suas
E se você vier dentro
envio junto por sedex 10
todas as insulinas recém-compradas
Eu troco a ceia de ano novo
eu troco esta garrafa de água minalba
eu troco tudo
tudo
pela possibilidade
neste instante

só neste

de te abraçar e dizer:
tenho vivido mais ou menos
um bocado do que você escreveu
sobre você.

Agora eu pauso.

Um segundinho.

Eu pego tudo de volta,
eu pego tudo de volta, eu tô dizendo!,
Caso não me seja mais permitido
o livre trânsito de nossas partes.
Caso não me seja mais permitido
Estar e não estar
te ter e ter que te esperar
volver e não voltar
rir e chorar.

Eu não quero ser romance juvenil, prosa fácil
Não quero ser conto de fadas, não uso sapatos
E não quero gerar dinheiro,

O que eu quero
é bem mais simples.
É bem mais simples,
não precisa nem de nome
para acontecer.

indagação que não se indaga

sabe quando você afirma algo com tanta convicção, mas não por crer nisso desesperadamente, e sim porque a intenção é conseguir crer naquilo que você mesmo diz. pois então, isso é um caso.
sabe quando você afirma algo com plena convicção, mas em seguida nada em você se move querendo combater sua certeza, nada se abala querendo indagar seu peito. sabe isso?
pois então, eis o meu caso.

não consigo duvidar. não consigo conseguir motivo para achar que tem algo errado. a plenitude me arrasa. tenho medo de plantar eu mesmo sob o solo alguma bomba só pelo reconhecimento de que sim, sim!, sempre alguma coisa está descontrolada.

mas não. eu resisto. sei das dificuldades. sei que tenho eu mesmo sementes mil para encher o piso e afastar-me do caminho que não duvido neste segundo. mas eu vou mesmo assim. porque sabe as coisas estão todas indo, eu nelas me vejo estático, processando a ficção que virou meu mundo. meu mundo sem mim, apenas em mim ficionalizado, tornado conto para amante em noite solitária, tornado poema neste antro de poesia - perdoem-me, meus filhos - feita para suprir a pressão do bate-estaca.

é isso. estou disposto ao erro. ao grito, ao pavor. mas alguma coisa tem que se agitar no meu íntimo que não sejam mais as tais sinapses. elas me consomem, elas mesmo que dentro de mim me rendem e me invadem num movimento que não me permite achar nada mais divertido do que ser escravo de si próprio, da sua própria incapacidade de se ser.

vês como estou a embolar as palavras? quero embolá-las ainda mais. até mofar.

eis hoje meu corpo que não é dicionário.

eis hoje eu minha vida, ansiosa por morrer,
devorada pelo crocodilo
pelo tubarão
pelo assombro sinistro
deste verão.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

não chame o tempo

olha, deixa
quando eu morrer
isso vai virar algum ressentimento
e talvez nem sequer fofoca.

deixa, não se importe
eu também posso estar fadado ao fim
isso acontece.

eu não te pedi que me fizesse estrela
nem que me levasse junto na sua cauda,
eu queria abrigo sim
mas podia ser só um abraço
era para ser lúdico
e não
ensaiado.

deixa, é sério
se a gente da gente se perdeu
isso pode aquecer a tarde de alguém
isso pode virar ficção
confusão, que seja
mas não câncer
não dor
não algo pelo o qual
você ache que me deva pena
ou mesmo inda amor.

não vamos incluir o tempo só porque nele nos perdemos.

ele não tem nada a ver conosco e nada poderá fazer,
portanto

vamos reconhecer: não há nada entre a gente
e isso pode ser algo simples sim
com direito a pulo de linha
e pontuação final
mas não mais
eu te peço
exclamação.

eu te peço:
não sue e mantenha fria esta cabeça
alguém que não mais eu
há de vir
e te tirar para bailar:

é que eu cansei da sua tropiencalha.

elegia

poeto
isento do risco de ser deixado ao tempo.
as coisas que semeio
sobrevivem
não em mim
mas como sombra
deste que passa
e que passa
para, enfim
voltar meio aos remendos.

nada novo,
o que poeto é o meu essencial
é chuva torrencial e desmedido, eu
centro - pois tudo aqui é enzima
para digerir
esta nossa vocação
ao desnutrir-se mais
e mais
a cada dia
indo a fechar na frente
o que atrás viria

mas eu sinto
eu hoje eu sei
as coisas estão
mesmo
mexidas
e se me movo
aqui
é para garantir certa inércia
para que algum faminto
contemple a própria barriga
e reflita,
sábio é o desespero

se estou com fome
por que não comê-la
e viver sempre
neste auto
sustentável
que é a criação
de quem cria.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Ei vocês,

Eu não sou desses que fica falando com gírias para ser aceito pela juventude. Sei que vocês me sabem por inteiro e penso que posso ser quem eu sou quando quiser tratar dos assuntos mais corriqueiros de nossa convivência. Pois vamos lá - e creio até que vocês vão se surpreender - é que eu tenho observado como vocês são e como dizem o que dizem sem nem mesmo se perceber. É fato que a culpa primeira é minha, mas eu não gosto de culpa e desde já livro todos nós dela. Eu quero dizer, é cada um. Estou faz horas olhando a prole, como costumo dizer a vocês. Olhando apenas, para ver como andam, se estão vestidos, se foram cortejados ou difamados. Eu escuto coisas de vocês e preciso manter a vigília, caso contrário estou arruinado. É brincadeira. Não tenho problemas com isso, agora, com certos dizeres pronunciados por vocês, sim, por vezes quero matar um de vocês picado ao meio, obliterado, alterado, refeito e reformulado. É certo, vocês sabem, que às vezes limpo uma coisa ali, ajusto uma meia meio caída, costuro um buraco na camisa... Enfim, certo cuidados que todo pai - como eu - costuma ter.
Agora vamos com calma com essas observações tenazes sobre como as coisas são e devem ser. Amenizem esses verbos no imperativo, eu lhes peço. Sejam mais doces, continuem sinceros, mas tenham leveza. Tenham toque como eu sempre tive e não reproduzam hábitos mal-passados. Eu não sei com quem eu me meto toda vez que olho em um de vocês este tipo de língua, este tipo de lapso. Sim, por vezes me envergonho, mas abro a janela e o dia me convence e diz, são crianças, como você um dia será, não se importe, se não passar agora, quando a morte vier, vai passar.
E então eu durmo tranquilo sabendo que em vocês as coisas se agitam e problematizam.

Eu não deveria dizer
mas esta madrugada persistente
este café ainda quente
botam o papai comovido ao diabo.

Do seu,
Diogo Liberano.

Homônimos

Meus filhos,
peço desculpas. Não é por mal. Mas é que a sua quantidade me faz, vez ou outra, usar um mesmo nome duas ou mais vezes. Opto, nesses casos, quase sempre por uma pequena distinção quanto à língua original do nome. Exemplo: se um foi Darlei, outro pode ser Darley, ou Darney, enfim. Queria dizer que não é por mal. Queria dizer - de uma vez só - que vosso nome é só uma tentativa de organização. Que o próprio corpo de vocês condena já desde o princípio.
Ou seja, o nome não serve para nada. Não se impliquem e rivalizem por causa deles.
Sabe por quê? O papai lembra de vocês não pelo título, mas pelo o que corre dentro de cada um.
Acreditem-me, eu vos peço.
Sem mais delongas,
Diogo

será?

que se um dia eu vender uma poesia
eu vou acordar rendido por versos?

ToCa

pouso a mão
é uma só
não se assuste
ainda sou eu
concentrado
porém
num só ponto.

oh, dó
se te vejo
quebro dentro
e em mim
te opero
cosendo partes
fazendo rima.

pouso a mão
morna
nunca antes
nem depois
pouso-a firme,
porém,
é minha forma
de dizer
tenho um plano.

vem,
diz um dedo
sobre ti
resvalando.
vem que tem mais
os outros
sobre ti
dançando.

uma só mão
são as duas
quando entra a noite
e resto aqui
ante ao teclado.

que mar
improvável
são as letras
sem teu corpo-
quadro
mar improdutivo
de ondas secas
e carinhos pequenos
mar diminutivo.

pousa a mão
mas tenho nos olhos
cerração.
não vejo nem ouso ver
sem você
só mesmo sendo ficção,
para ir e brincar
de pousar
sobre você-
porto
seguro em ti
e voo
ou não.

pouso a mão
aqui e recrio minha condição.
que poderia haver entre nós
que não isso
que não poesia
que não só
canção?

estamos lindos.

decisão

está tudo acertado
se o ano nascer pálido
volto a ele no vigor dos meus dias
por sobre o ânimo apaziguado
por sobre o controle e a apatia
hei de ser mais do que fui
hei de intensificar a ousadia
sobre as coisas
e sobre as peles

não saberia ser de outro jeito
tenho apenas 23 anos
e o mundo para mim
ainda tem jeito.

está tudo acertado
comigo primeiro
está tudo certo
amanhecerei pleno e potente
disponível ao tombo
e a dor
disponível às aberturas forçadas
que necessárias forem para o futuro

está hoje tudo certo
a utopia do futuro sou eu quem faço
a sorte, eu quem dito
tudo em mim eu apuro
e digo,
certo como agora o faço,
que o dia de amanhã será melhor
e mais possível ao imenso e inexplicável
fato

existir é sim esse ir para fora de mim
é esse imenso ir para dentro das coisas
e nomes,

existir é desde sempre em mim essa fuga
de mim mesmo para adentrar no universo
presente em cada gota
deste silêncio

que eu convido à rima
no trepidar das teclas
e no marejar dos olhos

nada mais serás indiferente à poesia.

venha dançar, eu te chamo
não tenho medo
pois então venha,
vamos nos desautorizar e fazer canção.

você me escuta?
então venha,
eu vou de qualquer forma
mas digo
eu digo
- e sinalizo -
com você tudo então
será mais divertido.

estava tudo acertado,
só faltava um você.

e agora, josé?
vamos?

sábado, 25 de dezembro de 2010

Inadapto

Como fosse
aqui acontecendo
não eu nem o agora
como estivesse aqui
acontecendo
a parte não escrita da minha própria história.
Vejo que tudo não passa do mim
que escolheram para saciar a falta
deste eu
que sim sou eu
mas assim,
amado pelo tempo
bem quisto nas curvas de tormentos e frações mil,
sim, eu não sirvo para interpretar o eu que não fui em mim.
E que dor é esta da inaptidão.
Eu queria poder sorrir e ter nisso mais que simples alegria.
Eu queria poder sorrir e te fazer ver
que dor carrego aqui dentro comigo.

----------
Enviada do meu celular Nokia

incômodo

Cama
centro
deito ao meu lado e contemplo
quão longe pode esse meu carinho ir
por sobre as coisas
por sobre mim,
eu contemplo
até onde será possível esse durar,,

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

desisto

de gente maravilhosa cansei
quero o concreto e o choque
de ser você quem eu não
esperava que fosse ser.

não tem problema.
eu não compro você num catálogo
e em ti, não há número de serviço ao cliente
tatuado,

sua pele é livre
e ser livre é o contrasenso mais apropriado.

eu cansei de gente pronta
de pele linda
camisa polida
e da polidez

queria hoje algo que existe.
hoje, eu queria ser
como kaspar
alguém que já existiu
e não mais tentativa.

burlo

quando você conta a um filho
comprei uma geladeira nova!,
pronto, ela já estará suja
quebrada
e você pensando
quando terá condições de comprar outra
outra nova geladeira nova.

neles há uma voracidade indiscreta
uma capacidade de destruir tudo
um voto desesperado e consumista
é sua forma de abraçar o mundo
e apreender.

mas não,
dessa vez eu aprendi.
não vou abrir
nem fazer por entre os filhos
considerações sobre tudo o que corre aqui dentro
assim, veloz, numa linha sem fim nem começo
eu fico quieto
burlo o nosso acordo
e tímido crio ficções para saciar sua fome
mas dentro
eu escondo.

e eles sabem
eu aqui digo
mas eles ainda não sabem
perfurar meus dedos
e entrando via peito ao coração
eles não sabem me fazer dizer tudo isso
que hoje
só eu e talvez algum você
podem compreender.

eu os burlo
para que não seja eu atropelado pela expectativa
de fazer sentidos
de costurar linhas
não, meu filhos
tudo está solto e assim deve estar
não tenho pressa
eu tenho sono
durmo
e acordo
e nisso descubro
ainda amar.

obrigado pela paciência,
um dia quem sabe
eu venho por meio destas mesmas linhas
e escreverei: estou amando.
ou morrendo.
ou enfim,
algum motivo aqui eu lanço
para vocês brincarem
e brindarem
e enfim,
ser eu resto
sob a sua alegria
ser eu personagem
do seu enredo-
fantasia.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

mãe,

no meio de tanta bagunça aqui em casa, eu acabei me esquecendo que amanhã volto para casa. por aqui uma desordem que me faz querer dormir, mas dentro, bem dentro mesmo, uma vontade tremenda de pegar o primeiro ônibus e viajar rumo a ti, para ir me apertar na cama que você diz ser minha, na qual sequer eu caibo mais. não importa. está tudo certo. os filhos crescem e você não tem que saber disso. nós, os filhos, é que precisamos aprender a brincar nessa ficção. ora, essa, essa barba aqui comigo é mentira. não é verdade, é pura brincadeira, é diversão. não tem porque se preocupar, existem coisas mais importantes do que eu ter crescido além do tamanho mínimo que você julgava essencial. veja bem: estou voltando para casa e isso faz as coisas ficarem todas cheias de rococó. tem vela espalhada pela casa, tem cachorro, panetone, fartura, fritura, copos e parentes. tem árvore de natal e um ano que se encerra diferente daquele que pensei ao dormir de novo ai, neste mesma casa, ano passado, antes desse começar. que bonito, que especial, dá vontade de firmar. firmar feito poesia, a única forma que vejo hoje ser capaz de aprisionar o tempo. não para prendê-lo, não para torná-lo imóvel, mas para tê-lo sempre que for preciso, para brindá-lo sempre que necessário.
estou cansado. aqui tem tanta coisa para arrumar. minhas mãos estão cansadas, entretidas entre tantas opções que acabaram - eu já sei - sendo as mesmas. é a minha forma de lidar com o mundo: não criar novos abalos sísmicos a cada respiração.
as coisas podem ser, por hoje - que seja -, mais simples. não?

motivo

seco
persisto no filme-janela
pela qual passam por mim coisas
e pessoas
e nelas refletidas
as minhas sensações
estremecidas,

me faço bem
vendo no outro
rimas minhas,
me aconchego
vendo em ti
minhas dores
minhas idas,
todas elas
as boas e as terríveis
as idas sem volta
as voltas sem mão,
que atenue a distância.

olho pelo vidro,
no olhar a lágrima descansa
não quer cair
quer apenas ficar
virar ruga
pedra
virar lembrança.
por isso eu a deixo
que posso ser que não somente porto?
para ir vendo sair de mim o rio
ir vendo sair de mim a torto
e a direito
tudo aquilo que no outro
eu vejo
que concebo.

é lindo estar vivo
e perceber-se indo assim.
é forte é duro é pleno
a poesia por vezes
é tudo o que resta de mim.

pedaço
fragmento
pequenitude:
dor fantasiada
de estrela,
com luz e tudo.

coeso

quando quebra
tu vens e me aperta
sei que então
tudo será conquistado.
quando racha
assim desse jeito
meio ao meio
meio concreto
despedaço,
sei que ainda sim
virás preciso
devolver aos cacos
a noção de contínuo.
quando quebro,
enfim, rogo-lhe
de novo
e outra vez
faz-se preciso
o que digo
em ruídos
e coisas que da boca
vergonhosamente parecem
sair
é tudo mistério
em meu lábio
sobrevivem
os sonhos
de um arquipélago:
desejo dourado a sol
capaz de apertar
e fazer verter.
eu te peço:
é isso mesmo,
você já sabe o que fazer.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

numero

poetizo
modelo capitalista
de acumulação
e ódio.
tento nisso
ser novo a cada verso
ser mais rico
e mais direto.
não consigo
metáforas
me tiram de mim.
saio agora
destemido
desorientado
descrente
e livre
de mim
do que não fui
do que sonhei
saio livre
de tudo aquilo que sei
porque há um mar
de ignoranças
que eu ainda não pude
navegar.


mergulho.
bom seria não voltar.

it

dói
aperta
esfria
acalenta
fomeia
desintegra
suja
alça
abre
fecha
corta
puxa
minha
seta
sexa
sexo
sinto
sejo
eu vou
e nisso fui
tu vem
e nisso eu fico
e assim
juntos
entretemos os peitos
e amanhecemos
menos fadados
ao desespero.

thank u, ficction.

again

i'm here
trying to worth for u
no
first, i'm trying to worth
for me
for me, i know
and for u,
after all

i'm here
using this word
called "you"
writing in signs
in sounds
like u
u
only this letter
you

i start a new poetry
everytime i think about
you
a new poetry
every second
i stay with out
u

and i die
every morning
drinking coffee
and not making poetry
i die everyday
eating food
and not you

see?
it's all about u,
my hungry
my jumps
my pains
all of these things
i made it for u.

absurdo

tenho eu sido
hipótese cada vez mais
improvável
incapaz de se crer
e levar adiante

eu tombo,
inoperante
alvejado pela responsabilidade
disso
e daquilo

eu hoje espirro
e tusso
e quero morrer
mas não sou
de fato
antes disso porém
eu respondo
eu envio
eu pergunto
corto e faço

deus,
como posso
ser isso que já não sou
ser espectro de alguma ilusão
que meu eu
um dia
sem mim
nisso foi
e se apaixonou

eu quero distância
para velejar liberdade
eu quero distância
para descobrir como faz
para ser aquilo
que hoje
mais uma vez
não posso ser.

tá confuso,
eu sei
tente então
me ser.

é pior
é terrível
tá ficando
impossível.

domingo, 19 de dezembro de 2010

crônico

nunca é tarde para reconhecer em si nova doença. não é bem doença, pois aqui neste espaço a metáfora convive plena com o verbo mais literal, com a ordem mais medieval, enfim... eu estava dizendo. nunca é tarde para em si reconhecer nova doença. e eu aqui pensando, meu deus, eu não consigo tocar na vida sem usar luva-metáfora que me faça nela chegar. como se eu não conseguisse dizer que as coisas na vida estão assim sendo esse assim algo de mais concreto e legível que eu possa escolher escrever, aqui registrar.
mas não, não é crônica. minha doença não diz dos dias, diz dos tempos, é mais longa e duradoura, não sobrevive porque é engraçada e fofa, sobrevive porque já faz parte da forma como vejo hoje em dia o que se tornou a vida. aridez implacável fascinada e ansiosa pela metáfora que a reconfigure e valide mais uma ou outra contagem do tempo.
não é doença crônica, é relato sincero. desempedido, sem se preocupar. é possibilidade de brincar de linguagem sem se estrepar. brincar construindo e desconstruindo, sem medo de ferir, porque tudo é jogo e em nosso jogo não queremos machucar. eu penso, isso de dizer sobre este tempo, está cada vez mais difícil.
o que foi que aconteceu que nós do tempo nos separamos e agora nele não mais nos vemos indo?
sim, vem ai uma revolução. nem silenciosa, nem violenta, nem nada. vem dentro de mim uma revolução que me faz olhar para mim e para o meu tempo, para a família de amigos - que hoje eu tenho - e enfim, de volta, a recuar, revolução que me faz olhar para as vias que abrem meu corpo para que tu possas passar. transite-me. eu sou flexível. eu vou aguentar.
há uma doença crônica em mim que é a necessidade de ser espaço para o seu disparate. pode me rabiscar. no banho a tinta se desfaz. e caso não, toda essa nossa história virará no máximo tatuagem, se lembra?
tinta presa à pele a fim de assegurar algum sempre.
pode ser que dê certo.

star awards

Novos cartazes da trilogia STAR WARS, clique para ver maior.
Amazing. Total amazing. Quero rever os filmes e lembrar do sabor da descoberta. Quando ainda menino eu pegava os VHS's e neles fazia miséria, secando a imaginação em apostas mil, indo sem freio rumo ao destino que o take seguinte pudesse me sugerir. Rosa, amarelo, verde e preto. Branco estelar. Árvores, céus, mundos, estrangeiro. Distinto. Disforme. Diferente. Passageiro. Tudo em movimento. Eu gosto, eu sou fã, eu fui criado menino imaginando o desfecho. E o tive. E tudo então virou recreio. Que bom é isso do mistério? Que forte, reconfortante e poderosamente belo, não?

te ver

putz
o que foi ontem te ver?

se já havia tanta gente por ali rodando
o que foi te ver e deixar aqui claro
ser você
e não você?

não que seja preciso,
mas é preciso esclarecer:
você é tanto você
quanto não o é.
você é tanto um
quanto o outro.
você é minha liberdade poética
minha resolução ágil e prática
para o problema do abandono.

mas eu pergunto:
o que foi te ver?
ali?
falar com você?
ouvir as coisas que você me disse?
rever nos seus gestos algo nosso?
eu não sei dizer
eu não quero

faz sentido?
isso de você se mexer dentro de mim
e criar um abismo de sensações?
faz sentido a gente voltar no tempo
só porque sorrimos juntos
e relembramos nossa confusão?

eu ia amar.
para me perder outra vez
para nisso me encontrar.

você,
que não se sabe se é você
você pode ser muitos
com muitos pode ir
e se entreter
mas eu não falo dos outros
eu falo
sim
eu falo
de mim
quando mim
sou eu agora
pensando em você.

decision

eu já tomei a decisão
antes de botar na balança
vi meu peito gemendo louco
e entendi a resposta
entendi ser preciso dizer
hoje, não.

já estou decidido
deste hoje não passa
isso eu já não posso mais
fazer comigo.

pois fica sempre um pedaço
dessa angústia
afetando o ecossistema
e meu corpo reagindo
implora
por sossego
por alívio
por pausa longa
e enfim
silêncio.

se vai doer?
ele quer saber se vai doer.
sim, vai doer.
mas dor é ponto final
que ata
coagula
e costura

não quero mais
não posso mais querer
hoje eu escolho o que quero
para permitir que amanhã
eu posso não mais o fazer.

faz sentido?
não importa.
desde quando eu quis ser dicionário
e não pessoa?
desde quando eu quis ser verbete
e não metáfora?

gastura

é normal
dentro do contato
todo
agora revisto.

é normal
que estejamos sentidos
melhor assim, eu diria
do que estarmos inflexíveis
corretos
e bonitos.

é normal
não vamos temer a normalidade
nem o que acontece hoje
com eu você e o mundo
é preciso,

repetimo-nos nos outros
nos outros somos nós outra vez
e agora, novamente
somos sempre esse ir
buscando no ato
a possibilidade de ser ciente
com ciente
com você
conjunto.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

MIRANDA NA RAMPA

on top

no
not that top
i'm just saying
on the top
of the pain
on the top
of the pain
i am today
on this top

top
the most
the cliche
the same
that much
that thing
that hurt
that, but

this
made for me
made from u
made from me
made for us
for me u
and we, again

believe
i could say
let's try again
but no
you told me
you've already say it
don't try
let's put the possibilities in time's hands

come ON
turn OFF the time
and look a second
that the time
is u who construct

i'm sorry
again
it's just to complicated
and that music
that remind me u
is playing again

so i'll go
dance that part
ok?
ok?
OK?

would u let me love u?
would u let me love?
would u let me?
would u let?
would u?
would?
wold?
wod?
wo?
ow
o
?

sorry,

i could stay right here
for a week
or more, i could stay here for a long time.
that's because you're not here
that's because i'm trying to paint a new meaning for my tomorrow day
that's because i'm sad
a little, i have to say
i'm sad because we couldn't be together outra vez
triste porque as palavras just atrapalharam nosso caso
and when i thought you had told me everything
eu recebo uma outra carta
virtual
dizendo-me o contrário
but it's too late
we can do anything
except
use the name friend
to dissimulate
our pain.

i'm sorry,
but i have to say
você poderia ter sido mais claro
não faz sentido
tudo isso ser dito agora como se sempre tivesse sido explícito
esse calor, essa dor, esse pranto, isso que a mim é direcionado
i'm sorry
i can't be responsable for the words you were trying to say me
but just forgot
i can't be responsable for your imagination.

i'm simple, believe me
you can come and say
hey, guy, eu te amo
eu vou entender
você pode also dizer
ei, eu te amo demais
sou perdidamente apaixonado por você

mas eu peço
just say it
não deixe preso
represado
não deixe em pensamento
porque depois será impossível
você ser convencido de volta
de que tudo não passou de ti
de que tudo de ti não saiu
de que tudo nasceu
sofreu
e morreu
ai em você
and not inside my mouth.

easy way

how easy is lost u
and make poetry
after the good bye

how easy is lost u
and make poetry.

writers could not love.
or you love once
or you create.

or
(there's always a way to escape)
or, i was saying
u can create unlove
and a play
about your
(and mine)
uncapable sense of reality.

sorry,

would u. no, u would not. you've already could not.

eu vim no taxi pensando nisso
trocando as músicas do mp3 que não sublinhassem isso
que agora eu ainda sinto.
mas subi as escadas
abri a porta
dentro um choro se fazendo
e eu nada.
tirei os sapatos
a meia preta deixo o pé preto como a noite
abri as janelas
tirei o short
depois mordi o mp3 player que do bolso saltava
e segurando-o entre os dentes
feito você
eu tirei a camisa
e fiquei só
janela aberta
peito arrasado

banheiro
sentei-me ao vaso
dentro de mim um pranto se formando
eu destemido me permitindo ser rachado
ao meio
ali sentado
sem fezes
nem urina
sem vontade
nem manhã
é ainda noite
e eu aqui dentro
querendo dançar essa desgraça,
me ergo
dou descarga
olho-me no espelho
e sem tirar os olhos de mim
- me vigio -
espalho o líquido sabonete entre as mãos
e faço correr pela pia rio cheio de desespero

do banheiro a sala
me orgulho um segundo por ir dormir mais cedo
e nada
penso em você
e só de pensar eu já o tenho
aqui expresso
nessas linhas
nesses todos verbos
tudo incapaz de te deter
mas inda sim
tudo possível
porque não cessa
não acaba nunca essa minha ilusão de poder vir até aqui e sofrer
e sofrer
até gastar todo o dialeto
e calar silêncio.

quero dançar
agora
quero chorar
e não consigo.
está cada vez mais difícil
mas sei
apagarei a luz e vou dançar
essa música que agora começa
e já vai explodir

sim
ainda estou dançando
saí daqui
fui até a sala
apaguei a luz no exato instante
que ela aqui começou a cantar
would u let me love u?

e já no escuro
me senti quente e disponível
livre de vergonha
e ainda assim
contiunuo agora
trepidando os dedos como fossem meus poés sobre o chão

baby
let me lover u long time
eu não quero saber
sei de cor esse teclado
essa letra essa tentantiva

não importa
,mimnha poesia transpira aora livre de mim
livre de ti
eu ártp s´[o
e agorta temnto manter a precisão que não ytenho
nem domino
estou só e partido
mas danço, inda assim, eu danço

oim
eu querias
deix
estou tentando te sentir
aqui
comigo
meus olhos estão fechados e cacreditem
estou sem ver letra
estou só indo dentro
buscar meu peito arrasado
para deitar a mão sobre ele e abraça-lo
sem esforço
cabe o peito numa mão
cabe meu peito hoje mexido dentro de minha palma
cabe ele nessa canção

eu continuo
contunuo ewscutro
não importa
se vc não vai entender
eu tb não me importo



desisto

sábado, 11 de dezembro de 2010

spend-me

duro
com a persistência tenaz
de quem tem fome.

sobrevivo,
eu diria,
feito máquina antiga
que de tanto pesar
optam - os modernos
por ali a deixar
entregue ao tempo
indiferente à ferrugem
para enfim
virar relíquia.

morro, eu sei
achando poesia em coágulos
vendo versos em veias cansadas
e protestos em roxos machucados
eu morro
e nisso sei
o que poderia eu fazer
para validar est'único ato?

Eu gasto-me
e gosto, devo dizer.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

des

faz esse sorriso
complica nossa existência
[o que pode haver entre nós que não seja mais essa]
atenção? esse
assossego?

complica isso
faz o que fizemos
trói a dor que juntos
medidos
[um dia tecemos].

sirré, eu te peço
mobiliza as armas
arma o seu peito
[e assim, eu te peço}
sirré,
canse ao meu lado, sem tentar ser sentido, sem tentar
fazer
[isso que não podemos mudar]
[isso que chamamos ser, oh]
amor.

tu

rbante
nísia errante
que não é tu
que me agrada
nica
, nívia
que persiste em mim feito
rbo, feito
mor
mor mór
mor genuíno, que consome no primeiro toque
do
, dor
<<
do.

auto

móvel
crítica
made, eu diria
mático
mágico
maze, eu diria
fágico
fágico
eu diria, auto ri baixo
auto ri quente
dentro e sem fim
auto ri sem problemas
ele zomba de mim

quem é ele?
móvel incapaz de dizer
se vem
quando vem,
se é para mim
ou para você

ópsia
opsiu
opps...sei

aperto
canseira
desgaste
nólogo
tário
vel
bilete
difícil isso
le não é
rte
rte a ele
ele que é mó sem noção.

para não dizer
nem ser
nada falar
para sentir
apenas
seguro preciso
as partes
e gemo
apenas
algum resquício
possível
de sentido a você

compreen?

isso

não vai acabar bem.
mas, quem foi que disse
que é preciso acabar?
quem foi que disse
que é preciso acabar bem?

certas certezas são antes porém aprisionamentos.

eu estou bem e mal
solto assim neste tempo.

não quero mudar
quero seguir
para dentro
para fora
para dentroefora
do furacão
tempo
cujo eixo
presente
me algutina.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

quase tudo

exceto você.

você que não vem
que não sede
que não send me even an email
que nem sequer liga
você que continua trancafiado
em seu castelo

esperando o quê, eu pergunto
eu não sou godot
eu tô afim de chegar
me ajuda
ajuda eu?

ajuda eu

ficou estirada sobre a cama
perdida entre o lençol mexido
ficou ali
quieta e sem respirar
parecia morta
desprovida de mim,
eu diria

ficou esticada
jogada aos pedaços
toda fudida
toda cagada
ela hoje amanheceu sem mim
e nisso eu agora vejo
ela continua sem mim
desesperada

e eu deixo, sabe?
eu nem ligo
hoje eu a liberto de mim
e deixo com que morra
no seu tempo
é preciso
estou cansado de ficar cansado
cansado de olhar o mundo num tempo específico
e lento
e autoritário
e sempre sobre as coisas lançando esse olhar com peso
essa dúvida eterna
esse eterno desconfiar

não, quero ver simplicidade
quero ver sua boca boca
seu peito peito
e no enrijecer dos seus pelos
talvez apenas ficção.

não. hoje as coisas são mais simples
não tem suicidio
não tem desistência
hoje tudo caminho lindo firme
e com paciência

uma pausa, por favor
um segundo de paz
de prece
de cura

ninguém aguenta todo dia a mesma tortura.
existir precisa ser mais simples e divertido
para que seja possível ainda
e de fato
ser.

ajuda eu?

domingo, 5 de dezembro de 2010

azulejo

deitado sobre o chão do banheiro
piso azul, quadriculado preciso
e gelado
contra à perdição
deste momento.

deitado nele
ia eu pleno
ia eu lendo
o jornal de domingo
vendo utopias minhas
nas notícias
se discernindo
querendo tudo acontecer
virar fato.

será que me movo
acreditando no improvável?
será que serei sempre assim
alguém crente
incapaz de ver o fato
para além das folhas de um jornal?

não, não mesmo.
estou crendo em algo distinto.
não, eu sei
eu preciso
crer nisso que alimenta o meu ir
crer nisso que não sei como faz
mas que é preciso
para assegurar o movimento
pelo qual
faço a vida
ser evento
algo assim não todo ido no tempo
algo assim
num ritmo de um repente
um estalo
um de súbito
um frio sutil e delicado
rompendo o calor das horas
e deitando pleno
sobre o azulejo-caixão
tudo azulado.

doenço

me invade a abandona
amanhece o dia e me toma
para depois
no iniciar da tarde
desistir de mim
partindo num sorriso ameno
partindo sobre as louças
e por entre a poeira do quarto.

então me volto ao espelho
e me pergunto:
estaria você doente?
porém meus olhos miram-se
cansados
é possível estar doente
por tanto cansar?


consinto.
dentro algo se move
lento e devagar
e nisso vou eu indo
eu indo sempre acreditar
em algo que neste instante
é já tão improvável.

sim, estou doente de cansaço
não há sintoma fisiológico
é peso existencial
é doente filosofado
que de tanto pensar a vida
passou do ponto
e desceu na primeira esquina
onde as ruas não tem nomes
nem números as casas têm
porque não há casas
e só, o deserto estala
pedindo comiseração.

tem fim?
não.
espero
no resvalar deste
e noutro segundo

permaneço, eu sei
sou feito da persistência
sobre o mundo.

quem é ele

que me encanto
quem é ele
que sorri assim
sendo nele só
plano
e contra-plano
quem é ele que sorri
quem é ele quando assim
se esvazia
abrindo o peito
e revelando a fragidez.

quem é ele assim vermelho
assim no vento
assim sorrindo
com estes cabelos
quem é ele que revolve
em silêncio brusco
o rumo de seu desespero
quem é ele
capaz de se reorganizar
no impossível

quem é ele dentro de mim
a me guiar
quem é ele em mim
que eu não sei
nunca vi
nem gosto tenho
quiçá saber

quem é ele
que não sou eu
nem você

quem é este ele
que acreditei aqui deter
quem é
quem pode ser
que não eu?

chá

gostaria
não tivesse sono
não tivesse solidão
não tivesse esse silêncio
aumentando em tanto
a distância minha
da cozinha.

esquentaria
não já tivesse quente
não estivesse dormente
querendo gelo
onde há apenas pele
flamejante em calor.

beberia
sem pensar no amanhã
feito fosse veneno
arsênico
feito fosse algo capaz
de tudo o que hoje não sou
porque estou cansado
e isso precisa me bastar.

viste?
não consigo
morrerei apenas
no dia em que morrer.
até lá
resvalo sobre mim mesmo
e o sempre nunca o é
e o infinitivo nunca sempre procede
posso ser tudo e mais um pouco
posso ser hoje somente prece

resvalo
é essa minha condição.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

i

when you hear this word
you maybe will think
that i'm talking about me
when you hear someone
telling the word
i
you may think
that it's all about one
all about lonely
and these things
that can kill every
one of us,

but listen
just listen
forget the word
forget the meaning
just listen
that i
it's only
a piece of pain

a piece of pain
a piece of pain

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Tesão


Dos filhos é o mais ousado
o que dá mais trabalho
o que me impede de dormir
De todos eles é o que dá mais trabalho
sempre tudo é pouco
sempre muito é quase nada
Por isso, hoje, filho meu
eu te abro ao mundo
te corto e revelo sua cara
para que não me consuma tanto assim
e se entretenha
com os outros
que mirarem seu rosto
e rirem da sua cara.
Conseguirás aguentar?
O desafio é todo seu.
Mas saiba:
te amo,
caso isso ajude em alguma coisa, saiba:
te amo com a força
ainda sequer inventada.

http://desesperandogodot.blogspot.com/

oras

eu quero dizer,
você poderia ter se machucado...

eu ainda posso.

não é isso
eu estou falando
por que você anda o dia inteiro nu,
sem cuidado?

está calor. você não sente?

sinto.

e o que você faz?

não tem jeito.

não tem jeito?

não.

e o que você faz?

como assim e o que eu faço... para com isso.

com o quê?

com esse jogo.

você não gosta?

não. não te entendo.

te assusta?

o quê? o que é que me assusta?

o não saber.

como?

o não saber.

me assusta? sim, me assusta.

e o que você faz?

não tem jeito.

não. você faz sabe o quê?

o que é?

você condena.

eu condeno?

você condena.
tudo aquilo que não compreende.

para com isso.

o pior burro é aquele que não quer aprender.

espera!
você me chamou de burra.

você se chamou de burra.

não reverta o jogo.

que jogo?

para.

o quê?

deixa.

não tem jeito, né?

é.

então me abandona. vai.

[...]

agora você emudece, viu?
talvez esteja aprendendo alguma coisa.
eu me vou.

sábado, 27 de novembro de 2010

Mutilo

Mudo ao som do sonífero
Subo à cama e dela despenco
rumo ao mais profundo
abismo

E fico,
nas horas sigo entretido
Que pode haver na escuridão
que já não seja sabido?

Fui eu quem me mordeu primeiro
Eu quem primeiro maculou meu sorriso
Eu quem antes de ti já me tinha partido
Eu, antes da mãe e do pai
que na manhã domingo
quebrei o predileto brinquedo
eu que me fiz fome
e me dei sede

Eu que me trouxe a doença
eu que me afastei de ti
Pelo quê então posso ser rendido?

Se dentro da boca
conservo a carne dela mesma em pedaços
Pronto para saciar
esta fome que não me abandona nunca
Este silêncio que sei desde antes
carregar preso dentro do umbigo

Este vácuo, ouve?
A vacilar em meio a tantos risos
que em mim mutilo
para nunca deixar de duvidar
da perdição que é escrever
o próprio destino.

ce n'est pas fini

cessar a busca
ele escreve sobre a testa
mas não vê
que no reflexo dos espelhos
o que se lê
é um emaranhado de letras
flertando ao mistério

cessar a busca
ele tinge sobre o peito
mas não percebe
que é no atrito com o alheio
que se dilui em partes
sua certeza regra e meio

cessar a busca
ele escreve em cada estrofe
mas não assume
que virá sempre adiante
nova estrofe a condenar
o seu verso frígido
posto incapaz de assegurar este instante

todo já ido,

todo nunca já acabado,

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Neste rio

A violência neste rio não termina em afogamento.
Termina antes no calor profundo
na correria mata adentro
Termina alvejada e não úmida
termina sem chão
arrastada
em praça...

Neste rio a violência não termina assim.
Ela volteia sobre si própria e refaz sua condição.
Hoje ela sapateia sobre si mesma
e nos revela esta opção
uma estranha possibilidade humana, não?
Ser o que hoje fomos?

As palavras não servem mais
os jornais hoje não conseguiram inventar mentira maior que a realidade.

Durmo no despertador
pronto para acordar com um alarde
que não mais beijo
que não cantoria

Pois dormem os pássaros famintos dentro de cavernas fora de moda
Pois amanhã o dia nascerá por preguiça
virá pelo hábito
e a cidade enfim
poderá respirar
e se perceber

o quanto estou suja
por todos os lados.
estarei morta?
ou me fizeram carnaval?
são jogos de verão?
ou sobre mim
despencam os raios de zeus?

Mira


Com que leveza ele mira a mira
Com que destreza ele dela se retira
Mas com que fusão
vagam os dois olhares
em busca de posição

Para cessar o vagar
para cessar a perscrutação
Vagam por estes dias os olhares
ambos, todos, na contramão

Um que se abre
noutro que se esconde
indo e voltando
tecendo e tramando
a rima improvável
que se tornou este instante

Perscrutação

poeto:
para não desconfiar que a vida
tenha inteira se tornado ficção.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

quero ser...

pequeno e tenaz
quero em mim essa preguiça
e a força para fantasiá-la.

quero ser pedra sonolenta
que acorda feito tiro
e faz som mesmo em ausência.

quero ser forte para mentir
e mais ainda para construir sobre a ira
a verdade.

quero conseguir fazer em um só dia
aquilo tudo que sonhei
nos tempos da faculdade.

quero ser sábio
e nunca embriaguar minha lucidez.
quero veneno abraçando meu corpo
toda vez que eu for só chato
e não também cortez.

quero isso e aquilo
seu grito e minha prece.
quero a calma no seu sorriso
e a minha velocidade
a te comover,

eu quero
ser miúdo e gigante
ao mesmo tempo, eu quero
brilhar e ter medo
ser humano
e ser ao meio.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O Pequeno e a Tenaz

DYLAN - Se eu estou doente?
LAURA - É. Se você sente alguma coisa estranha...
DYLAN - Eu sinto algo estranho.
LAURA - Desde quando?
DYLAN - Desde sempre, eu acho.
LAURA - Me fale sobre o seu dia. O que você fez?
DYLAN - Não fiz nada errado.
LAURA - Não importa. Eu quero saber a ordem, a duração das coisas...
DYLAN - Que coisas?!
LAURA - Que você fez...
DYLAN - Eu não tomei banho ainda.
LAURA - E...
DYLAN - É que eu não saí de casa.
LAURA - E o que mais?
DYLAN - Eu não lavei nenhuma louça...
LAURA - E...
DYLAN - Nem encostei na vassoura.
LAURA - A sua casa está suja?
DYLAN - Não!
LAURA - Então por que você fala tanto em limpeza?
DYLAN - Talvez seja eu.
LAURA - Você o quê?
DYLAN - Eu quem esteja sujo.
LAURA - Isso é uma metáfora?
DYLAN - Não, eu não tomei banho.
LAURA - E...
DYLAN - E o quê? Pára de acrescentar coisa além do ponto final!
LAURA - Me desculpe.
DYLAN - Tudo bem. Não tem nada a ver.
LAURA - O quê?
DYLAN - Tá chato.
LAURA - O quê?
DYLAN - Essa papo entre a gente. Eu não tenho cura...
LAURA - Porque não tem nada de errado com você.
DYLAN - Tem sim.
LAURA - Não tem.
DYLAN - Tem.
LAURA - Você quer ter.
DYLAN - ... Por que você disse isso?
LAURA - É o que eu acho.
DYLAN - Sobre mim?
LAURA - Sobre você, sim, mas sobre várias outras pessoas.
DYLAN - Não me iguale.
LAURA - Não se trata só de você. Nessa fase da sua vida,
DYLAN - Minha vida! Percebe? Não é a vida dos outros.
LAURA - Poderia ser.
DYLAN - Não poderia.
LAURA - Poderia sim.
DYLAN - Não!
LAURA - O que você sabe sobre a vida dos outros para dizer que a sua é tão diferente assim?
DYLAN - ... Por que você fala assim comigo?
LAURA - Assim como?
DYLAN - Sendo... Sincera... Por quê?
LAURA - Você não gosta?
DYLAN - Não. Fico assustado.
LAURA - Com a sua vida?
DYLAN - Com a possibilidade de ter alguém sincero ao meu lado.
LAURA - Que bonito.
DYLAN - O quê?
LAURA - Isso que você disse. Esse medo.
DYLAN - Não tenho medo.
LAURA - Tem sim.
DYLAN - Não tenho.
LAURA - Tem.
DYLAN - E daí?
LAURA - Justamente, acho bonito.
DYLAN - O quê?
LAURA - A possibilidade de ter alguém sensível ao meu lado.
DYLAN - Eu sou sensível.
LAURA - Foi o que eu disse.
DYLAN - E o que quer dizer?
LAURA - Ser sensível?
DYLAN - Ter alguém como eu ao seu lado?
LAURA - Me sugere uma canção desconhecida, que me faz gostar e chorar, ao mesmo tempo.
DYLAN - Isso é ruim.
LAURA - Isso é o que é. Você é doce e cheio de espinhos.
DYLAN - Isso era um elogio?
LAURA - Uma metáfora...
DYLAN - Para dizer que eu sou jóia e às vezes... Espeto... Né?
LAURA - Sim, pode ser assim.
DYLAN - E então?
LAURA - Quer tomar um banho?
DYLAN - Eu não estou fedendo.
LAURA - Eu sei.
DYLAN - Você não quis dizer isso, quis?
LAURA - Eu quis dizer o que disse.
DYLAN - Se eu queria tomar um banho...
LAURA - Isso... Você quer?
DYLAN - Você vem comigo?
LAURA - ... Vou ficar sem graça, mas... Tudo bem, eu vou.
DYLAN - É a sua primeira vez?
LAURA - Num banho, com outro alguém?...
DYLAN - Foi isso que eu disse.
LAURA - É a minha primeira vez.
DYLAN - A minha também.
LAURA - Dizem que a primeira vez a gente nunca esquece.
DYLAN - Esquece sim.
LAURA - Eu já esqueci um monte.
DYLAN - E isso não te preocupa?
LAURA- Não. Me estimula.
DYLAN - Humm... Como assim?
LAURA - Me estimula a nunca deixar de estreiar.
DYLAN - Isso não foi uma metáfora.
LAURA - Não mesmo.
DYLAN - Você vem?
LAURA - Estou aqui.
DYLAN - Vamos?
LAURA - Vamos.

Ela pára, pensativa.
DYLAN - O quê?
LAURA - Posso enxaguar seu cabelo?
DYLAN - Sim.
LAURA - Ok, podemos ir.
DYLAN - Tira a roupa então.
LAURA - Tira você primeiro.
DYLAN - Você está com vergonha?
LAURA - Você também.
DYLAN - Estamos.
LAURA - Sim, naturalmente.
DYLAN - Espera...

Ele liga um aparelho de som que emite uma pequena luz esverdeada e tenaz,


DYLAN - (desligando o interruptor) Agora sim...
LAURA - No escuro é melhor, né?
DYLAN - Não está tão escuro assim...
LAURA - Isso era uma metáfora?
DYLAN - Não. Falava da luz da rádio fm...
LAURA - Ela é verdinha... Cor da esperança...
DYLAN - Sei...
LAURA - O que foi?...
DYLAN - Já estou nu.
LAURA - Eu também.
DYLAN - Ui...
LAURA - Que foi?
DYLAN - Deu aquele arrepio...
LAURA - É. É bom, né?
DYLAN - É. Loucura.
LAURA - Pois é...
DYLAN - Os loucos devem ser felizes...
LAURA - Agora fica quieto.
DYLAN - Por que você disse isso?
LAURA - A água... Ela já faz barulho demais. Vamos escutar...

Entram sob a água que escorre morna e alivia essa noite de calor.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

métron


quando eu a vi, a primeira coisa que quis foi ser autor desse extravazamento, dessa palavra que não existe. é como se ante a ela, para lhe dar oi, fosse preciso mais que isso. fosse preciso sempre mais, sempre grito ao invés de polidez. quando eu a vi pela primeira vez, as coisas perderam sua clareza, o ar ficou denso e os traços sobre o relevo ficaram tontos, acho que sem propósito. então eu pensei, ainda com ela se mexendo em meus olhos, eu pensei que há certas coisas na vida que não são para serem vistas. coisas que de tão belas deveriam ser lenda, só mito, deveriam fazer apenas rimas e nada além. nada além disso.

não me recordo seu nome, nem sequer se um dia vim a sabê-lo. não me recordo exatamente quando ou se estava acompanhado ou se o céu estava cinza ou negro. não me lembro e não me importo. peço perdão ao autor da obra, mas foi ela quem me assaltou. eu, a princípio, nem a tinha visto. foi tudo invertido. ela que veio como se em mim pedisse abrigo, como se precisasse de um calor ou aperto ou conforto passageiro. e foi, eu confesso. e foi tudo assim sem ritmo avassalador, sem hino ou terror. tudo foi calmo e pleno e hoje se canto alguma ira, é porque estou só. hoje se canto alguma ode é porque minha voz secou por tanto vagar nessa busca. nessa ida sem fim rumo ao que sua obra roubou de mim. meu silêncio, minha medida, minha paz, meu contentamento (com o que poderia haver de mais simples numa tarde. e que por causa disso, hoje já não me satisfaz).

won't you shave me?

'cause shave me is what i need
and i just wanna be
by your side

[...]

Cerveja Pilsen

deus
eu estou bêbado
e o calor me consome
as regras me escondem de mim
e eu temo o instante da revelação

deus
eu aqui dentro
estou fora de mim
porque se volto até eu
porque se volto a ser mim
vou me desesperar

por isso fujo
e bêbado resvalo
tentando ser o correto que não sei
tentando praticar a educação que perdi

deus
só mesmo bêbado
para querer falar contigo
só mesmo assim para te acreditar

me desculpe, pois
não quer dizer descrença
(e não acredito mesmo)
não quer dizer nada
(é só o calor desta tarde sem sol)

quer dizer
o que era para ser dito
também se foi bebido e além descansa
sobre a fugacidade das importâncias

nada hoje é mais do que isso
do que esse instante no qual resvalo
a despeito de toda
e qualquer
exigência

domingo, 21 de novembro de 2010

Como dizer?

Quando eu aqui começo a resvalar
me perdendo entre palavras
justamente tentando
algo encontrar

Bom, eu devo talvez lhes dizer
Que nem sempre estou perdido
por vezes mesmo
o que eu quero... Como dizer?

É como se as palavras fugissem e me deixassem só
com você.

Como dizer?
Certas palavras são tão diretas e concretas
que eu temo mesmo o que elas podem fazer crescer
aqui
neste espaço
tão carente de outro alguém que não mais eu.

Eu não sei fazer isso.
Compreende?

Eu poderia ter sido claro lá no início
Mas me seduz ficar indo e não voltar
Ficar indo e sem parar
seguir me perdendo
seguir não-sedento
esperando
no íntimo
que alguém me pare
e diga em alta caixa alta
ENCONTREI VOCÊ...

Isso é aceitável?
Ninguém mesmo responderá
então para mim
pode ser.


Então para mim
poderá ser
logo
será.

Soterro

Estou soterrado pelo meu corpo
ele não me permite partir.
Soterrado pelos desejos
carrego todos inda dentro
onde soterrado por escolhas
resvalo sóbrio por ti.
Pela boca
o tempo
os minutos
os segundos
o último século
- inteiro -
a modernidade nesta tarde me pareceu tão tentadora.
Soterrado de palavras
soterrado por palavras
soterrado por tanto te dizer
que me importo
comigo
com você
com os dois,
Soterrado enfim
e incapaz neste momento
de sobreviver.

Fico assim então miúdo
fico eu mudo longe dos versos
em profundo e íntimo retrocesso
auto-alimentando-do-me.

Arquivo