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sábado, 20 de novembro de 2010

O compartilhar de um apenas

Para que tenho escrito:
para não somente querer dormir
para não unicamente colapsar

venha aqui agora mais uma vez
dispor em palavras o horror
dentro, que dentro me faz parar
e não querer mais agir
e querer tudo abandonar

Pode-se ser escravo de si próprio?
Eu começo a ter certeza
eu começo a me ver e nisso acreditar
sim, estou perdido

Primeiro de mim arrancado
Segundo de mim impedido
de voltar
de querer assumir meu corpo
assumir minha pausa
meu tempo preciso
num restar
que seja o da tarde na praça
que nunca vim a conhecer
eu não soube o que é ficar
nas horas
cravado sobre o banco
perdido entre um vento
e um punhado de olhares

Não,
eu preciso voltar
a despeito do sucesso
a despeito dos salários
eu não posso mais me escravizar
eu preciso do tempo
para nele selar as mãos
e seguir
andando
correndo sim, mas só se quiser fazer ventar

Sem arranques
sem bruscos freios
minha vida quer ser poliana
e eu a aceito
eu a aceito sim
e deixo que o horror
que o instável se instaure aqui
feito verso corruptor capaz de assassinar

Eu hoje estou imóvel
de tanto e por demais caminhar
mas quero o silêncio do carinho desprovido de validade
quero o compartilhar de um café
apenas

Em alguns dias
eu me decido

É por mim, dessa vez
por mim que me seguro
e dilato a duração

Para apreciar os filhos
sem lançar sobre eles a minha aversão
Para apreciar o vento redigindo seu cabelos
e não eu mesmo
e não só eu mesmo

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