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sexta-feira, 9 de abril de 2010

E dormirei, enfim.

E mais uma vez eu venho escrever poesia quando na verdade deveria estar resolvendo essa vida. O que fazer? Eu sempre inventarei uma desculpa para fazer com palavras aquilo que não consigo lidar pelas mãos. Eu sou criativo. Sabe? Está chovendo tanto e eu acho que peguei um resfriado. Eu sou diabético, você sabe. É mesmo melhor eu tomar cuidado. Ficar quieto. Brincando de ser escritor e não gente.

Que engraçado. Eu comecei escrevendo isso e a coisa está indo para outro lugar. No entanto, uma certeza eu carrego desde o princípio. Isso vai acabar a qualquer momento. Talvez porque as teclas estão duras. Ou são minhas mãos que sentem frio? Eu deveria ter feito café mas achei melhor fazer um chá. Dois chás. Não se resolve. Vício é uma coisa irredutível.

Vou dormir. Quero ler Deleuze. Preciso preparar meu ensaio. Mentira. Já está preparado. Amanhã o dia me brindará com novos desafios. Eu confesso. Você é o maior deles. Ter que te ver sem saber como me ser. Ter que te tocar sem saber até onde posso te apertar até que altura poderei gemer. Que cafona. Eu não vou gemer. A gente vai se encontrar no meio da rua, a gente nem vai se beijar, a gente vai ficar enrolando ambas as vidas. Tem esse “as” depois do ambas? Tem esse “as” antes das vidas?

Texto bobo, eu sei. Eu falo como se falasse com alguém. Eu falo comigo mesmo, como se em mim houvesse alguém mais. Eu escuto essa música que me entristece sempre e isso me apraz. Percebem? A rima vem vindo sorrateira. Tentando aprisionar o texto. Tentando ser bonita ser bela mas rima não é coisa toda passageira. Quer ficar. Durar. Permanecer.

Hoje eu cheguei à conclusão que preciso registrar os meus textos. Eu preciso ir no cartório e pegar um papel oficial dizendo são meus filhos. Assumir paternidade, sabe? Não há mãe. Nesta vida, só há pai. Só que esse pai, eu preciso dizer, é meio mãe também. Tenho tanto amor, meu filhos. Tudo guardado. Às vezes eu uso. Às vezes eu deixo aqui nesse peito quentinho, abraçável. Podem ficar tranquilos. Ele ainda respira. Talvez mesmo seja por vocês. As músicas tristes não cansam de tocar. Parece rima. Saco. Eu adoro isso. Eu adoro me desautorizar.

Eu sei, texto bobo. A coluna gritou perguntando até que horas vou ficar acordado diante esta máquina? Bom. Se ninguém vem me dar um fim, vou de bom grado, escovarei os dentes. Lembrarei do fio dental. Escovarei os dentes. Tomarei insulina. Sim. Depois vou pegar o Deleuze. Olhar para ele e pensar. Nada disso vale se amanhã eu não puder te beijar no meio da rua.

E dormirei. E por agora, não há mais nada exceto o vento.

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