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sábado, 23 de maio de 2015

Sobre o representar

Talvez nem houvesse palavras para tanto.
Talvez eu nem devesse me dar ao trabalho.
No entanto, o jogo me convida:
eu amo lançar sobre o fundo branco
a luta minha contra algum embargo
do representável.

É clara a discussão, não?

Certos afetos, certas potências e estados
certas coisas não toleram ser representadas
Seria como tentar colocar dentro de casa
o cair da chuva batendo sobre o verde gramado.

Algo artificial precisa ser evocado.

Não estamos falando sobre mentira.
Esse binômio verdade/mentira
nem sequer existe aqui nesse papo.

Falo sobre o desejo
Falo sobre Falos
Falo sobre e sob embargos
do irrepresentável.

Aqui está:
fundo branco disponível a todo e qualquer desastre meu.

Aqui estou:
mãos em letras juntando trocados
e rompendo o amanhã com tesão convicto.

Represento sem exigência de ser contemplado.

Represento sem exigência de no amanhã
reconhecer o meu objeto aqui tentado
e à representação lançado.

A representação é desejo
e desejo move e comove
para desmover-se
e amanhecer outro dia.

Eu queria me dizer uma coisa:
a página em branco nunca será tua inimiga.
Nunca, a página em branco, te exigirá explicação.
O sentido, a página em branco sente
Ela sente como quem recebe
e não tanto como quem pergunta.

Veja:

é noite
e o corpo resta vivo

Quer espaço mais retrato
do que este aqui:

palavras voando e saltando
rimas se fazendo
e se prorrogando

É preciso.
É preciso.

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