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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

métron


quando eu a vi, a primeira coisa que quis foi ser autor desse extravazamento, dessa palavra que não existe. é como se ante a ela, para lhe dar oi, fosse preciso mais que isso. fosse preciso sempre mais, sempre grito ao invés de polidez. quando eu a vi pela primeira vez, as coisas perderam sua clareza, o ar ficou denso e os traços sobre o relevo ficaram tontos, acho que sem propósito. então eu pensei, ainda com ela se mexendo em meus olhos, eu pensei que há certas coisas na vida que não são para serem vistas. coisas que de tão belas deveriam ser lenda, só mito, deveriam fazer apenas rimas e nada além. nada além disso.

não me recordo seu nome, nem sequer se um dia vim a sabê-lo. não me recordo exatamente quando ou se estava acompanhado ou se o céu estava cinza ou negro. não me lembro e não me importo. peço perdão ao autor da obra, mas foi ela quem me assaltou. eu, a princípio, nem a tinha visto. foi tudo invertido. ela que veio como se em mim pedisse abrigo, como se precisasse de um calor ou aperto ou conforto passageiro. e foi, eu confesso. e foi tudo assim sem ritmo avassalador, sem hino ou terror. tudo foi calmo e pleno e hoje se canto alguma ira, é porque estou só. hoje se canto alguma ode é porque minha voz secou por tanto vagar nessa busca. nessa ida sem fim rumo ao que sua obra roubou de mim. meu silêncio, minha medida, minha paz, meu contentamento (com o que poderia haver de mais simples numa tarde. e que por causa disso, hoje já não me satisfaz).

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