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quinta-feira, 3 de julho de 2008

O ano em que meus pais vão sofrer nas férias

Falta-me ainda a precisão dos mais velhos
O olhar profundo e calmo
o respirar sereno e ruidoso.

Falta deixar de ser jovem
e tornar-se mais tempo
menos carne
e mais osso.

Não quer dizer antecipar
avançar sem viver
e nem morrer
por não chegar,

É só porque falta
esse espírito viajado
esse silêncio concentrado
essa substância insubstituível
do ser sido
do ser adiante
do ser quase morrido
por tanto viver.

Haverá lucidez?
Ou quais outras se revelarão?

Não serei louco?
Serei ainda artista?

E minha poesia?
Haverá premissa que a defina
ou sequer aceitarei definições?

Eu morrerei jovem ou velho?
Morrerei cego?
de um
ou de dois
tiros
digo
olhos
repito
filhos
?

hein?

até lá
usarei quantas tremas
colocarei quantas vírgulas
e morrerei em quantos cigarros?

tudo pode ser contado
em gotas
paciência
intermitências
menos escolhas.

reflexão descartável
somente para permitir ao corpo
dormir menos chateado
menos assim
mais de outro jeito
deito-me o corpo agora e o alinho
sonhando tudo que me possa fazer
permanecer
em cama profundo
em sono sem fundo
eu persisto
e finalmente
traço rumos.

vou
para não adoecer

vou
por mim não por você

vou
pois gosto de romper

vou
porque é preciso

porque é impreciso

porque é perigoso

porque cansei de falar

porque vou aprender a voar

e porque sou eu, apenas

sozinho

e isso

na fome

precisa ser alimento.

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