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domingo, 30 de outubro de 2016

Ao Freixo.

Meu caro amigo Freixo,
Nem posso te chamar de desconhecido. Nunca antes alguém disposto à política me foi tão familiar. Escrevo dentro de um ônibus, retornando à minha casa após passar várias horas na Cinelândia, acompanhando de perto a apuração dos votos que te fizeram, sim!, prefeito desta cidade.
Em tempos tão sombrios e obscuros como o nosso, em que o cinismo impera, a sua presença fez acordar algo distinto, um desejo de presença e de renovação, que independente do saldo dessa eleição municipal, continuam. Hão de continuar.
Tenho tanto a te dizer e a te agradecer que esta mera pastagem num blog quase invisível jamais daria conta. Mesmo assim, pelo prazer e demanda na nossa luta, não me permito fraquejar. O caminho anuncia tempos nebulosos, mas, Freixo, o que sua campanha me fez aprender a valorizar foi justamente a confiança na mudança. Sua campanha me presenteou com aquilo que eu havia me esquecido: que existem - sim - pessoas destinadas a algo mais que o próprio umbigo.
Nas últimas semanas, com sinceridade e motivação, me vi conversando com todas e todos que me cruzavam afim de compartilhar e ouvir opiniões sobre a atual situação política de nossa cidade e país. Para o meu espanto, ainda que fosse óbvio, me deparei com muita gente desistida de falar sobre política, gente já entregue acreditando que se entregar fosse a melhor saída.
Paga-se mesmo um preço alto por isso de se importar com algo além de si mesmo.
Assim, segui meus dias, fiz minhas conversas, trouxe luz a alguns e confusão a tantos outros.
Passo agora, dentro do ônibus, em frente à Prefeitura do Rio de Janeiro. Um pesar me assola. Uma indignação, ao mesmo tempo, me conforta. Sim, uma ira, raiva mesmo, uma certeza plena de que a vida inteira seja luta. A vida inteira deve ser isso mesmo: inconstância, perseverança, presença em ação; Luta. Simples assim.
Queria lhe dizer, caro Freixo, que o mundo ainda não está pronto para a sua ousadia. O mundo, maior parte dele, ainda não tolera a diferença. Ainda não sabe conversar. Esse é o saldo de uma cultura escrota, criminosa e apenas para poucos. Eis a cultura de um país escravo que só viu no horizonte ser colonizador.
Mas, aqui estamos nós. Aqui estamos nós - e somos muitas e muitos - disponíveis ao sacrifício de nossa própria paz para que o mundo seja menos aquilo que ditam os poderosos e mais aquilo que deseja o nosso corpo, corpo imenso, corpo multidão, corpo tingindo à diferença, corpo em movimento e em intensa e constante modificação.
Hoje não foi a sua eleição, mas não foi para a prefeitura, porque você se fez eleger a muitas e muitos, você deu voz aos anseios mais honestos que trago comigo. Você, Freixo, deu voz ao que pulsa e ressoa em voz silenciosa comigo. Trouxe você um desejo de tornar mundo aquilo tornado invisível. Você me fez relembrar que não se está sozinho.
Choro passando pelo Maracanã. Estádio sede da corrupção do poder. Choro porque muita dor está por vir, mas também junto a ela muito prazer. Nunca antes estive tão certo de que o duelo com o mundo fosse algo tão constante e interminável. Agora eu sei. Não acabou. Quer dizer, tudo acabou e tudo acabou de começar. Também. Fim e início. Fim e princípio.
Tudo acabou de começar.
O cinismo, o homem sem escrúpulos, nada disso vai vencer, nada disso tem capacidade de germinar. Numa cidade imensa como a nossa, cidade contraditória, numa cidade como essa foram muitas vozes em uníssono que se juntaram a sua canção. Isso significa mais que um placar de futebol.
Continuaremos. Continuarei. Continuarás. Porque ao mal desse mundo, não há Deus que possa fazer frente. Frente ao homem é só mesmo o ser humano quem pode se colocar.
Aqui estou eu. Aqui estamos nós. Aqui, junto a você, Freixo.
Diogo Liberano.

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