Era noite quando o menino subiu à poltrona branca de seu quarto e se colocou a acariciar o próprio corpo. Fazia um mês - ou quase isso - que ele havia descoberto a possibilidade de se fazer carinho e se tirar do abandono. Ele ali, mais uma vez, buscando um meio de se fazer valer. O dia foi estranho. Pensou. Hoje o dia foi estranho. Eu trabalhei tanto e mesmo assim fui sumindo no correr das horas. Os segundos se ultrapassando e eu também nisso me diminuindo, me perdendo e ficando invisível. Estava com pensamentos estranhos. Estava com pensamentos, porque fazia quase um mês - era bem isso - certos pensamentos que lhe viam - de súbito - nunca mais partiam. E ficavam. E tudo durava nele. O tempo nele se multiplicava. E hoje - tão tarde - ele sobre a poltrona branca apenas testava sobre si próprio a força dos dedos e as quinas que as unhas formavam. Pensou em dormir, em nunca mais dormir, pensou que muitas vezes pensar era tão desnecessário quanto ser, estar, respirar e ruir. Sua língua respirou. Viu o pé pedindo carinho. Desceu os dedos que coçavam o peito sem pelo e aos pés foi deitá-los. Coçou entre os dedos, entre as unhas, entre cada encontro. E nada disso tirou, exceto, talvez, pensou, talvez, exceto o sossego de se reconhecer espaço para a incomprietude.
Riu baixo e sem esforço. Amanhã seria um novo dia. Amanhã seria ele outra vez no mundo de novo.
…
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