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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

mutil

noutro canto
outra parte
noutra parte noutra
isto que resta mudo
turvado

conversa não haveria
pois ainda que falássemos
entre nós nada resultaria
porque observa

seria necessário
refundar a fundação
destruir ao ponto
do extermínio

despedir-se inteiro
e integralmente
não é nada disso
não era para ter sido

só então o poema começaria
e talvez nem por poema respondesse
só então a vida retomaria o ar
que não seria retomado

pois é um começo
e nem novo porque
não teve velho

e só começo
como quem conjuga
eu começo

começou

começamos

e nada do que importa
será esquecido
 
tens de parar com tanta merda
 

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

do meu alargado sorriso

disse que foi por ter você me tirado daqui
foi o que disse quando perguntaram-me
sobre esses dentes assim tão expostos
eu disse que o motivo de tamanho sorrir
tinha sido o fato de você ter me tirado daqui
onde?

perguntou-me um senhor na segunda fila

daqui onde, senhor? ele perguntou-me

aproximei a mão do peito
depois a tirei bruscamente
com medo de enganar-me
e disse daqui daqui daqui
entende perguntei daqui
desse lugar

ele fez que não
que não tinha entendido
não entendi respondeu
eu sabia que não
que não era possível
eu também estava
aprendendo tudo aquilo
eu tentei outra vez

o motivo eu disse
do meu sorriso é sobre
o fato eu usei essa palavra
é sobre o fato de quem
agora eu amor de quem
eu amo neste agora ter
me tirado de mim
de mim no sentido
de quem eu era de
quem eu estava sendo

e a coisa não melhoraria

a coisa não melhorou

a terceira fila inteira
olhou-me desconexa

pedi desculpas
e saí do palco

silencioso
e a caminhos dos bastidores
perguntei-me silencioso
se era mesmo aquilo
a razão de meu alargado sorriso

e não era
não era mesmo
de fato
gasta-se mais energia
procurando o veneno
que inventando a cura

o motivo de meu sorriso
não era a merda da qual você
tinha me livrado
era a beleza inaugural
do nosso recém-inaugurado
laço
 

proteger

seria algo como esquecer
uma pequena maçã 
dentro da mochila

lembrar por acidente 
que após o ataque 
haveria um curativo 

disponível

para costurar 
para conhecer melhor 
para saber que há mais gente 

que não apenas seu tio
e suas primas 
 

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

de mim o esquecido

nada teriam que ter me dado
não pedi que servissem
nem que tivessem o tamanho
exato de alguma dor minha
não pedi encaixe
não pedi correspondência
nem sequer fiz pedidos
fiz poemas

quer perguntar o que ao poema?
quer encontrar-lhe um sentido?
quer dizê-lo correto, preciso?
quer o que você com tudo isso?

a eles nunca prometi nada a mais
do que o instante fulguroso
do seu aparecer e vieram
aos montes segundo a segundos
fizeram o que era preciso ser feito
agitaram indelicados os mares
mais interiores mais tremendos
e sem beleza ora tão lindos
fizeram o que era preciso

a vida terá lhes imposto
um só ritmo
o do ir
do ir como quem ai
como quem ai
ai
ai
e na batida do ai
seriam cosidos

nada teriam os poemas
que dizer nem explicar
nem nome precisariam
não deveriam encaixar
nem que noutro instante
serem mais ou menos
vivos
foram sempre desde os princípios
os poemas que coragem
quando os penso
sem eles

não teria eu bem sido

o que fui de mim?
 

e nisso foram vidas

essa cor não te vê por inteiro
esse gesto não tem tempo
para os seus volteios
tudo soa descabido
ontem e agora
imprecisos
mesmo este som
ouve só
descombina com a intensidade
desta ruína

sob seus pés
ou patas
estalam os cacos
da vida arrasada
os estalos
do que teria sido
caso tivesse você
permitido que a tristeza
fosse-lhe casa
não, disseste tu

em delicado
e bom som
não, tu disseste

toda a poesia
esse farfalhar de verbos
no fim e nos começos
teriam sido como o vento
modo outro para
ocupar espaço
dar e tomar
ar velho
em novo
outra vez
o mesmo

esqueceremos
e um dia alguém lembrará
e só lembraremos porque
logo logo
esqueceremos para
não lembrar
até um dia alguém
lembra
esquece
esquenta
esquece

e foram nisso vidas
e nisso foram vidas
 

queimar e esquecer




quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

oh sufoco


Para que termine uma palavra
Talvez outra pudesse começar 
Como quem termina um doce
Para depois mergulhar no mar

Há no entanto quem faz mistura 
Formigas corajosas que zombam
Com a mesma dedicação tanto do 
Horror quanto da ternura 

Excess
Abismado
Unbelievable tornado quase lá 
Quase um fato

Olha, se me for dada a chance 
Direi quase tudo e mais quase um todo
Falarei dessa torção tão íntima 
Que dessufocaria até mesmo ele

Oh, sufoco! 
 

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

I'd say

That you could
I'd say that you should
That maybe I'd say that
You must

Or don't 

Keep it quiet 

Try not to improve the damages

They are all from inner skies 

Don't hurt your self 

Time is more medicine than you could imagine 

Time yourself 
 

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Há várias

Injustiças
No plural
Descanse
Não seria só a sua 
Egoísmo brota alado
Por que não assumir
Que o injusto mesmo 
É refutar o mau estar

Obrigado 

Mesmo adverso
Por vezes em ti 
Vejo o germe 
Dalguma inquisição 
Matas o crime
Metes flecha no doer
Desbanca a bunda da merda
E pronto 

Ponto para quem és mesmo sem se saber. 



Seria injusto demais aceitar que só a injustiça te faria mal. 



Alegria demais disseram sería algo como um desespero. 



Amanhã irás à natação depois à médica depois ao trabalho e no meio de caminho, caso justo consigo sejas, darás um baita sorriso desse de desinterromper avenidas entupidas. 



É injusto por demais achar que só de tristeza é feira uma vida. 
 

Também não

Ah, saber dizer não
Espera aí 
Como é que faz
Que papo é esse
Quem deixou
Não, não senhora
Não senhor
Não mesmo

Saber dizer não 
De quando em quando 
Ver a azia assim chegar 
Afobada
E vetar-lhe a entrada
E dizer que não 
Que agora não 
Que nem sempre 

AQUILO QUE A GENTE ESTÁ A SENTIR PREVALECERÁ 

Às vezes é engano
Às vezes puto cansaço 
Às vezes é às vezes
Passageiro peremptório 
Neologismo escasso
Às vezes não 
E repetirás 

Não mesmo
Não 
Não confio nesse mau 
 

Que delícia te amo

Sem que me pedissem autorização
Ainda assim você veio
Disse assim quero dois desse aí 
Desse aí você disse
Era eu

Aconcheguei-me sob seu braço esquerdo
A mão escorri por sob a camisa sobre seu peito
Ali nos poucos pelos
Enovelei-me
É daí que escrevo 

Gosto de ti porque quando penso
Por qual motivo gosto de ti 
Distraído me perco da pergunta
E me vejo brilhar os olhos
A te admirar

Admiro que tenhas aprendido a dizer 
Eu te amo sem dizer eu te amo 
Admiro que a sua tranquilidade 
É muito medicinal para os
Ansiosos

Confio no amor
Como nunca antes 
E a certeza de uma dor futura
Ainda assim 
Parece tão evitável 

Quanto inevitável és
Agora
Aqui
Em mim
Isto amor.
 

injusto


ter escrito na dor
e pela dor ter escrito 

ter lembrado da escrita
porque pensado na dor

ter colocado assim em cheque 
a presença do seu doer


o cansaço algo ensina
não buscaria beleza

obrigado eu agradeço 
à possibilidade de ter continuado 

desconfio no entanto que tudo
não passe de um engano


se um dia eu tiver mais um dia 
será ainda assim noite