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sexta-feira, 28 de junho de 2013

para quê?

poesia?

me olhou com uma cara impregnada de preguiça

para quê poesia?

fiz que não entendi
sutil, abri a boca lento
como se perguntasse

e então me olhou ainda mais fundo
e repetiu o embate

poesia pra quê?

e então juntei súbito os lábios
dentro o silêncio de mim guardado
olhei então fundo ao inquisidor

em meus olhos
ele viu que a vida se tratava
mais do silêncio

do que de rancor.

para quê?
ecoando
para quê?
ecoando
para quê?

eu jamais desistiria do silêncio.
é nele,
onde você baila inerte
e existe.
e existe.

domingo, 23 de junho de 2013

Impreciso

Linha nunca saltada

Hoje observo
foi tudo plano sequência
Não pausaram-se os peitos
Não deitaram-se os olhos
Tudo
tudo

foi enamorando-se ao tempo
indo sem fim nem fundo
sem consciência
Puro afeto solicitando mão de mãe

Um carinho ali
dando gás ao prosseguir
Outro afago impreciso
confirmando a dúvida e pedindo

Sim, vá
Sempre ir
Sem questionar

Assim
Em estrofes
Desmedidas

Foram.
Fomos.
Nós.

E agora?

Fatiar a linha corrida
e fazer-lhe nós
de bordados.

Firmar a imaginação desse tempo compartilhado
e brotar estrelas de algodão coagulado.

Agora?

O sonho foi tornado viável.

É só entrar pelos olhos
para fazer com que mirem
O inevitável

A superfície plana
do livro em vida
Encenado.

Para Dodô, Dani e Davi.

sábado, 22 de junho de 2013

Perguntas


Você me pergunta
não sobre o nosso romance
Você me pergunta hoje
sobre o tiro
sobre o tanque
sobre o armamento
reluzindo mais perto
e mais próximo
E hoje
um do outro
nós dois

Distantes.
Você me pergunta
É uma revolução?
Eu não te respondo
Eu não sei,
Você me segura
(como antes)
pelo rosto
Rosto no rosto
você me olha
e invade
O que aconteceu?
Eu estou sem fala
eu estou vazio
Mas ainda agora
te olho
aqui
perto
longe o tanque
Olho perto
Olho no olho
Veja (como antes):
Você me pergunta
sempre o que eu não sei responder
A revolução
eu vi
Eu vi
eu soube
Eu sei
Nasceria
sem o nosso consentimento
Espera!
Você me segura.
Não é ordem.
É pedido,
aceite.

Seguro-meem ti

E veja
(como antes)
O dia sempre faz isso de amanhecer.
Não me pergunta

nunca mais
Se isso que acontece entre nósé a revolução que um dia não veio.
Certo?

Você precisa dizer!
Certo?
Você me diz:
eu não perguntarei mais.
Mas - você insiste -
por quê?
Porque a nossa ação
sobre o outro
Sobre o mundo
Sob o soco
é sempre
revolução.Não como antes
não como amanhã
Como agora
vês?

Minha veia salta toda aorta
Eu tô aqui perto de você
Vês?
Algo acontece
Puro afeto
Desobstruindo
o caminho de cimento.
 

Contra Plongée


Não me peçam crédito
Não sei
Não soube
Foi tudo assim de súbito
Protesto feito.

Café Forte

Era só isso
aquilo ainda
não conhecido.

Nós estamos prontos para quedar.

Uma mesma

Hoje amanheci
propenso
à diferença

Entre maiúsculas
e minúsculas
A roupa se faz limpa
ou suja

Tudo igual
da mesma forma
que antes

Só que agora
uma voz unânime
grita um grito longe
quase inoperante

Que sobrevive
pois se tem
hoje em dia
caixas de alta potência
microfones microscópicos
que se plugam
nas palmas das mãos

Ouve?

Tu ouve?

É um mundo querendo fazer sua confissão.

Eletrodomésticos perderam a graça
(pois quebram muito rápido).

A rua de concreto cimento asfaltado
é mais divertida.

Nós estamos prontos para quedar.
Nós estamos prontos para quedar.
Nós estamos prontos para quedar.

Não me peça nada

Estou fora do caminho
não posso servir à pátria
Só posso servir a mim mesmo
a essa incompreensão
Eu só sirvo a isso.

Não quero entender

Não quero ler seu artigo

Não quero mudar nada
eu hoje sobrevivo inerte nisso
- feito móbile -
fantasiando a realidade
escancarada.

Minhas palavras hoje têm cheiro.

Fedem, todas elas fedem
mas é porque ousaram saber
o que nunca souberam

Fez-se tudo em verbo
triste
de difícil conjugação
E hoje os verbos tristes
assolam a força
da nação

Nunca antes o mundo havia me brindado com isso.

Por favor, não me peça nada
Eu preciso dormir um mês
trepando com isso
com essa coisa
Ainda sem nome
chamada...

Truculência.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Vinho e batata assada

Eu não estou sabendo o que está acontecendo.
Faz dias as cidades do Brasil (e do mundo) estão expostas em suas ruas, gritando por algo que já não sei mais comensurar.
Que horror. Que vida. Que coisa estranha o acontecimento te assaltar e te roubar de tua vida.
Eu estava tranquilo, trabalhando e, de súbito, fui tomado para além do sono. Passo os dias tentando ficar presente, mas sinto desejo de beber vinho, cerveja, qualquer coisa que me possibilite aguentar a estranha sensação de estar solto no mundo.
Democracia, ditadura, direita, esquerda. Isso e aquilo. Estou perdido.
A poesia é minha única amiga.
Não sei.
Nem tenho medo de não saber.
Sobrevivo sobre paradoxo que oscila querendo ou não entender.
Faltei o trabalho. Vim para casa no ônibus tenso. Vendo pela janela as ambulâncias, as sirenes vivas, os policiais. As indumentárias pretas. Autoritárias.
Estou diariamente dentro de uma sala de ensaio, criando poesia para desfibrilar o mundo. E vejo, pelas ruas, pelas emissoras de televisão, o mundo ser desfibrilado via canhão. Não.
Não.
Vamos acordar sobre poesia. Sob linhas e rimas. Não.
Não.
Não.
Nunca fui tão assim, determinante, destemido, ao dizer que certas coisas não.
Certas coisas não.
Meu Rio de Janeiro, meu Brasil. Dorme em paz. Por uma noite, ao menos. Durma em paz.
Ou não.
Ou não.
Não.

domingo, 16 de junho de 2013

maus tratos.

sobrevivo
mão manchada
do desejo
cigarro incessante
silêncio com sono
querendo gritar
desespero
prendi o gato
ontem ele me sufocou com seu beijo
estando o mundo assim
faço o quê?
morro rápido
ou vou pelo caminho
me perdendo?
lento?
tenaz?
morro vivo
ou vou morrendo mais
e mais?
horror
espanto
incredulidade
o que fizeram do dia?
que fizeram
os homens
dos homens
de si
de si próprios
cinza
neva cinza no meu quarto
neve escura
sobre as ansiosas letras
do teclado
as palavras
por favor
me ajudem
a curvar o tiro
a passar rente
mas sobrevida
atear, me ajudem
fogo
inteiro
a esse circo.

eu quero fogo
não por querer
eu quero o que me deram
aquilo que me fizeram
garganta
descer

fogo
eu quero
atear

custe a religião
o laço
a família
que ao aqui
me trouxe.

morro pesado
mas lento
escorrendo o meu olhar grudento
sobre o pavor-enfeite
do outro
sobre o mundo
atirado.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

perigo

confio
claramente
na possibilidade
de
errar

não me privo
fico
saltitante
no
quedar

nem vem
me tirar o risco
que eu te corto
para fora
do abismo-vida-minha

gosto
preciso

dessa ciência

de que a vida
dança tremeluzindo
invertidos vales

ora espelhados
ora assim mesmo
profundos!

domingo, 9 de junho de 2013

Kimberly Hart

Porque a Kimberly marcou minha infância. Sua impotência frente às dificuldades da vida sempre me estimulou a encontrar saídas. À Kimberly Hart, dedico este post. Um beijo,
Diogo Liberano

Amy Jo Johnson como Kimberly Hart,
a primeira Power Ranger rosa

secura

urge
dentro
aquilo
que
noutro
tempo
juntos
fizemos

passo
a
passo
avanço
meio
assim
como
dizer
meio
assim
embasbacado

longo
opero
inerte
a
dor
de
ter
você
apenas
longe

fico
aqui
ansioso
vou
prometo
pintar
paredes
vou
prometo
comprar
cama
king
size
para
quando
vieres
deitar
mo
nos
juntos
e
fazermos
calor

assim
simples
desse
jeito
caro
desse
jeito

afinal
tinta
pincel
cama
edredon
e
tempo

tão
custando
uma
vida

mas
tranquilo
prometo
juro
usarei
cartão
de
crédito

você
vale
as
penas.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

sucessão

é quando você escreve um poema
e depois logo outro
o que acontece
na verdade
é que você tem a breve sensação
de que não está todo louco

pela sucessão
dos versos
acreditarás
ser consciente
ser porta-voz
do próprio corpo

preciso ir
tem outra vindo por trás
me pedir
abrigo.

sucessão é isso
é profusão de intempéries
profusão de gemidos
inaudíveis.

puxo

a atenção
já perdida
para o mais descontínuo dos enredos
puxo atenção minha
sempre em hora imprecisa
rumo às rimas.

que tortura!

o mundo correndo
e eu, idiota
em poesia o relendo

que dificuldade me opera?

não sei olhar o vento
e ver nisso nada?
ver nisso apenas o que há
(o que há, nu vento?)

perdido
quis comprar flores
mas não aceitaram o parcelamento

crédito
débito
silêncio
ansioso
espero

o encontro no qual se beijarão
as flores das nuas bocas
as pontes dos corpos nus
sem roupas

enfim,

viste?

a rima me levou de mim
e me deixou ali
entre desejos

longes.

desejos distantes.

Estou triste

Não, Caetano
Não me venha repetir seus versos
Por favor, Caetano
A tristeza é do mundo
não do seu quarto.

Perdão, não me interessa
A tristeza tá jorrando
e tá saindo em praça aberta

Que merda, irmão
Que merda, viu, comparsa

Estou triste porque hoje
o mundo contraiu-se
para revelar
mais outras desgraças

Que infortúnio
que tristeza astronômica

As bocas sendo caladas
e as lojas vendendo protetor labial
laranja
uva
morango
hortelã

Que merda,
que merdinha

Silêncio profundo

eu queria dormir
e me esquecer
por 1
2
3
8 dias.
 

Hashtag

que cafona aprisionar o arrepio num jogo da velha tombado.

que cafona isso de dar categoria ao inclassificável.

não me veio por favor com hashtag alegria
com hashtag gratidão

por favor, eu vos peço, nada disso de hashtag
isso é o mal maior de toda uma geração

que não ouve
não vê
apenas copy-paste

---

Ode On.

É a qualidade
deste movimento.

Sim, eu sei
Eu sei, nós sabemos

Mas todo cuidado é louco
por tentar conter
o inevitável.

Escorre silêncio
escrevendo pelo caminho
A confusão feita lá atrás
pelo invisível laço.

Se fiquei
não sei
Mas é só que ainda agora
não me retornei por completo.

Se viestes
Se tu viestes
em mim perdido
É só porque às vezes

bem noitinha

Acariciando o próprio umbigo
me desconheço
E durmo marejado
pelo instante já ido.

Foram tantos poucos dias
que me acostumei a não ter mais que isso:
flash.

Silêncio.

Você me redescobriu as rubricas
e outras coisas impressas no corpo adormecido.

Me fizestes, tu, caminhar pelo frio
só pra dar sentido maior
ao banho quente
ao afago constante
ao cigarro dormente.

Que poesia poderia te escrever
se teus olhos são feito odes
enevoadas
de tanta limpeza

Pergunto
que poesia são teus olhos
Que se mirados
devolvem sorriso
dissolvem pedra
em pérola?

Confusei-me.

Isso que sinto
é puro sentimento.

Se se dá nome ao que sinto?

Not yet

Deixemo-nos ainda um pouco
Ao relento.

O Sucesso

Palavra enigma. Triste. Esbelta, sedutora e incompleta. Repetição de S. Um maiúsculo e depois mais dois, menores. Sempre Altos e Baixos. O que se esconde entre os vales do u, o vazio dos o e o cadeado do e?

Sucesso é coisa que inventaram para te fazer perder. Oscilo, subindo e descendo a descrença em empresa tão pouco amigável. Acho engraçado, minha primeira reação ao mundo - chamado Sucesso - foi a vergonha. Tive vergonha. Sorri para dentro. Fiquei confuso.

Há sempre uma sedução que precede o susto: de se descobrir capaz de amar o horror.

Tenho achado engraçado. Tenho achado importante. O sucesso? Não. O uso semântico e abstrato desse nome.

Silêncio. Que postagem atormentadora. Talvez nunca antes tenha escrito tal coisa. Não escrevi. É a primeira vez. Finjo tranquilidade. A mim mesmo, eu finjo. Mentir-se é importante. A bem da verdade.

Se sucessa um lá, outro sucessa cá. Seu sucesso é mais raso que o seu sexo. Preferiria sur sexo. Susexo. Ou mesmo um Sussex, aquele cigarro fino e longo.

Escrevo todo esse nada porque faz uns dias alguém me abordou, menino, que sucesso que cê tá fazendo. Me perguntei: estou fazendo? Como é isso? Quem disse que o que eu faço é sucesso? Que nome é esse?

Eu sou tão claro daquilo que tem por nome trabalho. Meu ofício, aquilo que desejo. Ai vem um desavisado, um acostumado qualquer, e me rotula desse nome esconderijo. Sucesso é seu cu, aberto e exposto na avenida. Sucesso é o tiro, a atravessar a cotidiana batida do dia.

Sucesso é uma palhaçada, inventada para vender revista.

---

terça-feira, 4 de junho de 2013

Como se não houvesse amanhã

Faz frio aqui neste Rio. Talvez seja a violência, que anda veloz, nos oprimindo. A truculência, talvez, tenha feito as peles já acordarem assim, mais próximas da morte (que seja para testar). O mundo inteiro regurgitando iras e adentrando avenidas - não para sambar - mas para lutar como se não houvesse amanhã (porque o amanhã, desse jeito, a bem da verdade, não há).

E no meu quarto só eu mesmo. Vendo pela tela do computador as fotos ou photoshops me anunciarem outros enredos. Eu vendo tudo isso e pensando, meu pai, meu sei lá o quê, quando foi que perdemos o direito de ser? Ou então, o que fazem estes homens que ganham ainda mais dinheiro a cada manhã?

Penso nos meus vícios, nas minhas drogas, penso na dificuldade que pode me ser ter que não te ver por mais de uma hora, mas dinheiro?! Dinheiro? Não poder não ficar sem dinheiro, sem tocar, sem ganhar, sem tirar do outro para se enriquecer mais e mais... Isso não. Isso não pode. Deus deveria ter escrito que não podia. Não pode. Ele escreveu? Tem certeza que não? Não pode isso do dinheiro. Isso não tem freio. Isso atropela. Assim não.

Assim, definitivamente não.

Quando foi que algumas coisas no mundo puderam ganhar o rótulo de possíveis?

Quero exterminar possibilidades ciente do caráter humano e desprezível. Quero poder dizer, fazer, compreender, que não, que não, que isso não vai dar mesmo, que isso é isso e a possibilidade não existe para certas fomes. Não fome de dinheiro.

Abaixo aos shoppings, aos dilemas do compro ou compro mais. Abaixo a essa facilidade de nos escravizarmos em troca de mais, sempre mais. Que muro é esse que, já caído, ainda nos delimita como se os do lado de lá só quisessem uma coisa e os de cá quisessem apenas o contrário disso?

Mistura.
Amanheci enjoado.
Vomito para dentro.
Para ir acostumando o corpo ao seu habitat não natural.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Fica.

Fizeste sexo
Beijaste boca
Comeste massa
Bebeste whisky
E cigarro: fumaste.

Tu fazes de tudo para retirar de si a possibilidade de frear um só desejo.

Orgulha-te ser viável, ser amorfo, meio sem causa meio sem sono.
Tu vais fundo para além dos poços. E vês?

Só tu sabes o quanto te entristece
Ao fim do dia
Juntar-se no colo
Para escrever versos roucos
Amaciados em rimas.

Você precisa se retratar urgente
mente
Contigo mesmo
Com os seus e
Com todos os outros.

A little storm

And everything inside seems like water. Que difícil é manter o eixo quando o coração entra em dúvida e se discorda. Existe alguma possibilidade de frear as sinapses do coração, nem por isso menos nervosas?
Amo tanto, caro leitor. Cara leitora, amo em excesso. Caibo meu amor em quase tudo, até um pouco no que desprezo. É só que me escorrer essa palavra indigna por toda a área do corpo.
Escorro amor tal qual imagem explode o louco.
Uma pequena storm em mim se prepara. Se não tiver muitos copos, muitos beijos, pelos em excesso, se eu não tiver punhados de arrepios, olha, eu nem sei, viu?
A pequena tempestade corre o risco de virar coisa inda mais powerfull.
Que difícil é ser livre.
Como está me doendo esta liberdade que forjei para meus anos de moço.
Ou fico velho logo, ou logo estarei louco.