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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

dimensional

deita a cabeça sobre o travesseiro.
não sonhe - esta noite - com dentes
caindo
ou saindo
caindo sobre a grama
ou saindo
da sua boca
seca de sangue.

deite sobre o travesseiro
e de olhos bem fechados
acompanhe
os fones de ouvido levitando
e dançando
inertes
sobre o seu
aparente
sossego.

deite sobre
e deixe que costurem
no ar
a tentação
que é fugir
deste silêncio.

não haverá nuvem
nem água
chuva
nem vento

a dor permanece
imóvel
feito móbile
em dias
de janela fechada.

é quase quente
é morno
não há nenhum barulho
vindo da sala.

solidão

quieta

miúda

móvel
mas tenra
à espera
da saliva
abrupta

da fala
do verbo
do incesto

a perfurar
a nossa improvável
inábil
habilidade
de se ouvir
e se olhar.

de se
ver
e
se
escutar.

salto
por fim
sobre o travesseiro
os olhos já cerrados
quase se anulando
- pelo inverso -
quase se cegando
para o eterno

e pronto,
enfim
sua poesia
me dói
feito fosse pluma
a irritar
a pele plaina
da poesia
imberbe
ainda
sem morte
desconhecida.

fica
hoje
pois eu posso voar
no seu embalo
e perder
toda
e
qualquer
medida.

mais uma vez
sobre o travesseiro
você ri
sem dentes
você sonha
quente
mas venta
no quarto
há tão pouco
inerte
venta quente
e o correio

está ansioso a tua espera.

vai
dorme
porque amanhã
você ainda
precisa
estar
vivo.

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