O cara cessou os passos do outro lado da calçada e estacou.
Do lado oposto, o outro rapaz abria o porta-malas do carro, com extrema lentidão.
Pensou que talvez algo de dentro fosse sair, só podia ser esse o motivo de tamanha discrição, por isso, cessou o caminhar e apenas observou o outro do outro lado da rua em sua pausada ação.
Mas interrompeu o caminho. Bateu o porta-malas rapidamente e tão rápido como o fizera, mirou o outro que do outro lado fazia ponto, observando a sua face, as mãos, o corpo, o todo, a ação que ainda agora quase havia se completado.
É curto o tempo em que as coisas se conhecem e apaixonam.
Mas neste caso que estou a contar, não houve nada exceto esse cara que cessou seu gesto cotidiano ao perceber ser alvo da atenção do outro.
Eles se olharam. O que será que um pensou que o outro não soube?
Não saberia dizer. Eles se olharam e tão lento o outro fazia com o porta-malas, tão lento assim ambos fizeram com seus olhos, que lentos adormecidos foram se despedindo cada par de olhos para seu novo refúgio/objetivo.
O da calçada seguiu seus passos em silêncio.
O do porta-malas abriu o porta-malas.
Separados, agora, não há motivo algum para que especular o que havia dentro ou fora (dos corações ali batentes).
Se foi um encontro? Eu diria que sim.
Embora não possa dizer mais nada, para não soar prosa forçada, nem rima vendida.
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