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quinta-feira, 29 de abril de 2010

A Morte Instaura a Poesia.

Você que acessa esse blog, por favor, não vá achar que o autor está depressivo ou tomado por certa fixação sobre a morte. Isso seria verdadeiro, mas o reconhecimento ameniza a potência da busca. Sobre finitude, a busca é essa. Pensar sobre ela, desenhar a partir e flertar com as surpresas que nascem desse encontro, mal tenha se rompido a manhã. E desde então, fugir do fim, fugir da morte, fugir do óbvio. Para ser inevitavelmente tragado de volta. Como tivesse tudo isso sido recreio, mas agora não, agora é preciso olhar para o fim a morte e enfim aceitar que sim, a finitude está na morte.

Mas, e sempre um mas haverá, seguindo pela cidade dentro de um ônibus, pesando o olhar dentro de um óculos prendendo as lágrimas, eu comecei a pensar que o fim é tudo que não apenas o fim. Pensando sobre como o fim não termina nada, apenas muda a forma, o meio, a linguagem. Você que um dia foi atirada, que se tirou de mim, morrendo a si mesma você não instaurou o fim, mas fez abertura infinita e maior que nossas próprias vidas. Você naquele dia ao se morrer instaurava com sua morte a Poesia.

Gastarei os últimos dias deste mês investigando rapidamente as figuras de linguagem sob a ótica da poesia que instaura a morte. Nenhuma metáfora é segura, nem eufemismo, nem mesmo eclipses, aliterações, hipérboles… Tudo jaz agora resignificado, porque o fim é outro, o fim é outra coisa que não unicamente ponto final. Fim tem asas, turbina, não cabe em porta-retrato. Isso é nítido? Seu esboço é possível?

Quem morre instaura em quem fica a sua constância, não mais pelo encontro corpo-retina. Não acham? Quem morre instaura via poesia a eternidade, via metáfora se multiplica em toda parte. Via aliteração, faz morte com medo martelo mentira mito memória mãe mão e moletom. O fim se multiplica em poesia e por isso sobrevive, porque existe além de si mesmo. Eterniza-se concreto via inconcretude. O fim é irredutível como certeza de que não haverá o retorno do que se foi, mas é pela esperança constante e contida em versos que sua irredutibilidade é amenizada, e de eterno dispersamos o luto daquilo que se foi multiplicando sua desgraça. A morte nos tira um corpo mas nos devolve o seu mistério, a sua aura.

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