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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Achei uma carta suicida no meio de minhas coisas

.
..
...
Não me deixe muito no alto
Nem me afogar
Não me deixe chegar ao topo
Porque eu posso me matar.

Minhas pernas doem profundamente.
Temo que queiram de mim se desprender.
Seria a vontade de o mundo correr?
Ou somente o desejo de morrendo elas primeiro
Levarem-me a isso também querer?

Então, eu peço:
Não me deixe chegar alto demais
Nem me deixe afogar meu corpo
Fique paciente ao meu lado
E não saia sequer para buscar
O copo de água que irei pedir
Inúmeras vezes
A você
Que me acompanha noite adentro
E dia a fora.

No alto eu posso me afogar
E me afogando eu posso despencar
Portanto
Não me deixe subir muito
Nem muito descer
Segure a minha mão
E tente me fazer
Compreender,

Porque desejo neste momento
Ir me perder.

As coisas que guardo aqui dentro
Querem todas me consumir.
Os medos que disse não temer
Corroem-me no silêncio
Que escolhi para mim.

Portanto se eu disser
Tudo está bem
Não acredite tão facilmente
E cuide de mim como fosse
Um neném.

Cuide de mim, por favor.
E não deixe meus cabelos caírem sobre os olhos
E não deixe a minha pele secar
Nem meus sonhos queimarem
Nem o riso sumir
Cuide de mim!

E me perdoe. Sempre.
Perdoe-me por fazer ser a prova do seu amor
Por mim
Essa tentativa vã
De não deixar o tempo me consumir.

Perdoe-me por tudo e sempre.
Mesmo quando ausente
Perdoe-me do que posso vir a fazer
Do que posso vir a comer
Achando que a fome é capaz de matar
E não de me fazer crescer.

Eu cheguei ao topo
Não posso nem mais ir
Nem sequer voltar.

Estou preso na quantidade funda de ar que me fiz respirar.

E todo o resto é pouco
E capaz de matar
E todo o resto é muito
E capaz de matar.

Estou no meio, pois partido.
Estou no limbo, pois me precipito:
E escolho as melhores dores
E revolvo aos antigos amores
E faço assim o dia ser pesado
E os músculos escoriados
Não agüentam o ônus
De ter que levar adiante
O que jaz morto
Mas em mim persiste.

Perdoe-me. Desculpa,
Eu já não sou capaz.

Fui noutro momento.
Fui com outro sorriso
E com outros remendos,
Que já não posso refazer
Pois a linha se perdeu
E cravado em agulhas estou.

O corpo sinaliza a dor
Segundo após sentido
E perder-se se torna algo tão natural
Pois também o natural eu preciso.

Então,
Se por acaso ao topo demais eu chegar
Acaso ao fundo eu me aproximar
Puxe-me pelos cabelos e me faça voltar

Caso não,
Aceite minhas desculpas
E me deixe morrer
Para não mais me encontrar
Para não mais me perder.
...
..
.

Rio, 18 de junho.

Como eu me sinto por dentro

A vida às vezes é como um jogo.

Aí você surge, tudo ao redor despenca.

Nada para me dizer, mas ainda assim, você consegue

Me afastar de qualquer e todo medo

Porque me faz acreditar.

E é isso. Eu nunca senti nada parecido.

É desse ineditismo que eu falo.

Como foi quando me senti seguro, mesmo despido.

...

Isso que eu acabei de escrever não sou eu. Foi uma tradução simultânea. Ouvindo uma música e escrevendo o que ela parece dizer, após filtrar-se por meus ouvidos, após filtrar-se por meus sentidos. Sentimentos.

...

Não quero mais brincar disso. Dói. Porque eu invento rosas que não existem. Invento dores que depois em mim persistem.

...

Outro dia sabe como me senti? Me senti feito uma placa retorcida de um metal qualquer. Metal duro, liso, cortante. Mas qualquer. E essa placa, esse eu, foi atropelado. Uma vez. Depois várias. E várias vezes por rodas de um mesmo carro. Por partes de um mesmo corpo eu fui estuprado. E então o dia fez-se em sol. E eu já ali confuso, vi-me distante. E lá de cima, pude ver. Estava mesmo colado ao chão de asfalto. Era quase todo negro. Porque o calor me derretia aos poucos e os atropelamentos me fixavam e não me deixavam respirar. Os atropelamentos faziam com que, vez ou outra, o sol eu não pudesse ver. Eram a minha dor, a sua causa, e a minha calma, a minha escuridão e lucidez.

...

Outro dia uma mulher passou por mim chorando. Fiquei parado depois que ela por mim passou. E nisso ainda pude ouvir seu dizer: Eu quero morrer. Eu quero morrer.

...

terça-feira, 29 de julho de 2008

Terreno Baldio - 2ª Tentativa

Eu morro pelo nome. Meu peito não está vazio, meu terreno não está baldio. O que tenho em mim persiste feito doença. Cura-se a todo o momento, mas volta mal se passa o vento. O que tenho dói e me engasga. Remói e me atrapalha. Impede-me de ver o que acontece diante de meus olhos. Já nem posso mais ver você. Apesar de estar contigo a todo o instante.

Eu sedio em mim a dor. Eu a aceito com prazer. Aprendi a me ver no doer. Sempre sofrendo, sempre gritando e gemendo. Uma hora ou outra era de se esperar que a lágrima forçada coincidisse com a facada. Hora ou outra não me seria surpresa caso o roxo da pele se parecesse com o espancamento em reunião de família.

São tentativas. Porque as coisas estão quebrando e quando eu penso costurar algum caco, um corpo frágil despenca noutro lado e me deixa assim, com esse ar inacreditável. Inacredito por não compreender como amor em ódio pode se converter.

Eu largando os vícios. Eu revendo princípios. Mas para quê? As coisas estão morrendo e já não existe o meu eu com inúmeros você. Ah, é dor. Estou sabendo nesse momento o que é dor. Não mais pelo nome, não pelo efeito, a dor que apreendi agora tem a ver com o peso do peito com o trincar dos dentes e o gritar do silêncio. É frio incomensurável e solidão angustiante que me faz pescar em cada esquina um anzol que me extravaze. É poesia. É culpa. É liberdade. Expiação...

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Quadrilha - Primeiro Movimento

João - Eu sou daquelas pessoas que só lava a louça depois que usou a última colher limpa tentando cortar um pão. Que se limpa com o rolo, vazio, do papel higiênico. Sou do tipo que só resolve uma treta quando ela já tomou conta. Eu preciso me explicar?

(Surge Vanessa caminhando em sua direção).

João – Preciso? A questão é... Eu pensei muito sobre o que eu ia falar, quase ensaiei. Mas, depois eu cheguei à conclusão que entre a gente o que vale é a ser sincero. Não é?

(Ela se vira para frente, sem olhar para ele).

Vanessa - Não. Eu só me fodo sendo sincera! Eu lembro até hoje... No dia que resolvi falar com o João, ele tava vindo na minha direção, nem me conhecia. Foi quando eu decidi que a gente ia namorar.

(Os dois, agora, frente a frente).

João - Licença?
Vanessa - Não.
João – Oi, como é?
Vanessa - Não tá lembrado de mim?
João - Nunca vi na vida, minha filha.
Vanessa – Então, já que você não lembra, eu vou ter que dizer tudo.
João – Tudo o que, minha filha?
Vanessa – Como é grande o meu amor por você.

(Ele se desvencilha dela. Os dois agora não se olham).

João – Foi isso o que ela disse! E ao invés de eu lembrar que tinha dentista, dei macaco pra banana. Pensei: ela é bonitinha, não vai fazer mal. Mas o que é o tempo, não é? Eu demorei pra descobrir que as bonitinhas são as piores. Quando a gente se conheceu...

Vanessa – Eu fui sincera! Tava na moda. Sinceridade era uma iniciativa TV Cultura! Tava se usando a beça. Não precisava nem me pedir, eu já ia dizendo. Gostou da minha peça de teatro? Não. Podemos ser amigas? Só você, ela não. Era assim! Sincera do início ao fim. Moço esse risole é de ontem. Não senhora. Não senhora uma ova! Esse risole é de ontem sim, porque diferente dele, eu não nasci ontem! Então você me faz o favor de trocar por um risole de hoje. Entendido? Entendido. As coisas se acertaram. Tudo se encontrou.

João – Ela parou na minha frente. No início achei que era louca. Mas o que é o tempo, não? Depois tive certeza. O fato é: eu fiquei ficando com ela durante um ano inteiro. E agora eu tô procurando desculpa pra terminar com alguém que eu nem namorei!

Vanessa – Foi lindo! Ele ficou sem ar! Eu fui sincera, só isso. E quem resiste ao que é sincero? O amor é sincero. Quem resiste ao amor?

(Os dois frente a frente).

João - Como é grande o que, minha filha?
Vanessa - O meu amor. O meu amor por você é grande.
João – Deve ser sim...
Vanessa - Espera moço. Não vai me dar nada?
João – O que? Você quer um bilhete de integração do metrô?
Vanessa - Não! Eu quis dizer... Um beijo.
João - Quem?
Vanessa - Me dá um beijo?

(Ele desvia-se dela, envergonhado. Ela, vitoriosa).

Vanessa – E me beijou. Tô falando! Sinceridade vale mais que dinheiro. Compra tudo.

João – Tá, eu dei um beijo sim! E podia ter parado ali, mas como eu sou ingênuo. É igual cigarro! Você fuma um. Aí começa o segundo pensando, esse vai ser o primeiro e último cigarro da minha vida. Eu não consigo ficar malicioso! Eu tento! Eu penso perversão, eu vejo Jornal Nacional, eu assisto Rebelde!

(Ela tira um bombom de dentro do casaco).
Vanessa – Trouxe pra você!
João – Mas você nem me conhece!
Vanessa – Mas eu sempre te vejo passar. Sempre fico olhando. Sabe o que eu sempre faço na hora do almoço?

João – Janta?
Vanessa – Como você com os olhos. (Meiga) Quer um pedaço?

(Ele apanha o bombom e dá uma primeira mordida. Depois pára, em pânico).

João – Você fez esses negócios de traz a pessoa amada em três dias? Fala pra mim! Porque se você fez, eu vou ter que te dizer que isso não é legal. Poxa! Quando te conheci cheguei a suspeitar do bombom, porque as pessoas dão bumbum por aí, agora bombom?! Não! Isso é demais! Macumba é sacanagem comigo!

Vanessa – Você duvidou do meu bombom? Meu bombom é sincero. Ele não mente. Meu amor é sincero. Você duvidou do meu amor? Olha nos meus olhos! Vê se eu tô te macumbando, vê! Eu tô limpa, tô pura, eu sou sincera!

João – Até demais, minha filha! Até demais! Têm coisas que a gente não fala e nem faz. Você precisava perguntar pra minha mãe se ela tinha medo de me perder pra você? Precisava dizer que teve vontade de dar veneno para o poodle dela? Eu não quero mais saber quantos cravos tem no meu rosto! Eu não quero mais ficar com você!

(Silêncio)

João – Você não vai falar nada?
Vanessa – Tudo bem.
João – Que papo é esse? Você espeta o meu voduzinho e diz que tá tudo bem? Não tem nada bem aqui, minha filha. Se as coisas estivessem boas eu estaria em Ibiza investindo em prostituição.

Vanessa – Tudo bem.
João - Então, tá! Tudo bem eu terminar com você?
Vanessa – Fica tranqüilo, eu não vou terminar com você...
João – Porra, você ficou louca, porra?
Vanessa – Não... Tô pensando na nossa música...
João – Não tem mais nossa, entendeu?
Vanessa – Eu gosto do refrão e você?
João – Que mané de refrão porra nenhuma, minha filha!
Vanessa – Quão profundo é o seu amor por mim?
João – O quê?
Vanessa – How deep is your love to me?
João – Profundo? Porra, o meu amor pode ser do tamanho de um morrinho, de um vale ou erosão, até uma voçoroca. É sério, pode ser do tamanho de um planalto, agora profundo como precipício não! Lidar com abismo é coisa de suicida, minha filha!

Vanessa – Então, cai pra dentro!
João – Meu Deus!

Princípio da Incerteza



Ocorre quando você está numa mesa de uma cafeteria.


Diante de você, uma mulher infértil.


Ao seu lado, um marido traidor.


Diante de você, a amante.


E sobre seu colo, sua bolsa.





Com todos os sonhos


todas as sobremesas





Dentro da bolsa


toda a incerteza que há


em querer vir a ter


um filho.







Ultimamente, o que tenho valorizado mesmo é o comer e o entre-pernas.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Coisas do meio desse caminho

Cara, estou sentindo raiva.

Descomunal. Desproporcional - Sinceramente, nunca pensei que daria vazão a esse sentimento. Não tanto assim, não sobrepondo-se a mim e aos meus desejos.

Tudo o que desejo a você agora é muito negativo.

Por isso não quero mais desejar.

Quero deixar as horas morreram e nelas me curar

ou enlouquecer

por não compreender como pode o distanciar solucionar.

No final das dores, restando eu

sempre me lanço a piada

DEIXA QUE VAI TER VOLTA.

A minha vingança mais cruel para você é deixar que guie você seus próprios caminhos.

Meu ódio mais exarcerbado é permitir que você finja não mais me ver
mesmo lado a lado
mesmo sendo eu tão você
e você assim tão eu

As coisas estão assim inflamadas
Não tenho pensado em remédio
pois reconhecer a sua inexistência
é também o que me mata.

Mas tá foda, viu?

Tá fodido, sabe?

Dolorido
Odioso
Lacrimoso
Tá quieto
e revolto

Tá tudo um transtorno
Desde o dia em que você não viu
Desde o dia em que diante de mim
seguiu a passos firmes
e finjou cantarolar uma descontração.

Não se engane.

Não me engane.

Isso dói.

Substituição

Você pode pensar
Não tem mais manteiga
Eu uso o requeijão.
Entretanto
Muito se difere
entre a oleosidade de um
e a cremosidade do outro.

Não seja tão bobo
Não ache tudo tão absurdo
ou tudo tão glorioso.
Se acabou o pão
eu vou direto ao biscoito
No entanto
de um ao outro
morrem-se mil outros gostos.

A MANTEIGA RESSENTIDA

Você abre a geladeira. Poderíamos dizer que imóvel a manteiga acena para você. Está ela lá, sobre a prateleira, a te esperar. No entanto, você só tem olhos para o pote de vidro entiquetado. Olhos só para o requeijão cremoso e autoritário. Você o pega. O pote. E a manteiga mesmo refrigerada desmaia dentro de si mesma e choro e ólea e morre dentro de si ao ver a porta bater a sua frente após revelar o seu amor pelo requeijão, agora, de dentro da geladeira, ausente.


O QUEIJO EMPOTADO

Foi no que se transformou aquele vidro de requeijão que certo dia, outro que não aquele, você ignorou. Abriu a porta e foi direto à manteiga. Abraçou-a em seu peito e deixou ele ali estalando por inteiro. Sentindo mais frio do que se estivesse dentro de um refrigerador. Era isso. Era ali onde estava. Um lugar para manter a sua dor aquecida. Manter a frialdade da sua relação com o tal requeijão adormecida. Oh, ele quis morrer. Endureceu-se de raiva e virou queijo. Dentro do copo de requeijão era o mar cremoso agora relevo, sólido, bruto. Massa sem jeito.


Substituição


Você não está mais aqui?
É você quem determina?
Não queria que fosse. Mas, sim. Sou eu quem digo.
Então eu não estou?
Não mais.
Que fique claro que é por você.
É essa a minha função, infelizmente.
Não. Eu digo, que fique claro que é por sua causa que eu estou saindo.
Você já saiu.
Não. Ainda não. Nada assim tão rapidamente resolvido.
Então você está?
Pendurado. Sendo sugado, mas nada assim tão declarado.
Como o quê?
Como o meu amor que era amor mas que hoje é apenas ódio por você.

Eu quero morrer

Toda vez que você me pede uma cor
Que eu não sei fazer.

Eu quero morrer.
Toda vez que eu avanço
rumo à noite
mas sem nela
me desfazer.

Quero morrer.
A cada dia consumido
A cada segundo mordido
e remoído.

Eu preciso.
Já não posso ficar.
Meus olhos doem sozinhos
e nisso
sequer satisfeitos estão.

Fazem então com que eu olhe de maneira torta
para todas as coisas que precisam de uma decisão.

Já não aguento ficar de pé
ou sentado
e o meu sonho
meu desejo
meu desespero
é poder dormir para sempre.

Por isso quero morrer.

Pois a manhã que já chega está repleta de agonia

Nela e através da mesma
preciso ir vivo como quem prossegue cheio de vida

Tenho que ir íntegro
quando na verdade
tudo em mim
é ruína.

Eu quero dormir
Não morrer.

Quero sumir
E não deixar
de viver.

Quero apenas o descanso
para entender
com clareza
o tamanho do meu cansaço
o excesso do meu sofrer.

sábado, 19 de julho de 2008

As crianças me olham

E eu não sei como me portar.

Parece que fiquei velho
ou talvez apenas cause medo
mesmo sem perceber.

Elas me olham
e eu não consigo esconder
toda a dor que há em se ver
em ver ir no si mesmo
a infância a se perder

ir correndo
feito pique
decaindo
feito corda
que se pula
e pula
até nela se enforcar.

Todas olham
e vêem minha barba
sentem um cheiro ocre
assustam-se com o tamanho
e sobretudo
o corte
do meu cabelo.

Fui eu que me perdi primeiro?

Ou elas que ainda não se encontraram?

Precisava mesmo era de mão que penteasse meus pêlos
de mãe que me obrigasse a ser direito
e que me deixasse
sim
um pouco sem ar.

Fiquei tão livre
tão rápido
tão cheio de asas
que parti sem pensar
que saltei sem olhar
para baixo
para trás
quiçá para dentro

Parti semi-consciente do meu fim.

E então, hoje as crianças olham todas para mim

Vejo seus olhos e ameaço um tremor
Vejo seus olhos e hoje eu tenho pavor
Da criança que soterrei sob meus gestos
Imprecisos gestos de quem se achou grande antes da hora.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Floreser

Um início
É quando tocamos numa pele
E descobrimos dela
A sua aparência

É quando sentimos o sangue que flora em pétalas
Chorar a sua inquietude
Para todo um casulo

Reverente ao mundo
Sob véu noturno
Embebe-se do caminho obscuro:

Esse do crescer
O de floreser.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Vestido de Noiva

Nunca tinha percebido, mas há nesse título o verbo VESTIR conjugado para o masculino, para o homem que está vestido de noiva. Vestido com a roupa de sua futura mulher. Ou com a roupa de uma mulher qualquer? Ele está vestido da cabeça aos pés, mas de quê?



Qual arte é melhor? Teatro ou cinema? A peça do Nelson ou o filme de seu filho?

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Temática do Desespero

Tudo partiu de uma partida:
sair de casa para através da estrada
encontrar-se a própria vida.

Que desejo é esse? O de escrever.

O que com ele posso fazer? Posso lhe dar vida
e fazer da intriga uma poesia
da dor morrida outra agonia
sempre escrevendo
sempre ditanto
em silêncio
os rumos que toma
o meu peito.

Desespero porque não posso conter.
Desespero porque nisso me vejo
de outro jeito
sob outro pretexto
eu me mutilo para perceber
quais cortes em mim doem mais
do que aqueles que risquei em você.

Temática Dor
Desespero

Porque assim também é o que agrada
A tal ponto de enlouquecer
de não querer que se rompa
esse cotonete incessante
que me faz sentir
a vida
a me escutar.

Eu escrevo para não me perder
para não me olvidar
quando tudo o que faço passa correndo
e aquele beijo que queria fosse eterno
já passou
e depois foi você
e agora eu estou sozinho
e tento assim
- no escrever -
compreender
ou

caso não consiga
e eu não consigo

tento no escrever os limites dessas dores
tento nisso as misturas de outras tintas
que vieram todas no dia em que você
desceu de onde estava
e veio até onde estou

tento os limites
atento aos limites
um último vôo
para romper a casca final
e poder, enfim, voar

EU QUERO ELA EU QUERO ELA EU QUERO ELA

E o que eu posso fazer?
Se o que você quer é meu também?
O que posso fazer?
Não me peça ajuda!
Desculpe-me a grosseria!
Mas são níveis de dores
que não podia até então
conceber
...

AH! COMO É HORRÍVEL! VER A SUA VIDA VERTENDO AO PRECIPÍCIO CRIADO POR QUEM NELE PULOU! COMO DÓI VER SEU AMOR TODO VAGANDO PERDIDO SEM TER PEITO ONDE APORTAR. COMO DÓI SENTIR O TEMPO TROTANDO A PELE E NELA VIR SE DEITAR COMO FOSSE O TEMPO A LETRA A DIZER QUE O CORPO MORRE, MAIS E MAIS, A CADA DIA.

..
.

domingo, 13 de julho de 2008

Classificações

Se eu avanço
e você me diz
Não venha
O que eu faço
é o que
é insistência?

Pode ser amor
você deveria dizer
mas se meu amor
já não te serve
como saber se
o que sinto
é também ódio
também raiva
também rancor?

Você poderia dizer
que tudo o feito
foi feito tudo mal
pelo avesso
com segundas
terceiras
e quintas
intenções

E eu devo dizer
isso faz de mim o quê?

O quê, você sabe dizer?

Então, por favor
não me venha para determinar
não me venha para dizer quem sou
ou como devo me portar

São tarefas para o indizível
são querelas de um infinito
que não cabe em nossas mãos
tanto nos batemos
demais ou lento
pouco ou rápido

Não venha, se eu pedir
Não faça mais isso.

sábado, 12 de julho de 2008

Paçoca

Doce poroso feito a partir do amendoim.
Amendoim é calórico e dá espinha.
Espinha é uma inflamação nos poros da pele.
Pele é o lugar onde eu deito e rolo.

[...]


[..]
Teoria da Relatividade
Vivi dois anos e meio em três dias.
[.]
XOXOXOXOXOXOXOXOXOXOXO

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Who is it?

Ouço sinos, que batem ao longe, mas a mim chegam inteiros.Ecoam, no meio do caminho que não sei do que é feito.Ecoam, dentro de mim através de mim e sobre mim parecem cantar:o quem éo como serou como seráEcoam, mas não para ferirEcoam, felizes, para intervirno saltono desalinhono maniqueísmo de ver o mundo acabadode ver o preto manchando riosbolsasvalorescoraçõese utopiasecoando os sinos mantêm-semas quem é que nunca feriu outroque não fosse vocêmesmoquem não feriujamais poderá gritar a dorquem nãopoderá apenasrestarsó é vivo quem é capaz de matarou a si próprioou a si mesmoou a si...sinosnão são?sinos pequenospratassilenciosamente precisos no que sãosinosecoseu sinto:batem-se em mimcruzam-me à escuridãoo som dos sinoscessououçoagorauma baladamas novavivaatravés de tudo issoe da chuvapara sentir-sesozinho, simmas atravésantes de tudosentir-me felizpor cruzarsem timas cruzandosabe-se lá, que caminhoqual sentidocruzando o sempredeixando o nuncapara talvezpersistirna distânciaembaixoencontrarseus olhose neles baterse chocarespetare perguntar:eu posso contra as pedras?meus olhos ficarão abertos ou fechados?antes da chuva,eu posso me sentir feliz por estar aquiatravessandoo eternoo preciso momentode ser feliz ou nãomas eu queroatravessarportanto, eu posso me sentir melhorapenasdiga-me algo que sem compreender eu possa assimilar.um som, um gesto, um movimento, um protesto. algo assim, melhor do que eu.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Destino aos Filhos


Eu me perguntei, depois que os permiti e incentivei a ida ao mundo.

Fiquei um segundo sentado, como numa pausa, o cigarro consumindo-se sozinho. E eu cabisbaixo, pensando no rumo dado aos filhos recém-criados. No rumo dado ou, talvez, devo reconhecer, na falta de rumo.

Muito silêncio foi necessário. São filhos que nascem por força, por fórceps. Filhos que não aceitaram o passar para trás, o deixar-se menos ou mais. São tão sinceros. São chatos de tão éticos. Exigem de mim o que um dia perceberão: que é impossível ser utópico.

Mas carrego seus desejos. Escrevo seus lampejos. Dou vazão a todas as suas idéias, sem medir qualidade, sem medir nada exceto a pureza de suas vontades.

Falando da tia fulana

Outro dia um veio e me perguntou,
Pai, porque a tia não olha para mim?

Eu olhei bem seus olhos e respondi,

A tia fulana não tem tempo para olhar seus olhos. Se ela assim os visse, como eu vejo agora, talvez se orgulhasse do parentesco. Mas não há nada. Você não precisa ser olhado, precisa mesmo é olhar sua estrada.

Ele não se satisfez. Olhei duro para ele até que se contentou, pela metade,

Tudo bem, então. Mas você olha, né?

Sim. Eu sempre olho. Todos vocês. Sempre olhos os filhos que de mim vieram a ser. Volto lá atrás e vejo a cara de um que já nem é mais o que é, pois depois que nascem, mudam a cada dia. Depois que chegam, pegam noutras mãos e respiram outras agonias.

Sofrimento de pai

Só mesmo quem é pai para saber desse sofrer. Triste e engraçado é perceber que quando falo para eles, através deles, sinto-me o homem mais forte. Tenho em mim a sensação do saber eterno daquilo que quero ser. De quem desejo ser. E assim eu permaneço, até durar o nosso gracejo.

Dia dos pais

Assim como o outro, veio noutro dia um menor. Perguntou-me como se já não soubesse,

Pai, que dia que é o dia dos pais?

Eu brinquei, fingindo estranhar,

Dos pais ou do pai?

Ele ficou sem graça, achando ter me magoado,

Não, pai! Eu quis dizer, o seu dia. Quando é?

O meu dia, eu disse, é toda a vez que um de vocês chega até mim.

Assim? Do nada?

Sim. Mesmo que seja para pedir...

Posso?

Não, filho. Hoje não!

Tá vendo? Tá vendo? Você nunca deixa.

Eu deixo... Mas...

Ai, pai. Chantagem não vale.

Vale sim. Vale tudo. Você pode ir, desde que venha aqui...

Diga...

E me conte um verso secreto.

Outro?

Sim. Sem preguiça. Vá, depressa.

Eu não sei.

Como não?

Eu posso dizer uma palavra invertida?

Você inventou isso?

Não. Você sabe que foi o senhor.

Senhor Deus?

Não, pai. Pára! Foi você.

Ah, sim. Deve ter sido.

Então... A palavra invertida é ódio.

Nossa mãe...

Você quis dizer amor, tenho certeza.

Tem certeza?

Sim! Agora deixa eu ir!

Vá! Mas da próxima vez só irá de novo se me contar...

Um segredo...

Não. Se me der um beijo.

Ai, saco.

Despediu-se sem jeito, escondendo na presa a felicidade de ser amado por inteiro.

Narcisos brincam no rio

E eu ali fiquei pensando, como me tornei previsível. Meus filhos já nem se alegram tanto quando conhecem um novo coelho em nosso ninho. Todos com cara parecida, todos com as mesmas rimas. Talvez precisem de uma mãe, de outra mão. Não sei. Sou pai de primeira e única viagem. Pai para sempre.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Terreno Baldio – 1ª Tentativa

Um desespero profundo. Desespero na alma. As pessoas ao redor passando e eu ali, preso numa jaula. Era isso o que era para mim mesmo. Uma caixa, um compartimento. Um bloco duro, mas quebrado por dentro. Não há poesia, há dor e silêncio. Dor em silêncio. Não pude sequer deixar escorrer a lágrima, pois a moça ao meu lado me olhou, curiosa, interessada ou por divertimento. Eu tentando dar um sentido, eu tentando expor um sentido, eu sempre tentando e nunca vou parar, pois essa é a minha eterna solidão. A de escrever. A de tentar escrever as cores da sua dor, a palidez desse horror que hoje eu sinto. As pessoas ali passando e eu querendo o vento. Querendo sumir por estar tão inquieto. Que desespero cabe na alma que não sei explicar! Uma ânsia, mais até do que vontade de chorar. Eu chorei em seguida. No escuro eu chorei. Mas passou, exceto esse andar desalinhado, não pelo peso das bolsas, mas pelo peso do peito, inchado, dolorido, peito reconhecidamente arruinado.

O peito. Meu peito. Terreno baldio primeiro. Desabitado. Nômade. Autoritário. Espaço para atos vagos, tentativas vãs e corpos cortados. Corpos sobre mim esquartejados. O meu também mutilado. As pessoas dizendo que eu estava triste. E eu sem saber dizer que tristeza é tão lindo perto desse abismo. Eu tentando dizer que como nunca antes, agora é sim um abismo. Uma coisa que consome por mais tempo, um desespero que não se vai ao trocar a faixa da música que não troca, pois se repete a todo o momento. Como pode? Tenho medo de ter criado um terreno minado. Medo por ter me criado do jeito errado. Por ter acreditado que é capaz se gerir. Eu acreditei e talvez seja tarde demais para voltar.

Como voltar se eu não deixei migalhas?

Acordes dessa estação

Eu estarei esperando na rodoviária

Vendo descer o ônibus

Talvez chore logo, ou depois, ou durante

mas devo ensaiar as primeiras linhas que vou te dar

como presente, desse encontrar, dessa vida que quando parece engasgar

me surpreende outra vez

e me traz você

vindo voando

vindo ligeiro e sem mais me enrolar

vindo presente sem nem mesmo adiar

agora é real

e eu preciso sentir para ver

preciso tocar para perceber

que é você

que está aqui

e que podemos assim chorar e rir, sempre balanceando o que tende a despencar

para um lado só

eu estarei lá

esperando

esperando atento

o olhar desviando

a cada seta invísivel que anuncie ser você

ah, como estou feliz

uso esse "ah" que nada pode dizer

mas é isso, é isso mesmo, é um arrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

com erres sem fim nem fundo nem princípio num segundo

todo o ar que há em mim troca-se com o do mundo

e eu me sinto muito maior

pois terei você ao meu lado.

domingo, 6 de julho de 2008

Minutos depois...

Eu fui beber a água.

Não sabia quanto nervosismo poderia nela haver,
mas bebi mesmo assim,
como se nisso
bebesse também você.

Fumei um pedaço do seu cigarro.
Devolvi-o com cuidado
para no tremer
não denunciar
aquilo tudo
tudo tudo
que não queria
ou era fraqueza
que não conseguia
ou era esperteza
revelar.

Lavei louças
para distrair.

Fui ao banheiro
para me olhar.

Como estava
que tamanha idioticidade
mas eu fui firme
devo pelo menos me orgulhar
eu fiquei a me fitar no espelho
a me analisar
ouvindo o seu silêncio virar caminhar
e sentir os seus passos pela porta cruzar

Abri-a (a minha porta)
Nos demos cara a cara
Dei boa noite
mas noite despedaçada
já que era quase dia
já que era agonia
e eu forçei na fala entristecida
eu forçei até onde não saberia

e voltei para a solidão do meu quarto

"this are not times for the week of heart"

cantava alanis no meio daquela noite quase dia

a fome batia
parei um segundo já a porta ultrapassada
e ouvi que a do outro quarto permanecera intocada

tremi inteiro
avançei ligeiro
mas com cuidado
e ao estender-me pela minha porta
vi você.

que silêncio
que vergonha
que momento
que ânsia

era fome
no pré saciar
era fome
mas eu poderia aguentar

pois em segundos depois
deu-me a comida pela boca
e amanheci saciado
de banho tomado
pegando no sono
no ônibus rodoviário
viajando rumo ao destino
que escolhi para mim.

só para mim.

sábado, 5 de julho de 2008

Hurbanidade









Salivação

O tempo de você fumar seu cigarro
é o tempo que dou a minha indecisão

Seria eu capaz de me erguer daqui
e ir até você
nessa noite escura
e um beijo pedir?

Sem medo do fora
Sem medo de nada
mas tremendo na hora
como estou sozinho aqui.

Quanto tremor pode haver assimd entro de mim?

É você que está aquid entro
Remoendo meu estômago
e me consumindo por dentro
consumindo
consumindo
e eu já não sei o que fazer.

Vou beber um copo de água
fingir que é sede
quando na verdade
é fome.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O ano em que meus pais vão sofrer nas férias

Falta-me ainda a precisão dos mais velhos
O olhar profundo e calmo
o respirar sereno e ruidoso.

Falta deixar de ser jovem
e tornar-se mais tempo
menos carne
e mais osso.

Não quer dizer antecipar
avançar sem viver
e nem morrer
por não chegar,

É só porque falta
esse espírito viajado
esse silêncio concentrado
essa substância insubstituível
do ser sido
do ser adiante
do ser quase morrido
por tanto viver.

Haverá lucidez?
Ou quais outras se revelarão?

Não serei louco?
Serei ainda artista?

E minha poesia?
Haverá premissa que a defina
ou sequer aceitarei definições?

Eu morrerei jovem ou velho?
Morrerei cego?
de um
ou de dois
tiros
digo
olhos
repito
filhos
?

hein?

até lá
usarei quantas tremas
colocarei quantas vírgulas
e morrerei em quantos cigarros?

tudo pode ser contado
em gotas
paciência
intermitências
menos escolhas.

reflexão descartável
somente para permitir ao corpo
dormir menos chateado
menos assim
mais de outro jeito
deito-me o corpo agora e o alinho
sonhando tudo que me possa fazer
permanecer
em cama profundo
em sono sem fundo
eu persisto
e finalmente
traço rumos.

vou
para não adoecer

vou
por mim não por você

vou
pois gosto de romper

vou
porque é preciso

porque é impreciso

porque é perigoso

porque cansei de falar

porque vou aprender a voar

e porque sou eu, apenas

sozinho

e isso

na fome

precisa ser alimento.

terça-feira, 1 de julho de 2008

July está em casa

Ela chegou de repente. Quando percebi, eu já não estava ausente. Já não temia o frio da manhã porque sabia, sempre soube, ela viria diferente. E veio. Nessa manhã que poderia ser como todas as outras, July entrou voando pela janela e me assustou. Susto bom, como costumam dizer. E foi. July pegou-me pelas mãos e me perguntou se ia mesmo me jogar. Mas com ela ali, me olhando daquele jeito, fui eu que sem meios tive que dizer que não, July, que agora não, afinal, ela chegara quente após tantos meses.

Fomos tomar banho juntos. Ela recostou-se com a cabeça na altura da janela do box. Eu ali me lavando e ela esfregando a cabeça no azulejo azulado. July me desespera desse jeito, quer me fazer viver e o pior, consegue. Não me deixa parar de ouvir a sua música preferida, que eu já adoro. Nem sequer me impede de fumar. Coisas que quando July me permite ser, é porque desejo mesmo que eu seja feliz. Ainda que morra depois, ela me disse ao me enxugar, morra feliz, não é?

É sim, July. Acordei com você e morri ao te ver. Foi realmente muito bom ter você assim, logo de manhã. Talvez eu devesse dormir mais um pouco... Não! Me gritou. Você quer dormir mais e inventa que é por mim. Mas não é! Quero dizer. July, seria ótimo acordar com você aqui, a me espionar, olhando-me enquanto o sono ainda habita o meu corpo. Que corpo tem você, devo dizer. Não adianta envergonhar, é seu corpo mesmo que me dá prazer. Que me traz e me leva sem eu nem mesmo escolher: se vou ou fico? Se choro ou rio? Acho que rio.

Vamos ficar juntos neste mês? Vamos sim. Achei que você talvez não quisesse mais me ver. Quem sabe no próximo inverno eu não esteja mais aqui. No próximo inverno eu tenho medo que o mundo congele. Você não percebe? Eu sinto. Veja a minha pele: todas as bolinhas que fazem de mim esse que sou. São bolinhas assim porque estou sem camisa e então é fácil ver aquilo tudo que me forma.

Vem aqui. O que foi? Me dá o seu abraço? Apertado? Muito, muito apertado! Tudo bem. Ai, como isso é bom. Acordar com você, July. Isso parece mentira, não porque é verdade, mas porque vai durar pouco. Quando você vai? No final do mês. Não posso me prolongar. Tudo bem, July. A nossa condição de reencontro é saber que ele irá acabar. Eu me acostumo, já até me acostumei. Mas vem aqui. O que foi? Dá um beijo no meu nariz. E outro na ponta do meu umbigo. Mas o seu umbigo é para dentro. Eu sei, só disse isso para ver se você lembrava. Eu lembro de tudo. Eu sou uma bolinha que te faz ser um todo. Sim, minha bolinha. E o que mais?

Vem aqui. Que foi? Outro abraço. Está dado.

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