ai,
é quando as rimas secam
que a gente olha para a sem graçidão da vida
é quando estrofes emperram
que a gente deseja no íntimo secreto
acontece alguma coisa
acontece
aí
você escova os dentes
coloca mais um cobertor sobre a cama
e nela afunda
profundo
querendo se possível
dormir
as rimas na cabeça tentando existência
o corpo no tremor pede sono
mas não há destino possível
que não seja este
do meio do
caminho
ai,
como me surpreendo com as mesmas coisas
os passos devagar no chão de ontem
a tentativa de ser você
no corpo inteiro
o ruído que perfura meu silêncio
de mentira
eu estava esperando
entre nós não pode haver campainha
entre nós pode somente existir
desejo
direto
ais,
concreto
com tempo limitado
métrica determinada pelo atrito
da poesia que os corpos
- cada dia mais absurdos -
são capazes de tecer
pernas, para quê te quero?
te quero para ser meu cobertor
te quero para ser o peso que afaga minha dor
te quero para ser em mim o que você abomina
para brincar feito criança toda noite fosse macunaíma
ai,
aí a gente percebe
que quando a vida engasga
o poema remexe
e pede existência
no meio dessa madrugada.
.
Um comentário:
que lindo, dí!!!
Postar um comentário