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terça-feira, 25 de outubro de 2011

para que não digam que eu não sabia

eu sei. tudo está dado. tudo está claro. sim. a neblina sou eu. a poeira também me pertence. o café preto – escuro – sou eu quem faz. sou eu quem paga. sou eu, neste agora.

apaguei a luz. tudo o que escrevo agora no passado é passado por poucos segundos. é o atraso entre agir e escrever. eu acabei de apagar a luz. o café foi feito e resta a esquerda sobre a mesa de vidro, repleta de objetos. repleta de papéis, canetas, fios, moedas, isqueiros e fitas adesivas. o café resvala. quero bebê-lo, mas vou me segurar. isso que escrevo – às vezes – parece ser o antídoto para seguir (respirando) sem tombar.

certo. bebi um gole super tímido. não quero transformar estas palavras em carta suicídio. é sério. para que não digam que eu não sabia é que escrevo este testemunho. ele é sincero, ele é doído, mas operante. ele é o retrato sensível (ou não) de quem eu tô sendo (ou quem eu acho que estou sendo).

estou apaixonado. é duro dizer. não faz sentindo dentro do corpo. talvez seja desejo apenas. e o que há de errado nisso? há apenas a vontade súbita e a impossibilidade de vencê-la. estou desejando. estou me drogando. estou me matando (se não me cuido como me ensinaram que eu deveria fazer). em resumo: estou cansado. o tempo que tenho não me serve para nada exceto para restar. tenho a sensação de ter me esgotado mais rápido do que poderia alguém ter feito consigo próprio.

meus sonhos não me visitam mais. meus medos são pequenos, bobos, imperceptíveis. minha fome é pouca. meu peso é pouco. minha sanidade é perfeita. que coisa mais triste essa conjuntura, onde eu não encontro desculpa alguma para validar a minha falta de presença.

ouço repetidas vezes o mesmo som. uso repetidas vezes a mesma roupa. troco-as apenas quando sinto algum odor indesejado (aos outros, porque eu não temo meus cheiros. eu poderia gostar de todos eles, mas não me ensinaram nada disso e está cada vez mais difícil aprender algo). eu poderia dizer que está tudo bem, mas não está. algo em câmera lenta se move a fim de me abocanhar e vencer. sou eu quem destina a mim próprio essa chacina. sou eu que me rendo e eu mesmo que me perfuro a vista.

eu vou morrer.

ou ser invalidado. eu sinto a vida no meu corpo, pulando como se estivesse saltando num salão qualquer. não está. a vida em mim se confunde e faz recreio em todo e qualquer estação. eu só queria, diogo, que você pudesse se ler lá na frente. eu só queria que você um dia – lá na frente – soubesse que você já esteve mal desse jeito. e que ficar pior que isso vai ser realmente seu fim definitivo.

ou você se acorda, amigo. ou o seu fim já está aqui contigo.

não sei mais o que te dizer.

tenho raiva de você.
tenho medo da sua inconsequência.
tenho ira profunda.
e é tudo verdade.
mas nada se mostra
nada disso que tu mesmo escreve a si próprio
faz em ti alarde
nada em ti arde
nada reverbera
estás morto?

és indiferente a sua própria sinceridade.

dominaste a linguagem
hoje agoniza
querendo
conjugar
verbos.

não poderás
estás seco
pré-morto
as pessoas querendo te amar
e você dando desculpa
de rouco
de incapaz
de cansado
de ocupado
de não-gosto
de não-faço
de niilista
escroto
bandido

ATAREFADO!

foda-se, você.

foda-se, diogo
você por inteiro.

quis se encurralar com essa poesia medíocre
e recebeste de si próprio amontoado qualquer de palavras sem destino
quis se escrever para se relatar seu desastre
e o que você escreve não é nem próximo disto
aqui
sentado
ante a essa computador
nessa casa desarrumada
longe dos amigos
dos pais
e de todos os amores
que em ti
foram por ti
arrancados.

você merece tudo isso?
ou você vai sair desse sofá?

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