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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

burlo

quando você conta a um filho
comprei uma geladeira nova!,
pronto, ela já estará suja
quebrada
e você pensando
quando terá condições de comprar outra
outra nova geladeira nova.

neles há uma voracidade indiscreta
uma capacidade de destruir tudo
um voto desesperado e consumista
é sua forma de abraçar o mundo
e apreender.

mas não,
dessa vez eu aprendi.
não vou abrir
nem fazer por entre os filhos
considerações sobre tudo o que corre aqui dentro
assim, veloz, numa linha sem fim nem começo
eu fico quieto
burlo o nosso acordo
e tímido crio ficções para saciar sua fome
mas dentro
eu escondo.

e eles sabem
eu aqui digo
mas eles ainda não sabem
perfurar meus dedos
e entrando via peito ao coração
eles não sabem me fazer dizer tudo isso
que hoje
só eu e talvez algum você
podem compreender.

eu os burlo
para que não seja eu atropelado pela expectativa
de fazer sentidos
de costurar linhas
não, meu filhos
tudo está solto e assim deve estar
não tenho pressa
eu tenho sono
durmo
e acordo
e nisso descubro
ainda amar.

obrigado pela paciência,
um dia quem sabe
eu venho por meio destas mesmas linhas
e escreverei: estou amando.
ou morrendo.
ou enfim,
algum motivo aqui eu lanço
para vocês brincarem
e brindarem
e enfim,
ser eu resto
sob a sua alegria
ser eu personagem
do seu enredo-
fantasia.

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