pensar sobre o fim é gastar tempo olhando para o que passou. não quer dizer que acabou. talvez seja apenas a percepção de que não volta mais. lembro então do meu primeiro all star. sugiro a cor. encontro uma foto antiga e a comprovo. hoje ele me parece mais especial do que foi. talvez porque eu sei – hoje eu sei – que nunca mais o terei de volta. ele estará vivo? nos pés de alguma criança? não. não me parece possível. naquela mesma tarde eu parado numa praia. não me lembro exatamente. mas estávamos juntos, a família. num carro. suspeito que fosse a belina do meu avó. que era grande e cabia a família quase inteira. paramos na praia não sei por qual motivo, mas estava frio, porque eu usava além do all star vinho, um conjunto de moletom. minha mãe adorava me dar conjuntos de moletom. e eu gostava de usá-los. era também vinho, mas mesclado com cinza e algumas inscrições acredito que pretas. eu com os cabelos grandes, como hoje. porém, não como hoje, naquela época penteados. pela minha mãe. acho que essa tarefa também já foi feita por alguma das duas irmãs. então. eu ali na praia parado. olhando não sei para onde. mas fotografado. hoje tudo aquilo acabou. e conservo eu apenas o instante mexido, posto seja lembrado. na foto tudo estático permanece como o tempo não tivesse passado. foi fim consumado. acabou. ser menino outra vez, não mais. não mesmo. dá saudade. dá leve desespero. olhar hoje para mim e me reconhecer alguém que precisa andar só e confiante em si o tempo inteiro. dá saudade da fralda e da mamadeira. da saudade de brincar querer ser independente, mas voltar para o calor do abraço materno ciente de que em alguma hora do dia – ou do anoitecer – é preciso pôr fim ao jogo.
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