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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Os peixes mortos

Haverá uma avenida
passando pela qual
lhe será impossível
esta sua indiferença.

Os pés descalços
quando sobre a areia
mesmo que em óculos escuro
hão de perceber pelo tato

Os peixes mortos em fim de tarde
a cair, lenta.

Nenhuma ilusão possível
nem sequer haveria cheiro
por tal distância tua verias
que a morte vem com ou sem
alarde.

Um silêncio medido a passos na areia.

Os peixes mortos não querem a sua pena
pois pesam, inexoravelmente, somente
A tua consciência.

Um passo a mais
a areia está morna, você sente.

Outro passo adiante,
mas é como se seguisse parado.

Paradoxo em meio a vida
pelos Peixes mortos alardeado:

Que fazer, meu Deus, que fazer?

Os olhos perguntam, porém os pés
aprofundam-se na areia morna
desta tarde tornada lema de morte.

Os peixes mortos anunciam a chuva
que não virá.
Os peixes mortos afastam pássaros
que não vieram.
Os peixes mortos anseiam seu silêncio
que não seguirá,

Você chega em casa
tenta desfazer o cansaço do dia
Mas só o que resta é aquela imagem
do holocausto das águas:

Fileiras e mais fileiras
de peixes de distintas espécies
Ornados em embalagens de biscoito
rosqueados em tampa de Coca-Cola.

Tu pensas no mar e anseia que a chacina se acabe.

Mas o Peixes mortos persistem a sua morte
sem réquiem a zelar seus corpos.

À noite, se fores passear à beira d'água,
tome cuidado:

Os peixes mortos não moram noutro lugar
que não na beira
Deste mundo oceânico.

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