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sexta-feira, 17 de abril de 2015

Delírio

Gentileza
Eu preciso

Amanhã é seu dia
e não o meu

Seja feliz
com seus novos amigos

Nada me dói tanto
do que qualquer pedaço disso

Virei amigo do absurdo
mais uma vez

A morte de alguém que se ama
sempre atualiza uma vida por inteiro

Ando vago
passageiro

Só falo sobre mim
mas é só ti que vejo

Não queria viver isto
mas é isto o que me deixastes

Pensei em me jogar
sob um veloz ônibus

Vou tentar antes disso
um médico que fale sua língua

Talvez ele encontre culpados
e me faça ter pena da minha vida

Meu ódio é hoje a coisa mais linda
que por ti tenho destinado

Não que eu o queira
mas é que inda assim ele me invade

Você me invade
a todo e cada passo

Não duro nem 10 minutos
seu o sem sináptico lastro

Queria ver estrelas e ouvir piano
mas sobrou só você

Desprovido de presença
sem nada exceto fumaça

Sobrevivo sem ônibus
a tombar sobre mim

Meu desassossego é tamanho
que nem ônibus daria conta de mim

Ando cabeça baixa
tentando reaprender o que já soube
mas que por sua causa
de mim perdi

Gentileza
por favor

Deixe-me seguir fazendo de ti
apenas fantasma

Com algum tempo
o medo de ti se escassa

Um dia vai passar um ônibus
e eu esperarei na calçada

Neste mesmo instante
passado o ônibus
por entre o vento hei de discernir
o seu leve rosto na oposta calçada

E então trocaremos cumprimentos gentis
e sua presença não haverá de me doer

Mas
o que resta ainda é só esse instante

O que resta ainda é só dor que não dói
cor que não resolve
rima que não me firma
encontros que não me abatem

Estou vivo
mas quero dormir um muito mais

Feliz fico
em saber que sincero
exposto como estou
sigo vivo, delirante

e um pouco
Capaz.

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