nunca é tarde para reconhecer em si nova doença. não é bem doença, pois aqui neste espaço a metáfora convive plena com o verbo mais literal, com a ordem mais medieval, enfim... eu estava dizendo. nunca é tarde para em si reconhecer nova doença. e eu aqui pensando, meu deus, eu não consigo tocar na vida sem usar luva-metáfora que me faça nela chegar. como se eu não conseguisse dizer que as coisas na vida estão assim sendo esse assim algo de mais concreto e legível que eu possa escolher escrever, aqui registrar.
mas não, não é crônica. minha doença não diz dos dias, diz dos tempos, é mais longa e duradoura, não sobrevive porque é engraçada e fofa, sobrevive porque já faz parte da forma como vejo hoje em dia o que se tornou a vida. aridez implacável fascinada e ansiosa pela metáfora que a reconfigure e valide mais uma ou outra contagem do tempo.
não é doença crônica, é relato sincero. desempedido, sem se preocupar. é possibilidade de brincar de linguagem sem se estrepar. brincar construindo e desconstruindo, sem medo de ferir, porque tudo é jogo e em nosso jogo não queremos machucar. eu penso, isso de dizer sobre este tempo, está cada vez mais difícil.
o que foi que aconteceu que nós do tempo nos separamos e agora nele não mais nos vemos indo?
sim, vem ai uma revolução. nem silenciosa, nem violenta, nem nada. vem dentro de mim uma revolução que me faz olhar para mim e para o meu tempo, para a família de amigos - que hoje eu tenho - e enfim, de volta, a recuar, revolução que me faz olhar para as vias que abrem meu corpo para que tu possas passar. transite-me. eu sou flexível. eu vou aguentar.
há uma doença crônica em mim que é a necessidade de ser espaço para o seu disparate. pode me rabiscar. no banho a tinta se desfaz. e caso não, toda essa nossa história virará no máximo tatuagem, se lembra?
tinta presa à pele a fim de assegurar algum sempre.
pode ser que dê certo.
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