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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

788

é porque talvez eles tenham vindo até agora divididos em mil pedaços.

eu olho essa quantidade toda e não consigo acreditar,
quando foi que os fiz? assim? nesse tamanho?

distraio-me um pouco, é muita pressão sobre os ombros.

mas volto a mirar - não todos - mas alguns.
volto a lembrar - não de todos - mas de uns.

como podem ser o que são e estarem tranquilos? 

devolvem-me ao mundo de uma forma tão cruel
sincera e mexida, forma estúpida e viciada
forma por vezes só feita de rima
e mais nada.

eu me vejo então neles e me suplico
como pude?
como posso?
como ainda faço
esse tipo de perversão?

e lembro-me então de um - ou outro
lembro-me de uma voz minha, mas dele(s)
dizendo-me ser quem eu sou
dizendo-me nunca ter se importado com isso
dizendo-me
meus deus, sorte nossa haver o tempo.

e me acalmo, de certo
pois posso apenas enrubescer, e seguir
pleno
eu sou assim
eles também o são
como podemos sofrer
se entre nós
o que existe é comunhão?

deixe que nos digam!
um deles abusa
deixe que invejem!
outro gesticula
no final das contas
eu vos digo
seremos apenas nós todos
sozinhos e abandonados

eles me olham
e eu repito
em outras palavras
filhos meus,
vosso pai nasceu
mas para ser sozinho.

olham, ainda, mas obtusos
e eu repito
com calma e precisão de um maduro
vosso pai, filhos queridos
nasceu para dentro
e eis que o 789
- que é número só porque ainda não tem nome -
ele ergue a mão disforme e anuncia
sem dizer nada
ele anuncia que quer tentar sentir
o que é isso de ter nascido para dentro
o que é isso de ter nascido sozinho.

e se levanta
e daqui se retira
para se postar
em breve
testando sempre pela primeira vez
a sua
a nossa
a minha rima. 

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