deita a cabeça sobre o travesseiro.
não sonhe - esta noite - com dentes
caindo
ou saindo
caindo sobre a grama
ou saindo
da sua boca
seca de sangue.
deite sobre o travesseiro
e de olhos bem fechados
acompanhe
os fones de ouvido levitando
e dançando
inertes
sobre o seu
aparente
sossego.
deite sobre
e deixe que costurem
no ar
a tentação
que é fugir
deste silêncio.
não haverá nuvem
nem água
chuva
nem vento
a dor permanece
imóvel
feito móbile
em dias
de janela fechada.
é quase quente
é morno
não há nenhum barulho
vindo da sala.
solidão
quieta
miúda
móvel
mas tenra
à espera
da saliva
abrupta
da fala
do verbo
do incesto
a perfurar
a nossa improvável
inábil
habilidade
de se ouvir
e se olhar.
de se
ver
e
se
escutar.
salto
por fim
sobre o travesseiro
os olhos já cerrados
quase se anulando
- pelo inverso -
quase se cegando
para o eterno
e pronto,
enfim
sua poesia
me dói
feito fosse pluma
a irritar
a pele plaina
da poesia
imberbe
ainda
sem morte
desconhecida.
fica
hoje
pois eu posso voar
no seu embalo
e perder
toda
e
qualquer
medida.
mais uma vez
sobre o travesseiro
você ri
sem dentes
você sonha
quente
mas venta
no quarto
há tão pouco
inerte
venta quente
e o correio
está ansioso a tua espera.
vai
dorme
porque amanhã
você ainda
precisa
estar
vivo.
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